Primeiro encontro

Vou para a aula de reforço e Aline está no ônibus, quando ela me vê entrando coloca a mochila no lugar que eu iria sentar ao seu lado como de costume.

Fico sem graça mas me sento na primeira poltrona, coloco meus fones de ouvido e tento não ficar chateada com o acontecido.

O ônibus para no ponto e eu desço na frente, quando acabo de sair do ônibus levo maior susto quando o vejo de pé me esperando no ponto.

Ele vem com um sorriso lindo e cheio de graça:

__ Pensei que você não viesse, tenho uma coisa para você e não podia esperar.

Ele tira de sua mochila uma caixinha com um presente.

Abro e fico encantada com o porta jóias que ele me deu.

__ Nossa! É lindo, foi seu pai quem fez?

__ Não, fui eu.

Dou-lhe um abraço e um beijo no rosto de agradecimento. Olho para o lado e Aline está nos olhando com muita raiva.

__ Vejo que os dois estão muito amiguinhos.

__ Somos amigos, Aline! ...Algum problema?

__ Não, Renato! Por mim tudo bem, só não sei se os pais dela vão gostar de saber dessa história.

__ Minha mãe já sabe, Aline. Não tenho segredos para ela.

__ Mas o bêbado do seu pai não sabe.

Ela fala e sai andando, meus olhos enchem de lágrimas e fico muito triste.

__ Não fica assim, ela é ridícula e invejosa.

Tento dar um sorriso seco e começamos a caminhar lado a lado. Ele tenta conversar coisas aleatórias mas estou sem graça depois de ouvi-la chamar meu pai de bêbado.

Passo a aula em silêncio e quando saio Renato me acompanha até o ponto de ônibus. Ele é sempre gentil e me trata com muito respeito e carinho.

Assim foram por diversas semanas, eu e Aline não estamos conversando mais. Achei melhor me afastar para não sofrer mais suas investidas.

Depois de muitos dias sem conversar com a Sofia eu descobri uma coisa que pode acabar com a alegria dela.

Flávia é prima da Barbara e me contou que minha querida amiga terá um irmãozinho.

Decidi me reaproximar dela novamente para poder dar o meu golpe de misericórdia.

Voltei a conversar com ela aos poucos no recreio e no ônibus para as aulas particulares. Ela é tão sonsa que não percebeu que a quero bem longe do Renato e da minha vida.

Ela diz que o pai parou de beber e que estão vivendo um momento tranquilo em casa.

Escuto tudo e conto para Flávia que vai direto no ouvida da Barbara que está de licença para ganhar o bebê.

Vejo que ela e Renato estão sempre de conversinha no celular, ela mudou de masculino para feminino achando que me engana, coitada não sabe de nada.

Estou na sua casa e ela deixa o celular na cama para ir ao banheiro, vejo uma mensagem deles programando de saírem para tomar um sorvete amanhã.

Fico pensando em como posso contar para seu pai a respeito da sua santa filhinha.

Peço minha mãe para sair com Rafael, não escondo com quem vou sair para tomarmos um sorvete, ela me dá o dinheiro e eu me arrumo toda feliz, pois eu nunca saí com um garoto, mesmo que hoje somos apenas bons amigos.

Andamos uma ladeira enorme até a Praça Tiradentes, sentamos em baixo do monumento que fica em frente ao museu da inconfidência.

Tomamos nosso sorvete olhando os turistas que caminham displicentes pelas pedras fincadas do calçamento, olho nossa cidade tão linda e tão valorizada pelos visitantes. O cheiro da cidade e o vento que corta frio nossas peles mesmo no verão suave das serras e montanhas cinzentas que contemplam a histórica cidade.

__ Renato, eu amo estar aqui nesse lugar tão bucólico e nostálgico. É como se eu já tivesse vivido isso a muitos anos atrás e estou revivendo novamente. Todas às vezes que venho aqui me sinto dentro do livro de história.

__ Eu também me sinto assim, amo essas montanhas e cada parte dessa cidade. O centro histórico e as igrejas é o que mais me fascina. Eu nasci em Belo Horizonte, mas viemos para cá eu ainda era pequeno.

A família dos meus pais são de Brumado. Onde ele aprendeu a trabalhar com as pedras e a fazer sua arte com perfeição.

__ Meu pai é de Mariana, minha mãe é do Rio de Janeiro, eles se conheceram num carnaval aqui em Ouro Preto, fui feita em uma das repúblicas da cidade. Meu pai quando soube que ela estava grávida a buscou e se casaram. Eles se amam apesar dos problemas que ele tem com a bebida.

__ Mas você disse que já tem bem dias que ele não bebe.

__ Tem, mas continuo com medo dele ter uma recaída.

Ficamos a tarde toda conversando, ele vai comigo até o ponto de ônibus e num descuido ele me dá um selinho.

Foi meu primeiro beijo, um frio percorreu meu corpo e o retribuí com um sorriso.

De dentro do ônibus o vejo ao longe e acenando. Senti uma pontada de tristeza como se fosse a última vez que o visse.

Tento tirar essa idéia da minha mente, mas não consigo. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e passo a ponta dos meus dedos pelos meus lábios. Sinto que foi um Adeus.

Chego em casa e meu pai está alterado, bebeu novamente e pela primeira vez veio gritando comigo.

Não entendo o que está acontecendo e o que eu fiz para ele estar desse jeito comigo.

__ Sofia onde você estava?

__ Eu saí com alguns amigos para tomarmos um sorvete.

__ Diz a verdade, você está de namoradinho. Já sei de tudo e você está proibida de sair de casa.

__ Pai, isso não é verdade. Eu sei que não tenho idade para isso.

__ Quem me contou não ia mentir, me entrega seu celular.

__ Não pai, para quê o senhor quer meu celular?

__ Vou descobrir quem é esse moleque e acabar com ele, se ele não tem pai eu vou ensina-lo a ser homem.

__ Para pai, não existe nada no meu celular.

Ele pega meu celular bem no momento em que Renato manda uma mensagem:

__ Eu te amo, Sofia!

Meu pai furioso quebra meu celular pisando em cima e esmagando o aparelho. Minha mãe entra na sala no momento em que sua mão está erguida para me bater.

Ela entra na frente e leva um tapa na cara em meu lugar. Ele vê o que fez e sai de casa transtornado.

Estou em choque e desesperada, nunca o vi tão furioso. Ajudo minha mãe a se levantar e choramos abraçadas.

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