Maria Sofia

Minha história não me define, pois tive uma infância conturbada, apesar de ter tido o amor dos meus pais, mas uma vida marcada por desencontros e tragédias.

Meu nome é Maria Sofia, tenho doze anos e moro com meus pais na cidade de Mariana que é colada a Ouro Preto. Sou filha única de um casal de comerciantes local. Temos uma loja de móveis rústicos e sempre que posso ajudo meus pais no comércio. É uma maneira que encontrei para passar mais tempo com eles pois trabalham muito e quase não tem folga.

Morar em cidades turísticas tem suas desvantagens, o comércio fica aberto de domingo a domingo e não temos tempo para lazer.

Três vezes por semana eu vou a Ouro Preto fazer aula particular com a dona Berenice. Ela é uma excelente professora e tem me ajudado bastante nas matérias que tenho pouco domínio.

Hoje conheci seu filho Renato, ele é lindo e tem um sorriso encantador. Minha amiga Aline ficou toda mexida por ele. Eu também fiquei mas ela disse que viu primeiro e tenho que me conformar pois somos amigas e nossa regra de amizade é de quem viu primeiro. Vale para roupas, calçados, objetos pessoais e não para garotos.

Nunca ficamos com ninguém pois ainda somos muito novas mas olhar não tira pedaços.

Tenho poucos amigos, meus pais são bem rigorosos e não gostam que eu fique de muitas amizades, acham que me influenciam e que podem me fazer algum mal.

Sou filha única e tenho uma super proteção paterna. Ao mesmo tempo que sofro com o vício de bebida do meu pai, ele tem a cada dia ficado mais fraco para o álcool. Minha mãe tem lutado para manter seu casamento pois está difícil conter os efeitos da bebida em nossa família. Ele é muito trabalhador mas os problemas pessoais tem afetado o lado profissional.

Às vezes vejo minha mãe chorando por ter sido humilhada por ele na frente dos clientes da loja ou algum maus tratos que ele faz com ela quando estão sozinhos.

Fora da bebida ele é uma excelente pessoa e ela o ama e tem dó de deixa-lo sozinho.

Nos momentos de angústia ela fala em ir embora para bem longe e largar tudo. Tenho medo que isso aconteça pois eu amo muito meu pai e não quero que ele fique sozinho.

A família e os amigos já se afastaram e sua depressão aumentou muito. Minha avó é a única que vai lá em casa, não sei se isso é bom pois ela vive falando na cabeça da minha mãe que se alguma coisa pior acontecer com ele ela será culpada.

Ele me abraça sempre e diz que sou a única razão para continuar vivendo. Minha mãe tem medo de irmos embora e ele fazer uma loucura.

A única pessoa que sabe o que passamos dentro de casa é minha amiga Aline, ela me dá apoio e posso contar com sua amizade.

Geralmente quem vai conhecer Ouro Preto, vai a Mariana. São muito próximas uma da outra e podem ser exploradas com a deliciosa viagem de Maria Fumaça. Eu adoro morar aqui e não trocaria por nenhum outro lugar do mundo.

Estou na aula de dona Berenice e Aline senta se ao meu lado e Renato senta do outro. Vejo que minha amiga está incomodada pois ele fica puxando conversa comigo o tempo todo. Sinto que estou entre eles e isso me incomoda eu não posso perder a única amiga que tenho.

Estou em silêncio fazendo o exercício que foi passado e vejo que Aline está atrasada pois só presta atenção no que Renato está falando. Ele por sua vez me faz uma pergunta atrás da outra e eu o respondo por educação.

Estou terminando de responder as questões e coloco minha mão na cadeira para descansar meu braço. Sinto sua mão sobre a minha e meu corpo gela. Ele segura firme e me olha dentro dos olhos e nossa comunicação visual é um sinal de que estamos nos entendendo.

__ Algum problema, Sofia?

Aline me pergunta desconfiada de que alguma coisa está acontecendo. Estamos de mãos dadas por baixo da mesa e meu coração está acelerado.

Soltamos nossas mãos e rapidamente pego o caderno com as duas mãos e os fecho para guardar.

__ Não está acontecendo nada, só lembrei que tenho que passar numa loja para pegar uma encomenda da minha mãe.

Ele sorri do meu constrangimento, e fecha seu caderno.

__ Espera só um minuto que eu vou ao banheiro.

Aline sai e nos deixa sozinhos.

__ Sofia, me passa seu telefone para podermos conversar.

__ Eu não posso, sinto muito!

__ Pronto! Vamos?

Saímos da casa dele e fiquei o tempo todo ouvindo o quanto Aline o achou bonito e o quanto ele estava perfumado. Ela não parou de falar nele, sabe até os pequenos gestos que ele faz quando está escrevendo.

Passo na loja e pego a encomenda da minha mãe, olho para trás e o vejo vindo em nossa direção. Meu coração está dando piruetas e minhas pernas estão bambas.

__ Ainda por aqui, meninas?

Aline como sempre muito pra frente responde:

__ Já estamos indo pegar o ônibus, quer vir com a gente?

__ Não é má idéia, estou de bobeira mesmo.

Ele fala olhando dentro dos meus olhos e sinto um rubror no meu rosto.

Ele fica entre nós duas e Aline não para de falar um só minuto, quando vamos nos despedir para entrarmos no ônibus ele beija meu rosto que está em brasas.

Entramos no ônibus e Aline está com a cara amarrada:

__ O que foi aquilo, Sofia? Ele te beijou no rosto!

__ Eu não tenho culpa, foi ele e não eu quem provocou essa situação.

__ Mas você gostou, está estampado na sua cara, você não está respeitando a regra de quem viu primeiro.

__ Ele não é um objeto, Aline!

Quando dei por mim eu já estava a respondendo, é uma coisa muito chata ficar entre esse jogo.

Desço do ônibus me despeço dela que não me responde, quer ficar com raiva o problema é dela.

Eu não aguento as pirraças dela, já chega os problemas que tenho dentro de casa.

Chego na sala e meu pai está esparramado no sofá, está trêbado e minha mãe está chorando no quarto. Pelo visto a briga foi feia, estou com meu peito apertado e um nó na garganta. Abraço minha mãe que não contém às lágrimas, ela está sofrendo muito e eu sofro com ela.

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Comments

Jaqueline Morares Moraes

Jaqueline Morares Moraes

eu já passei por isso .pai alcoólatra .e mãe brava .meu pai são era maravilhoso . bêbado com os remédios que a mãe colocava na comida .ele virava um bicho.teu trauma até hoje .em salvar minha mãe .e não respeitava meu pai . revoltada.e no meu casamento o mesmo . não tinha medo de homem . não é fácil .o bom que conseguiu conviver com meu pai melhor . anos antes de morrer .a situação dele até morrer foi horrível.muito triste .e eu doente não pôde ajudar .

2023-08-19

9

Saalem Pontes Braga

Saalem Pontes Braga

que tristeza né, só quem vive sabe como é

2023-04-25

2

Carla Dos Santos

Carla Dos Santos

começando. 06:30 03/01/2023. E DE NOVO GARCIA VEM ARRAZANDOOOOO❤

2023-01-03

1

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