Capítulo 2
Don-Yon revisava atentamente uma pilha de relatórios quando o olhar parou sobre o pacote fechado à sua frente. Ainda não o havia aberto. Desde que o recebera naquela tarde, o embrulho parecia emitir uma energia estranha — ou talvez fosse apenas a lembrança da confusão que presenciara na recepção da empresa.
A imagem ainda o fazia sorrir, mesmo que de leve. A recepcionista, com o semblante indignado, e a jovem entregadora, teimosa, disputando o pacote como se fosse uma questão de vida ou morte. E o desfecho? Ele, o CEO, sendo derrubado no meio do saguão por aquela garota desastrada.
Tinha sido inesperado — e, de algum modo, marcante.
— Senhor, não vai abrir o pacote? — perguntou Nicolas, seu secretário, interrompendo seus pensamentos.
Don-Yon ergueu o olhar. — Sim, claro.
Cortou a fita adesiva com cuidado e retirou o conteúdo. Eram amostras do novo produto que a DonCosméticos lançaria no próximo mês. Frascos elegantes, com rótulos dourados e um leve aroma que escapava mesmo com as tampas fechadas.
— São as amostras do creme rejuvenescedor, senhor? — perguntou Nicolas, curioso.
— Exato. — Yon assentiu.
O secretário pegou um dos potes, abriu e aspirou o perfume. — É bem cheiroso. Vai fazer sucesso.
Yon observou o entusiasmo dele, mas se manteve sério. Mesmo após anos de conquistas, nunca se permitia relaxar completamente. Cada novo produto era um risco, uma aposta.
Seis anos haviam se passado desde que deixara a Coreia do Sul. E em todo esse tempo, ele havia construído um império. A DonCosméticos, que antes era apenas uma empresa falida de um investidor brasileiro, agora era uma das marcas mais respeitadas do país.
Tinha dinheiro, poder, prestígio — e, aparentemente, tudo o que um homem poderia desejar.
Mas, ainda assim, sentia um vazio.
— Como tudo que a empresa produz, esse também será um sucesso — disse Nicolas, confiante.
Yon apenas esboçou um leve sorriso.
Havia fugido da Coreia após um escândalo pessoal que o marcara profundamente. Sua noiva o trocara por outro homem no próprio dia do casamento. A humilhação fora pública, cruel, e ele jamais esquecera o olhar de pena nos rostos ao redor. Desde então, prometera a si mesmo que nunca mais deixaria ninguém chegar perto o suficiente para feri-lo novamente.
— Pode levar um dos frascos para sua esposa — disse Yon, quebrando o silêncio.
— Obrigado, senhor — respondeu Nicolas, surpreso e grato.
Yon realmente admirava o secretário. O homem começara na limpeza e, com esforço e lealdade, conquistara seu espaço até se tornar seu braço direito.
— Quer que peça para o motorista trazer o carro? — perguntou Nicolas, recolhendo os papéis.
— Não precisa. Terminarei aqui e depois eu mesmo dirijo.
— Boa noite, senhor.
— Boa noite.
Quando o silêncio voltou a preencher a sala, Don-Yon recostou-se na cadeira. O brilho da cidade noturna entrava pela enorme janela panorâmica, refletindo nos vidros. Pensou na Coreia — nas luzes de Seul, no cheiro das comidas de rua, nos sons familiares da língua que tanto amava. Mas voltar seria impossível. Lá, estavam suas feridas.
🌻🌻🌻
Já em casa, o apartamento luxuoso estava mergulhado na penumbra. Yon havia tomado banho, vestido um roupão de algodão e estava prestes a dormir quando o toque do celular particular o fez franzir o cenho.
Era um número desconhecido.
Ele hesitou por um instante antes de atender. — Alô?
Do outro lado, uma voz feminina e embriagada respondeu:
— Eu gosto de você.
Yon franziu a testa. — Como é?
Ouviu um soluço. A voz parecia trêmula, carregada de emoção.
— Eu gosto de você… sempre gostei. Mas você não me vê assim.
Por um segundo, ele achou que fosse alguma brincadeira.
— A senhorita deve ter ligado errado — disse, tentando manter a calma.
— Não… claro que liguei certo! — insistiu a voz, agora chorosa. — Sabe como dói você não me ver como mulher? Eu… eu te amo, Thiago…
Houve outro soluço.
Yon ficou em silêncio, entre confuso e curioso.
— Escute… você ligou para a pessoa errada. Eu não sou esse… Thiago.
Do outro lado, o silêncio durou alguns segundos. Então a voz pareceu desperta de repente.
— O quê? Não é o Thiago?
— Não. — A resposta dele foi firme.
— Oh… me desculpe. — E, antes que ele dissesse mais alguma coisa, a ligação foi encerrada.
Yon olhou o número na tela e franziu o cenho.
— Quem será essa mulher? — murmurou, encostando o celular no peito. — E quem é esse tal de Thiago?
Por algum motivo inexplicável, aquela voz embriagada e triste ficou ecoando em sua mente.
Ele se levantou, foi até a janela e olhou as luzes da cidade.
— Nicolas vai descobrir — disse baixinho.
E, sem saber, naquele instante, Don-Yon acabava de cruzar, por acaso, o caminho da mesma garota que o havia derrubado horas antes.
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Atualizado até capítulo 57
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