Guilherme caminhava devagar pela areia com os filhos. Amanda, sua filha mais velha, corria em direção ao mar, rindo com o irmão, Erike, de dez anos, que fingia fugir das ondas. O juiz observava os dois com um misto de ternura e saudade. Às vezes, bastava vê-los sorrindo para que a dor da ausência de Helena, sua esposa, apertasse menos.
Dois anos desde que ela partira.
Dois anos desde que ele enterrou a mulher que havia sido seu amor, sua parceira, sua fortaleza. Mas o câncer foi cruel, silencioso, implacável. Levou-a rápido demais, sem tempo para despedidas, sem tempo para promessas futuras.
Desde então, Guilherme se fechou. Vivia entre processos, audiências e os cuidados com os filhos. Sua mãe o ajudava muito, uma mulher sábia, doce, mas firme. Ela insistia para que ele não se apagasse, para que não deixasse a dor tomar conta de tudo.
Mas ele não conseguia… até agora.
Naquela tarde, algo diferente aconteceu.
Enquanto caminhava na praia, seu olhar cruzou com o de uma mulher sentada sob o sol. Ela estava com uma senhora — provavelmente sua mãe — e segurava uma água de coco. O vestido claro se movia com o vento, e os cabelos loiros com luzes refletiam o tom dourado do entardecer. Havia algo nela que o desconcertou: a serenidade misturada com uma tristeza silenciosa. Uma beleza clássica, mas real.
Ele a reconheceu.
Erika Soares.
Pedagoga. Uma mulher respeitada por sua postura ética, mas também conhecida por sua história difícil com o ex-marido. Já a vira no fórum algumas vezes, geralmente acompanhada da advogada Isis Victoria, sua colega e amiga. Guilherme sabia que ela estava lutando por um processo de adoção, e que tinha enfrentado humilhações no passado.
Havia algo de admirável em alguém que, mesmo após ser tão ferida, ainda lutava para amar.
Enquanto seus filhos se afastavam um pouco, brincando com outras crianças, ele se aproximou do quiosque mais próximo para pedir uma água. Mas antes de voltar, olhou de novo em direção à mulher que o observava discretamente.
Erika também o reconheceu.
O juiz do semblante sério e da voz grave. Sempre educado, mas inacessível. Era admirado por sua imparcialidade, por sua integridade, mas poucos sabiam da dor que ele carregava no peito. E agora ali estava ele, com os pés na areia, fora do fórum, sem toga nem distância. Real.
E algo no olhar dele mexeu com ela.
Um convite silencioso. Um despertar lento.
Laura percebeu e cutucou a filha com leveza.
— Ele está olhando pra você — disse baixinho, com um sorrisinho no canto da boca. — E não é com olhar de juiz, não.
Erika deu um sorriso tímido, balançando a cabeça.
— Mãe…
— É só um homem, filha. E você ainda é uma mulher. Está viva. Não se esqueça disso.
Guilherme tomou coragem. Caminhou devagar até a direção delas.
— Boa tarde — disse com a voz grave, mas gentil. — Não quis interromper, mas… nos conhecemos, não é?
Erika levantou o olhar, o coração acelerado.
— Já cruzamos algumas vezes no fórum… sou Erika.
— Guilherme — ele estendeu a mão. — Mas aqui, sou só pai em modo praia.
Ela riu. Um riso leve, quase esquecido.
E foi assim que tudo começou.
Na areia. No acaso.
No instante em que dois corações partidos se permitiram respirar.
Agora que eles se encontraram fora do fórum, o destino vai começar a agir.
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Atualizado até capítulo 45
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