04

LUCIANA

No dia seguinte, após as aulas do dia, Luciana e Yuri partiram para a casa da moça, assim como o combinado. O menino parecia maravilhado com tudo à sua volta, quando entrou na casa da professora.

- Tia, que casa bonita! – a criança falou, impressionada.

Luciana sorriu com o comentário do garotinho.

- Obrigada, meu querido. Venha, vamos até a cozinha, você está com fome?

O garotinho balançou a cabeça negando, mas Luciana decidiu que prepararia alguns biscoitos para os dois.

Yuri sentou-se à mesa, enquanto Luciana preparava os biscoitos de limão, que eram receita da sua mãe, enquanto o menino falava, pensativo.

- Minha mãe não sabia cozinhar. – disse naturalmente, como se falasse sobre o clima do lado de fora da janela.

Luciana sentia o coração apertadinho ao ouvir o menino falando da mãe, porque ele dizia aquilo naturalmente e com a voz triste. Era de partir o coração.

- Ontem eu ouvi meu pai discutindo com minha avó. Eles estavam falando da minha mãe. – o menino continuou.

- Querido, você não deveria ouvir atrás das portas. – repreendeu, delicadamente.

- Tia, eu estava indo para o escritório do meu pai, queria mostrar meu desenho a ele, quando ouvi meu pai falando que minha mãe foi embora com meu tio, José Pedro.

Luciana arregalou os olhos ao ouvir aquilo. Deus, que tipo de família era aquela? As pessoas não tinham escrúpulos?

- Meu pai está procurando os dois. Ele está preocupado comigo.

- Claro, querido, seu pai ama você.

- Eu sinto falta da minha mãe.

Luciana colocou os biscoitos no forno e abraçou o menino.

- Querido, não pense nisso agora, certo? Vamos pegar nossas coisas e começar a estudar, enquanto os biscoitos não ficam prontos.

Os dois colocaram os livros sobre a mesa da cozinha e então começaram os estudos, fizeram as tarefas e assim o tempo passou rapidamente. Luciana insistiu que Yuri comesse alguns biscoitos, mas o menino não queria de nenhuma forma.

Perto de seis horas da tarde, uma buzina do lado de fora da casa avisou aos dois que era a hora do garotinho ir embora. Luciana e Yuri juntaram livros e cadernos e, quando já estavam quase na porta, o menino se virou para ela.

- Tia… - ela olhou para a criança e ele parecia muito pálido, os lábios sem cor.

- Sim, querido? – disse, preocupada.

Antes que o garoto pudesse falar, desmaiou. Simplesmente caiu no chão. Luciana gritou e tentou acordar o menino, mas não havia nenhuma reação.

Não soube dizer quanto tempo ficou ali com ele, tentando reanimá-lo, até que a campainha tocou. Ela lembrou que Marco Antônio esperava o menino e foi até a porta. Quando viu o homem, sem nem permitir que ele falasse, gritou:

- Yuri, Yuri desmaiou!

O homem entrou correndo na casa e pegou o pequeno corpo inerte nos braços. Luciana pegou a mochila do menino e seguiu os dois até o carro.

Ela entrou no banco de trás enquanto o pai acomodou a criança em seu colo. Ela abraçou o menino e sentiu que o garoto estava recobrando os sentidos.

- Yuri, Yuri, fale comigo. – pedia, desesperada, nem sentia que estava chorando, embora as lágrimas saíssem profusamente de seus olhos.

- Tia… - ele disse baixinho.

- Meu amor, meu amor, você vai ficar bem. - ela prometeu, enquanto abraçava o menino e rezava para Deus, pedindo a saúde daquele pequeno.

Não sabia a razão para amar tanto aquela criança, mas tinha se apegado muito a ele naqueles dias, talvez visse nele ela mesma, sem mãe, com um pai ausente que trabalhava demais…

Chegaram ao hospital rapidamente. Marco Antônio pegou o filho nos braços e o levou até a emergência, enquanto gritava que precisava de um médico. Yuri já estava acordando e olhava para os dois, sem entender a gravidade da situação.

- Calma, Yuri, estamos no Hospital, tudo ficará bem. – ela falava para o menino assustado.

O garoto foi levado e os dois ficaram na recepção, aguardando notícias. Luciana não sabia o que dizer, por isso explicou ao homem.

- Ele não quis comer os biscoitos. Eu percebo que Yuri não come suficiente. - ela disse para Marco Antônio.

