Serene

Ana caminhava mais uma vez pelos mesmos corredores, após uma longa conversa com o diretor do presídio acerca do que fizera com a carcereira. Haviam câmeras monitorando de perto as detentas e mesmo com o silêncio da mulher, não houve como esconder o ato. O homem aparentemente irado a ameaçou de aumentar a pena de Diana, mas sequer sabia o verdadeiro nome da presidiária.

— Não tem condições de estar no mesmo ambiente que as outras.— Ele disse.— Você não tem direito à saídas nos pátios, irá mofar na cela por não saber lidar com as pessoas.

Isso não a amedrontou. As presidiárias tentavam chamar sua atenção com comentários. Ana continuava a caminhar pelo corredor calada, sequer perdia seu tempo respondendo. Por um curto período fechou os olhos e imaginou que estava caminhando por um corredor que lhe concederia a morte, uma ótima opção para quem — no passado — tentou suicidar-se algumas vezes sem obter êxito. A melhor ideia para quem odiava a própria morte. Aquele lugar não era para ela, não se encaixava ali. Pensava que uma prisão deveria ser destinada para estupradores, pessoas que cometiam abusos sexuais, assassinos de inocentes, roubos e crimes contra inocentes. Anastasia matava quem espalhava o mal no mundo, quem contaminava as pessoas, destruía suas vidas. Até então não havia tirado a vida de um inocente, por isso pensava ser injusto estar ali. As algemas apertadas já haviam deixado marcas roxas bem evidentes a sua pele exageradamente branca e com algumas sardas. As carcerárias, vez ou outra a empurravam e diziam para que andasse mais rápido e assim como todos, zombavam. Elas sabiam o que a mulher havia feito com a colega de trabalho, mas não temiam. Um erro. Anastasia Stellenboschs neste momento voltou a se sentir como a criança pré adolescente, que chorava desesperadamente para que o padrasto não a maltratasse ou a tocasse. Sentia dor pelas fortes estocadas da pessoa em cima do pequeno, magro e frágil corpo. A agonia da dor física e interior, os insultos como flechas inflamadas. O desejo de morte. O longo corredor lhe trouxe lembranças e o desejo de morte.

Chegou ao final, de frente para a sua cela, que era a última. Uma das funcionárias da prisão tirou as algemas de seus pulsos, abriu a porta da cela e a empurrou violentamente para dentro. Desta vez não houve uma queda, mas Ana se sentia frágil, como antigamente, como a criança que era estuprada sempre que sua mãe a deixava sozinha com seu padrasto. Queria fugir tanto quanto quis fugir naquela época. A partir da primeira noite, Rose sempre a deixava sozinha com Kaloey. Ana nunca lhe contou sobre os abusos, até que um dia, decidiu tomar uma atitude por si mesma e acabar com se sofrimento físico. Ana protegeu a si mesma. Virou-se na direção das grades, observando as duas mulheres voltarem para o caminho de onde vieram enquanto riam e conversavam aleatoriamente. Depois do que fizera com a loura, ninguém mais seria capaz de a derrubar ou fazer algo grave contra ela, certamente se arrependeriam.

