18- Já passou...

Desde que Marjorie me ofereceu um emprego ali mesmo no hotel, meus dias tem se tornado mais alegres. Ficava meio período na recepção e depois na hora do almoço trocava com Marjorie, e quando voltava passava de quarto em quarto para saber se estava tudo bem.

Ravi já tinha se acostumado a ficar na recepção na cadeirinha que antes estava em meu carro, e por falar em meu carro agora o veículo ficava na garagem lateral do hotel, resolvi que não iria mexer nele, o deixaria lá por enquanto, afinal não tinha em mente sair de lá para nada.

Era uma sexta feira, o dia estava nublado e por isso fiz duas xícaras de chocolate quente e estava levando em uma bandeja para a recepção onde Marjorie estava sentada brincando com Ravi.

— Olha!! Acho que vou lhe dar mais um cargo, o que acha de cozinheira chefe? — Marjorie falou depois de beber um pouco e recostar a cabeça para trás se deliciando com o gosto.

Minha risada foi interrompida pelos resmungos de Ravi que foram seguidos pelo som de que sua fralda estava cheia, a careta que fiz foi o bastante para Marjorie rir.

— Oh meu filho, mamãe te ama… Mas não acredito que um ser pequeno como você pode fazer tudo isso de coco! — Me abaixei para pegá-lo e senti suas mãos indo de encontro com meus cabelos onde ele apertava e levava a boca.

— Usa o escritório aqui atrás, deixei algumas coisas pra ele lá. — Marjorie falou ao voltar a beber do chocolate quente. Concordei ao caminhar até a porta do escritório, era a primeira vez que entrava ali, a misteriosa porta atrás da recepção.

Ravi após ter a fralda trocada acabou dormindo, não sei por quanto tempo fiquei ali parada observando meu filho dormir, mas o som de passos indicando que havia chegado pessoas me tirou daquele transe de mãe coruja.

— A que devo a honra de sua visita? — Ouvi Marjorie perguntar e por curiosidade dei dois passos em direção a porta que estava entreaberta, mas congelei quando ouvi a voz dele.

— Estou procurando por uma mulher e um bebê… Você os viu? — Aquela voz, era Harlan que estava ali parado com as mãos na cintura, seus cabelos estavam presos em um coque e ao seu lado a figura de Léo, me abaixei na porta e não ousei nem mesmo respirar.

— Oras, você está procurando alguém? Já se perguntou se ela quer mesmo ser encontrada? Ainda mais por um troglodita como você. — Marjorie parecia calma, porém o soco que Harlan deu no balcão me fez levar as mãos até a boca para não gritar, internamente pedia a Deus para ele ir embora logo.

— Saiba que só lhe tratamos como gente por pedido do nosso pai… Não teste a minha paciência sua renegada. — Havia uma certa frieza na voz dele, por alguns segundos eu quis criar coragem e sair para fora, enfrentar Harlan e exigir respeito com Marjorie, mas o medo me congelava por completo. Ele estava me procurando, com toda certeza iria me machucar, não podia me dar ao luxo de sair e ser corajosa.

— Sim, o falecido ordenou que eu fosse tratada com respeito, fico tocada com isso… Puxa que consideração! — Marjorie era com toda certeza debochada.

— Marjorie, por favor… Se você souber alguma coisa sobre eles, por favor nos conte? — Léo parecia suplicar, mas não poderia arriscar. Harlan ainda era o alfa, por mais que sentisse a verdade em cada palavra de Léo, o seu alfa poderia ter outra intenção.

— Não faço parte dos Vaughn, não sei por qual motivo alguém me procuraria. E não, eu não avisaria se soubesse deles, deve ter motivos para uma mulher e um bebê terem fugido do seu irmão aqui. — Marjorie fechou com força o livro que estava em cima do balcão.

— Agora saiam das minhas terras. E não voltem mais. — Ela rosnou ao final, meu coração estava disparado no peito.

Harlan também rosnou olhando para a mulher, porém vi o exato momento em que Léo o puxou pelo braço em direção a saída. A sombra de Marjorie passou em frente à fresta da porta indicando que ela estava saindo de trás do balcão.

Deixei meu corpo desabar por fim no chão e abracei meus joelhos, as lágrimas corriam sem parar, quando a porta se abriu de repente acabei por gritar e isso acordou Ravi que começou a chorar. Marjorie me abraçou beijando minha testa, ela tentava me acalmar e depois seguia em direção a Ravi que parou de chorar assim que ela o pegou no colo.

— Eles não vão voltar… já passou, está segura aqui. Venha, vamos subir. Seu expediente por hoje já acabou. — Marjorie estendeu a mão em minha direção, assim que a segurei ela guiou nosso caminho até meu quarto.

Dentro do quarto caminhava de um lado para o outro, Ravi estava no colo de Marjorie, eu sentia seus olhos sobre mim e neste momento não tinha como formular nenhuma frase, meu coração estava acelerado, as lágrimas não caiam mais por minhas bochechas, porém minha respiração estava descontrolada. Quando por fim me sentei na cama ao lado dela, abaixei minha cabeça até apoiar minha testa nas coxas.

— Descanse, eu vou cuidar de vocês dois. — Marjorie alisou minha costas, sua fala era tranquila e mansa. Queria um dia ser forte o suficiente para retribuir tudo isso.