Presídio

Caminhando pelos corredores do presídio Anastasia podia sentir o que sua presença causava entre as detentas, algumas delas não gostaram de ter que receber uma novata, enquanto que outras que já ouviram falar dela, limitavam-se a encarar de longe. Os olhares tortuosos e incomodados não parecia ser um problema para a garota de sorriso curto, seus pensamentos a respeito delas não era nada agradável, Anastasia não costumava agir contra mulheres, mas seria capaz de se proteger, se necessário. Não tinha mais controle sobre suas ações, sua sede era apenas de sangue, tornara-se tão ruim quanto a pessoa que a destruiu. Algumas vaiavam sua chegada, outras soltavam comentários do que pretendiam fazer com a recém chegada, mas nada a fazia se sentir abalada. Não importava o que diziam ou pensavam a seu respeito, garantir sua liberdade era o que pretendia fazer assim que seu plano estivesse concretizado, ou se alguém de seu bando a viesse libertar antes disso. Sabia que fariam dela uma cobaia, uma isca para alcançar o resto da facção e se preparava mentalmente para os dias que se seguiriam. Não fosse o maldito juiz, Ana estaria mandando outro mal caráter para o inferno. Não era bom o fato de ter lhe chamado atenção, colocando-se como obstáculo para a mulher, pois ela estava disposta a superar todos os obstáculos postos ao deu redor.

Capturou a pessoa errada, mas terá sua punição por tal e vai ser breve, assim que me ver livre deste lugar nojento e imundo onde estou.

O impulso contra o ombro direito a fez sair de seus pensamentos e quase ir de encontro ao chão, seguido de risos nada silenciosos remetentes não só das detentas, como das carcerárias que a acompanhavam até sua cela. Com algemas ligadas com correntes em suas mãos e pés, a mulher se via quase vulnerável diante das pessoas ao seu redor, mas suas habilidades não lhe deixaram assim completamente. Anastasia pensava que em breve estaria junto de algumas detentas, dividindo a cela e imaginava o que teria de fazer para se proteger. Pessoas consideradas por ela inúteis, sentiam-se superiores à novata, pessoas mais perigosas. A ameaçavam, zombavam. Sorriu de lado pensando que seria uma boa ideia se divertir à sua maneira com algumas internas. Consideraria ótimo ver sangue entre os corredores abandonados pela limpeza, não passavam de um lugar imundo, não faria diferença haver sangue. Observava as atitudes de cada uma das detentas, as fraquezas de algumas eram evidentes. Considerada por si mesma, experiente, Ana sabia como adquirir respeito e seria exemplificando a todos o que faria com quem se colocasse em seu caminho.

Logo chegaram no final do corredor, uma das carcerárias fez sinal para a câmera acima da porta de sua cela para ser aberta. As portas do presídio eram abertas por botões localizados na sala das câmeras. Um modo de reduzir as fugas, mas não cem por cento eficaz e talvez também não seria para Ana. Ao colocar o primeiro pé na entrada da minúscula sala branca, uma das mulheres a empurrou com toda sua força. Ao ter noção do que a queda lhe fizera, virou-se para encarar a loura, culpada pela queda. Gravou o rosto da mulher, colocando-a na lista dos pretendia dar um fim. Como anteriormente falado, Ana havia perdido o poder sobre seu lado negro. Com a queda, acabou colidindo o queixo contra o piso queimado por ainda estar de algemas, foi inevitável não se machucar, mas estava longe de demonstrar dor ou fraqueza, logo sairia e ninguém mais seria capaz de a recapturar. Levantou-se encarando a carcerária com um sorriso fraco lateral, pôde sentir o tremor da loura em resposta de sua frieza, em seguida, retomando a postura firme. Ambas as funcionárias sentiam medo de estar em sua presença, mas era necessário em suas mentes, impor respeito. Assim que tiraram suas algemas, as portas foram fechadas, deixando Ana com pensamentos maquiavélicos, dentro.

