LUCIANA
Como em todos os dias, Luciana chegou bem cedo no trabalho. Estacionou seu carro na parte privativa dos professores e desceu, estava tão concentrada pensando nas atividades que faria naquele dia que nem percebeu a aproximação de duas pessoas. Parou quando dois pares de sapato: um pequeno e um grande apareceram em seu campo de visão.
Olhou para cima e viu Yuri e seu pai, olhando para ela. O garoto tinha nas mãos um pequeno buquê de margaridas nas mãos e sorria, tímido.
- Bom dia. - o homem disse, a voz gutural parecia mais intimidadora ao vivo e no silêncio da manhã.
- Bom dia. - respondeu, séria – Yuri, meu querido, como você está?
O menino não falou, mas estendeu as flores para ela.
- Para mim? Muito obrigada, meu amor. - ela beijou as bochechas dele – Eu amo margaridas.
- Gostaria de me desculpar por ontem. - o homem disse, sem esperar mais.
Luciana assentiu.
- Não tem problema, Sr. Marco Antônio Mas o senhor já se desculpou com Yuri?
Ela viu um lampejo de raiva passar pelos olhos do homem, mas ele se conteve.
- Sim. Já expliquei a Yuri a razão do meu atraso. - ele suspirou – Caso esteja ocupado e não puder vir, mandarei meu mordomo buscá-lo, o nome dele é Francisco.
Luciana teve vontade de rir ao confirmar que o homem tinha um mordomo.
Isso sim era ser grã-fino.
Quer dizer, que tipo de gente tão rica era ele para ter um MORDOMO? Ele não conseguia abrir as portas sozinho?
- Tudo bem, senhor. Como quiser. – sorriu.
Marco Antônio olhou para Yuri, depois para Luciana e com um aceno de cabeça saiu. O homem era um poço de antipatia e frieza, andava empertigado como se tivesse um cabo de aço nas costas. Será que ele não relaxava nunca?
Luciana segurou a mão do garotinho e juntos entraram na escola. Ela pediu para ele ajudá-la com a preparação da sala de aula e logo o menino se tornou um pouco mais falante. Durante o dia, conseguiu que ele interagisse com as outras crianças e começou a ver que Yuri só precisava se enturmar, em breve ele estaria inserido entre os outros e seria uma criança feliz.
Só era preciso um pouco de amor e paciência, assim como as flores precisavam do sol e da água, aquela criança ia florescer em breve.
DIAS DEPOIS...
LUCIANA
Os dias passaram e Luciana estava mais ligada ao pequeno Yuri. Ele melhorava a olhos vistos, um pouco mais sorridente, mas o garoto não interagia muito com as outras crianças, por vezes, o menino ficava com Luciana na hora do recreio na sala, pintando ou ajudando a professora com as tarefas da turma.
Ela também percebeu que o garoto tinha algumas dificuldades nas matérias, por isso, naquele dia, um mês após a chegada dele, decidiu propor ao pai dele aulas de reforço.
Todos os alunos foram embora e, como sempre, Yuri ficou por último. Marco Antônio sempre se atrasava para buscar o menino na escola, Luciana já nem ficava mais irritada.
- Boa tarde. - uma voz profunda falou da porta da sala. O homem alto e moreno com expressão fechada, sisuda, estava em pé no umbral, olhando para ela.
- Boa tarde, sr. Marco Antônio . - disse – Preciso falar com o senhor.
O homem entrou na pequena sala e andou até ela. Ele parecia grande demais para aquela sala onde tudo era adaptado para criancinhas, o pai era tão alto e forte, não combinava com a delicadeza do lugar.
Luciana sempre ficava admirada com o andar elegante, parecendo um felino, que aquele homem tão grande exibia.
- O quê Yuri fez?
Luciana ficou confusa com aquela pergunta.
- Como? – balbuciou.
- Se você quer falar comigo é por que ele fez algo de errado. Não se preocupe, ele será devidamente disciplinado.
Luciana sentiu o rosto ficando corado de raiva.
- Não, Sr. Marco Antônio. Pelo contrário, Yuri é um ótimo aluno, aplicado, prestativo e amável. - ao contrário do pai, pensou – Percebi que ele está com dificuldade de leitura. Por isso pedi essa reunião. Yuri precisa de aulas de reforço. Acredito que isso se deva à demora em iniciar na escola.
O homem a fitou sem esboçar nenhuma reação.
- Você seria a professora? – perguntou, analisando-a e, embora o olhar fosse como uma máquina de raio-x que parecia lhe deixar exposta, Luciana não se mostrou frágil, empinou o queixo e respondeu.