Voltou-se para sua cela, observando pormenorizadamente cada canto do local. Antes não o havia feito muito bem por estar com a mente cheia de pensamentos sobre fulga e vingança. Viu um lugar úmido, paredes descascadas e emboloradas, uma janela minúscula perto do teto, com grades sem motivo, afinal, nem sua cabeça passaria por ali.  A cama era feita de cimento, com um colchão extremamente fino colocado por cima, um cobertor também fino e velho sobre o fino colchão. Havia uma entrada sem porta, apenas uma abertura retangular bem ao pé da cama. Era seu pequeno banheiro, apenas um chuveiro provavelmente desprovido de água quente, um vaso sanitário e uma pia. As paredes totalmente cheias de bolor e o chão escurecido pela umidade. O lugar onde fora colocada era totalmente sujo e talvez a pior cela da prisão. Era de se esperar, Ana matou o melhor amigo do supremo juiz da cidade. Riu ao lembrar-se disso, não estava arrependida, muito pelo contrário. Não havia mais ninguém ali, estava condenada a viver sozinha naquela cela, sem companhia. Em seu primeiro dia, esperou encontrar mulheres em sua cela. Achou até melhor considerando a "recepção" que provavelmente receberia das prisioneiras. Sentou-se na cama de frente para a porta gradeada e passou a lembrar de toda a sua vida, desde quando corria pelo gramado do parquinho, até quando aceitou deixar sua mãe para matar pessoas que faziam mal para o mundo. Os Justiceiros chamavam de desintoxicação humana. Dentre tantos pensamentos, um pairou sobre a mente da mulher: O que adiantava ter matado tantas pessoas se seu padrasto ainda estava vivo? Muito pouco depois que fugiu de casa, Kaloey e sua mãe tiveram mais um bebê. Uma menina chamada Karine. Ana não teve coragem de voltar, apesar de sentir imensa vontade de proteger as duas, pensava não conseguir olhar no rosto da menininha que era fruto de seu estuprador. No fundo, Anastasia se sentia culpada por tudo o que aconteceu, sentia que de alguma forma, mesmo que não perceptível, talvez deu a entender que se insinuava para o monstro *** A maioria das mulheres que já sofreram estupros, se sentem assim, não é culpa de vocês! Nunca será***. Uma lágrima solitária desceu por seu rosto, seguida de muitas outras, escondeu seu rosto com as mãos e se deixou pela primeira vez em muito tempo chorar. Raramente a mulher se deixava quebrar, mas não conseguia mais conter a dor acumulada. Chorou como nunca havia feito em tempos, soluçou tanto que a garganta já se apertava pela dor. Sentia vontade de gritar, de voltar no tempo e contar toda a verdade para Rose, mas não podia. Gemidos de dor escapavam de seus lábios, era uma dor vinda de dentro, o coração da mulher sangrava. Depois de algum tempo despejando toda a dor, se acalmou continuando com as mãos em seu rosto. Limpou as lágrimas e passou a olhar para o nada. Tentou esvaziar sua mente de tudo o que a perturbava.

Ela sentiu um perfume pairar no ar, um perfume bem conhecido. Sabia quem era, desviou o rosto para um lugar onde não teria a visão de seus olhos azuis que seriam capazes de perfurar até sua alma. Instantaneamente arrependeu-se por não ter se contido, por ter se deixado quebrar, não sabia o quanto o Juiz poderia ter visto. Tinha medo de seu rosto ainda estar inchado, demonstrando o tanto que chorou. Frederick parou através das grades, intrigado com a pessoa naquela cama. Duvidou dentro de si que a mulher com o rosto vermelho e levemente inchado poderia ser a mesma que matou seu melhor amigo. Ana esbanjava um ar tão inocente que se não tivesse cautela, poderia se deixar levar. Decidiu ser firme. Com o maxilar trincado, decidiu ser duro com Anastasia.

— Quem a vê assim pensa que não passa de uma menina que foi presa por engano.— comenta frio.

Ela riu. Riu debochadamente de seu comentário e se virou para aqueles olhos hipnotizantes. Seu riso quase poderia ser comparado a uma gargalhada. Não importava mais demonstrar ou não fraqueza. Frederick a via em um estado gradativamente pior. As grades se abriram permitindo-o adentrar o minusculo cômodo, com os braços cruzados. Encarava seu rosto inchado e vermelho. Fingindo, pensou ele. Mesmo acabado de chorar e dando sinais disso, Ana manteve seu costumeiro semblante zombeteiro e superior, uma verdadeira irônica.

— A que devo a honra de sua visita, meritíssimo?— riu ainda mais.

— Acostume-se, assassina. Virei até que descubra tudo sobre os justiceiros e sobre você.— Ele ficou ainda mais sério.— Pretendo te destruir.

Sua seriedade era mais que evidente. A serenidade da mulher o irritava demasiadamente, parecia que nada a abalava, isso o deixava atado. Ergueu as sobrancelhas e deu de ombros, sem o encarar. Não queria se sentir intimidada por um riquinho egocêntrico que se achava o centro do universo. Queria a destruir? Ana já estava destruída. Apenas clamava que acabassem logo com seu sofrimento, pois nada poderia a destruir maia do que já estava destruída. Suas palavras chegaram a ser piada para a mulher.

— Vá em frente, se é que pode. De mim não descobrirá nada.

— Qual seu verdadeiro nome "Diana"? Fez aspas com as mãos.

— Ellen.— Disse apenas.

— Não é. Eu sei que está mentindo, é melhor que diga a verdade antes que seja tarde de mais.