***.***.***

O juiz esteve em sua cela mais cedo, dizendo coisas que vindas de outra pessoas, não a abalaria, mas pela primeira vez sentiu acontecer. O homem que tanto a intrigava e intimidava, mas que também a irritava, proferiu palavras que fizeram-na se sentir mal pela primeira vez. Fechou os punhos sentindo a ira tomar conta de si. Como poderia se sentir mal por meras palavras? Ana se sentia intrigada, mas ao mesmo tempo irritada por não ter conseguido reagir a tais palavras. Frederick poderia ser sua destruição, mas não se deixaria quebrar, antes o quebraria. Quando finalmente conseguiu proferir palavras, lembrando-o de seu direito de ter um advogado, simplesmente a ignorou, como se fosse alguém a quem não importasse dar qualquer atenção. Sentiu-se como um lixo diante do Juiz implacável. Frederick Schumacher a irritou muito demasiadamente, fazendo-a ponderar descobrir seu ponto fraco e investir pesado. Esse homem a literalmente incomodava, jurou que um dia ainda o mataria com suas próprias mãos assim como pretendia matar Kaloey. Ana ainda não conhecia o que o destino resolveu lhe reservar, a vida poderia ser ilegível inicialmente.

— Ô princesinha!— Olhou para a presença atrás porta.— Olha a comidinha aqui, ó.

A loura fez sinal para que a pessoa que comandava as câmeras abrisse a porta e imediatamente um sorriso se alargou por seus lábios rosados. Era ela, a mulher que a empurrou e a fez cair anteriormente. Pretendia dar um susto para obter seu respeito. Anastasia não se moveu um só segundo enquanto as grades enferrujadas iam automaticamente para o lado, dando passagem para a funcionária. Ela entrou e as portas se fecharam novamente fazendo-as encarar uma a outra. A loura tremeu, ambas não esperavam por isso. Colocou a comida sobre o chão e a olhou novamente, aproximando-se. Ana fitava-a sem desviar o olhar, sentada, imaginando-se saltar dentro de segundos de sua cama feita de cimento e com um fino colchão e agarrando o pescoço da outra. O sorriso maquiavélico em seu rosto deixava a loira em alerta, tentando esconder o medo.

— Você é surda? Não está vendo que eu trouxe comida, cabelo de fogo?

Desviou o olhar, suas ações não passavam de estratégia para o início de uma "brincadeira" demoníaca. A outra mulher evidentemente mordeu a isca, se sentindo ofendida com o modo de estar sendo ignorada e puxou bruscamente o braço da ruiva, a fazendo levantar e a encarar como igual. Muito bem! Pensou Ana. Encaravam-se como iguais, era isso o que queria, ou não. A ruiva inesperadamente pendeu a cabeça para a frente colidindo com a da loira, a fazendo largar o braço da presidiária, cambaleando para trás. Anastasia aproveitou esse momento para agarrar os cabelos da nuca da mulher, virando-a e batendo seu rosto contra a parede. A soltou e a loira se virou tentando pegar o cassetete preso em sua cintura, mas o foco no objeto fora a deixa para depositar um soco na boca do estômago, a fazendo se encurvar e perder as forças após soltar um gemido de dor. Sem ar com tamanha força que usou para desferir os golpes, ela com certeza ficaria com marcas no outro dia. Abriu um grande sorriso, por fim, dando uma joelhada em seu estômago e a fazendo cair literalmente no chão, de joelhos.

Sua mente doentia em ação não a deixava estar satisfeita com a mulher completamente sob seu poder. Abaixou-se ficando à sua altura. A carcerária não sentia mais fôlego diante de tantos golpes em lugares tão específicos. A sanidade mental da ruiva tornara-se inexistente, estava cega. Agarrou novamente os fios de seus cabelos louros pela nuca fazendo-a encarar. Era um olhar como um pedido de misericórdia, isso a animou ainda mais a fim de ver suas dores. Ana a considerava muito fraca para ser uma oponente, o que a obrigou a se conter mantendo um sorriso sarcástico nos lábios. Inutilmente suplicava por misericórdia com seu olhar. Ana sabia que em pouco tempo iria recuperar seu fôlego, ela não poderia se deixar ser denunciada ou isso poderia prejudicar sua futura fuga, sua tão desejada fuga deste local. Nunca esteve em uma cadeia antes e era pior que imaginava, um lugar infernal, onde até a solidão que admirava se tornou seu pesadelo. Foi colocada na cela mais suja e fedida, tudo isso para satisfazer a ilusão do juiz de pensar que estaria pagando pelo que cometeu contra seu amigo criminoso. Estava sozinha na última cela do corredor por ser considerada a detenta mais perigosa pelo diretor do presídio. Não fazia diferença, era apenas mais um lugar que demonstrava o quão sujos e corruptos eram os homens da lei que encobriam o feito sujo de alguém por ser um importante deputado federal. Dimitry tinha um plano para tirar a sociedade dessa miséria chamada de justiça, essa situação precária que todos estavam obrigatoriamente submetidos, logo estariam sob uma direção muito melhor, assim que neutralizassem os vagabundos da lei. Para isso, tinha que ter a ruiva ao seu lado e enquanto a mulher se via trancada, ele, do lado de fora planejava como a faria sair.

