Mais uma vez sentados na areia da praia comendo a quentinha da dona Val, eles ficaram conversando e planejando coisas. Alguns conhecidos de Ametista que trabalhavam nos quiosques foram até ela perguntar o porquê de ela ter sumido e fazer as suas encomendas de bolos; que ela não estava mais saindo para vender.
Aquilo fez com que ela percebesse que o seu trabalho estava mesmo dando frutos e precisava voltar a ativa o mais rápido possível. Eles caminharam pela orla de mãos dadas em silêncio, sentindo a água do mar em seus pés por um tempo curtindo a brisa do fim da tarde.
Quando estavam próximos à entrada do morro, eles sentaram abraçados olhando o oceano uma última vez antes de voltarem para casa.
— Mik, tenho que voltar a produção de bolos... os meus clientes estão tristes. A minha sorte é que André ainda não mandou mensagem pedindo mais bolos, mas isso não vai demorar pra acontecer.
— Vamos falar sobre isso depois. – ele suspirou. Sabia o quão preocupada ela estava, mas ele queria relaxar apenas.
— Você realmente quer falar sobre isso depois, ou essa é uma das frases masculinas que nunca dizem o que realmente querem dizer? – Ela se virou para ele para observar a sua expressão.
— Quê? Como assim, Linn? – ele deu um meio sorriso esperando a resposta dela.
— Bom... geralmente quando um homem diz “a gente pode conversar depois?” significa que ele não quer tocar no assunto nunca mais ou que a mulher o perturbe com o assunto.
— Espertinha! Mas nesse caso, estamos falando sobre o seu sustento. Vamos falar sobre isso sim, mas agora, só quero curtir um pouco mais com você aqui. – ele deu um selinho nela e voltou a abraçá-la.
— Pra quem não queria comer quentinha antes... – ela mudou de assunto. Ele não falaria mais em trabalho e ela sabia.
— Não fazia muita coisa até conhecer você. Pegar sol na laje, comer coisas calóricas; fazer compras e faxinas... e como já te falei, Dona Val é uma boa cozinheira.
— Agora que tem como comparar, ainda não está com vontade de voltar a sua vida?
— Quer tanto assim que eu vá embora? – ele disse baixinho no ouvido dela.
— Claro que não, bobo! Ninguém mais que eu te quer por perto, bom, só perco pra sua mãe.
— Em breve as verei de novo. Elas não morreram por pensar que eu morri, então podem esperar mais um pouco.
— Que cara malvado você se tornou, Sr.Meyers! – ela deitou no ombro dele rindo.
— Geralmente me chamam Sr.Scott.
— Gosto de ser diferente, e o sobrenome da sua mãe é mais bonito. – ela deu de ombros.
— Como aprendeu inglês, pequena?
— Do nada?! Acredito que a convivência comigo tá te bugando! – disse ela brincando com os pés na areia.
— Só lembrei que você fala muito bem; quando os policiais entraram na sua casa...
— Eu nem sei porquê fiz aquilo. Podia ter dado muito errado!
— Eu ter nascido nos EUA te salvou?
— A minha cara de pau nos salvou! Como eu ia saber que tu ia me responder? Só segui o meu plano. Fiquei de bobeira quando tu respondeu.
— Mas você não respondeu o que perguntei.
— Falo inglês desde sempre! Meu pai me ensinou, acho que foi meu primeiro idioma. O português só veio pela minha avó e a escola; ele não falava uma palavra em português comigo em casa. Ele fez intercâmbio e morou por um tempo no exterior; foi lá que ele conheceu a minha mãe e onde eu nasci, mas é só isso que eu sei dela.
— Então você também tem dupla cidadania?
— Sim! Só não tenho dinheiro pra viajar, ainda!
— Estou gostando de saber mais sobre você, pequena.
— Eu tô é preocupada.
— Por quê?
— Tu tem algum defeito? Tirando o seu pé que é feio.
— Muitos!
— Diga... só pra não desconfiar que tá bom demais pra ser verdade.
— Trabalho demais, sou possessivo com o que é meu além do meu distúrbio nos nervos. Não faça nada que me tire desse mood aqui. Você pode se assustar.
— Você... já perdeu o controle a ponto de agredir uma mulher?
— Nunca! Por isso frequentava lutas clandestinas.
— Que? Como assim? Tipo, aqueles clubes secretos onde os caras se reúnem só pra se socarem por puro prazer a adrenalina? – Ametista se agitou empolgada.
— É, mas tem bebidas e apostas também. Já ganhei uma empresa naquele ringue. – Mike disse orgulhoso de si.
— Então vocês apostam coisas desse tipo? Que legal! – ela brincou com os dedos. – Eu... posso ir com você um dia?
— Não. – ele realmente não gostou da ideia.
— Por quê não? – Ela insistiu.
— Aquele lugar não é ambiente pra você. Não quero que me veja lá. Você não quer é que ela chame atenção dos homens que frequentam o lugar, isso sim! – Ele disse e pensou.
