07 - Aqui Você não entra.

O sol batia no capô do carro e aos poucos o calor dentro ali dentro ficava insuportável, não sei a quanto tempo Ravi estava chorando, mas acordei com seus berros e a julgar pelo agudo do choro ele deveria estar assim a horas, suas bochechas estavam vermelhas e aos poucos sua voz falhava.

— Droga, desculpa meu filho… Dormi demais… perdoa a mamãe… — Falei ao limpar a marca de saliva que tinha escorrido por minha bochecha, peguei Ravi no colo com cuidado. Ele parou de chorar assim que sentiu meu calor e logo levei meu seio a sua boca para amamenta-lo.

Olhando agora pela janela podia ver onde estava estacionada, era na divisa de territórios. Me ajeitei o máximo que podia depois que Ravi alimentado e sonolento aceitou ficar na cadeirinha de bom grado, fiz algumas mudanças ajeitando o banco de trás e tirando as roupas que estavam jogadas sobre o banco.

— Vamos fazer uma pequena viagem, meu amor. — Ravi deu risada sem entender do que eu falava.

Liguei o carro e voltei a dirigir, mais duas horas de estradas e logo chegava a entrada da tribo Vaughn, onde um imenso muro sendo guardado por lobos tanto na forma animal quanto na forma humana, entrar ali seria difícil. Parei o carro no meio da rua e desci do mesmo seguindo o caminho devagar até os três homens que estavam na frente do imenso portão de ferro.

— Quem vem? — Ele perguntou, era um homem alto e forte, tinha tatuagens espalhadas pelo corpo e o cabelo recém cortado caía sobre seus ombros, se não fosse pelos olhos eu diria que minha sorte estava me colocando na frente do proprio Harlan Vaughn, mas ele era menos musculoso que Harlan.

— Siobhan Clermont, desejo falar com seu líder… é urgente. — Falei tentando ignorar a parte em que ele cuspiu no chão ao ouvir meu nome.

— Uma cadela Clermont, acha mesmo que vamos lhe deixar entrar? Vá embora. — O homem bradou firmemente, sentia a desconfiança em seu olhar.

— Diga que é urgente… por favor… — Tentei implorar, mas neste momento seu rosnado me assustou e temi por minha vida e pela vida do meu filho.

— Vá embora antes que eu mostre como a sua gente é recebida aqui. Já disse que aqui você não entra! — Ele gritou a última parte e logo um coro de rosnados e latidos me fizeram voltar depressa em direção ao carro.

Dei a partida no carro novamente e voltei pelo mesmo caminho que vim, tentava manter a calma enquanto dirigia, cuidando para não descarregar minhas emoções no acelerador ou na imensa vontade que sentia em gritar se formando em meu peito.

Meu celular estava com cinco porcento de bateria quando recebi uma mensagem de Sierra perguntando onde estava, respondi rapidamente passando um ponto de localização e assim que estacionei na frente de uma rodoviária, minha irmã chegou atrás.

— Onde você estava? Porque saiu da estação de trem? Céus, Siobhan você está horrível! — Sierra desatou a falar enquanto pegava Ravi de meu colo, analisando se seu sobrinho estava bem, se precisava de algo e se tinha fraldas limpas.

O suspiro descontente que saiu dos meus lábios a fez voltar sua atenção para minha pessoa que lutava para não desmoronar ali a sua frente.

— Não podia ficar na estação mais, então resolvi ir até a tribo Vaughn… — Sierra me olhou assustada, deixando que um som de espanto escapasse de seus lábios.

— Eles fizeram algo com você? Tocaram em você? Siobhan, me conta logo! — Sua preocupação me fez rir. Era uma risada autodepreciativa de mim mesmo, mesmo que os lobos da tribo Vaughn tivessem me tocado, nada seria feito, eu não era mais vista como a filha Alfa e meu pai não compraria briga alguma em meu nome.

— Sierra, eu preciso falar com Harlan… Ele pode talvez me dar abrigo, afinal sou mãe do seu filho. — Falei ignorando todas as perguntas dela, sem dizer mais nada ela entregou Ravi em meus braços e pegou o celular fazendo algumas ligações.

Segurando Ravi e o vendo com suas mãos pequenas puxar meus cabelos, sorri com aquilo, para ele tudo era uma diversão. Fiquei tão concentrada na maneira como ele tão pequeno se divertia com tão pouco que não dei atenção para minha irmã que andava de um lado para o outro falando e gesticulando ao telefone, quando ela me chamou havia se passado trinta minutos, ela me entregou o aparelho com um número no visor.

— Cobrei alguns favores. Esse é o telefone dele, liga. — Sierra falou novamente com ternura, ela pegou Ravi de meu braço e voltou a brincar com seu sobrinho como se nada de ruim estivesse acontecendo.

Respirei fundo por duas vezes antes de finalmente apertar o verde e ligar. Por duas vezes, a ligação caiu na caixa postal e na segunda vez pude enfim ouvir sua voz.