Conversas no almoço

Quanto mais o tempo passava mais feliz eu estava em trabalhar na Lovebook. Eu lia histórias incríveis em primeira mão e escrevia os prólogos e prefácios com muita paixão e dedicação, eu conseguia mesmo deixar os livros ainda mais curiosos e encantadores com o meu toque apaixonado.

Porém o que eu mais gostava era de dividir o tempo com os meus amigos, em especial a hora do almoço, onde ainda tinha o Tony que vinha comer conosco quase todos os dias.

A Magda estava se tornando a minha melhor amiga, ela meio que era como eu, amava os livros e se derretia por eles, porém a Mag foi me mostrando aos poucos como a vida real poderia ser até mais divertida. Ela era casada havia 5 anos com um banqueiro, eles eram completamente apaixonados um pelo outro, eu confesso que ouvir as histórias de amor da Mag e do marido me deixavam encantada, até mais do que lendo os meus livros.

A Mag é uma linda mulher, morena e decidida, ela tem um sorriso acolhedor, é dessas pessoas que você se sente super a vontade em sentar pra conversar, é a Mag que nos mantém unidos.

Estávamos almoçando juntos no mesmo restaurante, esses eram os meus momentos favoritos.

— Não sei por que aprovaram esse novo romance da Nora Cris, cara ela até escreve bem, mas... esse livro tá super arrastado, tem mais de uma semana e ainda nem cheguei na metade, ninguém vai comprar isso. — O Thomas reclamava do romance que pegou pra escrever o prólogo.

— Eu conheço a Nora Cris, estive com ela no último fim de semana. Até a fala dela é arrastada. Mas o resto é bem bom. — O Tony ria falando da escritora e me lembrei de tê-la visto no nosso cômodo na pensão.

— É aquela moça ruiva? — Perguntei?

— Sim. — Disse ele rindo. — Você brigou com ela.

— Mas é claro, ela achou que eu era sua empregada. — Falei com raiva e ele continuava rindo.

O Tony vivia rodeado de bêbados e mulheres, muitas mulheres. Ele as levava pra dormir no quarto dele, que a propósito fica ao lado do meu. O meu medo é que as pessoas comecem a achar que sou tão promíscua quanto ele. Fora que se a senhora Hammer desconfiar disso, ela nos coloca na rua.

Enquanto Tony e Thomas falavam mal da coitada da escritora, a Mag se aproximou e falou no meu ouvido.

— Já percebeu como a Mel olha pro Tom? — Ela sussurrou pra mim.

Olhei pra Mel e em seguida olhei pro Tom, sim, eu já havia notado que ela o olhava com certa frequência. A Melinda é uma jovem loira e linda, ela parece ser mais nova do que é, e tem uma aparência tão delicada que parece feita de cristal.

Ela fala pouco, mas é sempre certeira nos seus comentários, gosta muito de provocar a Cassy com histórias de amor, pois é muito romântica. Já o Thomas parece ser mais velho do que é. Ele é bem bonito, e alegre, vive a sorrir. Gosta de ler e escreve muitos romances, pena que a Lovebook ainda não aprovou nenhum dos seus manuscritos, ele me deu um pra ler e constatei que tem potencial, mas falta um pouco de profundidade nas histórias.

O Tom é bem galanteador, mas desde que cheguei aqui nunca o vi com nenhuma paquera, e pelo que senti, ele não é mulherengo como o Tony.

— Sim, acredito que ela está apaixonada. — Sussurrei de volta pra Mag. — Só não sei se ele sente o mesmo.

— O que as duas estão aí sussurrando? — O Tony perguntou, indelicado como sempre.

— Estou contando pra Mag, o seu desaforo desse fim de semana. — Falei, escondendo a nossa real conversa.

— O que ele aprontou? — O Tom perguntou curioso.

