— ... Senhorita, quem é Rose Stellenboschs Margonight para você?
Os estalos escutados pelo relógio na parede eram perturbadores naquela sala onde se encontravam três pessoas em específico. O desabastecimento de palavras pairava após uma pergunta feita pelo homem sentado na cadeira do outro lado de uma mesa, segurando uma pasta aberta em sua frente, não perdia o contato visual senão para olhar a pasta em suas mãos. Anastasia fitava o interrogador em sua frente com total indiferença e desprezo, era também assim para o homem que se mantinha em pé encostado na parede com os braços cruzados: Frederick, a quem havia descoberto depois ser o líder de sua caça e captura.
Oficiais da lei costumavam olhar para os que eram considerados criminosos e violadores da lei com desprezo, como se fossem o lixo da sociedade, mas a mulher que agora sorria não se importava com isso. Havia passado por coisas muito piores em sua vida e agora nada mais lhe causava constrangimento, afinal, o desprezo era recíproco. Na verdade, ela apenas se esforçava para que realmente fosse. Frederick, de pé encostado na parede, a fitava com sofreguidão e bufava a cada minuto que Ana insistia em prolongar o perturbador silêncio. Não pretendia colaborar, mas sabia que descobririam por si mesmos, já haviam descoberto quem era e o nome de sua mãe. O homem sentado em sua frente era o interrogador da "réu" e também demonstrava impaciência e um grande ansiedade pela resposta que não saía de uma certa boca rosada. Suspirou e olhou para suas mãos que em cima da mesa, algemadas. Pensou em como havia sido cruel com as pessoas a partir de sua "morte", e isso lhe causou um certo sentimento de orgulho. As pessoas que tirou do mundo não eram boas pessoas, mas as famílias provavelmente poderiam não saber disso. Algo que lhe causou um peso.
Tinha o alvo certo para fazer sofrer, não era qualquer pessoa que matava, apenas criminosos impiedosos que maltratam crianças da pior maneira possível. Isso, na sua opinião não deveria ser um problema. Minutos se passaram. De repente um sorriso travesso de menina-moça abriu-se em seus lábios, parecia ter se esquecido que não estava sozinha ali. Ela passeou por lembranças que atingiu seus pensamentos, desligando-se de tudo ao seu redor. Frederick momentaneamente sentiu-se um tanto hipnotizado com seu sorriso, olhava para a boca da mulher com um certo desejo. Logo seus olhares se cruzaram, fazendo-os voltarem a sí e voltarem a suas frias expressões.
— Estamos esperando uma resposta.— Disse Frederick firme.
Voltou seu olhar para suas mãos. Parecia pensar em algo, mas na verdade sua cabeça não tinha nada, era como um coco sem água e totalmente seco. Desde que forjou sua morte, Rose não era mais nada para Anastasia, não poderia ser. Considerava que quem a tornou assim tinha por nome Kaloey Margonight. Levantou seu olhar lentamente para ambos ali, dividia entre olhar para o interrogador e o juiz. Não daria o que queriam, sua fragilidade. Ana não se permitiria quebrar. Decidiu que faria um joguinho de ironias e quem entrasse em sua brincadeira, seria sua presa por diversão, já que naquela cadeia não se podia fazer nada. Anastasia foi privada de visitas — o que não lhe fez diferença, não tinha família — e não podia sair para o pátio, para tomar sol. Nem mesmo um livro tinha em sua cela, coisas que as outras detentas podiam receber de suas visitas tranquilamente. Sua única companhia era uma lâmina que estava perto de sua porta quando acordou pela manhã, lhe tinham deixado um presentinho. Talvez alguém tenha colocado ali, percebendo o quanto sua vida era frustrante e lhe presenteou com uma lâmina esperando que fizesse o pior. O que esta pessoa não sabia era que Anastasia não era mais aquela adolescente fraca em sua fase de depressão e solidão que sentia vontade de se automutilar, era alguém diferente, talvez mais forte ou mais fraca, não sabia. Mas sua ideia era usar contra a pessoa que lhe "presenteou" com o objeto cortante que, inclusive, ficava escondido em seu uniforme. Estava a fim de descobrir a pessoa que entitulou como admirador secreto. Antes de iniciar sua brincadeira, decidiu colocar novamente aquele sorriso travesso nos lábios, o sorriso de quem iria aprontar.
