12 - Essa é minha vida agora?

Depois de pegar todas as minhas coisas e as de Ravi também, mal tive tempo para deixar um bilhete a Leo agradecendo pela hospitalidade, tudo que eu queria era ir embora de lá.

Estava bom demais para ser verdade, a promessa de uma casa, uma cama quentinha e macia, além é claro da segurança que meu filho iria sentir sempre quando abrisse os olhos e visse paredes ao seu redor. Tudo isso se foi com apenas um gesto. Pisquei duas vezes ao afastar os pensamentos para longe, quem buscava por segurança não era um bebê de dois meses de vida, eu precisava organizar a vida e meus pensamentos, eu sou o porto seguro daquela criança, então estava na hora de começar a agir como tal.

Por mais que Harlan não tivesse me marcado naquela noite meses atrás, ainda sim eu sentia a nossa ligação, e mais do que isso tínhamos Ravi, o nosso elo para toda vida.

Queria esperar a volta de Léo e dizer que não poderia ficar ali, contar a maneira estúpida a qual tinha sido tratada pelo grande Alfa, mas o quanto antes eu fosse embora dali melhor seria.

— Alfa temido e justo... Somente se for nos sonhos dos outros. — Resmungava ao juntar as coisas de Ravi, por sorte tinha seguido com meu carro até a casa de Léo logo não precisaria sair caminhando ao relento por aquela cidade desconhecida.

Assim que desci as escadas após fechar a porta principal da casa já me separei com um grupo de adolescentes em volta do carro, eles olhavam cada detalhe do veículo e quando me viram arregalaram os olhos.

— O carro é seu dona? — Um garoto perguntou ao se aproximar, ele tinha estampado no rosto um sorriso de puro escárnio. Seus olhos foram logo de encontro ao meu pescoço buscando por marcas.

— Sabe, nosso Alfa sempre compartilha a carne fresca conosco... — Ele se aproximou mais um pouco e no momento que seus dedos tocaram meus cabelos escuros, chutei sua virilha.

Eu podia até estar triste, mas nunca em momento algum ficaria fragilizada ao ponto de me deixar ser tocada por um estranho.

— Se quiser continuar com cada parte intacta do corpo, sugiro que saia daqui e leve seus amigos juntos. — Falei baixo e nesse momento Ravi resmungou em meu colo atraindo a atenção para si.

— Ela é uma renegada… — O garoto disse ao sorriso malicioso, sendo segurado pelo braço por outro garoto.

— Sabe de quem é essa casa? Se sabe, então já sabe que ela pode ser tudo menos uma renegada. Vamos embora daqui, não quero problema com essa família. — Esse garoto parecia mais sensato do que os demais.

Assim que eles foram embora, balancei Ravi em meus braços com calma e terminei de descer as escadas até atingir a calçada onde meu carro estava parado. Acomodei meu filho no banco de trás do carro, ele estava limpo com roupas limpas e provavelmente mais confortável que eu naquele momento.

O som do monotrilho passando acima de minha cabeça me fez parar e olhar para o alto, onde ele passava sob os trilhos em direção a uma parada que tinha ali próximo. Meu coração se encheu por breves momentos de nostalgia e saudades, sentia falta da minha família, até mesmo do meu pai que tinha me expulsado e dito coisas terríveis.

No momento em que abri a porta do motorista para entrar ouvi a voz de Léo me chamando, não podia simplesmente dizer a ele que fui expulsa pelo seu irmão, na verdade não sabia qual era a relação dele com o irmão e sendo assim não poderia arriscar causar alguma confusão, por isso entrei no carro e após liga-lo sai dirigindo em direção ao portão por onde entrei, pelo retrovisor o vi acenar do meio da rua e até tentar correr, depois disso ele tirou algo só bolso e quando virei a esquina não vi mais nada.

O caminho até o portão me fez passar por um parque, aquele horário da noite não tinha crianças ali brincando, mas já conseguia me imaginar vivendo ali com Ravi correndo e pulando naqueles brinquedos. Uma lágrima solitária escorreu por minha bochecha enquanto me aproximava do portão, o mesmo já estava aberto e ninguém barrou minha saída. Na verdade não tinha ninguém de guarda, era como se Léo tivesse ligado para alguém e me deixado com a famosa carta branca.

A estrada até estava tranquila, mas o choque de realidade era visível quando entrei no território dos Clermont. As casas eram simples, na verdade meu pai nunca se preocupou em criar muros à nossa volta, ele dizia que todos tremiam apenas de ouvir falar em seu sobrenome e que construir muros era uma perda de tempo. Ele também reclamava sobre a tecnologia, por isso havia apenas uma estação de trem em toda a cidade.

Parando para pensar agora, eu deveria ter me preocupado mais com as coisas mínimas daqui, ou melhor, agora eu devia focar em arrumar minha vida, não era mais a filha alfa e provavelmente esse trabalho ficaria para minha doce irmã.

Após aquela tentativa falha de falar com Harlan, fazia uma semana que não via Sierra e confesso sentir falta da minha irmãzinha, se ela sonhar que passei uma semana dentro do carro na floresta com Ravi, com toda certeza ela me espancaria. Será que aquela seria minha vida agora? Viver de porta em porta, escondida no carro ou dormindo em meio a floresta?