Ana respirou fundo. Há um bom tempo Dimitry havia simplesmente invadido o sistema e tirado exatamente todos os dados sobre Anastasia do ar. Nem a certidão de nascimento da garota constava.

— Sabia que agora que me capturou vai estar na lista dos justiceiros, meritíssimo? Você não sabe a importância que tenho. Pode estar...— Olhou-o.— Correndo perigo.

— Acredite em mim, menininha. Duvido que consigam me matar.— Tão irado estava que preferiu não se aproximar.— Quando estiver disposta a colaborar, estarei esperando. Por enquanto você vai estar morando aí sem ao menos poder sair ao pátio para tomar sol.

Anastasia viu-se por baixo pelas palavras do Juiz de Rosenfeld.

— Advinha? Eu já sei que não posso sair!— Levantou-se.— Mas saiba que vou fugir quando menos esperar!

Frederick virou-se de costas e deu seu primeiro passo, mas a voz doce da mulher mais forte que já conheceu invadiu seus ouvidos. Afastou pensamentos que instantaneamente invadiram sua mente, as vezes o homem se via ponderando entre a odiar e admirá-la. A voz aveludada o fez perder o controle de seu próprio corpo.

— Ei!— Parou para ouvir seus protestos.— Eu tenho direito a um advogado, Frederick Schumacher. Acredito que não vai me negar esse direito, não é?

O homem saiu dali pisando duro ao se lembrar de que se um advogado entrasse em sua causa, ela responderia em liberdade, pois haviam muitos fatores que a favorecia. A mulher não estava disposta a dizer nada, isso o enfureceu, pois era a única que conseguiu capturar depois de tanto os perseguir. única que tinha ligação com essa organização na qual considerava uma quadrilha muito bem esquematizada e extremamente perigosa. Graças a Anastasia os outros três justiceiros conseguiram escapar deixando Frederick em um mapa sem linhas.

***.***.***

— Senhor, todas as “Diana Campbell” encontradas não chegam nem perto da mulher que capturamos.— disse o homem.— Veja esta.

Mostrou-lhe uma foto de uma em meio a tantas Diana Campbell. O agente fazia de tudo para aproximar-se de seu rosto cheio de sardas e extremamente pálido, mas tudo o que conseguia era mulheres completamente diferentes. Esta, por exemplo, vestida de roupas completamente negras como a escuridão, desprovida de sardas e cabelos negros. Frederick via-se irritado com tamanho trabalho que estava tendo. Sabia que Anastasia não estava disposta a colaborar, portanto não iria desistir de a encontrar no sistema, Frederick tinha de ter a quem culpar pela morte de Jhofrey e tantos outros poderosos, não só na política.

— Joga a foto do rosto dela no banco de dados faciais.— Respondeu extremamente nervoso.

Ficou um tempo vendo aquele homem, agente do FBI fazendo várias buscas em seu computador, jogou o rosto dela no banco de dados faciais e via algumas outras coisas, enquanto o computador procurava por todo o mundo. Depois de alguns minutos, voltou-se ao Juiz, frustrado.

— Nada.— Respondeu-o. — É como se ela fosse um fantasma. Não tem ascendência, filiação, parentesco... Nada! Nem mesmo seu rosto aparece aqui. Tudo o que lhe pertencia no sistema foi simplesmente destruído. Essa mulher é realmente muito esperta.

Soltou o ar, sentindo um peso sobre si. Logo a justiça estaria atrás da tal mulher, ela responderia sim por alguns processos, mas Frederick responderia por muitos outros, caso decidisse a manter apreendida. Precisava incriminar esta por seus crimes, mas como descobrir quem era? Não era a hora de desistir. O FBI não poderia estar atrás dos Justiceiros como disse, quem quer que apagou seus dados, deveria ter deixado alguma falha. Por menor que fosse.

— Mas nós temos que ser mais! Sem provas contra essa mulher não vou poder mantê-la presa. Como vou julgar sua causa se nem mesmo um nome tem? Nem um endereço vocês foram capazes de achar! Isso é humilhante para o FBI.

— Desculpe, senhor.

Ficou ali pensando no que fazer a seu respeito, até que teve uma ideia.

— Procure por alguém que pareça com ela. Não sei... Pode estar exclusa do sistema, mas possa ser que tenha um pai, ou uma mãe. Este provavelmente não está.

