Capítulo Três
A carta parece imensamente grande quando a pego, mas, depois de um tempo lendo e ainda sentindo o mesmo sentimento – Culpa injusta, me acostumo com as palavras escritas.
Não deveria me sentir assim, porquê estou certa, sei que estou, mas ainda assim sou culpada em trair o reino de forma tão indecente como esta. Mas acho que a culpa deveria passar mais quando se sabe que não dar para voltar atrás e, mesmo que voltasse faria novamente, este colapso que criei entre meus tios e eu, resultou também em minha liberdade, em não ter guardas perseguindo-me por todo tempo, de não estar entre as garras enormes dos meus tios, tentando convencer-me que aquilo era por causa de minha mãe, escondendo o porquê que ela fez aquilo com o reino anos atrás.
Guardo novamente a carta em seu envelope azul-marinho com o carimbo do reino Pontapho. Passo para a caixa e a guardo, depois passo para a próxima carta, a carta que escrevi para Ester.
Uma carta de desculpa à ela.
Ester.
Estou a um tempo pensando se você acompanhou a guerra de perto, porque quando ainda morávamos no penhasco do Palácio, você me contava que iria para o exército e, que não queria ver-me chorar por isto. Quando você falou aquilo pensei que era como uma despedida de morte e que não nos veríamos mais. E realmente foi, não nos vemos desde aquele dia, que seus olhos brilhavam mais que a púrpura de seu vestido cinza com pequenos cristais brilhando, lembro-me ainda disto.
Eu deveria ter dito para você que eu sentiria saudades e não saberia como viver sem sua presença por muito tempo, mas eu não contive o orgulho de não esboçar nenhum sentimento àquilo que você disse. Me desculpe Ester por isso, as palavras estavam afundados na garganta, você esperava por algo mais sentimental da minha parte. Mas você não viu nenhum remorso, mas, eu sei oque eu senti Ester quando disse aquelas palavras, sei que deveria ter falo, mas sou egoísta demais para falar sobre essas coisas, por isso me mantive calada.
Quando fui até o salão onde todos estavam para contar realmente oque eu queria à você, você estava bêbada e todas as palavras que eu diria seriam descartadas pelo vinho mais tarde, você não se lembraria de nada que disse. Foi por isso Ester e, me desculpe por não falar isso pessoalmente.
Depois do festival, não tive tempo para ir à sua festa e não podia desmoronar em sua frente, isso seria ridículo e, sei que aquilo seria egoísmo da minha parte. Porque odeio quando veem pedir desculpas depois do ocorrido, quando não há mais esperanças para concertar o erro.
Então me mantive no palácio, sem lhe pedir desculpas ou demonstrar oque deveria ter demonstrado, sei que isso foi burrice, mas a outra opção eu neguei a mim mesma que nunca faria aquilo.
Não me acostumei ficar longe de você, de Will e de Rall, porque eu realmente gostava da sensação pura que sentia quando estava com alguns de vocês, sei que não posso voltar mais atrás e que a única vez que iremos nos encontrar é quando estaremos no campo de guerra em lados opostos. Como quando encontrei Will, quando vi sua morte em minha frente, um cara que amei tanto sendo morto diante à meus olhos, enquanto eu estava sendo agarrada por Benis e Rocke – um dos Pontaphos que me odeiam.
Aqui, depois da guerra se tornou mórbido, não tem um ar de incerteza que sentia antes. Agora tenho a certeza que não importa onde esteja nunca vou estar em um cenário de contos de fadas.
Não há um lugar assim, que sempre sonhamos, estamos em tempos de guerra e, não há flores para se cultivar.
Sei que está com o mesmo pensamento que eu, porque sempre esteve com seu pensamento assim, desde antes, quando as coisas eram mais fáceis para nós.
Dentre este tempo que passei em Estelar, passei a colecionar espadas, ando ganhando lutas também, eu ganhei uma aposta ontem, em quem não gritar com um espinho das mãos do Espinhoso – o capitão da AEP – Academia de Espadas Pontapho. Eu ganhei a aposta contra um aluno de lá e com ela uma punhal. Que obtém uma pintura azul de detalhes vermelhos, é minha peça preferida para pequenas batalhas, costumo sair com ela preza na perna, escondida por baixo do vestido. Neste momento estou usando ela, é sempre bom estar preparada para um ataque.
Enfim, está carta é somente para lhe pedir desculpas sobre a noite do festival de espadas, as vezes eu me sufoco, tampouco não morri na guerra, porque para mim sempre é bom fechar os ouvidos e tampar os olhos com uma faixa. Esconder um problema sempre foi a minha forma de lutar contra ele.
Estou com saudades eternas.
Lanna Brancos
Fico alguns segundos encarando a carta, que nunca me disponibilizei para ser entregue aos destinatários.
Guardo novamente a carta em seu devido lugar, a carta já está meio amarelada devido a estar guardada por muito tempo.
Passo os olhos pela cama, olho o relógio que marcam 04:40 da manhã, estou com poucas horas para descansar, tenho que acordar às 06:00 para ir à escola.
Hoje foi um dia trabalhoso, tive muitas novidades para serem contadas na manhã seguinte, vou escrever sobre o ocorrido para Ester e talvez para Rall.
Deito na cama de algodão, desligo a luminária da mesinha que tem ao lado da cama e fecho os olhos, imaginado que amanhã será um dia legal, mas sei que não, porque Lucas irá revidar o golpe que dei em sua perna.
