TOQUEI A CAMPAINHA.
Com as malas nos dois lados e a mochila nas costas. A rua estava tranquila e, olhando o relógio, era quase dez e meia da noite. Guto morava na zona norte da cidade.
Tive um pequeno lampejo de lembrança — do momento em que entrei na casa dele, pela tarde, excitado e ansioso. Agora, eu me sentia desamparado e triste.
— Ei — Guto abriu a porta e eu não percebi. Ele sorria para mim. Olhou para as minhas malas; para a minha cara de quem havia deixado escapar algumas lágrimas. — O que aconteceu contigo, bebê?
— Me deixa ficar aqui até segunda?
Por mais que eu estivesse contando, há muito tempo, com a chegada deste momento inevitável… não deixei de sentir a dor.
Esperar pelo pior momento da vida até ele acontecer não ajuda muito a atenuar o sofrimento que viria. Estava lutando para não desabar, até ver Guto ali na minha frente.
Ele tinha sido tão bacana comigo desde ontem. O seu interesse era tão visível e perceptível. A gente viveu momentos mais intensos do que aqueles vinte minutos dentro do banheiro de um hotel. A tarde — que não parecia tão distante — foi de uma química sexual bem explosiva.
Encostei a minha cabeça no seu peito, deixando as lágrimas caírem.
ELE PEGAVA NA MINHA MÃO.
— Por que ela mudou de ideia? Pensei que você ia embora na próxima semana…
— Alguém viu a gente se beijando na praia — falei, mortificado. Havia chorado o bastante. Guto não se incomodou nem um pouco.
— Sério? Alguém que você conhece?
— Provavelmente. Eu tenho pra mim que seja alguém da vizinhança.
— Caramba — ele fez uma careta leve. — Gente escrota, não é?
— Gente que mete o bedelho onde não é chamado — passei as mãos no rosto. Suspirei. — Inferno!
— Você fica aqui o tempo que quiser — ele apertou a minha mão. — Não me incomodo, não.
— Não vou demorar muito. Sorte a minha de ter dinheiro pra alugar e mobiliar meu espaço.
— Não vá embora daqui antes de comprar tudo, deixar tudo pronto — ele aconselhou.
— Tá bom — pela primeira vez, dei um sorriso.
Ele ficou me olhando por um longo tempo, inclinando a cabeça para o lado. Deu um sorriso.
— Que foi? — perguntei, sorrindo timidamente.
— Você é uma gracinha, sabia? — disse, passando o dedo no meu rosto. — Todo “ruborizadinho”.
— Sou mesmo? — baixei a cabeça.
— É — Ele levantou meu queixo com um dedo. — É sim.
Guto deslizou a mão pelo meu ombro até alcançar a minha.
— Quer comer uma pizza comigo? Daqui a pouco chega.
— Por que não? — sorri.
QUASE DUAS DA MANHÃ.
E nós estávamos prontos para dormir. Eu observava Guto em pé, escovando os dentes com a porta do banheiro entreaberta.
Ele realmente era um grandalhão — tinha um pouco de músculo nos braços, uma barriga meio chapada; parecia alguém que não ia à academia há alguns meses.
Tinha um bigodinho bem sexy e uma boca que sabe muito bem fazer maravilhas. Fiquei de queixo caído quando ele me contou que tinha vinte e dois anos de idade. Pensei que era três anos mais velho do que eu.
Usava um samba canção violeta bem escuro com algumas formas geométricas — algo meio geek. Ele tinha um PC gamer, acho que pode ser por isso.
Fechou as luzes e, com a TV ligada no Netflix, se deitou no meu lado direito.
— Vem cá — comecei. — Deixa eu te perguntar uma coisa.
— Diga.
— Aquele lance do banheiro interditado deu ruim não, né?
— Relaxa — ele se cobriu com o lençol. — Deu tudo certo.
— Você é meio inconsequente — brinquei.
— Um pouquinho — sorriu.
Houve um momento de silêncio.
— Amanhã eu trabalho só à noite — disse ele.
— Sei.
— Sabe o que a gente podia fazer?
— O quê?
— Ir à praia. Mas não aquela.
Pensei por um minuto.
— Acho ótimo. Não me lembro da última vez que peguei vitamina D só de sunga — brinquei.
— Bem que você precisa mesmo — ele sorriu.
— Olha quem fala — devolvi. Guto também era tão branco quanto eu.
— Estamos empatados — ele suspirou. — Vamos amanhã… Digo, mais tarde?
— Umas dez horas tá ótimo.
— Perfeito — ele desligou a TV. Nenhum de nós assistia mais naquele momento. — Dorme comigo?
— Eu já não estou dormindo com você aqui? — eu ri.
— Você está apenas dividindo a cama comigo — a voz dele era mais gutural agora. Ele envolveu o seu braço na base do meu pescoço, me puxando para repousar a cabeça em seu peito nu. — É disso que estou falando, gatinho.
— Ah, é? — Me envolvi melhor, atravessando o meu braço em seu corpo. Coloquei a minha perna sobre a sua. — Assim?
— Assim… — ele me apertou de leve, beijando o alto da minha cabeça. — Bem gostosinho.
— Gosta de cuidar? — insinuei.
— Gosto de dominar. Isso sim.
— Gosto desse tipo de dominação, também.
Ele passeava com a palma da mão nas minhas costas.
— Agora dorme — pediu. — O dia foi cheio demais para a gente.
— Tá bom… — beijei o peito dele e não demorou muito para capotar.
Acabei sonhando com o dia de hoje. Sem querer.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Tania Maria Rufino
Esse Guto parece legal.
2024-09-07
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