Na semana seguinte, o retorno às aulas trouxe uma nova rotina para Erika. Como coordenadora da escola onde agora trabalhava, ela tinha um papel ativo, desafiador e, acima de tudo, gratificante. Mesmo com os desafios administrativos e os casos difíceis entre os alunos, ela se sentia finalmente valorizada.
Estava em uma reunião com professores quando seu celular vibrou discretamente. Ao verificar, viu uma mensagem de Isis:
> “Hoje é dia de audiência no Fórum. Guilherme vai estar lá. Que tal passar depois pra assinar aqueles documentos da adoção? 😉”
Erika sorriu discretamente. Isis era danada.
Mais tarde, quando chegou ao fórum, o ambiente a envolveu como uma onda de lembranças. Já havia trabalhado ali, anos atrás, como escrivã de contabilidade. Era estranho estar de volta, agora com outros objetivos. Mas mais estranho ainda foi a reação do seu coração ao vê-lo.
Guilherme estava ao final do corredor, saindo de uma sala. Usava terno escuro, expressão séria, olhar profundo. Ao vê-la, suavizou os traços como se o mundo ao redor tivesse diminuído o ritmo.
— Erika — disse ele, abrindo um sorriso raro. — Que surpresa boa.
Ela sentiu o frio na barriga. Não estava acostumada a ser olhada daquele jeito.
— Vim ver Isis. Mas confesso que sabia que você estaria aqui — respondeu, sem rodeios.
Ele riu, encantado com a sinceridade.
— Quer um café?
— Quero. Desde que não seja formal demais.
Foram juntos até a cafeteria do prédio. A conversa fluiu fácil, leve. Falaram das filhas, da escola, da saudade que nunca desaparecia — e das cicatrizes que tentavam não mostrar.
— Sabe, Guilherme, às vezes eu me pergunto se já não é tarde demais pra mim — confessou Erika. — Recomeçar aos 42, depois de tudo... Não é fácil.
— Não é tarde quando a vida ainda pulsa nos seus olhos — ele disse, com uma firmeza que a desarmou. — O que passou te moldou, mas não te define.
Erika olhou para ele, emocionada.
— Você tem algo nos olhos... — ela começou, mas hesitou.
— O quê?
— Dor. Mas também esperança. E isso me faz sentir... menos sozinha.
Ele não respondeu. Apenas tocou levemente sua mão sobre a mesa. Um gesto simples, mas que queimou em ambos como uma fagulha silenciosa.
Naquele instante, sem promessas, sem pressa, algo nasceu.
Talvez um laço.
Talvez um futuro.
Talvez, finalmente, um novo começo.
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Atualizado até capítulo 45
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