Capítulo 2

TOQUEI A CAMPAINHA.

Com as malas nos dois lados e a mochila nas costas. A rua estava tranquila e, olhando o relógio, era quase dez e meia da noite. Guto morava na zona norte da cidade.

Tive um pequeno lampejo de lembrança — do momento em que entrei na casa dele, pela tarde, excitado e ansioso. Agora, eu me sentia desamparado e triste.

— Ei — Guto abriu a porta e eu não percebi. Ele sorria para mim. Olhou para as minhas malas; para a minha cara de quem havia deixado escapar algumas lágrimas. — O que aconteceu contigo, bebê?

— Me deixa ficar aqui até segunda?

Por mais que eu estivesse contando, há muito tempo, com a chegada deste momento inevitável… não deixei de sentir a dor.

Esperar pelo pior momento da vida até ele acontecer não ajuda muito a atenuar o sofrimento que viria. Estava lutando para não desabar, até ver Guto ali na minha frente.

Ele tinha sido tão bacana comigo desde ontem. O seu interesse era tão visível e perceptível. A gente viveu momentos mais intensos do que aqueles vinte minutos dentro do banheiro de um hotel. A tarde — que não parecia tão distante — foi de uma química sexual bem explosiva.

Encostei a minha cabeça no seu peito, deixando as lágrimas caírem.

ELE PEGAVA NA MINHA MÃO.

— Por que ela mudou de ideia? Pensei que você ia embora na próxima semana…

— Alguém viu a gente se beijando na praia — falei, mortificado. Havia chorado o bastante. Guto não se incomodou nem um pouco.

— Sério? Alguém que você conhece?

— Provavelmente. Eu tenho pra mim que seja alguém da vizinhança.

— Caramba — ele fez uma careta leve. — Gente escrota, não é?

— Gente que mete o bedelho onde não é chamado — passei as mãos no rosto. Suspirei. — Inferno!

— Você fica aqui o tempo que quiser — ele apertou a minha mão. — Não me incomodo, não.

— Não vou demorar muito. Sorte a minha de ter dinheiro pra alugar e mobiliar meu espaço.

— Não vá embora daqui antes de comprar tudo, deixar tudo pronto — ele aconselhou.

— Tá bom — pela primeira vez, dei um sorriso.

Ele ficou me olhando por um longo tempo, inclinando a cabeça para o lado. Deu um sorriso.

— Que foi? — perguntei, sorrindo timidamente.

— Você é uma gracinha, sabia? — disse, passando o dedo no meu rosto. — Todo “ruborizadinho”.

— Sou mesmo? — baixei a cabeça.

— É — Ele levantou meu queixo com um dedo. — É sim.

Guto deslizou a mão pelo meu ombro até alcançar a minha.

— Quer comer uma pizza comigo? Daqui a pouco chega.

— Por que não? — sorri.

QUASE DUAS DA MANHÃ.

E nós estávamos prontos para dormir. Eu observava Guto em pé, escovando os dentes com a porta do banheiro entreaberta.

Ele realmente era um grandalhão — tinha um pouco de músculo nos braços, uma barriga meio chapada; parecia alguém que não ia à academia há alguns meses.

Tinha um bigodinho bem sexy e uma boca que sabe muito bem fazer maravilhas. Fiquei de queixo caído quando ele me contou que tinha vinte e dois anos de idade. Pensei que era três anos mais velho do que eu.

Usava um samba canção violeta bem escuro com algumas formas geométricas — algo meio geek. Ele tinha um PC gamer, acho que pode ser por isso.

Fechou as luzes e, com a TV ligada no Netflix, se deitou no meu lado direito.

— Vem cá — comecei. — Deixa eu te perguntar uma coisa.

— Diga.

— Aquele lance do banheiro interditado deu ruim não, né?

— Relaxa — ele se cobriu com o lençol. — Deu tudo certo.

— Você é meio inconsequente — brinquei.

— Um pouquinho — sorriu.

Houve um momento de silêncio.

— Amanhã eu trabalho só à noite — disse ele.

— Sei.

— Sabe o que a gente podia fazer?

— O quê?

— Ir à praia. Mas não aquela.

Pensei por um minuto.

— Acho ótimo. Não me lembro da última vez que peguei vitamina D só de sunga — brinquei.

— Bem que você precisa mesmo — ele sorriu.

— Olha quem fala — devolvi. Guto também era tão branco quanto eu.

— Estamos empatados — ele suspirou. — Vamos amanhã… Digo, mais tarde?

— Umas dez horas tá ótimo.

— Perfeito — ele desligou a TV. Nenhum de nós assistia mais naquele momento. — Dorme comigo?

— Eu já não estou dormindo com você aqui? — eu ri.

— Você está apenas dividindo a cama comigo — a voz dele era mais gutural agora. Ele envolveu o seu braço na base do meu pescoço, me puxando para repousar a cabeça em seu peito nu. — É disso que estou falando, gatinho.

— Ah, é? — Me envolvi melhor, atravessando o meu braço em seu corpo. Coloquei a minha perna sobre a sua. — Assim?

— Assim… — ele me apertou de leve, beijando o alto da minha cabeça. — Bem gostosinho.

— Gosta de cuidar? — insinuei.

— Gosto de dominar. Isso sim.

— Gosto desse tipo de dominação, também.

Ele passeava com a palma da mão nas minhas costas.

— Agora dorme — pediu. — O dia foi cheio demais para a gente.

— Tá bom… — beijei o peito dele e não demorou muito para capotar.

Acabei sonhando com o dia de hoje. Sem querer.

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Comments

Tania Maria Rufino

Tania Maria Rufino

Esse Guto parece legal.

2024-09-07

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