Canção das Profundezas
DEDICATÓRIA DA AUTORA
Este é um convite a todos que se encontram à deriva em um oceano de incertezas, em busca de um caminho que os conduza para além da solidão. Nas ondas, onde a solidão se transforma em amor, mesmo nas tempestades mais intensas, é possível descobrir a sua paz, a sua paixão, a sua redenção. Basta, então, permitir-se ser levado pelas águas e pela curiosidade que brota dentro de si.
Tudo começa com um pirata de cabelos negros salpicados de mechas brancas, correndo pelas ruas da cidade da guarda real. Ele acaba de desferir um soco em um dos guardas e agora se lança em uma corrida desenfreada, segurando o chapéu com uma mão e rindo, enquanto salta sobre os obstáculos urbanos. Os guardas, cada vez mais numerosos, se mobilizam para capturar o pirata. Em meio à fuga, ele é puxado para um beco e sente uma mão tapando sua boca. A pessoa ao seu lado diz:
— Você precisa parar de causar confusão em cada cidade que visitamos, Mamu!
Mamu, com um gesto despretensioso, passa as mãos pelos cabelos e, com um sorriso orgulhoso, responde:
— Eu sou culpado se eles acreditam que sou um bandido, capitão.
O capitão balança a cabeça, cobrindo Mamu com um manto para que se esconda, e diz:
— Assim, não há como ficarmos duas semanas na cidade para nos divertirmos; mal entrei em um bar!
Mamu, passando o braço pelo capitão, provoca:
— Ainda podemos aproveitar antes de partirmos; ali estão algumas moças interessantes.
Ele acena para as mulheres que, atraídas, retribuem a atenção com sorrisos e beijos. O capitão ri, balança a cabeça e segue em frente, mancando levemente do lado direito, resultado de um ferimento em uma de suas aventuras. Contudo, mesmo com a perna machucada, todos temiam o capitão Sebastian, que percorria as ruas com seus cabelos verdes, roupas um tanto desgastadas e a camisa que deixava à mostra seu peitoral musculoso, repleto de tatuagens. Ele avança pela cidade, puxando Mamu, sempre encrenqueiro e pronto para brigar com qualquer um que cruzasse seu caminho.
Sebastian avança em direção à área onde os navios estão atracados, acompanhado de Mamu. O Capitão se aproxima de um homem que está ocupadamente limpando as embarcações e, em tom de brincadeira, diz:
— E aí, caolho, meu corvo da meia noite vai brilhar, não é?
O homem se vira, rindo, e responde com uma pitada de humor:
— Sebastian, seu navio é um verdadeiro monstro! E olha que sou só um olho, mas, antes que eu esqueça, cuida da tua vida, porque eu enxergo melhor que você quando está correndo!
Sebastian, tirando o chapéu, ri do comentário e responde:
— Eu ainda enxergo muito bem, e isso considerando que já estou na idade, meu amigo!
O homem, agora com os braços cruzados, adota um semblante mais sério e pergunta:
— Para onde você vai desta vez, capitão? Está em busca de algo novo ou novamente se metendo em alguma loucura?
Sebastian, com a mão na cintura, contempla seu navio e declara, em tom suave:
— Para onde o vento me levar, é para lá que vou desta vez.
O homem, mantendo a seriedade, aproxima-se de Sebastian e diz:
— Você está ficando velho, meu amigo. É hora de fincar os pés na terra!
Sebastian fecha os olhos, abaixa a cabeça e esfrega o pé no chão, afirmando:
— Vou continuar navegando até que meu corpo não aguente mais. Eu sou e sempre fui do mar; não será agora que deixarei as ondas para trás.
Sebastian ajusta novamente o chapéu na cabeça, antes de sair, e dirige-se a seu amigo de forma séria:
— Cuida bem da minha joia e apareça para o jantar, já que esta será a última noite que estarei na cidade.
O homem solta uma gargalhada e confirma sua presença, enquanto Sebastian puxa Mamu para perto, fazendo-o vestir o manto para que ninguém reconheça sua presença. Assim, eles se aventuram pelas ruas da cidade, conversando sobre a visita à área dos piratas, onde pretendem se despedir dos amigos antes de retornar ao mar e retomar a navegação.
Ao cair da noite, Sebastian e Mamu chegaram à área dos piratas. Entraram em um bar repleto de gente, onde a animação reinava: todos cantavam, pulavam e brindavam com cerveja em seus canecos, fazendo um alvoroço que deixava a proprietária quase enlouquecida. Logo, Sebastian aproximou-se dela, cruzando os braços com um sorriso no rosto.
— O povo está em festa hoje — comentou ele, cheio de entusiasmo.
Ela riu, colocando as canecas sobre o balcão.
— O capitão ali encontrou ouro e está bancando a bebida para todo mundo! Eu, sinceramente, não poderia estar mais satisfeita com isso!
Sebastian riu, passando as mãos pelos cabelos e suspirando.
— Trouxe meus homens também; tem cerveja suficiente para a turma.
Ela colocou as mãos na cintura, com um tom brincalhão e sarcástico.
— Só mais 20 homens gritando e pulando! A bebida eu garanto, mas quanto a mulheres, isso eu não posso prometer que vá sobrar para todos.
Sebastian riu e, em tom de brincadeira, respondeu.
— Pode ficar tranquila, não me preocupo com meus companheiros; com um corpo bonito, já estou satisfeito!
Ela se afastou da bancada, ainda rindo, e anunciou que iria levar as bebidas para todos, prometendo trazer tudo o que pedissem.
A noite prosseguiu com danças e risadas, enquanto se despediam dos outros. A música tocava alto, e a animação estava em seu auge, com todos já um pouco embriagados.
De longe, Sebastian avistou o outro capitão, que estava pagando as bebidas para todos e se exibindo em relação aos seus feitos. Sebastian escutava e ria, trocando olhares com o capitão Price. A cada história contada, os dois se entreolhavam, como se um desejo silencioso pairasse no ar, revelando uma conexão que transcendeu as palavras.
Com todos já deixando o bar alterados e entrelaçando os pés, houve um que acabou adormecendo no chão, ainda segurando os canecos. O Sebastian permanecia sentado, quando o Prince se aproximou e tomou seu lugar ao lado, com as pernas bem abertas, e disse ao Sebastian:
— E aí, não vai pendurar o chapéu? Já está na hora, não acha?
Sebastian lançou um olhar travesso para o Prince e respondeu:
— Eu ainda tenho energia, e não será minha idade ou minha perna que me deterá. Sou filho do mar.
Prince cruzou as pernas e, colocando o caneco sobre a mesa, comentou:
— Então, vai voltar ao mar sem se despedir do seu amante? — inclinou a cabeça, observando Sebastian.
Sebastian se inclinou para frente e, colocando seu caneco ao lado, disse:
— Pensei que você não quisesse mais, após o que aconteceu entre nós.
Prince se levantou, apoiou-se na mesa, cruzou os braços e falou com um tom levemente provocador:
— Ainda há tempo para um romance nesta noite?
Sebastian soltou uma risada, levantou-se e olhou para ele com os olhos um pouco semicerrados, respondendo:
— Sempre tenho tempo para um pouco de prazer, meu amigo.
Continua....
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Atualizado até capítulo 24
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