Assim fez o agente, procurando diligente e cuidadosamente por pessoas que se pareciam fisicamente a Ana. Inicialmente não parecia uma boa ideia, muitas pessoas se parecem sem ser parentes, era como achar uma agulha no palheiro. Encontrou alguns rostos, e assim foi descartando os que com certeza não seriam de sua família até chegar em alguém. Uma verdadeira cópia da mulher, com poucas diferenças, uma delas era a diferença de idade. Os olhos também diferenciavam-se. Rose Stellenboschs Margonight. Uma mulher de quarenta e dois anos, ruiva, olhos azuis, casada pela segunda vez com Kaloey Margonight e mãe de Anastasia, filha de seu primeiro e falecido marido. Aparentemente a menina foi assassinada aos dezesseis anos, após fugir de casa por um motivo desconhecido e o primeiro marido morreu em uma viagem de trabalho. Rose teve uma segunda filha: Karine Stellenboschs Margonight de quatro anos. Ela é dona de lojas de grife e seu marido corretor de imóveis de uma empresa muito conhecida. Eles moram no interior de Rosenfeld. Frederick leu rodas as informações com cuidado, sabendo que poderia ter tido sorte em encontrar alguém tão à prisioneira. Mandaria todas estas informações ao juiz que a julgaria, ele não poderia fazê-lo, pois esteve presente na emboscada contra a mulher. O segundo motivo era que Jhofrey, uma das vitimas dela, era seu melhor amigo. Associado ao nome de Anastasia Stellenboschs havia apenas uma foto, isso chamou a atenção do meritíssimo.

— Coloca na foto de Anastasia.— Pediu.

Assim que o agente encontrou a única foto da garota, foi dispensado e se levantou para pegar café em outra sala, deixando o homem sozinho. Então Frederick se sentou na cadeira e passou a analisar a foto da menina em sua frente. Uma adolescente, apenas uma pequena adolescente, franzina e feliz. Aparentava ter uns quatorze anos, estava na praia com um vestido florido e uma coroa de flores em sua cabeça, ao seu lado a mãe. Os cabelos ruivos da menina desciam até sua cintura. Sorria encantadoramente para a câmera, um olhar inocente e cheio de alegria por fora, mas não parecia realmente feliz, dentro de seus olhos havia algo que nem todos poderiam ver, como um pedido de socorro. Isso chamou mais a atenção do homem, amolecendo mais seu coração, imperceptivelmente se via atraído por uma criminosa. Frederick inicialmente teve dúvidas se seriam a mesma pessoa, mas o olhar não havia mudado, o pedido de socorro estava ali, a dor estava ali. A inocência também não estava ausente. Os olhos castanho-dourados pareciam, naquele tempo, ser mais cheios de vida. Ainda continha uma misteriosa luminosidade incrível, ainda que pequena. Era ela. O homem a reconheceria de qualquer forma.

Num impulso, Frederick imprimiu a foto junto aos dados, pegou os papéis em mãos e saiu imediatamente. Tinha em sua cabeça uma ideia do que fazer com sua descoberta. A mulher não se chamava nem Diana e tão pouco Ellen, mas Anastasia Stellenboschs. Algo acendeu e amoleceu dentro do homem ao lembrar-se de seu verdadeiro nome. Era um mistério sobre seu pai, não dava para saber quem era, seus dados estavam simplesmente excluídos, apenas um resumo de sua morte, ao contrário dela, seu pai não deixou sequer uma pista. Não houveram falhas. Talvez sejam da mesma quadrilha, pensou. Saiu do prédio e entrou em seu carro colocando o cinto de segurança e não acreditando no que acabara de descobrir. Anastasia não era mais tão esperta assim e as horas que o juiz Frederick passou dentro do prédio da maior agência de investigação, não mais faziam tanta diferença. Seguir todos os passos daquela mulher até encontrar algo que realmente importava para abrir um processo contra seus crimes foi o que lhe deixou animado. Estava arquitetando um plano em sua mente enquanto dirigia em direção a sua casa. Segundo o combinado com a assistente social. O homem decidiu assumir o que ninguém queria, a filha pequena de Jhofrey.  Seus parentes a rejeitara. A menina iria para sua nova casa naquele mesmo dia e Frederick tinha que estar presente para recebê-la. Mesmo tão nova, com apenas seis meses que veio ao mundo, a menina já se parecia com seus pais. Jhofrey sempre pensou em um nome para a mesma, mas nunca lhe atribuiu um em todo o tempo de sua vida. O juiz se sentia indignado e ao mesmo tempo raivoso por saber que a pequena havia sido abandonada por todos depois da morte de seus pais — a mãe morreu no parto — e que, voluntariamente ofereceram a guarda dela a alguém que nem um laço sanguíneo possuía. A pequena foi rejeitada por seus avós e tio, ninguém iria assumir o "problema". Obviamente aceitou adotá-lá, pois o avô que foi pessoalmente oferecer a própria neta, ameaçou a colocar em um orfanato, caso ninguém a quisesse. Então Frederick decidiu assumir a criança, não por obrigação, mas principalmente porque a filha de seu amigo não ficaria desamparada.