— Senhor Schumacher, o senhor é um juiz. Deveria estar com uma toga em um tribunal, julgando casos. Não aqui, atrás de uma simples prisioneira.— Riu.— Muito menos liderando uma caça por um membro dos Justiceiros.
— Não fuja do assunto e responda logo a pergunta do investigador: Você conhece ou não Rose Stellenboschs Margonight?
Continuou olhando para aquele mar infinito que eram seus olhos castanhos e por um breve momento se deixou levar, entrando e mergulhando. Através de seu olhar ele conseguia atravessar todas as barreiras que a mulher impunha e a levasse para seu mundo. Contudo, ao perceber o que estava fazendo, voltou seu olhar frio e calculista de sempre, mantendo-se forte e desviando a atenção para qualquer lugar. Ana prometeu a si mesma que ninguém a tocaria novamente, homem algum lhe faria se sentir humilhada como antes. Não podia permitir que aquele juiz derrubasse suas barreiras e faria de tudo para se convencer de que ele era o mesmo que seu padrasto pedófilo. Frederick se sentia atraído por seus olhos castanho-dourados tão chamativos para o homem, mas o que mais lhe agradou na mulher foram seus cabelos perfeitamente ruivos e compridos. Eram lindos e combinavam perfeitamente, para Frederick Ana até se parecia com uma boneca de porcelana, não parecia ser real. Quase perdeu o controle de si, desviou mais uma vez seu olhar e só então que ambos perceberam o que havia acontecido. Eles tinham uma conexão diferente. Anastasia riu brevemente demonstrando insubmissão. Evidenciou um sorriso no canto de sua boa, mostrando pouco de seus dentes brancos e prendeu novamente o olhar do juiz, sabia o que poderia fazer com o psicológico de um homem. Mais minutos haviam se passado.
— Responda. Conhece Rose?
Insistiu o homem sentado em sua frente, inocente ao que acontecia entre ambos, mas desconfiado.
— Não.— Disse simplesmente.
— Não?— Perguntou o interrogador.— Apenas não? Como?
— Não.— Disse novamente e olhou para o mesmo.
— Mas... Você tem que a conhecer... Temos certeza de que há um laço familiar entre ambas.
O interrogador sentia uma imensa vontade de jogar os papéis em sua direção, a obrigar a falar a verdade. Não aguentava mais estar na mesma sala que uma assassina. Na verdade se problema era pessoal, fazia seu serviço obrigatoriamente, pois não era a profissão desejada.
— Obrigar ou induzir alguém a confessar uma mentira também é crime, interrogador.
O homem estremeceu com sua resposta sucinta, então Frederick decidiu tomar sua frente já sabendo qual seria seu jogo para se livrar. Estava acostumado com pessoas desse tipo, pensava saber lidar, mas Ana não era igual a ninguém a quem lidou.
— Olha, nós já descobrimos muito de você...— O juiz caminhou até a mesa e colocou as mãos sobre a mesma, inclinando-se um pouco e olhando nos olhos dela.— Só falta admitir o que já sabemos, Anastasia.
Tremeu ao escutar seu nome, mas tinha que se manter forte para continuar com seus joguinhos. O juiz por sua vez, tinha de a fazer admitir para judicialmente não cometer erros. Engoliu seco, ainda com um breve sorriso em seus lábios, ela tentava manter-se forte.
— Anastasia?— Arqueou uma sobrancelha, Frederick havia acertado o alvo.— Anastasia está morta, senhor Schumacher, é apenas isso que posso lhe dizer. Se quiser, procure no sistema do FBI, lá encontrará a certidão de nascimento e óbito desta... Pessoa.— Seus pés roçavam um no outro, estava nervosa. Pela primeira vez um homem conseguiu ver através do mar de sarcasmo, talvez conseguiria a derrotar.— Cuidado, eu também posso usar suas palavras contra você nos tribunais.
Ela era forte. Ele também. Ninguém dava o braço a torcer.
— Não sei como conseguiu entrar no sistema geral e no do FBI, mas eu sei que Anastasia Stellenboschs é você.
— Talvez porque a segurança de vocês não seja tão segura.— Sorriu.— Bom, se não tem mais nada a falar...
— Eu ainda vou descobrir tudo sobre você Anastasia e acredite, você vai apodrecer na pior cadeia já que não quer colaborar conosco.— Disse o meritíssimo.— Vai pagar por cada gota de sangue que já derramou.
