Capítulo 5 - Memórias

No caminho para empresa Maicon se lembra da sua adolescência, vivia a sombra de Henry e Luiza, “os anjos” da família, ele sempre foi mais rebelde, talvez por ciúmes, Henry sempre foi bom demais, carinhoso demais, perfeito demais. Tudo ele perdoava, tudo ele relevava, e Luíza sempre com aquele ar de admiração sobre ele nunca notou que Maicon tinha uma paixão platônica por ela. Quando Maicon percebeu ser peça que sobrava no jogo afastou-se deles, se entregou ao trabalho com o pai na empresa.

 Há quase dez anos quando Henry disse que ia para o seminário uma esperança renasceu em seu coração. Foi até Luíza que estava sentada no banco do jardim da escola estudando, acreditando que a consolando poderia ganhar sua atenção e até seu coração ele decide lhe contar tudo.

Maicon: - Luiza, sei que Henry fará muito falta. Mais quero que saiba que eu estarei aqui...

Luiza o olha espantada: - O que está dizendo Maicon? Henry fará falta? Eu não estou te entendendo...

Maicon: - Não diga que você não sabe?

Luiza: - Fale logo Maicon! O que eu não sei?

Maicon: - Henry quer ser Padre, vai para o seminário...

Luíza fica branca, parece não acreditar no que ouviu. Lágrimas começam a descer pela sua face. Maicon a abraça, faz carinho em seus cabelos e tenta a beijar, ela lhe dá um tapa e se afasta pega suas coisas e sai correndo.

O coração de Maicon ficou mais uma vez estraçalhado, ver Luíza chorando por seu irmão era doloroso. Mesmo assim ele acreditava que com seu irmão longe Luiza o amaria, ele estaria sempre ao lado dele, um dia o notaria. Não foi o que aconteceu...

Maicon chega a empresa, é cumprimentado por todos, sempre foi muito querido ali, pega o elevador, seu pai o espera na sala da presidência.

Marcelo Novais: - Que bom que veio filho! Tudo bem com você? Estávamos preocupados.

Maicon: - Estou bem pai. O encontro de ontem,  de um certo modo, foi bom. Encerrei uma fase de minha vida.

Marcelo: - Já estava na hora. Não guarde mágoa de seu irmão e de Luíza.

Maicon: - Não guardarei pai. Sei que eles não tem culpa de meus sentimentos, do sofrimento que eu mesmo me causei.

Marcelo abraça o filho: - Eu torço por você! Vai encontrar alguém como eu encontrei sua mãe e será feliz.

Maicon se lembra da besteira que fez na noite anterior, decide não dizer nada a seus pais para não os magoar e afinal o dinheiro era dele, poderia gastar com o que quisesse e conhecendo seus pais sabe que podem até achar estranho ele gastar tanto em uma noite mais não farão perguntas.

Maicon: - Eu desconfio que não fui feito para o amor pai. O que há entre o senhor e mamãe é muito raro, estou conformado com minha situação.

Marcelo: - Filho, sua mãe e eu queremos netos. Já que Henry não nos dará, você é nossa esperança.

Maicon sorri sem vontade, seu sonho por muitos anos foi de constituir família com Luiza, nunca pensou, nem quis que outra mulher gerasse um filho seu.

A conversa com o seu pai ficou em sua cabeça "um filho" o fez se lembrar da morena, “será que ele pelo menos se preveniu usando preservativo? Não viu nenhum pelo quarto. Será que ela se cuidou? E se não? Uma morena linda e desconhecida pode estar grávida de um filho dele!”. Maicon balança a cabeça para que pare de pensar no que houve e tenta se entregar inteiramente ao trabalho, mais não tem controle sobre os seus pensamentos e eles estão na garota de bumbum perfeito, coloca as mãos no bolso, retira a lingerie e fica ali sentindo o perfume que ficou impregnada no seu ser, se esforçando ao máximo para se lembrar do que aconteceu.

Mesmo a quilômetros de distância e preocupada com a sua irmã, Clara também tem a sua memória fixa naquele homem másculo de beijo intenso, nem acredita que tudo deu certo. Espera que o homem não desconfie de nada, afinal ele estava bem alterado pela bebida, "com certeza nunca mais o verá de novo" — pensa, são de mundos totalmente diferentes.

Clara anda de um lado a outro no corredor do imenso hospital, não sabe uma palavra de inglês, depende de Dr Silvio para ter notícias de Solange, se recorda das dificuldades que as duas já passaram e do sorriso meigo de Sol lhe dando forças para continuar. Sol é para ela como uma filha, a ligação que elas têm é muito maior que os laços sanguíneos.

Dr Silvio tem sido muito solicito, muito prestativo e amável, mais a cabeça de Clara está a mil, precisa resolver o que fazer quando voltarem, com a ajuda de Silvio sobrará um pouco do dinheiro que recebeu, e ela terá que o fazer render até Solange se recuperar bem pois não poderá trabalhar saindo pelas ruas a deixando sozinha.

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