— So-so...

— Shii...— Colocou delicadamente o dedo sobre seus lábios.— Não querida.— Sorriu.— Se contar a alguém o que aconteceu aqui, você morre, entendeu? Não tente contar, pois eu saberei e vou mandar meus infiltrados atrás de você.

— Eu vou...

— Você não vai nada, entendeu agora?— Puxou mais seus cabelos com firmeza.— Fique quieta e não conte isso a mais ninguém, ou irá se arrepender! Agora levante e finja que nada aconteceu. Segue teu caminho!

A loura arregalou os olhos, o medo da mulher era evidente. Assim que a ruiva se afastou, fez como se lhe havia ordenado, levantando-se mesmo com dificuldade. Apareceu na porta e logo a mesma foi aberta dando-lhe passagem. A mulher praticamente correu dali sem nem mesmo olhar para trás, a dor não era um obstaculo para se afastar de uma assassina. Sua vida era mais importante, não iria arriscar perto de uma psicopata. Para Anastasia mais uma missão havia sido cumprida, impondo o devido respeito de uma vez por todas. Olhou para a marmita ao chão considerou-a uma comida mal feita, decidindo não comer e por um instante imaginou se poderia estar envenenada. Persistia em tentar ser uma daquelas pessoas boazinhas que pensam nas tantas pessoas que não tem o que comer só para forçar seu apetite a voltar à tona, mas não foi isso o que a incentivou desta vez. Isso literalmente não funcionou, Ana não se considerava uma pessoa boa. Com o tempo se tornou fria, calculista e ruim, como algumas pessoas que conheceu. Não admitia ser como seu padrasto, satisfazia-se por dizer ser alguém que evitava estupros cortando o mal pela raiz. Fazia o que nunca lhe fizeram.

Deitou-se sobre o colchão extremamente fino, a falta de luxos não era algo a que estava acostumada, parecia estar sobre o chão. Ao menos a noite não estava de todo fria, contribuindo para um melhor conforto. O colchão fino não a incomodava o suficiente, limitava-se a pensar em como poderia se vingar do juiz Schumacher. Fechou os olhos. Nada além dos malditos olhos azuis percorriam seus pensamentos, o homem rondava a mente de Anastasia de uma forma incontrolável. Logo o sono invadiu seu corpo, fazendo-a se entregar aos rotineiros pesadelos.

Narração em primeira pessoa:

Estou dentro de uma casa velha e abafada, está muito escuro para conseguir reconhecer o local, mas ainda consigo sentir a parede de madeira úmida contra minha mão esquerda atrás de meu corpo. Não está totalmente escuro, ainda assim é dificultoso ver um palmo à frente. Sinto muito medo, é desesperador saber que estou sozinha aqui, mas não sei como vim parar neste lugar. Começo a caminhar em direção a uma porta sentindo meus pés colidirem com o piso frio e liso, tenho a sensação de que a qualquer momento bichos subirão pelos pés descalços. Sinto o medo percorrer cada veia existente em meu corpo, cada célula se põe em alerta, sou apenas uma criança em meio a tudo isso. Abro e olho para o que está adiante da porta. Vejo um muito longo corredor me esperando, continuo caminhando, não sei o que vou encontrar, mas espero que nada de muito assustador esteja me esperando. Em minha mão direita seguro com força meu ursinho de pelúcia, o qual ganhei a pouco tempo, mas já o tenho como o melhor de todos, meus pensamentos estão vazios, ocos, como nada. Ouço passos. Fecho os olhos e paro no meio do corredor, desejando que tudo não passe de um sonho, um horrível sonho que me trás sensações que não queria jamais voltar a ter dentro de mim, desperta meus piores medos. Mais passos. Sinto tudo piorar, meus medos aumentam e as lágrimas começam a cair de meus olhos. Abro novamente os olhos e continuo o meu percurso, tudo aqui é assustador. Não vejo muita coisa, vez ou outra tropeçando em meus próprios pés. Um súbito arrepio percorreu a espinha.

