04 - Olha lá quem está chegando

Oito meses, com um piscar de olhos minha barriga já estava maior e a qualquer momento a criança poderia nascer. De fato as coisas não foram mais fáceis, por onde eu passava aguentava as piadas e as ofensas direcionadas a mim e a gravidez.

Agora eu era conhecida como a Clermont Renegada, então até completar cinco meses ainda me arriscava a sair na rua e caminhar, depois disso me limitei apenas a ficar dentro de casa comendo as coisas que minha mãe e irmã levavam.

Meu pai se afastou, ele não falava nada comigo e quando eu entrava em um cômodo da casa onde ele estivesse, ele fazia questão de sair para não ficar perto. Me acostumei com esse tratamento dele o mais rápido que pensava.

Caminhando de um lado para o outro em meu quarto fiquei por horas, por insistência de minha mãe, o médico tinha me atendido no sexto mês quando senti dores e disse que caminhar poderia ajudar e era exatamente isso que estava fazendo a manhã inteira pois estava sentindo dor.

Ouvi a porta abrir e fechar indicando que alguém estava em casa, alisava minha barriga enquanto dava voltas e voltas, a figura de Sierra surgiu a porta com um sorriso nos lábios, sempre que a via sorrir assim era porque papai tinha saído.

— Vai criar um buraco nesse chão daqui a pouco. — Ela falou ao colocar uma sacola transparente em cima da penteadeira, havia roupinhas ali dentro.

— Ha, Ha, Ha… Engraçadinha AAAAAAAAA — Não consegui manter meu tom de voz, o grito no final foi involuntário e quando tentei dar um passo senti meus pés encharcados por água.

Sierra correu em minha direção passando as mãos por meus ombros e me levando de volta para a cama.

— Sua bolsa estourou! — Ela falou tentando controlar o pânico em sua voz, mas seu coração pulava em seu tórax como um passarinho desesperado.

Nós duas estávamos em casa, minha mãe havia saído mais cedo pedindo meu carro emprestado para colocar alguns acessórios nele.

— Siobhan, me escuta! Vai ter que fazer força. — Sierra estava sentada ao pé da cama, a dor que sentia era tanta que não percebi quando ela me colocou com as pernas dobradas e levantadas na cama.

Sei que era um momento maravilhoso onde a mulher estava trazendo outra vida ao mundo, mas a dor que sentia, os gritos que saiam de minha boca e os sons de respiração que minha irmã fazia era demais, tudo ali era demais. Não estava preparada para isso.

— Empurra Sio, empurra mais um pouco! — Sierra pediu antes que eu começasse a chorar, fiz o máximo de força que conseguia e depois tombei a cabeça para trás. Minha irmã estava ignorando minha súplica e palavras que não conseguia fazer aquilo e apenas pedia que mais força fosse feita.

Não sei quanto tempo levou, mas o choro de um bebe foi escutado ao fundo no exato momento em que não conseguia mais ficar com os olhos abertos.

— É um menino! Siobhan é um menino lindo! — Sierra se aproximava da cabeceira da cama com um pacotinho em mãos.

— Ravi… — minha voz estava fraca, lutei para ficar com meus olhos aberto tempo o suficiente para ver o rosto de meu filho, suas bochechas redondas, os lábios rosados e as mãos pequeninas, porém no segundo em que chamei por seu nome não me lembro de mais nada.

— Não, não, não, Siobhan! Acorda! — Sierra gritou antes de sentir minha cabeça bater contra o travesseiro e eu simplesmente apagar.

(...)

O choro de criança me puxava aos poucos da escuridão onde estava, a cada passo que dava em direção ao choro raios de sol iluminavam o lugar e quando por fim abri meus olhos me vi ali deitada agora com roupas limpas, minha mãe estava sentada na cabeceira da cama segurando Ravi enquanto a figura de meu pai estava na porta, seu semblante era impassível.

— Sierra… — Chamei a minha irmã que estava ajoelhada no chão dormindo com a cabeça próxima aos meus pés.

— Finalmente acordou. Veja minha querida, ele é lindo. — Minha mãe falava com lágrimas contidas nos olhos, antes que pudesse focar totalmente em seu rosto, vi meu pai saindo do quarto.

— O que aconteceu… — Tentei perguntar.

— Você entrou em trabalho de parto, mas o cordão umbilical acabou se enroscando no pescoço de Ravi e quando Sierra cortou você perdeu muito sangue… Seu pai estava chegando em casa quando você apagou e ele chamou o médico… — Minha mãe embalava meu filho enquanto falava, voltei meus olhos para o pequeno e sorri feliz.

— Ele tem o seu nariz, mas os olhos… Esses olhos são lindos… — Minha mãe não terminou de falar, ela depositou um beijo em minha testa e entregou o bebe em meus braços, saindo logo em seguida do quarto me deixando ali com o recém nascido adormecido e minha irmã mais nova que dormia de mal jeito.

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