Ametista e Mike chegaram ao hospital próximo ao horário do almoço. Ela estava marcada para às 13 h. Mas gostava de se adiantar, e também queria ver se conseguia falar com o Dr.Paulo que fazia um tempo que ela não via e tinha novidades para contar.
Ela estava mais animada.
Mike estava relaxado e pensando em quando ela tomaria a iniciativa de tocá-lo outra vez. Não era como se tivesse sido uma noite intensa de amor, mas foi o suficiente para ele. Ela sabia o que estava fazendo e o deixou em êxtase só com as mãos e a língua. Como ele relaxou depois foi surpreendente para ele, se fosse antes, o corpo dele não se contentaria apenas com sexo oral.
Ambos estavam bem e pensando no que tinha rolado de manhã, cada um a sua maneira; o que aproximou os dois novamente. Eles ficaram sentados na recepção abraçados olhando o vai e vem das pessoas, não estava tão caótico como era normalmente e parecia que até os enfermeiros diminuíram no lugar, embora ainda houvesse um número grande de pessoas aguardando atendimento.
Os enfermeiros que passavam pela recepção eram breves e sumiam atrás das portas e corredores tão rápido quanto apareciam.
Ametista não viu nenhuma das pessoas que ela conhecia além dos seguranças na entrada e ficou um pouco chateada. Nem Luciana, a enfermeira que estava grávida passava por ali e ela queria vê-la para saber como estavam ela e as crianças, se passasse alguém que ela conhecesse poderia perguntar, mas parecia que todos estavam se escondendo. Ou era só horário de almoço mesmo e ela estava fazendo um drama interno por nada.
Mike só não queria olhar para a cara dissimulada de Juliana. Ele sentia asco só de lembrar que ela tentou se passar por Ametista quando ele acordou; para a sorte dele e completo azar dela, ele ouvia Ametista mesmo inconsciente e a voz dela estava gravada na mente dele como tatuagem, isso fez com que ele soubesse que Juliana não era a mulher que cuidava dele para além de obrigações médicas.
Ametista nunca tocou nele de modo inapropriado; ele sentia a diferença quando eram as enfermeiras e quando não. Elas não falavam, só trabalhavam e saíam do quarto. Ao contrário de Ametista que até cantava para ele.
Vendo Mike pensativo olhando para o corredor, ela lembrou de algo que esqueceu de mencionar há um tempo.
— Mik?
— Sim, pequena!
— O que Juliana fez com você?
— Ela me tocava quando ia trocar a sonda.
— Como soube disso?
— Da mesma forma que sabia que ela não era você quando acordei.
— Então... ela estava lá no dia?
— Sim. Infelizmente foi a primeira pessoa que eu vi quando abri os olhos. Ela estava me tocando quando acordei e perguntei o que ela estava fazendo; ela disse que estava trocando a sonda e me higienizando, mas eu sabia que não era verdade. Preferia ter visto o Dr.Paulo.
— Ela tentou se passar por mim ou entendi errado?
— Foi esse o plano dela ao que parecia. Ela só não contava que eu fosse rejeitá-la.
— Como, se você acordou sem lembrar?
— Já estava habituado a sua voz. Não sei como, mas podia te ouvir, sabia que aquela mulher não era a mulher que estava nos meus pensamentos. Mas você não chegava nunca! Por isso pensei que não existia... acordei e a sua voz sumiu, não estava lá.
— Estava trabalhando. Mesmo não subindo pra te ver, estava sempre aqui no hospital. Na verdade, nunca passei tanto tempo em um. Nem quando a minha avó adoeceu. Enfim, eu tava sempre por perto, mas nas duas últimas semanas, quando acordou, eu estava muito cansada. Tinha tanta coisa pra fazer que não pude ficar no hospital. Eu queria ser a primeira a te ver abrir os olhos. Se eu soubesse que a piranha da Juliana estava abusando de você antes, não sobraria nada dela!
— Na noite em que me lembrei de tudo, ela queria me seduzir e levar para algum lugar privado do hospital.
— Eu vi tudo. Infelizmente acordei na hora.
— Ainda bem que acordou. Viu que não fui eu quem incentivou tal ato, mas foi por isso também que eu lembrei. Ela usa o mesmo tipo de perfume de Natasha, além de se parecer com ela em muitos aspectos. Aquilo foi o gatilho.
— Não sei se arrebento a cara dela ou se agradeço pela ajuda. Dá pra fazer os dois? Tipo, bater em agradecimento?
— Estou vendo que a minha pequena Linn está voltando ao que era. Isso é bom.
— A força de um boquete tântrico!
— Boba. Independente disso, estou feliz em saber que está melhorando.
— Achei estar feliz porque deu uma puta gozada hoje.
— Estou satisfeito nesse quesito. Feliz por isso, só quando puder jogar a partida inteira.
— Justo. Não tenho um pau pra saber como é.
— Estou feliz de ter você, de te ver bem e sorrindo novamente. Adorei o que rolou hoje, mas não é apenas isso. Eu amo você, pequena!
