Capítulo Dois
Vejo-a arfar, ainda na mesma posição, esperando para que explique-a o porquê de Rocke um cara que odeio tanto estava no meu quarto.
— Por que Rocke estava aqui? Ou melhor, por que estavam juntos? (Thalya indagou com o rosto enfurecido, eu a observo sem explicação, porque não há uma que ela entenderia).
— Rocke e eu... (começo a falar, com os olhos diretamente para o chão, porque se eu conseguir desvendar uma mentira improvisada, olhar para seu rosto vai ser o mesmo que escrever na minha testa “ Eu sou uma mentirosa e, nesse momento, estou mentindo para você!”).
— Espero que seja uma explicação convincente o bastante para eu esquecer dos dias treinados para violentar Rocke, os dias que me contou sobre como ele era irritante e os outros, espero que seja convincente o bastante para fazê-la esquecer de imediato que ele encobriu sua respiração com um soco no estômago, um dia antes de seu querido Will morrer enquanto ele estava segurando-a e, forçando-a ver àquela tortura.
— Fizemos uma aposta. (Digo por fim, vencida pelas palavras de Thalya, mas não pude conter mais uma vez um desejo carnal, são nessas horas que percebo como sou fraca, para humilhar-me de forma tão passiva deste jeito, e apenas me dar conta quando Thalya esfrega palavras duras em meu rosto, como se fossem tapas doídos até demais).
— Que tipo de aposta!? (Thalya semicerra os olhos, enquanto sou eu arfando o ar para fora e inspirando-o de volta).
— O tipo sujo que você odeia, apostamos em quem não sedia primeiro por um beijo, eu ganhei. (Quando termino de falar, Thalya suspira denovo, ainda encarando-me nos olhos, não fui capaz de mentir desta vez).
— Qual foi a recompensa? (Thalya pergunta como se estivesse desapontada, mas que tem uma sensação que não devia, perguntando para suavizar a merda que eu fiz).
— Eu fiquei com a lâmina dele. Está na gaveta. (Eu digo passando logo atrás dela, que vai examinar a lâmina).
— Como você conseguiu aceitar essa lâmina? (Sua pergunta me fez ri, porque ela ainda olha para o valor da lâmina em tanta desanda).
— Isso eu não sei, acho que foi pelo momento. (Eu olho seus gestos, olhando a lâmina como se a detestava).
— Não passou de um beijo. (Ela diz, confessando para si própria, gera também como uma pergunta retórica, por isso não respondo).
Thalya suspira mais uma vez, depois eu vejo-a olhar para mim de forma descritiva, acho que todos estão querendo me intimidar.
Tenho vontade de perguntar para Thalya nesse exato momento, o porquê de todas as vezes que a vejo conversando com seu namorado humano, sempre há lágrimas envolvidas. Mas talvez ela não queira falar sobre isso, porque nunca a vi comentar sobre ele para mim. Mas pensando em outro lado, o meu. Ela questionou-me a poucos minutos sobre Rocke e eu.
— Por que estava chorando? (Ela franzi o cenho e, percebo que Thalya não entendeu a pergunta, ela parece confusa com a pergunta aleatória). — Quando a vi conversando com seu namorado humano. (Expliquei-a, enquanto ela ressalta as sobrancelhas e franzi o rosto).
— Não estamos em um tempo legal no nosso relacionamento. (Nunca a vi feliz quando fala com ele, talvez, eles nunca tiveram em um tempo legal no relacionamento).
— Isso é sobre os Pontaphos, ou ele? (Eu a pergunto, que parecera infeliz com a pergunta, mordendo as bochechas e semicerrando os olhos no chão).
— Ele está pensando em voltar para o reino mortal. (Diz ela com um olhar amargurado para o chão, especificamente para meu tapete vermelho. Fazendo-me entalar, como se as palavras ditas por ela, entrelaçassem em meu pescoço como um nó, é ruim ficar longe de quem você ama, eu sou uma metáfora para isso).
— Você confia nele? (Eu a pergunto enquanto ela se encolhe não sabendo como responder).
— Devo confiar, porque aceitei ele dentro desse reino, mas não sei se devo. Entende? (Faço um gesto para que Thalya senta-se na cama, ela senta e depois começo a falar novamente).
— Ele é um humano Thalya. Ele mente, ele trai mesmo que não queira. Eu fiz isso com meu próprio reino que um dia eu governaria, fiz isso com Will, com tia Clarise e tio Esteven, jamais me esquecerei que sou uma traidora. A traição para um humano é inevitável. (Thalya pousa sua cabeça em meus ombros, assim que ela chega em minha pele brusca, eu me sinto ereta).
— Tenho medo de Mark me trair, ou me usar. (Ela fala num sussurro, consigo medir o peso das palavras).
É a primeira vez que ela cita o nome de seu namorado humano, Mark, parece um nome de alguém que esqueceu de crescer.
— Não estou de dando baixas esperanças, mas Mark pode ser a pessoa que estar infiltrada aqui, no reino Estelar. (Vejo-a dar um breve suspiro, também faço o mesmo, tentando conter o peso das palavras que foram ditas para uma pessoa tão fraca como Thalya).
