02

LUCIANA

Foi para casa, ainda pensando no que aconteceu. Luciana gostava muito de crianças, por isso escolhera aquela profissão, acreditava que sendo professora poderia fazer a diferença na vida daqueles pequenos.

Minutos depois estacionou o carro em frente a uma casa simples no subúrbio da cidade. Era um bairro calmo e familiar, ainda se via crianças na rua brincando e passeando calmamente.

Desceu do veículo e logo foi saudada por Neide, sua mãe de leite. Ela era a única mãe que teve, visto que não conheceu a mãe de sangue, a mulher morrera logo após o parto.

- Boa tarde, minha filha. Chegou tarde hoje.

- Boa tarde, mãe Neide. - ela beijou a mão da mulher em sinal de respeito – Tive que deixar um aluno em casa, o pai esqueceu de buscá-lo.

- Meu Deus, que tipo de pai é esse?

Luciana deu de ombros e juntas entraram na casa. A jovem morava sozinha ali desde que o pai morrera, há um ano. A senhora era sua vizinha e estava sempre por ali, lhe fazendo companhia.

A moça deixou as coisas numa mesa próxima à entrada e foi para a cozinha, preparar café. Ela contou tudo sobre Yuri para a mãe, como ele parecia triste e deslocado das outras crianças.

A mulher lamentou isso, a senhora era muito amorosa e gentil, amava tanto ela como se fosse filha do seu ventre, assim como Felipe, seu filho natural.

- Querida, preciso ir. Felipe chegará daqui a pouco. – ela olhou para o relógio na parede, já passava das sete horas da noite – Preciso fazer o jantar dele.

Elas se despediram e logo Luciana estava sozinha, pensando em como Yuri estaria. Acordou dos devaneios com o telefone tocando, sem nem mesmo olhar para a tela, atendeu.

- Olá. - disse prendendo o aparelho entre a bochecha e o ombro, enquanto misturava a sopa na panela.

- Como você ousou tirar meu filho da escola? - uma voz masculina raivosa vociferava do outro lado da linha.

- Ah, Sr. Marco Antônio. - ela suspirou, tentando acalmar-se – Bem, tentei falar com o senhor, liguei várias vezes, mas minhas chamadas iam para a caixa postal. - o homem tentou falar, mas a professora continuou – Na escola temos um horário, nossas aulas terminam às 14:00, como acredito que o senhor foi informado.

- Eu tive problemas na empresa. – falou como se fosse uma justificativa plausível.

- Bem, não posso adivinhar, uma vez que o senhor não atendeu minhas ligações, não é mesmo? E seu filho foi entregue com todo o cuidado, como pode perguntar aos seus empregados. – disse, calma – Yuri estava bem chateado, senhor. Acredito que você deveria falar com ele.

Esperou que o pai falasse algo, mas o homem permaneceu calado.

- Sr. Marco Antônio, acredito que já estamos entendidos. Boa noite e amanhã nos vemos. - ela desligou sem nem mesmo esperar a resposta do homem.

Como ele ousava querer satisfações dela?

Será que ele não percebia o quanto era arrogante?

Ele que tinha esquecido o filho no colégio!

Luciana desligou o fogão e notou que a fome tinha passado, a conversa com aquele homem prepotente acabara com seu apetite.

Pela primeira vez, em muito tempo, sentia-se realmente furiosa. Não gostava desse tipo de pessoas.

A jovem saiu da cozinha e foi para o quarto, talvez no dia seguinte estivesse menos revoltada com aquela situação e conseguisse agir civilizadamente com aquele homem.

MARCO ANTÔNIO

O homem jogou o celular em cima da mesa do escritório. Aquela mulher era bem ousada, se acreditava que poderia falar daquele jeito com ele.

- Filho. - uma mulher alta, magra que trajava um vestido de paetês entrou no escritório. Ela tinha os cabelos loiros e longos, até o meio das costas - O que houve?

- Nada, mãe, nada.

A mulher observou o filho e se aproximou. Ieda tivera três filhos, conhecia cada um deles como a palma de sua mão e sabia que seu caçula, Marco Antônio, não estava bem. A recente separação só estragara mais o humor do rapaz, que nunca foi dos melhores.

- Yuri chegou sozinho da escola. – a mulher disse como se ele não soubesse.

Como se o remorso por ter esquecido o menino não estivesse lhe corroendo.

E se algo tivesse acontecido?

E se não fosse aquela moça sua professora, mas sim alguém de índole ruim?

- Eu sei, mãe! Eu… eu esqueci meu filho na escola! – falou, chateado.

- Querido… - ela tentou se aproximar, mas o homem se afastou.

A verdade é que ele não queria ser consolado, o que fizera não tinha perdão.

- Não consigo pensar direito, mãe. Minha mente está em Eliza.

- Meu amor, não há nada a ser feito. Ela escolheu ir embora. – a mulher falou, fria.

- Não aceito ela ter preferido o amante ao próprio filho! - vociferou – Eu já sabia que ela não me amava, desde o momento em que nos casamos e ela mostrou sua verdadeira face, interesseira, mas Yuri… ele é pequeno, só tem cinco anos e sente falta dela.

- Filho, não pense nela mais. Yuri ficará bem, tenho certeza. - ela apertou o braço do filho e o acariciou – Vamos, vamos até o quarto de Yuri, ele estava esperando por você.

- Não, mamãe. Não quero olhar para o meu filho depois de esquecê-lo na escola.

A mulher deu um último olhar para Marco Antônio antes de sair, triste.

Ele sentou na cadeira e fechou os olhos, desolado. Não sabia como agir, não sabia como explicar ao filho que sua mãe o deixara para ir embora com o amante.

E o amante era o irmão do seu pai.

Seu tio José Pedro.

Não, não poderia falar isso, a criança já estava traumatizada o bastante.

Suspirou e tentou se acalmar. No dia seguinte, se desculparia com Yuri e com a professora atrevida, não deixaria que Eliza atrapalhasse mais a sua vida.

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Comments

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

também espero

2024-02-27

1

Carolina Gusmão

Carolina Gusmão

Que situação,espero que ele consiga conversar com o filho

2024-01-22

2

Maria Izabel

Maria Izabel

Que situação espero que marco Antônio supere essa situação e consiga ter uma vida de pai e filho com Yuri

2023-10-24

1

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