O homem a olhou, sério.

Ela percebeu que o homem estava sofrendo.

- Ele parece pálido. Você não acha? – perguntou, aflita.

Antes que o homem pudesse responder, o médico saiu e foi falar com eles.

- Yuri está com uma anemia severa. – o profissional informou, calmo.

- Deus! - Luciana disse, já sentindo as lágrimas correndo por seu rosto. Era só uma anemia, por mais que fosse severa, era um problema menos grave do que outras doenças.

- Com cuidado, alimentação e remédios, ele ficará bem. - o médico disse, acalmando os dois – É necessário alguns cuidados extras, como evitar contato com outras pessoas além da família, uma vez que a imunidade estará baixa. É recomendável que ele fique em casa, em repouso.

O homem deu mais recomendações, falou sobre os alimentos que ajudariam a criança a melhorar mais rápido. Marco Antônio ouvia tudo calado, enquanto Luciana chorava, aliviada.

Quando o médico saiu, os dois foram ver o pequeno doente. Yuri estava sentado na cama, o braço preso ao soro, ele parecia emburrado.

A moça observou que ele ainda permanecia muito pálido, os lábios sem cor, mas acreditava que era normal, em breve ele estaria bem e corado.

- Papai, quero ir para casa. – o menino disse, chateado.

- Nós iremos depois que o soro terminar.

- Tia, eu tenho que ir para a aula amanhã, não posso ficar aqui.

Luciana sentiu o coração apertadinho. A criança não poderia ir para a escola tão cedo, ele deveria evitar sair de casa, evitaria que contraísse alguma infecção, já que sua imunidade estava muito baixa. Ela olhou para Marco Antônio e depois para a criança.

- Meu amor, você terá que ficar alguns dias em casa. Por precaução. – falou, enquanto acariciava os cachinhos escuros do garoto.

Ele olhou para a professora e depois para o pai.

- Eu vou ficar sem ver você? – Falou e ela percebeu que os olhos dele estavam cheios de lágrimas que logo logo sairiam.

Luciana sentiu o coração partir em mil pedacinhos ao ouvir aquilo. O pequeno também estava apegado a ela.

- Querido, eu irei à sua casa todo dia, levarei suas tarefas e estudaremos juntos. - disse para Yuri – Certo? - finalizou, olhando para Marco Antônio, pedindo permissão.

Marco Antônio assentiu.

- Eu queria que você morasse lá em casa. – a criança disse, inocentemente.

Luciana riu.

- Não posso, querido. Eu tenho minha casa. Mas vamos, não se preocupe, descanse, para que fique bem logo.

O menino concordou e logo depois do soro terminar, os três foram embora. Marco Antônio decidiu deixar Luciana primeiro em casa, uma vez que a moça tinha saído sem nem mesmo levar a bolsa. Quando o carro parou em frente ao pequeno imóvel, ele olhou para trás e viu que Yuri dormia, tranquilo.

- Obrigado. Obrigado por cuidar dele.

Luciana olhou para o homem e sorriu.

- Eu faço porque gosto muito de Yuri, ele é um garoto especial. - ela respondeu observando o garotinho – Amanhã irei até a sua casa, levarei as tarefas dele. Se não for um problema.

- Não é. – o pai garantiu – Eu agradeço a sua dedicação. Irei recompensá-la.

- Não é necessário, Sr. Marco Antônio, eu faço tudo isso por Yuri. – o homem aquiesceu - Até amanhã, então. - ela disse e saiu do carro.

Marco Antônio esperou a jovem entrar em casa e logo depois o carro foi embora.

Ela suspirou e ficou pensando no menino. Ele parecia ainda muito pálido quando saíram do hospital.

Há muito tempo não rezava, mas naquele dia ajoelhou-se em frente ao pequeno altar que mantinha ali e pediu pela saúde daquela criança que lhe era tão querida.

Ele já sofria pela falta da mãe, pelo escândalo da mulher ter ido embora com o próprio tio, aquela criança não merecia sofrer ainda mais.

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Comments

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

quanto tempo será que ele não se alimenta

2024-02-27

1

Carolina Gusmão

Carolina Gusmão

Pobre criança,como fica a cabecinha sabendo que a mãe foi embora com o tio
É de cortar o coração

2024-01-22

3

Maria Izabel

Maria Izabel

Pois é né os problemas dos adultos sempre refletem nas crianças principalmente no emocional infelizmente é uma realidade ainda 😔

2023-10-24

1

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