— Oras, acordei feliz por ser domingo e poder relaxar em casa, sai do quarto e fui pra sala, me sentei no sofá, e a porta do quarto do Tony se abriu. — Fiz uma pausa dramática e continuei. — Era uma mulher alta, magra e de cabelos escuros, ela estava apenas de lingerie, veio e se sentou ao meu lado, como se morasse ali. E então a porta se abriu novamente e era outra mulher. — Todos arregalaram os olhos e o Tony pigarreou sem graça. — Essa era mais baixa, morena de cabelos muito cumpridos, estava nua da cintura pra cima, pegou um copo com água e bebeu, como se nada estivesse acontecendo. E então a porta se abriu outra vez e a terceira mulher era tão branca que dava pra ver as veias, loira e de olhos azuis, estava apenas enrolada no lençol. Eu já estava em choque quando a porta novamente se abriu.

— Minha nossa, quantas mulheres tinham no seu quarto Tony? — A Mel perguntou chocada.

— Eram apenas três, eu fui a quarta pessoa a sair do quarto e estava vestido...

— Apenas com uma camisa, a nudez de baixo toda exposta. — O interrompi zangada, enquanto os demais estavam literalmente de queixo caído com a história. — Eu me pergunto que tipo de irmão faz esse tipo de coisa.

— Um irmão bêbado, que se arrependeu depois. E que saiu no dia seguinte, atras de uma casa pra comprar, para que ambos tenham mais privacidade e que cenas como essas não voltem a se repetir. — O Tony falou tentando se justificar.

— Está a procura de uma casa? — Falei surpresa. — Achei que só iria fazer isso quando terminasse o seu livro.

— Esse era o plano. Mas ficar quase nu na frente da minha irmã virgem, me fez repensar os meus planos. — Ele sorriu sem graça.

— Minha nossa Tony, a vida de vocês é muito emocionante. — O Thomas ria, enquanto a Mel o observava.

— Gostaria de ter uma vida libertina como a Antony? — A Mel perguntou de supetão.

— É claro que não. Eu acho engraçado, mas também acho solitário e sem sentido. Com todo respeito amigo. — O Tom começou a falar. — Eu prefiro uma vida tranquila, quero me apaixonar e me casar, não quero viver de noitadas.

Os olhos da Mel até brilharam com a resposta do Tom. Eu queria que Antony fosse assim, um cara tranquilo, que quisesse um amor. Mas ele está mais interessado em curtição do que em algo sólido e verdadeiro.

— E o seu novo livro Antony? — A Mag mudou de assunto. — Do que se trata?

— Ainda estou buscando inspiração. — Respondeu, terminando de comer.

O Antony andava pelas ruas ouvindo as conversas das pessoas, lendo as páginas policiais no jornal, indo a bares e casas noturnas, observando e buscando inspirações para suas histórias. Assim como eu ele andava com um caderno de bolso e anotava tudo que achava peculiar e inspirador.

No seu último livro por exemplo, o Tony se encontrou com uma jovem viúva em uma de suas noitadas e ela confessou que certa noite teve a sensação de ser observada enquanto dormia e pela manhã percebeu que algumas peças intimas haviam desaparecido do seu armário. Dias depois, leu no jornal que uma senhora idosa que vivia sozinha após a morte do marido, teve a casa invadida de madrugada, o ladrão levou todas as jóias enquanto ela dormia. Por fim ouviu uma conversa na rua onde um sujeito contava que estava bêbado, entrou em casa e havia um frango assado na cozinha, ele disse que comeu o frango e, sabe lá por que, colocou os ossos na cama ao lado da sua esposa que dormia tranquila e se deitou no chão, a coitada levou o maior susto quando acordou.

O Antony se inspirou nessas histórias, e escreveu o livro: "Os ossos e as viúvas" que contava a história de um ladrão que invadia casas de viúvas, de qualquer idade, roubava jóias e roupas íntimas, as observava dormir e depois deixava um osso enorme ao lado da cama pra representar o marido morto. O livro era macabro e fez muito sucesso. Assim como todas as histórias do Antony Linx.

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