Meu nome é Rafaela, tenho 20 anos e acho que estou fazendo faculdade. Eu acabei de me mudar de cidade e não estou nem um pouco feliz, meus pais dizem que preciso me acostumar porque arrumaram empregos melhores aqui e na nossa antiga cidade mal estávamos conseguindo pagar a minha faculdade e a escola do meu irmão.
Eu estou cursando advocacia, desde pequena me interessei por essa profissão e em nenhum momento, mesmo depois dos trabalhos horríveis da faculdade, nunca tive dúvidas sobre isso.
Meu pai e minha mãe gostam de falar pra todos que eu sou a filhinha deles e que estou na faculdade, nenhum deles teve essa oportunidade e apesar disso eles tem um bom histórico de empregos que pagam bem. meu pai costuma dizer que a confiança é a garantia de um funcionário bom, se seu patrão confiar em você, então vai ser beneficiado.
Sei que esse otimismo do meu pai não funciona pra muita gente mas tem dado certo com eles.
Quando tenho um tempo livre sempre gosto de ir ao shopping com a minha amiga Alice, mas não para comprar roupas e sapatos, gostamos de nos sentar na praça de alimentação, pedir sanduíches com batata e refrigerante e então fazer o que fazemos de melhor: julgar as pessoas.
Ninguém gosta de ser julgado pela aparência e se alguém já fez isso com você, certamente você odiou, mas eu te conto o porquê: porquê você soube. Esse é o nosso diferencial, julgamos as pessoas pelas suas decisões e reações dentro do shopping mas nenhuma delas acha ruim porque nunca ficaram sabendo. E não me leve a mal, não julgamos raças, classes sociais ou seja lá o que tenha passado na sua mente de preconceito. Julgamos as pessoas pelos seu atos dentro do shopping, olhamos suas feições e então tentamos adivinhar o que aconteceu ou não com ela. E só fazemos isso aqui dentro, só nos duas, é um acordo nosso.
Alice tem sido minha amiga desde o primeiro ano do ensino médio, a gente almofada todos os dias juntas e quando não foi mais possível, achamos o shopping para fazer o que fazemos de melhor.
Agora que me mudei já não sei mais pra onde eu vou ou quando eu vou julgar alguém de novo. Sem a Alice também acho que não teria graça.
Agora só me restou o meu irmão, ele se chama Matheus, está na adolescência com seus 13 aninhos, as vezes conversamos por horas e ele me faz inúmeras perguntas, outras vezes ele está super mal humorado e não sabe dizer um mísero "obrigado". Mas não o julgo, também já tive 13 anos e essa não é uma parte da minha vida que eu goste de lembrar, não era uma flor delicada no jardim de adolescentes. Eu era a pior delas, tirando o fato das minhas notas serem razoavelmente boas, nada mais de bom se agregava a minha pessoa.
Todos os tipos de pegadinha já fez na sala de aula, em casa, nas aulas de natação, no quarto do meu irmão, nas reuniões de família no fim do ano e tudo que você possa pensar. Não se passava 3 dias sem que a pequena Rafaela ganhasse um belo sermão, que no começo vinha apanhado de castigos mas que depois meus pais já não sabiam mais o que tirar de mim, eles simplesmente aceitaram.
Meu irmão não liga muito pra pegadinhas, não se estressa mas também não é do tipo que fica sorrindo delas. Ainda mais agora que seus assuntos são sobre namoradinhas e primeiros beijos, ele sempre me pergunta sobre essas coisas como se eu fosse super popular quando era mais nova e eu era sim rs.
Depois que cresci passei a jogar handebol na quadra que tem perto da minha casa, as vezes rola alguns torneios com times de cidades vizinhas mas o melhor prêmio que já ganhamos foi uma medalha dourada que desbotou sozinha em alguns dias.
Eu já namorei sério duas vezes, a primeira vez eu era bem nova, não me lembro ao certo e o menino era um pé no saco. A segunda vez já estava na faculdade e o cara simplesmente surtou porquê eu estava bebendo com meus amigos depois de sair de uma aula, disse que eu era metida a independente e nunca lhe dava satisfações, mas ele era meu namorado e não meu pai, nunca pagava minhas contas, porquê eu deveria lhe dar satisfações?
Não sou nenhuma santa e já fiquei com um número razoável de garotos, nunca fui muito discreta e era uma adolescente considerada padrão então isso me ajudou bastante.
Eu já tenho carteira de habilitação e hoje meu dever é desfazer nossa mudança na casa nova enquanto meus pais seguem para seus primeiros dias de trabalho na nova cidade, quando chegamos ontem só arrumamos lugares pra dormir, estávamos exaustos da viagem.
Matheus fica comigo em casa, e assim que meus pais saem cedo decidimos pôr a mão na massa.
Matheus: Você não está coma. sensação de que vai sentir muita falta da nossa antiga casa?
Rafaela: Já estou com saudades na verdade, ainda mais sabendo que deixei minha melhor amiga lá.
Matheus: Eu estava começando achar que ficaria com uma garota mas acabou não dando tempo.
Rafaela: Matheus, você só tem 13 anos, tenho certeza de que na nova escola terá várias menininhas pra você se jogar em cima delas.
Matheus: Meu Deus Rafa, eu não sou assim.
Rafaela: Todos os homens são, você só está no processo ainda.
Matheus: Disse a menina que mais pegou caras aleatórios na noite da formatura do ensino médio, ainda ficava competindo com a amiga.
Ele revira os olhos.
Rafaela: Ai, me bateu até uma saudade sabia? Vou relembrar disso com a Alice no telefone depois.
Matheus: Um dia eu conto pra mamãe.
Rafaela: Se contar sobre isso pra mamãe eu juro que não precisa me pedir conselhos amorosos nunca mais.
Matheus: Eu já sei.
Ele fala enquanto pega uma caixa com roupas e leva para seu quarto.
Fico pensando sozinha em todas as coisas doidas que fiz e como meus pais reagiriam se soubessem, não sei se a Senhora Carla e Senhor Renato teriam corações fortes o suficiente pra aguentar isso.
Também me pego pensando em como sou boa em fugir, vivia dando uns amassos em vários caras mas com nenhum deles cheguei ao "finalmente".
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 103
Comments