Excursão

Antes de dormir eu passo uma mensagem para minha amiga. Ela demora um tempo para me responder, fico aguardando na esperança que ela já esqueceu o problema que tivemos.

Meu nome é Aline, tenho quatorze anos e sou a melhor amiga da Sofia, sou conversada, extrovertida e bem diferente da Sofia que é um poço de timidez.

Eu gosto do Renato desde que estudamos juntos no primário, fizemos três anos de escola juntos e ele nem sequer se lembra de mim. Só aceitei fazer essa aula de reforço porque eu sabia que sua mãe era a professora. Eu só não imaginei que ele fosse ter uma queda pela sonsa da Sofia.

Fiquei possessa de raiva quando o vi lhe beijando o rosto, era para ele ter atentado aos meus ataques mas não, preferiu a timidez da minha amiga.

Estou com uma virose e essa semana não fui a aula, estou de atestado. Por um lado acho até bom não estar bem, assim não tenho que encontrar com a Sofia. Não estou com ânimo para as suas lamentações familiares. Mas para outro lado o caminho ficou livre para ela e o Renato.

Estou assistindo minha série preferida e vejo uma mensagem da Sofia, penso em não responder. Mas pensando melhor quero saber se ela foi a aula de reforço hoje:

__ Olá, Sofia!

__ Oi amiga, queria saber se você melhorou?

__ Estou melhor, mas ainda não vou a aula amanhã. Agora só vou segunda-feira.

__ Que pena! Você quer que eu pegue as matérias com alguém da sua sala?

__ Não precisa, Flávia está trazendo para mim.

Acho estranho porque as duas não combinam e agora Flávia leva as matérias até sua casa.

__ Você foi no reforço hoje?

__ Sim, eu fui.

__ Que bom! Segunda-feira eu vou.

Nos despedimos e a pulga continuou atrás da orelha, ela está estranha e geralmente conversamos por muito tempo antes de dormir.

Levanto cedo e recebo uma ligação da professora Berenice me convidando para uma excursão a São João Del Rei e Tiradentes, no sábado e domingo. Fiquei louca de vontade de conhecer as cidades históricas e a continuação da estrada real.

Estrada real ou caminho real constituíam os clássicos e exuberantes atribuídos às principais estradas e caminhos existentes em Portugal e nos territórios ultramarinos portugueses, durante a época da monarquia, terra dos inconfidentes e o berço do artesanato mineiro.

Peço aos meus pais e eles me deixam ir, fico muito feliz mas ao mesmo tempo chateada porque minha amiga não poderá ir, ainda está de atestado.

Vou a aula e volto para arrumar as coisas para a viagem. Não conto nada a Aline para não ficar chateada por estar impossibilitada.

Meu pai não bebe a dois dias, estou muito feliz e esperançosa de que ele tenha parado com a bebida. Eles me levam cedo para Ouro Preto onde pegarei a vã da excursão.

Renato me dá um lindo sorriso quando me vê entrando na vã. Meu lugar está reservado ao seu lado, afinal é a única pessoa que Conheço na excursão.

Dona Berenice fica feliz por eu ter vindo, eu agradeço por ela ter me convidado .

Sentada ao seu lado fomos conversando toda a viagem, ele conhece cada parada que fizemos e cada história desde Congonhas, Bichinho, Tiradentes e São João.

A todo momento estamos juntos e desta vez somos os turistas. A noite em Tiradentes aproveitamos o festival de gastronomia e as músicas ambientes dos restaurantes rústicos e das comidas típicas mineiras.

Dormimos em uma pousada, ele me levou até a porta do dormitório e me deu um beijo no rosto, fiquei encantada com sua gentileza e com um sentimento novo que tem surgido entre a gente. É uma pena sermos tão novos e não podermos nem ao menos falar a respeito com nossos pais.

No domingo fizemos o trajeto de volta passando em Coroas e Resende Costa, compramos algumas lembranças locais e voltamos. Eu estava tão cansada que acabei dormindo com a cabeça em seu ombro que me amparou.

Meus pais me esperavam no lugar que me deixaram, fiquei feliz porque novamente meu pai está sóbrio. Eles não reparam que eu despedi de Renato com um beijo no rosto. Mas se perguntassem eu diria que é um amigo.

Antes de dormir eu mando uma mensagem para ele agradecendo o maravilhoso final de semana, ele me responde que será o primeiro de muitos. Estou feliz como a muitos anos não fico.

Minha mãe vem até o meu quarto e conto a ela todos os detalhes e a amizade que fiz com ele. Ela como sempre me apoia e me dá bons conselhos.

Levanto cedo e vou para a escola, vejo ao longe Aline e Flávia conversando, não tenho nada contra, só não entendo essa amizade repentina.

Passo por elas e as cumprimento rápido pois estou atrasada para a primeira aula.

No intervalo a gente costumava a conversar, mas agora ela não chega perto e está sempre conversando com a sua nova amiga eu não vou ficar insistindo e nem correndo atrás.

Pego meu lanche e faço sentada na escada do refeitório, alguém se aproxima e pergunta se eu gostei da excursão, olho e num dia garotos que foram com a gente. Ficamos conversando a respeito e nos empolgamos e acabamos falando alto o nome do Renato.

Só nesse momento percebi que Aline estava prestando atenção na nossa conversa. Ela me fuzila com os olhos e eu fico sem reação:

__ Então quer dizer que você está ficando esperta, foi para uma excursão com o meu Renato sem falar nada?

Olhamos um para o outro e viramos as costas, não quero discutir com ela. O garoto se despede e vou subir para minha sala quando ela pega no meu braço.

__ Falei com você! Então você viajou e não me falou nada!

__ Você estava doente, eu fui convidada pela professora e para seu interesse eu sou amiga do Renato e que eu saiba ele não é seu.

A deixo cuspindo fogo, sou calma mas sei me defender e não vou aceitar que ela domine minha vida.

Subo a escada e a vejo indo para sua sala com a Flávia. Acho que perdi a amiga, agora tenho que esperar a poeira abaixar para ver como vai ficar nossas idas para a aula particular.

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