— Preciso conhecer todos os seus lados pra saber identificar e lidar com eles. Ao menos saberei onde você vai estar caso se estresse. – ela jogou os cabelos. — Ai, ai! Homens e seus brinquedos! Mas, Mik... me leva só uma vez.
— Tudo bem. Só uma vez.
— Ai siiiiiiim! Vou ver o meu monstrinho em modo ataque! Vou gostar de ver isso.
— Você gosta de lutas? – Ele franziu o cenho confuso. Jamais imaginaria que ela gostava de lutas sangrentas. Nunca a viu assistindo algo do tipo, a não ser em filmes.
— Gosto. São excitantes de assistir. Ninguém ali tá sendo espancado deliberadamente, estão lá porque querem e gostam do esporte sem regras. Ah, mas se houver sangue? Faz parte, desde que não seja o meu, tá tudo numa boa!
— Você me surpreende a cada dia, pequena!
— Espero que seja para o lado bom da coisa.
— Pode ter certeza que sim. Vamos pra casa?
— Vamos!
...***...
Assim que eles chegaram em casa, deram de cara com o bonde batendo no portão.
— Vão derrubar o portão?
— Ah, vadia! E a gente pensando que tu tava em casa. – Marcinha disse indo até à amiga. – tá melhor?
— Fui ao médico tirar os pontos e aproveitamos pra dar uma volta. – ela segurou as mãos de Marcinha. – estou melhorando. Pondo alguns dos seus conselhos em prática devagar.
— Gostei de ouvir isso! Não tenho ideia de como se sente depois de tudo, mas fico feliz que esteja reagindo, amiga! Pode contar comigo pra sempre, tá?!
— Que cena comovente da vadia potira e da vadia mala-santa! Mas vamos entrar? – Juninho se aproximou beijando as duas.
— Tá atacada hoje, bicha? – Ametista brincou.
— Ele brigou com o namorado e tá putinho.
— Hum... vamos entrar! – Ametista tirou a chave do bolso e abriu o portão.
— Onde estão Lavínia e Rian? – Mike perguntou por perguntar.
— Disseram terem compromisso. Mas acredito que estão se pegando em algum lugar. – Marcinha deu de ombros.
— Ah, bom pra eles! Melhor pra nós. – Juninho entrou e se jogou no sofá. – Vamos pedir um "japa" pra comer? Tem um tempão que não sei o que é degustar um temaki.
— Gostei da ideia, hein, Juninho! – Marcinha disse voltando do banheiro. – pede aí e vamos ver sei lá, algum anime. Tô cansada de ver filme.
— Ó a otaku na área. – Ametista riu. – se eu não tivesse perdido contato com um amigo de um curso que eu fiz, apresentava vocês! Ia dar match imediato!
— Quem? – Marcinha ficou curiosa.
— Xavier! Tu não conheceu não. Faz tempo que não sei onde ele se enfiou. Perdemos contato depois que o curso de informática acabou. Ele era o professor.
— Bom, então deixa. – ela fez um coque frouxo em seus cabelos que se desfaria em breve. – se ele for pra mim e não estiver comprometido; universo, traga ele até mim ou me leve até ele, amém!
— Inaiê! – Juninho a chamou.
— Tu tá um nojo hoje, Juana! Que saco! Para de me chamar de Inaiê, cara!
— Pararia se não fosse o seu nome.
— Sabe o que significa pra ter tanta raiva desse nome? Ou só não gosta mesmo? – Ametista perguntou adorando ver o “piti” da amiga.
— Vem do tupi-guarani e significa “águia solitária”. – Mike disse casualmente sentado na poltrona com Ametista no colo.
— E como tu sabia disso? – Juninho quis saber.
— Só algo que eu lembrei, nada demais! Estou correto, Márcia?
— Tá certo sim. Eu só não gosto, sei lá.
— A descendente pura de indígenas que não gosta do próprio nome. Vai entender! – Juninho implicou.
— Ruan, já pediu o "japa"? É isso que importa agora.
Batidas no portão anunciam a chegada da comida japonesa e todos se sentaram no chão em volta da mesa de centro para comer. Como Lavínia e Rian não estavam presentes, Mike se soltou um pouco mais e conversou bastante. Ele se sentia pouco a vontade com os outros dois.
Ametista começou a ver quão articulado ele era e sabia de muitas coisas. Márcia e Ruan ficaram presos na aura dele, enquanto falava. Ela estava feliz por vê-lo mais presente na roda de amigos dela.
Queria contar aos amigos que ele havia lembrado quem era, mas ainda podia esperar para contar. Eles vasculhariam toda a vida dele e o encheriam de perguntas; e o problema nem era perguntar, mas sim o tipo de pergunta que eles fariam a Mike.
A noite foi carregada de comida japonesa, bebida, fofoca e choro de Juninho por que brigou com o namorado e estava se sentindo culpado pelas coisas que disse e ouviu.
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Atualizado até capítulo 222
Comments
Débora Oliveira
muito boa essa história
2024-06-22
0
Abreu Ana
meu deus não consigo sair desse livro, intrigante
2023-06-21
1