Ainda se lembrava quando o velho o esperava, já com papéis de transferência da tutela prontos, oferecendo descaradamente a própria neta. Inicialmente não entendeu o que queria, mas posteriormente à explicação do homem, Frederick sentiu-se indignado e queria um tempo para pensar sobre o assunto, mas o tempo não lhe foi dado. Assine ou terei de a abandonar em um orfanato, senhor juiz. Insistiu o homem. Jhofrey o ajudou tanto, não poderia não ajudar seu amigo quando precisasse, mesmo que depois de morto.

Após alguns minutos dirigindo, finalmente chegou em sua casa, ansioso para finalmente conhecer a menina. Não houve tempo para isso anteriormente devido ao seu trabalho extensivo. Os portões foram abertos dando-lhe passagem para entrar com seu carro. O tempo passava muito devagar. Seguiu até a garagem onde continha sua grande coleção de carros luxuosos e blindados. Não arriscaria sua vida tendo mafiosos como inimigos. Desceu do carro e seguiu em direção à sua casa pela escada que havia na garagem. Seguiu pelo corredor até chegar a sala, conferindo seu atraso no relógio de pulso, encontrando a assistente social que já estava sentada com uma criança ao seu lado. Sua expressão não demonstrava muita paciência, ela esfregava uma mão a outra enquanto esperava pelo juiz. Ao olhar para cima e vê-lo, não evitou um sorriso, levantou-se e foi ao seu encontro, deixando a menina ainda brincando com uma funcionária da casa. A presença do Juiz intimidava uns, mas parecia despertar desejos em outros. Parou em sua frente.

— Senhor Schumacher, olá.— disse ainda sorrindo.

— Olá, me atrasei, não é?

Ambos cumprimentaram os e com um aperto de mãos. Conhecia o quanto as mulheres poderiam ser atrevidas e esta demonstrava querer pular em seu pescoço pelo olhar. Manteve-se neutro.

— Não muito. Na verdade eu quem estou com pressa. Tenho muitas coisas para fazer ainda no final desta tarde.

— Compreendo. Há alguma questão que queira discutir a respeito da criança?

— Oh, não. Apenas que terei de vir aqui de vez em quando para ver de perto a adaptação dela e que não há problemas com essa adoção, já que os responsáveis por ela deram-lhe a tutela.— Pigarreou.— Será mais rápido que uma adoção padrão.

— Ah, sim. Muito obrigado.

— Antes de ir, tenho que lhe dizer que deve nos contatar quando tiver um nome para a criança, já que o responsável anterior não lhe deu um nome.

Tendo dito, ela se virou imediatamente para a saída e se foi sem dizer mais nenhuma palavra. Frederick conseguia judicialmente tudo o que queria muito rápido, por ser o juiz mais importante da cidade, seria ainda mais corrida a adoção da menininha. Permaneceu parado por um tempo olhando para a criança que sorria ao brincar com sua funcionária, era uma menina muito carismática e sociável. Parecia gostar de todos de primeira, mas sentia um desconforto, medo por não ser da mesma maneira com ele. Olhou para a mesinha e lá estavam os papéis de adoção provisória dentro de uma pasta bege. Caminhou até a mesma, a pegando e lendo os papéis, ao confirmar que nada havia de errado, voltou sua atenção para a menina gorduchinha e alegre. A funcionária se levantou com a criança nos braços, percebendo a apreensão do patrão e sorriu. Aproximou-se do homem e perguntou:

— Quer segura-la?