— Foi um prazer falar com vocês.
Ela se levantou exteriormente vitoriosa e caminhou até a grade, onde a funcionária da prisão abriu a porta e passou a conduzi-la até sua cela. Antes de desaparecer nos corredores, olhou para trás, vendo-o socar a mesa e praguejar. Tentou sentir confiança, mas a frustração não lhe deixava por seus olhares não terem se cruzado novamente. Por ter o deixado tão desapontado. Pela primeira vez não gostou de ver o homem irritado. Repreendeu-se por isso.
Enquanto caminhava, lembrou-se de o interrogador perguntar se conhecia sua própria mãe. Rose. Há quanto tempo não escutava sei nome? Aquilo cortou seu coração, se não tivesse sido treinada para controlar tudo o que tem a ver com seus sentimentos, certamente teria vacilado em atitudes ou na voz falha. Foi difícil escutar aquele nome e não poder demonstrar nada, sentiu seu coração apertar e por um instante pareceu ter parado de bater. Rose Stellenbosch era sua mãe, a pessoa que mais amava no mundo, mas teve que se afastar por não aguentar mais sofrer. Há anos não mais a via, longos anos que sentia saudades do seu abraço acolhedor e cheio de amor, do seu dizer que tudo estaria bem e que estaria ao seu lado por toda a vida. Quem dera fosse assim, mas tiveram de se separar pela falta de coragem da adolescente. Rose foi impedida de cumprir as promessas. Não pôde cumprir promessas porque Anastasia já não podia estar ao lado de sua mãe sem sofrer quase todas as noites. Sem sentir os toques nojentos de Kaloey em sua pele, sem vomitar de tanto asco que sentia. Passar horas e horas de baixo do chuveiro, tentando se limpar de uma sujeira interior, de uma sujeira que vinha da alma acabava com qualquer tentativa de seguir em frente. Ver o homem colocar sonífero na comida da mãe todos os dias, acabava com Ana todos a cada dia gradativamente. Anastasia não podia nem mesmo ter o nome de batismo, não podia ao menos ter uma família. Não podia dar pistas. Todos os dias enquanto sofria com aquele homem, se perguntava o porquê de sua mãe sair tanto por aquelas malditas lojas de grife. Afastou os pensamentos enquanto caminhava pelos corredores sem fim até chegar ao local onde suas queridas "amigas" já a esperavam com suas palavras de sempre.
A ruiva havia se cansado de tudo e decidiu arrancar aquele mal pela raiz, acabar com a líder daquele "movimento". O assunto da mãe a fez irritar-se. Aproveitou a falta de pressa das funcionárias em levá-la para sua cela, até se divertiam ao ouvir os comentários das presidiárias. Chegando ao meio do corredor, viu quem era a principal causadora de todo o espetáculo e decidiu arquitetar um plano em sua mente. Desde o primeiro dia a observou e percebeu que era ela quem mandava ali. Todas as outras eram apenas seus ratinhos, suas seguidoras, fazendo tudo o que lhe ordenasse. Uma das carcerárias a parou segurando em seu ombro e sem saber, facilitou a ação que iriam presenciar no seguinte momento. Anastasia sorriu ao concretizar o que faria.
— Ei, bonitinha.— Chamou a mulher atrás das grades.— Não vejo a hora de se juntar a nós e eu poder deformar esse rostinho perfeito.
Todas riram, inclusive as funcionárias que estavam uma de cada lado da ruiva. A ruiva sorriu, aprovando o dito. A sanidade passou bem longe. Olhou para baixo lembrando-se de sua lâmina no bolso do uniforme azul. Um pensamento inteiramente diabólico tomou conta de sua mente e Anastasia sorriu ainda mais. Uma das funcionárias aproximou-se da orelha de Ana para falar-lhe algo.
— Está vendo essa aí?— Perguntou.— Se eu fosse você não mexeria com ela. Ah...— Lembrou.— E foi ela quem lhe presenteou com aquela lâmina. Faça bom uso.
Dito isso se afastou e quando iam andar, Ana finalmente decidiu se pronunciar.