— Estou tentando não pensar nesta possibilidade. (A única coisa que consigo fazer agora é confirmar, Thalya estar tão vulnerável desde que seu namorado humano chegou, e, agora ele quer ir novamente.
Que idiota.
Ficamos ali por um tempo assim, mesmo que eu a ame, amo mesmo, queria que aquela situação acabasse. Porque não gosto de vê-la assim e esta é minha tática para abafar o problema, ignorá-lo até quando o problema não faça mais efeito em mim. Mas eu nunca o resolvo, sou sempre uma covarde que vira as costas para tudo ao seu redor, até mesmo para pessoas que me trazem problemas, eu simplesmente finjo que não existem, não me orgulho disso, mas não paro e acho que nunca vou parar.
— Acho que vou dormir. (Thalya falara limpando as lágrimas, que caiam. Finjo não ver, porque acho que sentirá a vontade se perceber que não estou vendo àquilo).
— Durma bem. (Eu falo acompanhando-a até a porta do quarto).
Quando tranco a porta, cubro o rosto com as duas palmas da mão. Esfregando os olhos, e passando as mãos pelo cabelo. Mais uma noite que não vou esquecer, não tão fácil.
Porque eu me senti bem, com as coisas que aconteceram, só não sei oque está reservado para mim amanhã, não sei se estarei bem como estou hoje, porque certamente Lucas vai revidar de forma cruel como sempre.
Pego a lâmina e a coloco de volta na gaveta da mesa da escravidinha, olho para a caixa que fiz assim que a Guerra deu uma trégua, assim que os humanos novamente quase exterminaram os Pontaphos.
Pego a caixa que obtém cartas para Rall, meu psiquiatra no reino mortal, para Will, meu amor verdadeiro e para Ester, minha antiga amiga.
Pego a primeira carta, para Rall.
Rall, estou sem tempo para escrever, me tornei uma inimiga do seu reino, que um dia eu pude chamar de meu. Estou tendo dificuldades para estar em meio aos Pontaphos, mas busco me acostumar.
Hoje eu cheguei de uma luta, eu ganhei e estou muito feliz por isso. Ganhei uma espada nova, chamarei de Estella, porquê ela brilha e causa uma chama em meus inimigos. Os dias se passaram lentamente, os festivais estão próximos e, me preocupo com isso, vamos lutar em frente ao rei. Também quero concertar minha dignidade para os Pontaphos, eles não confiam em mim, não confiam em mim por ser uma traidora de meu próprio reino, eles tem razão, estão cobertos por razão. Mas isso não lhes dar a oportunidade de tirar minha dignidade em frente aos meus olhos. Sabe, um dia eu estava caminhando para a floresta Mirt, costumo ir até lá para treinar arco-flecha e, Lucas – O irmão do rei, me atingiu com uma flecha envenenada.
Escapei dessa por sorte, porque eu sabia como lidar com estas situações, que aprendi com Ester, minha amiga mortal.
Outro dia fui arrastada por Amélia, Lucas, Rocke e Benis, eles me encheram de socos, voltei para casa cheia de hematomas no rosto.
Mas falando também nas minhas conquistas, conquistei uma coleção de espadas, por apostas que jamais falei para Thalya – Minha amiga daqui de Estelar. Conquistei também uma medalha da AEP, Academia de Espadas Pontapho. Consegui ela numa jogada mortal com a princesa Gatriza, da corte Matriz, uma corte bem conhecida em Campus, suas características são o vermelho, a Corte mais alta.
Minha corte é Nevegall, é mediana, não tão alta, mas é melhor que outras.
Minha Corte aí em Alaska costumava ser uma das melhores, assim como a corte dos Salles, éramos vencidos pelo orgulho por sermos altos, as disputas nunca eram o fim entre os Salles e os Brancos.
Tenho me acostumado também com a guerra, eu sei que os humanos não vão parar por aqui, tem que exterminar todos os Pontaphos para eles darem uma trégua, mas eu não vejo motivos para uma guerra, não sabia que uma guerra seria tão horripilante assim, todos os corpos mortos sendo carregados, espadas cravadas em seu peito, afundados no seu sangue cristalino, você sabia que o sangue dos Pontaphos existem cristais? Eu soube também que eles pagam mercadorias com seu sangue, é tão nojento, parece o tipo de comercial negro onde o Alaska acha petulante, eu também acho.
Também quero aproveitar nesta carta, para perguntar como estão as coisas por aí, em Alaska. Querendo ou não você ouviu que fui uma grande traidora do reino dos meus tios, mas não acredite apenas na ideia de eu ter um gênio igual a minha mãe, porque agora entendo oque ela sentiu quando buscou interferir na vida Pontapho, ninguém citou que meu pai traia ela com minha tia, ou talvez ninguém citou como ela se sentia em carregar a vida de uma Rainha competente, ninguém jamais falou sobre uma parte humana sua, que não servia para apenas governar um reino que entraria em colapso com um reino que não o fez nenhuma ameaça, simplesmente porque não gostavam da ideia de serem um reino com uma riqueza rente com a sua.
Eu não estou errada em não querer governar um reino como este, você sabe disso.
Estou com saudades de seus sermões.
Lanna Brancos
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Claudete Cavalcante
👏👏👏👏👏👏👏😍
2022-12-15
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