O sábado amanheceu com um céu limpo e azul, daqueles que parecem prometer coisa boa. Erika havia acordado cedo, como de costume, mas dessa vez não para preparar aulas ou organizar relatórios. Era dia de passeio com a filha, Isabela, de 12 anos, uma menina doce, esperta e com o olhar muito parecido com o da avó, Laura.
Desde que se mudaram para o novo apartamento, Erika fazia questão de dedicar os fins de semana para a filha. Sabia o quanto ela havia sofrido no antigo ambiente, cercada de frieza e brigas silenciosas. A menina pouco falava sobre o pai, mas seus olhos diziam o suficiente.
— Mãe, vamos à praia? — Isabela perguntou enquanto tomava o café.
— Vamos sim. Estava mesmo pensando em te levar. Preciso respirar um pouco de mar.
— E depois, a gente pode passar na vovó Laura?
Erika sorriu.
— Claro que sim. E se você se comportar, a gente ainda para pra tomar sorvete na volta.
Isabela deu um gritinho animado, e em pouco tempo já estavam na estrada, com as janelas abertas e o vento bagunçando os cabelos. O som do rádio tocava uma música leve, e Erika sentia o coração em paz — pela primeira vez em muito tempo.
Chegaram à praia ainda pela manhã. A areia estava morna e o mar calmo. Isabela correu até a beira d’água, enquanto Erika se sentou em uma cadeira de praia com seu chapéu e um bom livro. Mas o pensamento não demorou a vagar… para o fórum… e para Guilherme.
Ela se lembrava com nitidez da última troca de olhares. Da proposta inesperada. Do tom de voz dele. Um homem sério, firme, mas com um calor nos olhos que ela não via em ninguém há muitos anos.
Enquanto isso, em outro ponto da cidade, Guilherme também tentava organizar a mente.
Estava na casa da mãe, Dona Célia, tomando café da manhã com os filhos. Amanda, de 12, e Erike, de 10, disputavam a última fatia de bolo de milho. A mãe os observava com carinho, mas logo se voltou para o filho mais velho.
— Está pensativo, Guilherme.
— Sempre estou, mãe — ele respondeu, sorrindo de leve.
— Pensativo... e interessado — ela disse, erguendo uma sobrancelha.
Ele a olhou de lado, surpreso. Dona Célia tinha aquele dom inquietante de saber o que ninguém dizia.
— Eu a vi outro dia… Erika.
— Hum... Erika — ela repetiu, como se saboreasse o nome.
— Não sei explicar. É como se... ela entendesse coisas que eu nem consigo dizer. Só nos olhamos e…
— E você se sentiu vivo.
Ele assentiu, com os olhos baixos.
— Pois então não desperdice isso — disse a mãe. — O amor verdadeiro não aparece duas vezes com facilidade, Guilherme. E você tem direito a uma nova chance, mesmo que ache que não.
Mais tarde naquele dia, por acaso — ou não —, Erika e Isabela estavam na sorveteria da esquina da escola quando uma voz familiar surgiu atrás delas.
— Que coincidência boa — disse Guilherme, se aproximando com Amanda e Erike.
Os olhos de Erika brilharam.
— Coincidência ou destino?
Eles riram. E ali, com os filhos ao redor e o calor do sol ainda dourando o fim da tarde, a vida mostrou que estava pronta para seguir — mais leve, mais doce, mais verdadeira.
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Atualizado até capítulo 45
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