— Fazer um bom uso, é? Pode deixar.— Seus olhos não saíam da presidiária.— Que maus modos os meus... Gostaria de agradecer.— Com um movimento rapido deu uma cotovelada em uma funcionária e no mesmo instante já havia chutado o rosto da outra. Então correu até a mulher que estava com os braços inclinados nas grades, subiu nas mesmas, pisando em cima de um de seus braços e com um dos pés, enfiou a cabeça da mulher entre as duas barras de ferro, depositando toda a sua força. Todos se surpreenderam com a atitude da mulher, afastando-se. Desceu e passou a lâmina profunda e lentamente em seu pescoço.— Obrigada.— Sussurrou em seu ouvido, vendo o sangue espargindo. Voltou-se para as carcerárias que estavam caídas no chão, paralisadas com a cena.— Vamos?
Saiu caminhando pelo corredor, agora silencioso, exibindo um sorriso largo no rosto e cantarolando uma música macabra que ouviu em algum lugar.
O que todos não puderam acreditar é que o Anjo Negro havia assassinado a detenta estando com algemas, o que fez todos sentirem ainda mais apreensão. O chão já formava um lago de sangue e a responsável com respingos do líquido vermelho. Chegou ao fim do corredor e ficou esperando na porta da cela alguém abrir as grades para que pudesse entrar enquanto via um pequeno alvoroço de funcionários se formar em segundos. As presidiárias não emitiam som algum. O corpo da prisioneira estava apenas segurado pela sua cabeça entalada na grade acompanhado de uma poça de sangue ao chão. A lâmina ainda estava instalada no pescoço da mulher, ao final do profundo corte que jorrava sangue como uma torneira. Todos mantinham-se calados a não ser por uma carcerária que chegou correndo depois de ver o estado de choque das colegas de trabalho. Ela pegou seu rádio de comunicação e passou a avisar sobre a prisioneira 3.0.4., já que não tinham o nome de Anastasia. Todas as presas também haviam se calado. Ouvia-se apenas burburinhos comentando o que a ruiva havia acabado de fazer. Inclinou sua cabeça para trás sentindo a parede encostada em sua cabeça e suspirou enquanto esperava a porta de sua cela ser aberta, sem a menor intenção de fuga. Fechou seus olhos pensando no que acabara de fazer e voltou a sí. Se arrependeu amargamente, não por ter matado, mas por não ter tido um motivo cabível em suas regras. Ela havia acabado de matar alguém que não estava na lista dos justiceiros, nem ao menos sabia o que esta mulher havia feito para estar em uma prisão. Antes que pudesse pensar em mais, sentiu seu estômago arder com um repentino impulso e perdeu o fôlego, curvando-se. Isso se seguiu por mais uma vez a fazendo levar as mãos ao estômago. Caiu de joelhos vendo apenas uma bota preta. Enquanto subia seu olhar percebeu que era mais uma carcerária. Então levou um último golpe no rosto, próximo de seus lábios. A funcionaria segurava um cassetete e sorria com a cena que via em sua frente. Desta vez, uma funcionária mais forte que as que já havia visto por aí. A mulher havia lhe dado um golpe com o objeto acertando seu estômago duas vezes de forma brutal, insatisfeita, acertou seu rosto. Levou as duas mãos ao chão, apoiando seu corpo e vomitou sangue. Provavelmente as regiões acertadas pelo objeto ficaria roxa e Anastasia talvez não conseguiria nem mesmo comer por pelo menos dois dias. Tentava buscar fôlego de todas as maneiras, mas parecia impossível. A visão começara a escurecer, mas a mulher forçava-se a ser forte.
Olhou para onde havia agora um grande tumulto, pessoas se aglomeravam para ver o que ela teria feito. Alguns olhavam espantados enquanto dois homens tentavam tirar a cabeça da mulher que já se encontrava morta por entre as barras de ferro. Sorriu satisfeita com seu trabalho, mas esse mesmo foi desfeito quando viu um certo par de olhos azuis que a encarava desacreditado. Frederick estava incrédulo com o que viu e seu olhar denunciava que já sabia de tudo. Sentiu uma leve pontada de frustração ao receber um olhar de reprovação. Seu estômago apertou novamente e fechou os olhos, contorcendo-se de dor e então passou a vomitar mais, muito mais sangue. De repente, sua visão estava turva e não via mais nada, só sentiu quando seu corpo colidiu contra o chão frio. Se sentia sem forças, perdendo a consciência. Antes que fechasse os olhos, viu Frederick ajoelhar-se a sua frente e levantar seu corpo contra o dele, levantando-se e encaminhando para algum lugar.
