05

LUCIANA

No dia seguinte, após as aulas na escola, Luciana foi para a casa de Yuri. Dessa vez não foi barrada na entrada, assim, estacionou seu fusca vermelho no pátio e desceu do veículo. Antes mesmo de bater na porta, esta se abriu e o homem que parecia um mordomo apareceu.

- Boa tarde.

- Boa tarde. - sorriu – Meu nome é Luciana, sou a professora de Yuri.

O homem aquiesceu e permitiu que ela entrasse na casa. Aliás, não era apenas uma casa, mas uma mansão, Luciana nunca entrara em uma casa tão rica e grande.

- O pequeno mestre está no quarto. – o homem que parecia um robô, informou.

- Ele está bem? - perguntou preocupada, enquanto ela e o mordomo subiam as escadas.

- O pequeno mestre passou a noite com febre, mas agora está melhor.

Luciana sentiu o coração encolhendo no peito ao ouvir isso. Chegaram ao quarto do garoto e a professora logo foi falar com seu aluno.

- Boa tarde, meu amor. Como você está? – ela deu-lhe um beijo na testa e verificou que a pele ainda estava um pouco morna.

- Estou bem. - ele sorriu, mas Luciana percebeu que o pequeno estava pálido demais, os lábios continuavam muito apagados. O menino parecia tão frágil.

- Acho melhor que você descanse hoje, meu amor. Amanhã nós faremos as tarefas. – falou colocando os livros na mesinha que havia no quarto.

- Tia, não vá. - a mão pequena segurou seu braço com força – Por favor, fica aqui comigo. Eu senti saudade da escola.

- Claro, querido. Eu vou ficar, mas só por hoje não vamos estudar, certo? Não podemos descuidar dos estudos. – o menino assentiu – O quê você está vendo?

Yuri mostrou a ela o tablet, ele via um desenho da disney. Assim, os dois ficaram assistindo aos desenhos, o garoto falava sobre os personagens e a história, mas a jovem percebia o quanto ele parecia fraco. Será que o pai do garoto não percebia o estado em que o filho estava?

Algo lhe dizia que aquela criança não estava nem um pouco bem. Quando já estava anoitecendo, uma mulher de rosto sorridente entrou no quarto e deixou uma bandeja com o jantar do menino.

- Obrigada. – ela agradeceu à mulher.

- Coma tudo, Yuri. – ela disse e saiu em seguida.

- Não estou com fome, tia.

- Meu amor, você precisa se alimentar. Precisa ficar forte. - pediu – Você não quer voltar para a Escola?

- Quero.

- Então você precisa se alimentar, para ficar forte e saudável. Vamos. - ela levantou da cama e pegou a bandeja. Aos poucos ajudou o garoto a comer, assim, ele tomou toda a sopa que havia no prato, o que acalmou o coração de Luciana.

A moça estava colocando a bandeja na mesa quando a porta foi aberta novamente e, dessa vez, Marco Antônio entrou.

O homem sisudo, todo vestido de preto, olhou para ela, mas não disse nada, apenas a cumprimentou com um aceno de cabeça.

- Meu pequeno, como você está? – perguntou ao filho.

- Estou bem, papai. - o garoto sorriu – Minha tia me ajudou a comer.

- Fico feliz, filho.

- Papai, minha tia não pode morar conosco?

- Yuri! - Luciana disse, mortificada. E se aquele homem estranho pensasse que ela tinha pedido ao menino para falar isso?

- Tia, você cuida muito bem de mim. – o garotinho disse, manhoso. Ela riu.

- Meu amor, eu não posso. Eu tenho minha casa, lembra?

- Então, eu vou morar na sua casa. – disse resolvendo o assunto.

Luciana sorriu, sentindo o coração despedaçado pelo garoto. Yuri era carente e por isso tinha se apegado tão rápido a ela, uma simples professora.

- Filho, sua professora tem a casa dela e nós não vamos incomodá-la.

- Mas papai…

- Yuri, por favor. - disse, sério.

O homem se levantou da cama e foi até Luciana.

- Preciso falar com você.

- Papai, não quero ficar longe da minha tia. - disse triste e choroso.

- Yuri, este assunto está encerrado. – o pai falou, seco, não admitindo réplicas

Quando o homem saiu do quarto, Luciana foi até a cama e segurou as mãos do menino.

- Meu amor, não fique triste. Prometo que estarei aqui sempre que precisar.

O menino não falou, apenas virou e colocou o cobertor sobre a cabeça. Luciana suspirou, desanimada e saiu do quarto. Antes mesmo de ter tempo para perguntar onde poderia encontrar Marco Antônio, o homem apareceu na sua frente.

- Venha.

Ele a levou até um cômodo que parecia ser o quarto principal. Quando entraram, Luciana se viu em um escritório amplo, decorado de forma austera.

As paredes adornadas com quadros abstratos e escuros. O homem foi até mesa no canto do cômodo e sentou-se na cadeira, indicou a professora que sentasse na cadeira a sua frente. Luciana obedeceu e então ele começou.

- Percebi que nesse pouco tempo em que Yuri está no colégio, ele se apegou muito a você.

Luciana assentiu.

- Meu filho é uma criança adorável, infelizmente, alguns acontecimentos recentes interferiram no modo que ele age.