— As vezes me pergunto se tu existe mesmo ou tá se fazendo de bom moço. Um homem como você parece um ser mitológico.
— Talvez você tenha se acostumado com qualquer coisa.
— A maioria de nós então! Tem mais qualquer coisa no mundo que qualquer outra coisa nele. A mulher que pensa como eu é traída ou agredida. O homem que pensa e age como você é alvo de malucas e de chacota dos que se dizem amigos. Eles nunca se encontram e quando sim, ambos estão tão quebrados que nem conseguem reconhecer qual caco é o de quem e acabam por perder uma possível oportunidade de ser feliz. Acredito que demos sorte, hein!
— Não sou de fazer orações, mas agradeço sempre ao que te enviou pra mim.
— Vamos agradecer juntos, em breve! – ela piscou para ele e voltou sua atenção ao balcão.
Quando a recepção ficou mais vazia, ela levantou e foi até a recepcionista para pedir informações e acabou por ver Luciana, que acabara de voltar do almoço com a sua barriga enorme. Quando viu Ametista abriu um grande sorriso e foi ter com ela animada.
— Amy! Quanto tempo não aparece por aqui. Como ‘cê tá, mulher?!
— Luh! Tô ótima! Ai que barriga linda! Esses dois já estão batendo ponto pra conhecer o mundo, né?!
— Nem me fale, menina! Esses dois estão me matando, mas ainda é só o começo. Depois que nascerem é que o desafio realmente vai começar.
— Posso imaginar o trabalhão que vai dar cuidar de gêmeos. Mas não tira o brilho radiante que emana de você. – Ametista tocou a barriga da mulher com carinho. – Quem aí sentiu falta da tia Amy?
Na mesma hora as crianças se agitaram na barriga de Luciana fazendo as duas mulheres rirem com os movimentos e ondulações. Ametista achava a maternidade a forma de amor mais linda, mesmo com toda a responsabilidade que acompanhava aquela experiência tão única.
— Alguéns já escolheram a madrinha ao que parece! Eles não mexem assim com ninguém!
— Sério?!
— Se você quiser, é claro!
— Claro que quero! Ouviram isso meninos?! A dinda vai levar vocês pra passear e ensinar a fazer bolos. – ela falava acariciando a barriga de Luciana, curtindo a bagunça dos bebês na barriga da mãe. – Eles não te machucam quando mexem assim?
— As vezes... falta ar, a coluna arde, as pernas cansam... mas dá pra viver. E você?
— O que tem eu?
— Gosta tanto de crianças... quando vai ter os seus filhos?
Nessa hora Ametista não sabia o que dizer. Ela queria ter a sua família, mas nem tinha se realizado profissionalmente como queria e acabara de reacender a chama dentro dela para um novo relacionamento.
Ainda tinha o fato que, se ela fosse engravidar, seria com certeza de Mike, porém a vasectomia que ele fez estava no caminho. Ela dependia dele para isso e não estava com pressa.
— Acabei de começar a namorar. Isso pode esperar, não acha?! Enquanto isso eu paparico os seus.
— Amy... – Luciana de repente puxou Ametista para um canto e falou baixinho. – o meu marido conhece o seu namorado. Comentei com ele há uns dias sobre a história de vocês e ele me contou o que sabia sobre o caso.
— Tudo bem, já não é mais motivo de segredo saber quem ele é. Mas, como ele conhece Mike?
— Ele trabalhou no grupo Scott por um tempo como médico de lá e quando veio me buscar uma vez, viu vocês juntos. Sabe que acreditam que ele morreu, não é?
— Sim. Após tanto tempo, pensar que ele ainda estivesse vivo seria a maior prova de fé e esperança pra alguém. Mas por favor, peça a seu esposo discrição sobre isso. Essa história vai se resolver de vez em breve. Segredo de comadres?
— Segredo de comadres! Mas eu quero saber de tudo depois, tá?!
— Tá, pode deixar que conto sim.
— Agora, mudando de assunto, estava morrendo de vontade de comer aquele bolo gelado de frutas vermelhas! A senhora sumiu e as minhas sobremesas também! Isso não se faz com os seus afilhados!
— Vou mandar trazerem pra você uns três! Um pra cada um aí. Tá de plantão hoje ou vai embora daqui a pouco?
— Plantão.
— Não sei como tu aguenta, mas te admiro por isso.
— Tu também vai ter gêmeos! Espere só pra ver!
— Aí tu pegou pesado! Vamos com calma que ainda tenho muito o que fazer na vida.
— Quando casar me manda o convite. Vou profetizar no discurso que terá um lindo casal de gêmeos!
— Cara, eu não aguento, meu Deus! Tu tá que tá com esses hormônios de grávida, hein!
— Tenho que ir, já demorei mais vinte minutos do meu horário e as minhas pernas estão me matando. Até mais, Amy! – Luciana se foi sorrindo bamboleando com as mãos nas ancas.
