LUCIANA
Foi para casa, ainda pensando no que aconteceu. Luciana gostava muito de crianças, por isso escolhera aquela profissão, acreditava que sendo professora poderia fazer a diferença na vida daqueles pequenos.
Minutos depois estacionou o carro em frente a uma casa simples no subúrbio da cidade. Era um bairro calmo e familiar, ainda se via crianças na rua brincando e passeando calmamente.
Desceu do veículo e logo foi saudada por Neide, sua mãe de leite. Ela era a única mãe que teve, visto que não conheceu a mãe de sangue, a mulher morrera logo após o parto.
- Boa tarde, minha filha. Chegou tarde hoje.
- Boa tarde, mãe Neide. - ela beijou a mão da mulher em sinal de respeito – Tive que deixar um aluno em casa, o pai esqueceu de buscá-lo.
- Meu Deus, que tipo de pai é esse?
Luciana deu de ombros e juntas entraram na casa. A jovem morava sozinha ali desde que o pai morrera, há um ano. A senhora era sua vizinha e estava sempre por ali, lhe fazendo companhia.
A moça deixou as coisas numa mesa próxima à entrada e foi para a cozinha, preparar café. Ela contou tudo sobre Yuri para a mãe, como ele parecia triste e deslocado das outras crianças.
A mulher lamentou isso, a senhora era muito amorosa e gentil, amava tanto ela como se fosse filha do seu ventre, assim como Felipe, seu filho natural.
- Querida, preciso ir. Felipe chegará daqui a pouco. – ela olhou para o relógio na parede, já passava das sete horas da noite – Preciso fazer o jantar dele.
Elas se despediram e logo Luciana estava sozinha, pensando em como Yuri estaria. Acordou dos devaneios com o telefone tocando, sem nem mesmo olhar para a tela, atendeu.
- Olá. - disse prendendo o aparelho entre a bochecha e o ombro, enquanto misturava a sopa na panela.
- Como você ousou tirar meu filho da escola? - uma voz masculina raivosa vociferava do outro lado da linha.
- Ah, Sr. Marco Antônio. - ela suspirou, tentando acalmar-se – Bem, tentei falar com o senhor, liguei várias vezes, mas minhas chamadas iam para a caixa postal. - o homem tentou falar, mas a professora continuou – Na escola temos um horário, nossas aulas terminam às 14:00, como acredito que o senhor foi informado.
- Eu tive problemas na empresa. – falou como se fosse uma justificativa plausível.
- Bem, não posso adivinhar, uma vez que o senhor não atendeu minhas ligações, não é mesmo? E seu filho foi entregue com todo o cuidado, como pode perguntar aos seus empregados. – disse, calma – Yuri estava bem chateado, senhor. Acredito que você deveria falar com ele.
Esperou que o pai falasse algo, mas o homem permaneceu calado.
- Sr. Marco Antônio, acredito que já estamos entendidos. Boa noite e amanhã nos vemos. - ela desligou sem nem mesmo esperar a resposta do homem.
Como ele ousava querer satisfações dela?
Será que ele não percebia o quanto era arrogante?
Ele que tinha esquecido o filho no colégio!
Luciana desligou o fogão e notou que a fome tinha passado, a conversa com aquele homem prepotente acabara com seu apetite.
Pela primeira vez, em muito tempo, sentia-se realmente furiosa. Não gostava desse tipo de pessoas.
A jovem saiu da cozinha e foi para o quarto, talvez no dia seguinte estivesse menos revoltada com aquela situação e conseguisse agir civilizadamente com aquele homem.
MARCO ANTÔNIO
O homem jogou o celular em cima da mesa do escritório. Aquela mulher era bem ousada, se acreditava que poderia falar daquele jeito com ele.
- Filho. - uma mulher alta, magra que trajava um vestido de paetês entrou no escritório. Ela tinha os cabelos loiros e longos, até o meio das costas - O que houve?
- Nada, mãe, nada.
A mulher observou o filho e se aproximou. Ieda tivera três filhos, conhecia cada um deles como a palma de sua mão e sabia que seu caçula, Marco Antônio, não estava bem. A recente separação só estragara mais o humor do rapaz, que nunca foi dos melhores.
- Yuri chegou sozinho da escola. – a mulher disse como se ele não soubesse.
Como se o remorso por ter esquecido o menino não estivesse lhe corroendo.
E se algo tivesse acontecido?
E se não fosse aquela moça sua professora, mas sim alguém de índole ruim?
- Eu sei, mãe! Eu… eu esqueci meu filho na escola! – falou, chateado.
- Querido… - ela tentou se aproximar, mas o homem se afastou.
A verdade é que ele não queria ser consolado, o que fizera não tinha perdão.
- Não consigo pensar direito, mãe. Minha mente está em Eliza.
- Meu amor, não há nada a ser feito. Ela escolheu ir embora. – a mulher falou, fria.
- Não aceito ela ter preferido o amante ao próprio filho! - vociferou – Eu já sabia que ela não me amava, desde o momento em que nos casamos e ela mostrou sua verdadeira face, interesseira, mas Yuri… ele é pequeno, só tem cinco anos e sente falta dela.
- Filho, não pense nela mais. Yuri ficará bem, tenho certeza. - ela apertou o braço do filho e o acariciou – Vamos, vamos até o quarto de Yuri, ele estava esperando por você.
- Não, mamãe. Não quero olhar para o meu filho depois de esquecê-lo na escola.
A mulher deu um último olhar para Marco Antônio antes de sair, triste.
Ele sentou na cadeira e fechou os olhos, desolado. Não sabia como agir, não sabia como explicar ao filho que sua mãe o deixara para ir embora com o amante.
E o amante era o irmão do seu pai.
Seu tio José Pedro.
Não, não poderia falar isso, a criança já estava traumatizada o bastante.
Suspirou e tentou se acalmar. No dia seguinte, se desculparia com Yuri e com a professora atrevida, não deixaria que Eliza atrapalhasse mais a sua vida.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Fatima Gonçalves
também espero
2024-02-27
1
Carolina Gusmão
Que situação,espero que ele consiga conversar com o filho
2024-01-22
2
Maria Izabel
Que situação espero que marco Antônio supere essa situação e consiga ter uma vida de pai e filho com Yuri
2023-10-24
1