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Ele caminhou lentamente até a sala, onde ela lia seu livro sem perceber a chegada de mais alguém na casa, em plena luz do dia. Analisou por completo aqueles cabelos ruivos que tanto lhe chamavam atenção, o corpo que ainda estava se desenvolvendo por conta da puberdade e ainda assim já imaginava coisas voluptuosas em sua mente. Caminhou lentamente até chegar perto do sofá, Anastasia se assustou com uma presença e ao constatar quem menos queria perto de si, sentiu o desespero invadir-lhe. Juntou seus pés ao resto do corpo no sofá, abraçando a si mesma. Sua mãe mais uma vez não estava em casa, eram apenas os dois, maia uma vez. Quando decidiu se levantar, o homem a segurou com força pelo braço, subindo em cima da menina com um sorriso devasso em seu rosto. Ana chorava, seu desespero era como alimento para o homem, a respiração ofegante pelo pavor que tomara conta de todo seu corpo. A teria forçadamente mais uma vez e Anastasia como sempre não poderia fazer nada por não ser mais forte. Kaloey passou a língua entre os lábios aproximando a boca às da menina que tentava em vão, se desvencilhar e buscava força de onde não tinha para o empurrar e pedir ajuda entre soluços.
— Me solte! Por favor... Não!
— Shh... Caladinha.— Brincou com seus cabelos.— Hoje você vai ser minha novamente.
E então, o sorriso mais assustador que já viu em sua vida, retornou nos lábios do homem que um dia disse a amar como uma filha. Era evidentemente a pior mentira. Tudo fazia parte de um jogo psicopata, um aterrorizante jogo de um homem que tinha a mente de um maníaco fanático por pedofilia. E mais uma vez, a possuiu como em todas a vezes. Seus gritos não foram suficientes para a tirar daquela tortura. Nunca eram, mas Ana decidiu que aquilo iria acabar, não podia mais fazer parte de algo assim. Mesmo que isso custasse nunca mais ver sua mãe, iria acabar com seu sofrimento.
No outro dia, era mais um dia de aula. A menina acordou contra a vontade e foi mais uma vez levada pela mãe ao colégio. Os amigos não faziam mais parte de seu cotidiano. A menina saiu do carro e seguiu direto em direção à entrada, ignorando o grupo como sempre fazia desde que fora violada. Não os ignorava por falta de empatia, mas porque não confiava em si mesma, ela contaria tudo, principalmente à sua melhor amiga. Os jovens se sentiram incomodados, haviam reclamado o afastamento na semana que se passou à Rose que prometeu falar com a garota. Sua conversa pareceu não ter adiantado muito, ela não voltaria atrás com sua decisão. Durante as horas que se passaram, os amigos tentaram inutilmente se reaproximar da amiga. Anastasia não daria o braço a torcer. Quando a hora de ir embora chegou, a menina sentiu dentro de si o rotineiro desespero, pois nunca sabia se iria estar na companhia da mãe quando chegasse em sua casa, ou se apenas seu monstro estaria lá. Lembrou-se então de quando uma mulher se aproximou dizendo que sabia tudo o que se passava em sua casa e lhe ofereceu abrigo. Ana sabia que poderia ser mais alguém querendo lhe fazer mal, mas não iria voltar atrás, iria fugir para sempre das garras de Kaloey, afastando-se também de sua mãe. Saiu para fora da escola, encontrando aquele mesmo carro preto do dia anterior. Sorriu. Poderia ser sua esperança.
— Ana!— Kath se aproximava.— Ana! Precisamos conversar!
Não havia tempo. A menina apressou seus passos assim que viu a melhor amiga querendo se aproximar e rapidamente alcançou o carro, a deixando para trás. Entrou no veículo completamente escuro, voltando a ver o rosto feminino do dia anterior. A mulher sorriu, tirando seus óculos e encarando a adolescente franzina sentada no banco do carona de seu carro.
— Estive esperando por sua decisão.— Incentivou-a.— E então?
Ana olhou pela ultima vez a melhor amiga frustrada juntando-se ao grupo de amigos, enquanto alguns a consolavam. Naquele dia, abriu mão de sua antiga vida para sempre.
— Vou com você.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Luisa Nascimento
Coitada vivendo no inferno. nossa so queria queela o encontrasse e fizesse justiça. crápula!😠😠
2025-01-31
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Marcia Viccari
misericórdia essas coisas acontecem mesmo 😞
2024-01-17
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