Clara sai do quarto de hotel indo direto para o hospital onde a sua irmã Solange está internada há quase dois meses. No ônibus vai repassando na sua cabeça tudo que passou nos últimos tempos.
Quando tinha os seus quinze anos seus pais faleceram num acidente de carro. Ela e a sua irmã, Sol, com cinco anos foram morar com uma tia. Seria melhor se ficassem sozinhas, os seus tios as faziam trabalhar como empregadas as trancando num quarto minúsculo com apenas um colchão de solteiro para as duas, mal as alimentavam. Sol sempre foi doentia, então Clara fazia de tudo para que a irmã não precisasse se esforçar muito. Estudavam porque era uma obrigação dos tios as mandarem a escola, mais faltavam do que iam.
Clara ainda tinha que escapar do assédio do seu tio que só não fez nada com ela porque a sua tia era ciumenta e as vigiava vinte e quatro horas.
Assim que completou dezoito anos, Clara arrumou um emprego escondida dos tios, arrumou um quartinho onde ela e sua irmã pudessem ficar e numa noite em que a tia se distraiu e não trancou a porta pegou sua irmã e saiu de lá.
Aos poucos conseguiu um lugarzinho melhor para morarem, mais o seu tio sempre que descobria onde ela trabalhava dava um jeito de a fazer ser mandada embora na intenção de que voltem a depender deles.
Depois de perder o último emprego Clara resolveu fazer doces para vender na rua, assim poderia cuidar melhor de Sol, e até a levar para a ajudar, fazia os doces a noite e saia de madrugada para os vender em rodoviárias, praças...
A dois meses, Clara chega da rua cansada, chama por Sol, que nos últimos dias fica em casa por não estar se sentindo muito bem. Mesmo doente Solange sempre vem ao seu encontro com um sorriso no rosto para a ajudar com as bolsas.
Clara a chama por diversas vezes, não obtendo resposta joga as coisas na mesa e corre pelos pequenos cômodos da casa a sua procura. A encontra desmaiada no chão do banheiro.
Clara se desespera: - Sol?! Sol? Por favor, acorde! Minha irmãzinha querida não me deixe!
Lágrimas descem pela face de Clara, Sol é a única família que têm, é por ela que enfrenta o mundo. Sente o pulso de Sol, está fraco, mais ela está viva.
Clara cria forças não sabe de onde, pega o corpo da sua irmã e sai para rua gritando por socorro.
Depois de dias exaustivos de exames, de diagnósticos contraditórios e Solange cada vez mais debilitada um médico, Doutor Sílvio, descobre o que está a acontecer com ela, um pequeno tumor alojado num lugar delicado do seu cérebro que necessita ser retirado com urgência por um especialista, no Brasil não há quem realize essa cirurgia sendo necessário a transferência para uma clínica nos Estados Unidos. Clínica e cirurgião particulares e caros. A cirurgia, acompanhamento médico, medicação e tudo mais ficará extremamente cara para uma garota que vende doces para sobreviver.
Clara procurou a sua tia, única parente que possuem que riu na sua cara. Tentou fazer empréstimo em vários bancos mais não conseguiu por não ter nada para dar de garantia.
Desiludida, cansada, sem saber mais onde recorrer, sentada num banco na frente do hospital, ouve sem querer uma conversa entre duas garotas:
1- É sério amiga! Pagam o que pedirmos! Como pensa que consegui comprar o meu carro zero?
2 - Pena que não sou mais virgem! Uma grana por algo que dei de graça seria uma boa! - ri.
Clara pensa não ter entendido direito, fica a ouvir com atenção tudo que falam, mesmo não acreditando cria coragem e pede a garota o endereço do lugar. A garota pede-lhe sigilo e após Clara insistir muito ela lhe passa.
Clara pega um ônibus até o endereço, pedindo aos céus que seja verdade e consiga o dinheiro que precisa para salvar a sua irmã.
Desce em frente a um prédio luxuoso, entra e pergunta pelo nome que a garota passou-lhe. Um senhor a encaminha para uma sala aos fundos do hotel, onde do outro lado funciona uma ‘boate’. Outro homem distinto até confirma o que ela ouviu, pede-lhe a identidade confirmando ser ela de maior e responsável, explica as regras, a leva para fazer um exame comprovando a sua virgindade e a faz assinar um acordo onde afirma seguir as regras e manter sigilo sobre o ocorrido no local.
Clara : — E quando poderei vir e receber? Preciso urgente do dinheiro.
Homem: — Todas precisam! Amanhã, venha amanhã, uma das garotas desistiu. — falou após olhar uma ficha com alguns nomes.
Clara volta ao hospital, Solange está a dormir, parece tão pequena e indefesa na cama do hospital. Segura as suas mãos entre as suas, as beija.
Clara: - Minha irmãzinha querida, força, só mais alguns dias e tudo ficará bem. Eu prometo.
Doutor Silvio chega na porta do quarto e ouve Clara, ele já sentia algo diferente por ela e vendo o amor que ela tem pela irmã, o cuidado e o esforço que tem feito para que a irmã se recupere fez nascer nele um sentimento novo, uma admiração.
Silvio: — Eu tenho certeza que tudo ficará bem! — Sorri e segura no ombro de Clara.
Clara: — Vai ficar sim, doutor! Pode preparar tudo para a transferência e cirurgia de Sol, dentro de dois dias terei o dinheiro que precisa.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Cléia Maria da Silva d Azevedo
Como é triste isso. Uns com tanto e outros com tão pouco. Mas verdade seja dita: nem sempre ter dinheiro salva uma vida. Perdi uma pessoa querida, quê foi até para os EUA, para se tratar e mesmo assim não conseguiu. 😥
2024-09-03
0
Cleidilene Silva
foi por uma boa causa, que ela fez o que fez eu já pesando que a garota é mal caráter 🤣🤣🤣🤣
2024-02-10
5
Juh Machado
quanto sofrimento pra duas meninas 😞
2024-01-19
1