- Se o senhor não tiver alguém em vista, posso ser a professora dele. Eu e Yuri nos damos bem, já estamos entrosados e isso facilitaria o aprendizado.
Marco Antônio a observou mais um pouco e disse:
- Tudo bem.
Luciana então explicou como seriam as aulas. Ao final do dia, ela e o menino iriam para a casa dela e passariam duas horas no reforço. Marco Antônio ouvia tudo em silêncio, apenas observando a professora, sem nem mesmo piscar.
- Podemos começar amanhã? - ela perguntou ao final.
O homem, economizador de palavras, apenas aquiesceu.
- Yuri, querido, amanhã começaremos nossas aulas de reforço. Você irá comigo para minha casa por algumas horas. Tudo bem?
O garotinho sorriu e abraçou a professora, saindo logo em seguida de mãos dadas com o pai. Ela suspirou, vendo os dois se afastar.
Yuri já evoluíra bastante mas Luciana esperava que as aulas e a convivência com ela melhorassem o ânimo do garoto, que parecia sempre apático. Em alguns momentos o menino demonstrava falta de ânimo e isso era muito estranho para a idade dele, mas a professora decidiu que observaria mais de perto os hábitos do garotinho que já tinha conquistado seu coração.
MARCO ANTÔNIO
- Renato, eles não podem ter se escondido em outro planeta! – falou para o amigo e advogado que o ajudava com as buscas pela mãe de Yuri.
Eliza sumira. A mulher infiel fugira com seu amante e não dera mais notícias.
Ele queria encontrá-la, queria puni-la e obrigá-la a cuidar do filho que estava sofrendo.
- Marco Antônio, já procuramos os dois pelo país todo, José Pedro e Eliza simplesmente sumiram.
- Malditos! - ele vociferou, dando um soco na mesa – Eu quero que você encontre os dois. E traga-os aqui.
- Nós estamos procurando, Marco Antônio. - o homem disse cansado e saiu apressado, no mesmo instante em que sua mãe e Luísa, sua cunhada, entravam em seu escritório.
Suspirou. Não estava com paciência para conversas amenas com a mãe e a cunhada, precisava encontrar a ex-esposa e o irmão e assim dar uma lição nos dois.
- Meu filho, por que você está procurando os dois? - a mãe dele perguntou, preocupada.
- Mamãe, não é um assunto seu. – respondeu ríspido.
- Marco Antônio, pense bem, meu filho. José é seu irmão, você não faria mal ao seu irmão, certo?
Ele riu, mas era uma risada amarga, cheia de mágoa.
- Engraçado. José Pedro não lembrou que era meu irmão quando começou a se encontrar com a minha esposa. A mãe do meu filho!
- Marco Antônio , querido…
- Não adianta, eu sei que você ama muito José Pedro, mas eu não posso dizer o mesmo. Ele me traiu com Eliza, ele nem mesmo lembrou de Yuri!
Ele não amava Eliza, mas tinha seu orgulho, não era fácil carregar o estigma de ser traído. Ainda mais pelo próprio irmão.
Além disso, via Yuri triste, desanimado, ele não era mais a criança feliz que era antes. Só via lampejos do antigo Yuri quando ele estava com a tal professora.
A professora… uma criatura interessante. Ela era amável e sorridente com o menino, mas dura e direta com ele.
Marco Antônio deu um sorriso de lado, pensando que não tinha nem um pouco de jeito com as mulheres.
- Querido, Yuri ficará bem. Você tem que superar isso, Marco Antônio, por seu filho. Eliza e José foram embora há quase um ano, já está na hora de virar essa página. Você precisa superar, encontrar uma mulher boa para você...
Marco Antônio olhou para a mãe e lembrou dos momentos na infância em que ela sempre defendia o irmão do meio, mesmo quando este estava errado, talvez, por isso, ele tivesse virado um homem mimado e vil, sem nenhum sentimento bom.
- Tudo bem, mamãe. Se vocês não se importam, preciso analisar uns contratos da empresa agora. - disse.
As duas mulheres saíram do escritório e o homem se viu sozinho. Ele encostou a cabeça no espaldar da cadeira e fechou os olhos, cansado. Estava exausto, mas tinha que continuar, pois o filho precisava que ele fosse forte e continuasse.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Fatima Gonçalves
horrível
2024-02-27
1
Carolina Gusmão
Qualquer tipo de traição fica muito marcante,ainda mais que foi com o próprio irmão,muito triste
2024-01-22
1
Maria Izabel
A traição por só não tem perdão ainda mais quando acontece dentro da família 😢
espero que marco Antônio encontre em Elisa o apoio que ele precisa para virar essa página ☺️
2023-10-24
0