— Bom trabalho, Luh! Nos vemos! – Ametista acenou e voltou para a recepcionista para pedir informações.
Mike ficou a olhar a interação das duas e ouviu um pouco da conversa antes de começarem a cochichar num canto. Ele se pegou pensando em como Ametista seria uma ótima mãe e como seria formar uma família com ela. Ela era o que ele procurava, só não pensou que a encontraria de forma tão inusitada.
Ela é a mulher mais foda que eu já conheci, disso não tenho a menor dúvida! Ele pensou enquanto olhava para ela há alguns metros dele.
O nome de Ametista foi chamado e foram finalmente atendidos. Quando entraram na sala era o Dr.Paulo quem os estava esperando. Ametista apressou-se para abraçá-lo contente por vê-lo e se sentou. Mike o cumprimentou discretamente, mas alegre por vê-lo também, ele gostava do médico afinal.
— Ametista, vejo que está bem melhor. Como tem passado?
— Estou sempre bem. Eu disse pra você!
— Fale a verdade, pequena!
— Mas é, ué!
— Ela passou por dias bem difíceis, Paulo. Mal comia ou dormia. Quando estava acordada ficava agoniada por não poder fazer muito do que fazia antes e estava surtando por não poder trabalhar.
— E o que houve para essa mudança?
— Um boquete tântrico! – Ametista disse sorrindo.
— O quê? – Dr.Paulo ficou vermelho sem ter o que falar.
— Ametista! Não acho que esse comentário era necessário. – Mike tossiu envergonhado.
— Uma pergunta, uma resposta. Já que não posso ocultar que não estava bem no início, por que posso ocultar que te masturbei hoje de manhã?
— Isso é... ótimo! Saber que o que houve não te causou traumas profundos e que ainda pode se abrir com o seu parceiro em pouco tempo é uma ótima notícia.
— Não consigo ir mais que isso ainda... queria que ele me tocasse como antes, mas ainda fico meio mal. No entanto, descobri que o meu corpo ainda reage a algumas coisas então comecei por aí.
— Sabia que você era uma mulher forte assim que a vi, Ametista. Então, vamos ver como estão esses pontos, tudo bem?
Paulo pediu para que ela tirasse o casaco que vestia para verificar os pontos e viu que já podiam ser removidos. As feridas já estavam bem cicatrizadas e as marcas quase imperceptíveis.
— Ótimo! Vamos retirar essas linhas. A sua cicatrização é muito boa, mas ainda não pode se esforçar, a parte de dentro ainda precisa de mais uns dias.
— Dr.Paulo, tenho uma novidade pra você! – Ametista cantarolou enquanto Paulo terminava de examiná-la.
— Conte!
— Lhe apresento o senhor Mike Meyers Scott. Meu namorado com sete vidas!
Mike revirou os olhos achando graça das maluquices de Ametista, ele sentia falta daquele jeito e sabia que ainda não era permanente. A qualquer momento ele poderia encontrá-la aos prantos novamente então era bom aproveitar o tempo em que ela esquecia de tudo.
— Mike Scott? Do grupo Scott?
— Pelo jeito todo mundo te conhecia menos eu. Que merda, hein!
— Sim, Dr.Paulo. Eu mesmo!
— Então você recuperou a memória. Que notícia ótima! Como e quando foi?
— No mesmo dia em que trouxe Ametista naquela situação. Algumas coisas já estavam voltando a minha mente após vê-la naquele estado.
— E a Juliana tentou agarrá-lo enquanto eu descansava.
— Como assim?
— Ela quis me seduzir e tentou me beijar. Assim que ela me tocou, mais lembranças vieram a medida que me irritava com a atitude dela. Quando a enfermeira saiu, entrei em colapso e caí no chão com dores fortes na cabeça, semiconsciente. A medida que ficava com mais raiva me lembrava mais, até que fui medicado. Quando dei por mim, voltei ao meu eu.
— Interessante. Deixe ver se entendi. Começou a recuperar a sua memória em picos oscilantes de raiva?
— Sim. Tenho um distúrbio nos nervos que me transforma num monstro se eu perder o controle. Nada fica em pé na minha frente. Por isso eu disse a você que quase matei o desgraçado que atacou Ametista. Só parei porque a vi jogada no chão.
— Entendi e estou intrigado. Agora sei o porquê da alta dosagem de drogas no seu organismo. Aquilo quase te matou.
— Dr.Paulo, não faça nada com a Juliana. Embora ela tenha faltado com a ética, acabou ajudando meu robozinho a recuperar a memória. Tô com raiva dela? Sim! Mas também estou grata. Senão ia se passar mais um ano e ele não lembraria. A não ser que eu sei lá, na TPM, desse uma panelada na cabeça dele! – Ametista caiu na gargalhada. – o homem é quase imperturbável.
Depois de muita conversa com Dr.Paulo, eles saíram do centro médico e foram almoçar.
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Atualizado até capítulo 222
Comments
Débora Oliveira
maluca
2024-06-22
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