Luciana não disse nada, apenas esperou o que o homem tinha para falar.

- A mãe dele foi embora há pouco menos de um ano. - ele suspirou – Desde então, ele não teve mais contato com ela, isso afetou muito Yuri. Ele era uma criança feliz, apesar de estudar em casa com a ajuda de um professor, ele sorria e brincava, mas após a partida de Eliza, Yuri se fechou em seu próprio mundo.

- Eu percebi que ele não interage muito com outras crianças, prefere ficar na sala durante o recreio, me ajuda com as tarefas. Ele é um pouco tímido.

- Levei Yuri a um psicólogo e ele recomendou que o colocasse na Escola, por isso ele entrou tão tarde no ano letivo. Ainda estou assustado vendo o quanto ele está ligado a você em tão pouco tempo.

- Nós nos entendemos, Sr. Marco Antônio. Ele é um bom aluno e um ótimo menino.

- Eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Sei que você é professora e o que irei oferecer pode parecer um cargo inferior, mas posso pagar mais, o quanto quiser. – ela o olhou confusa – Quero que você fique aqui, cuidando de Yuri.

- Como?

- Yuri gosta de você, ele muda o jeito de agir quando você está, ele nem mesmo come quando eu ou qualquer outra pessoa pede… com você ele se alimenta, sorri, parece uma criança normal... então… você aceitaria trabalhar aqui cuidando de Yuri?

Ela continuou calada.

Não sabia o que responder.

- Bem, pense. – o homem disse – Pense muito bem, lembre-se que eu posso pagar o quanto você quiser. Apenas pense e me diga sua resposta.

#

MARCO ANTÔNIO

Quando a professora saiu, Marco Antônio suspirou, resignado. Teve aquela ideia de oferecer um emprego para a moça após ver que Yuri se alimentou e parecia até mais disposto com a presença dela. A jovem fazia muito bem ao filho, precisava que ela estivesse com o menino, para que sua recuperação fosse mais rápida. Sabia que dificilmente ela aceitaria a proposta, afinal ela era uma professora com boa formação e um bom emprego, mas insistiria até que ela aceitasse.

Dinheiro não era problema para ele e o homem faria tudo, possível e impossível, para que o filho ficasse bem.

Fechou os olhos e lembrou do rosto da jovem quando ouviu a proposta dele, as íris verdes arregalaram-se do susto e a boca se entreabriu em um “o”, como se ela fosse gritar.

Ele conseguia entender a razão pela qual Yuri estava tão fascinado por ela, a voz carinhosa, o tom calmo e amável com que ela falava, o carinho que demonstrava com o garoto…

Além de ser muito bonita. Os cabelos negros, ondulados e longos caíam pelas costas dela, como uma cortina sedosa. Queria sentir a textura dos fios, se eram tão macios quanto pareciam.

Acordou do devaneio quando o telefone tocou. Atendeu sem olhar para o visor do aparelho.

- Alô. – falou, distraído.

- Marco Antônio, querido.

Ele se levantou da cadeira num pulo, a raiva fazendo seu sangue gelar nas veias.

- Eliza, onde você está? – disse entredentes.

- Ah, querido, você não me achará com tanta facilidade. - ela riu – Estou ligando para pedir um pouco mais de dinheiro.

- Eliza, você recebeu mais de cem mil reais com o acordo de divórcio, além da mesada que deposito todo mês.

- Ah, querido, uma mulher tem necessidades, não é? Infelizmente, o dinheiro já acabou.

- Não me interessa. Peça ao meu querido irmão, José Pedro.

- Ah, José Pedro também está sem dinheiro, meu amor.

- Eliza… - falou, tentando se acalmar.

- Lembre-se, Marco Antônio, ou você me dá o dinheiro ou então eu levarei Yuri. Um juiz nunca separaria uma mãe de seu amado filho. – disse numa voz quase chorosa – Pense nisso.

Ele sentiu uma veia latejando na testa, ia ter um troço a qualquer momento, mas antes que conseguisse responder, Eliza desligou.

Marco Antônio grunhiu e jogou o telefone na parede, extravasando a raiva que sentia. A mulher usava o filho para conseguir dinheiro. Sem nenhum pudor.

Nem mesmo perguntava como o menino estava, se sentia saudades dela, se precisava de alguma coisa.

Como pudera se apaixonar por uma criatura tão má? Como se enganou tanto com alguém? A primeira vez que viu Eliza ficou encantado, o jeito meigo e sua aparência espetacular lhe conquistaram logo, mas após o casamento ela se mostrou fria, fútil e interesseira.

Marco Antônio percebeu que não amava a mulher, apenas estava atraído por sua aparência perfeita. Arrependia-se de um dia ter conhecido aquela criatura vil. Só não se arrependia do filho.

Ligou para Renato, pediria ao amigo e advogado que rastreasse a ligação, sua busca por Eliza só aumentava o ódio que sentia.

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Comments

Jane Silva

Jane Silva

ele não tem como conseguir a guarda total? já que ela fugiu com o amante

2025-05-18

1

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

NOJENTA

2024-02-27

0

Elaine Santos Do Nascimento

Elaine Santos Do Nascimento

Que mulher podre. Da vontade de vomitar.

2024-01-22

1

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