Quando acordo, a aurora está sentilante batendo contra a janela do meu quarto, parece que quando fechei meus olhos, a luz venho.
Não durou nem cinco minutos de sono.
Vou até ao banheiro e escovo os dentes, tiro a tensão do meu corpo com a água fria.
Visto um vestido azul-marinho, com mangas ombro-a-ombro onde tem pétalas azul quase preto, em primeira vista o tom de azul seria confundido pelo preto.
Calço um par de botas azul-escura, arrumo meu cabelo numa trança prendida para trás, contorno os olhos com lápis e depois coloco o crachá da escola, uso também Estella, prendida em minha coxa direita, num suporte que peguei no porão da casa.
Desço as escadas com passes rápidos, pego um chá feito por Thalya está na varanda olhando para o nada, pego um bolinho vermelho, com uma camada no meio dele muito doce, parece calda de morango. Mas com uma cor mais ríspida.
— Eu já vou indo! (Passo por ela, que me dar um sorriso sem graça e acena para mim).
Vou andando até a escola, com um certo medo de encontrar com Lucas, ou talvez Rocke porque não sei como encará-lo depois do que aconteceu ontem à noite.
— Lanna! (Alguém me gritara pelos fundos da escola, olho em volta e não vejo ninguém que poderia me socorrer se isso é uma emboscada).
A única coisa que me faz ir até lá, é a voz, é uma voz feminina e nada parecida com a de Amélia, porque Amélia tem uma voz como a de um mosquito e essa parece mais firme, talvez mais madura.
Quando aproximo-me do jardim da AEP, vejo Gatriza sentada em um dos bancos, arqueio as sobrancelhas e franzo o cenho, confusa por Gatriza esta aqui tão cedo, não costumo frequentar a escola no horário dado pelo Espinhoso, costumo sempre vir uma hora antes e, hoje... vejo Gatriza no mesmo horário, talvez ela sempre esteve aqui, sempre costumou violentar os horários também, ser inimiga dos ponteiros, mas, não sei oque faz sozinha.
— Precisa de mim Princesa Gatriza? (Eu faço uma reverência mínima com o vestido, flexionando o pescoço para baixo, Gatriza acena com as mãos para que eu pare com a reverência).
— Sente-se. (Faço o que Gatriza pediu, enquanto a encaro nos olhos).
— Estava pensando, nos festivais de espadas. (Ela falara, não sendo especifica com o que queria dizer).
— E? (Eu indago)
— Estava pensando que talvez eu fique contra você nas lutas. (Dou um suspiro impacientemente não querendo imaginar o que Gatriza quer dizer).
— Sem rodeios por favor. (Digo para ela que arqueia as sobrancelhas, ela parece nervosa com oque digo).
Mesmo Gatriza tendo alto poder contra mim, ela é meiga e doce demais para sentir ódio de alguém, ela talvez nem conheça essa palavra. Eu a conheço bem.
— O que quero dizer, é... um pedido. (Espero por ela falar mais uma vez, ela simplesmente não consegue ser mais específica, odeio esperar).
— Estou a ouvir. (Desde ontem até agora, estou sendo movida para psiquiatra de todos, parecem querer colocar seus fardos em cima de mim, esperando que eu minimizassem seus problemas).
— Meus pais, eles pediram para que eu impressionasse o príncipe Lucas, decretando laços com o reino, eu só posso fazer isso se eu vencer. Mas eu sei que, não vencerei de você. (Fico plasma com o que Gatriza falara, não gosto de perder e, não sei se vou conseguir ver minha dignidade indo embora junto à esperança, tudo por deixar Gatriza vencer).
— Me desculpe Gatriza, mas, não sei se vou conseguir fazer isso. (Digo em meio aos suspiros).
— Você consegue. (Gatriza choraminga ao meu lado).
— Minha dignidade está em jogo, os Pontaphos acham que por obterem poder em seu sangue, podem fazer tudo oque querem com os humanos, o rei vai está lá, esta é minha única chance de lidar com isso, eu preciso vencer este torneio. (Gatriza me olha com seus olhos puros mas que por algum acaso lembra-me de uma fera, assim como os olhos de Rocke).
— Certo. (Ela diz levantando-se do banco e indo até a frente da escola).
Suspiro olhando meus pés, olho para a extensão do Palácio das bestas, longe daqui. Observo os Violetas andarem de um lado à outro pelos corredores da escola – Violetas domados pelo rei.
Caminho pelo corredor e observo a sala onde terá a primeira aula será do professor Nikchel.
A janela está aberta, vou até lá e entro por ela, evitando encarar nos olhos sanguinários de Lucas na entrada da Academia.
Busco a última cadeira da fileira, porque assim nenhum dos idiotas irão sentar atrás de mim, não vou precisar correr o risco deles me apunhalar pelas costas.
Pelo menos a aula de hoje não vai ser tão tediante, porque o ser Nikchel sempre busca inovar nas aulas, ele é um astrônomo fascinado pelo espaço, suas aulas estão focadas somente em saber sobre o lado obscuro das estrelas.
Tive um caso com seu assistente, ele é um obscuro, mas pude ver a cor de suas pupilas, até hoje não sei porque não decidi ficar com ele, ele ainda me olha da mesma forma que antes, quando eu falei que seus olhos mel eram lindos.
— Entrem! (O s.r Nikchel falara para a multidão de alunos que veem entrando, ele franzi as sobrancelhas para mim e eu dou um sorriso).
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Atualizado até capítulo 33
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