Como se tivesse tomado um susto, Frederick a olhou surpreso. Como conseguiria segurar uma criança em seus braços, se nunca havia pego uma? O homem percebeu o quão vazia era sua vida. A pequena tinha seus olhinhos cravados no homem, como se pedisse para ser segurada por ele.

— Oh, não.— Respondeu rápido.— Não levo jeito para isso.

— Não é difícil.— Insistiu.— Tente.

Sem pedir permissão, ela foi entregando a menina em seus braços. Sentindo-se sem saída, Frederick a pegou hesitante e sem jeito por nunca ter pego um bebê em seus braços. Em meio às sobrancelhas, havia uma ruga de preocupação. Frederick não tinha medo de muita coisa, mas pela primeira vez, viu-se com medo. Era medo de machuca-la, derrubar no chão e até mesmo de a menina chorar ao ir em seu colo. Pegou-a cuidadosamente passando um braço em suas perninhas e a outra mão foi para as suas costas. A pequena olhou-o por um instante inexpressiva, então sorriu. Aquele sorriso de certa forma lhe trouxe calma, uma paz como nunca antes, sentiu vontade de protegê-la, de tê-la como uma filha. Uma filha que amaria e cuidaria como se fosse sua, como se tivesse seu sangue correndo nas veias. Então um segundo medo percorreu suas veias e pensamento, expandindo por todo o corpo. Medo de um dia, de alguma forma a perder ou ter de abrir mão dela. Aquela menina era tão meiga, imediatamente lhe trouxe amor, aconchego mesmo em um momento de agitação, em um momento em que a calmaria e o controle de sua cidade estava escapando por entre suas mãos. Decidiu fazer por Jhofrey o que não deu tempo, algo que não conseguiu fazer antes de morrer. Não só cuidar dela, mas também escolher um nome para a pequena. Lembrou-se então de quando foi à Roma e teve uma paixão avassaladora. Conheceu uma mulher que tinha um nome latino, língua antiga romana e teve a certeza de que aquele nome seria perfeito para a pequena, que fez seu coração palpitar tão forte quanto a mulher de nome latino. Seria este o nome de sua filha. Sim, sua filha, ele a adotaria e se talvez casasse e tivesse filhos, seu amor pela pequena de cabelinhos caríssimos seria o mesmo, talvez maior até que os herdeiros de seu próprio sangue.

— Serenela.— disse.— Minha doce e pequena Serenela.

Abraçou a menina que riu com o ato do novo pai. Caminhou com a filha em seus braços até o sofá, a colocou lá, sentando-se no chão à sua frente e começaram a brincar um com o outro. Não percebeu quando as horas foram se arrastando como casualmente, logo a noite estava chegando. Então a levou para o quarto dele já que o seu ainda seria preparado. Obviamente faria um quarto bem feito para a nova filha, mas não teve tempo para tal, já que tudo aconteceu tão rápido e repentino. Antes de pedir para uma funcionária dar um banho em Serenela, a alimentou e tomou seu banho também. Deitou na cama, colocando a menina ao lado, ambos estavam muito cansados, Frederick quase não percebeu quando uma palavra saiu de sua boca. Uma palavra que pensou que era por estar com saudades de seu progenitor, pois nunca mais o veria. O que não sabia era que ela não ficava muito perto de seu pai que em vida sempre a culpou pela morte de sua mãe. Obviamente nos últimos tempos Serene estava conquistando seu coração sorrateiramente, ainda assim Jhofrey se sentia incomodado com sua presença e a ausência de sua amada. O criminoso não havia tocado na filha para a fazer mal, pois apesar de já ter pensado, nunca teve coragem porque a menina lhe lembrava sua falecida esposa. Isso não duraria muito tempo. Frederick sem saber, salvou Serenela de seu pai e família. Fechou seus olhos e antes de adormecer escutou a primeira palavra que aprendeu a dizer após se entregar ao sono:

— Papa.

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Comments

Luisa Nascimento

Luisa Nascimento

Viu a Anastásia é que salvou a vida dessa criança sr. juiz.😶😶

2025-01-31

1

Elis Alves

Elis Alves

Ele ainda vai agradecer por Anastácia ter matado aquele verme, pois iria com certeza abusar da própria filha, ainda mais se parecesse com a mãe

2023-11-05

5

Elis Alves

Elis Alves

Bem estranho, esse nome🤔

2023-11-05

0

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