— Eu vou te encontrar!

Disse uma voz masculina na qual conheço muito bem e odeio tanto quanto minha própria existência. É a voz fria de Kaloey. É inevitável não sentir medo diante de seus passos, indicando uma aproximação, tento ser forte todas as vezes, mas é inútil. Não consigo vencer. Um toque, em meu ombro e tudo muda. Deixei meu ursinho cair no chão e mais um arrepio horrível na espinha, como em todas as vezes que... Oh não! Ele me tocou de uma forma tão ruim, abusou de mim tantas vezes, não posso ficar aqui. Tentei fugir, eu gritei, tentei correr, eu chorei. Oh meu Deus, como odeio esse homem! Seus braços me rodearam e mesmo gritando e me debatendo era impossível ser solta, Kaloey entrou em um dos quartos comigo em seus braços e senti outro arrepio. As memórias repassavam por minha cabeça a todo momento, foi quando o monstro me jogou contra uma cama com violência. Olhei em sua direção, estava com o seu sorriso maldoso e desabotoando suas calças.

Lágrimas caiam por meus olhos, mas parecia não o afetar, minha voz e corpo não me obedeciam. Sou apenas uma criança, apenas uma criancinha! Como ele pode estar fazendo isso comigo? Não, por favor! Fechei os olhos sentindo uma pontada de dor em meu peito. A pessoa que me conquistou a confiança e me tratou como uma filha, não consigo entender seus motivos. A culpa é minha? Será que lhe dei a entender que queria ser tocada? Seus toques faziam-me ter náuseas. Eu chorei tanto. Então repentinamente tudo cessou, simplesmente cessou. Abri os olhos me deparando com os olhos azuis mais intimidadores que já vi e por um momento não sentia mais medo, era reconfortante. Estava por cima de mim, no lugar onde aquele monstro estava, mas não me tocava. Cada braço seu se posicionou em do meu rosto. Minha respiração ainda estava ofegante, Frederick sorriu. Um sorriso encantador e capaz de me fazer ficar desarmada por completo, por um momento pude ver através de seus olhos uma pessoa muito diferente da que mostrou ser anteriormente. Alguém além daquele juiz irritante e intimidador, que me fazia sentir confortável. Um sorriso que me faz ter paz. Era encantadora a forma como me olhava, seu jeito de sorrir. Tudo nele era encantador.

— Vai ficar tudo bem agora.

Estendeu a mão em minha direção. Olhei para sua mão e sem hesitação peguei a mesma, delicadamente me puxou em sua direção e me abraçou em um gesto protetor. Estava tudo bem. Através daquele abraço, pude sentir como se estivesse me mostrando que nada mais iria me machucar, que nada mais iria fazer-me mal algum. Era assim que me sentia ao ter seus olhos em mim. Protegida. Fechei os olhos sentindo seus braços, era uma criança protegida por Frederick, uma pessoa que era capaz de ir até o fim do mundo por mim. Estava tudo bem. Ele via através de olhos frios a criança desprotegida e amedrontada que existia dentro de mim. Uma criança meiga e doce que só precisava despertar e ver que tudo estava bem, não era mais necessário fugir, se esconder. Chorar. Sorri. Aquela foi a primeira vez que sonhei com ele. Foi a primeira vez que vi o que ele via em mim. Me vi através de seus olhos. Estava tudo bem.

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Comments

Luisa Nascimento

Luisa Nascimento

Nossa quanto sofrimento!😨

2025-01-31

0

Ione barbosa

Ione barbosa

nossaaaaaaa autora sem palavras coitada dessa menina

2025-01-02

1

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