Capítulo 02

Durante todo o tempo em que Sheila estava no hospital, seu primo Lucas não saiu do lado dela. Teve o mesmo sentimento e reação de exatamente dez anos atrás, quando também ficou com ela no hospital, até que se recuperasse.

Lucas conversava o tempo todo, na esperança de fazê-la acordar. Começou a mexer na pulseira que estava no braço direito dela, vendo um pingente de duas crianças de mãos dadas e se lembrou, do dia em que deu a ela de presente...

— … Por anos carreguei a culpa daquele acidente, que era pra ter sido comigo... e você me salvou.  - disse ele, com lágrimas nos olhos.  – Giovanni me fez sair daquele hospital, só para te fazer uma surpresa quando acordasse. Fomos ao shopping e encontrei essa pulseira... quando coloquei no seu braço, disse que seria seu amuleto e te daria forças para você voltar.  - dizia ele acariciando seus cabelos.  – Naquele dia consegui sorrir, acreditando na sua recuperação e que eu estaria alí, te esperando.

— E agora não foi diferente...  - disse Sheila, com a voz rouca e fraca.

— Não faz isso comigo, baixinha!  - ele a encarou.

Lucas começou a chorar, pois todo aquele tempo tentou ser forte ao lado dela. Sheila estava com seus olhos fechados, acariciando o rosto do seu primo.

— Achou que eu deixaria meu parceiro sozinho?!  - ela o abraçou. 

— Se voltar a fazer essas coisas de novo, juro que eu mesmo interno você. - ele a encarou.

— Não consegue ficar longe de mim. - ela sorriu, vendo-o fazer o mesmo. – Além do mais, Gigio deve estar querendo nos matar... A empresa deve estar abandonada, sem seus melhores funcionários.  - dizia em tom de brincadeira.

— Ainda bem que a bela adormecida acordou, ciente da situação.  - disse Giovanni, entrando no quarto.

— "Grazie molte", por perguntar se estou bem…  - "muito obrigada", disse ela em italiano, fazendo careta.

— Sabia que era só sentir minha presença, que tu acordaria.  - disse ele, a abraçando.

— Então, só apareceu agora?!  - perguntou ela, fingindo estar chateada.

— Ele esteve aqui, todos os dias.  - Lucas o entregou.

— Está demitido, "ragazzo"...  - "rapaz", dizia ele, zombando. 

— Dessa vez, não pode me demitir... tenho um atestado médico a meu favor. - alegou vitorioso.

— Brincadeiras a parte... como está se sentindo, "mia bambina'' ?  - "minha criança", disse Giovanni, sentando ao lado dela.

— Ainda não sei dizer...  - respondeu ela, enchendo os olhos de lágrimas.

— Pois então, vamos ter que remanejar esta situação.  - disse Giovanni, beijando seus lábios e secando suas lágrimas.

Giovanni sempre foi amigo da família e era dono do galpão que desabou e Sheila ficou soterrada. Após o acidente, ficaram ainda mais unidos.

Sendo criada naquele ambiente desde a sua infância, começou a trabalhar aos quatorze anos na marmoraria com seu irmão Fabio.

Quando completou o ensino médio, Giovanni fez questão de pagar a faculdade de administração, para ela e Lucas trabalharem na sua empresa, que era sócio do irmão dela.

Giovanni havia percebido há um tempo, que Sheila estava descontente e com tudo que aconteceu, temia que ela pudesse entrar em depressão.

Conversando com os médicos, decidiram afastá-la por um tempo do seu ambiente e levaram ela e Lucas, que ainda estava se recuperando da contusão no ombro, para a casa de praia que Giovanni tinha, no litoral de São Paulo.

— Tem certeza de que isso é realmente necessário, Gigio? - perguntou ela, enquanto se acomodava na casa de praia.

— Ainda tem dúvidas?! - Giovanni a encarou, querendo enforca-la. – Vou te manter vigiada o tempo todo...

— Poderia ter ficado em casa, com "mia madre" cuidando de mim. - "minha mãe", disse ela, já com saudades.

— Podemos trazer a tia Evangelina a hora que quiser. - disse Lucas, solucionado o problema.

— "Voi" terá pessoas que estarão aqui pra te ajudar no que precisar. - " você", disse Giovanni, a tranquilizando. – Vamos marcar uma consulta com psicoterapeuta, uns dois dias na semana…

— Pronto. Agora estão achando que estou ficando doida. - disse chateada.

— Quero ver tentar fazer alguma besteira. - afirmou Lucas, rindo da cara dela. – Porque doida você sempre foi.

— É só pra te ajudar com seus traumas… - continuou Giovanni, explicando. – Non esqueci que da última vez, tu largou o tratamento no meio do caminho.

— Parei, porque me sentia melhor. E sabe que não gosto de tomar remédios, me deixam pior...

— "Oh donna dalla testa dura". - "oh mulher cabeça dura", disse Giovanni, fazendo-a sentar ao seu lado. – "Sono per il tuo bene"... - "são para o seu bem", disse ele. – E desta vez, vou estar por perto te vigiando.

— Duvido que consiga ficar aqui, sem fazer nada… - ela começou a rir. – Não dou até o fim da noite, para estar saindo por aquela porta.

— Com certeza, vai querer sair pra arrumar companhia "di una donna". - "de uma mulher", disse Lucas, fazendo toca aqui com sua prima.

— Quem non te conhece que "ti compri, signore Giovanni"... - disse ela, fazendo sotaque italiano.

Solteiro convicto, Giovanni nunca teve pretensão de se casar e formar uma família. Dizia que a vida para ser vivida, não precisava se prender a ninguém, pois se considerava uma alma livre.

— Sabe que sou "una persona adorabile"... - "uma pessoa adorável", disse ele.

— Modesto... - Lucas começou a rir, da cara de pau do seu chefe.

– … "Non faccio niente per far innamorare le donne di me". - "não faço nada para as mulheres se apaixonarem por mim", disse malicioso.

— Nem precisa... Basta um beijo, para ganhar qualquer uma! - afirmou ela.

— E "come mai si innamorò di me"? - "como nunca se apaixonou por mim", perguntou ele, a encarando.

Na escola, Sheila teve alguns garotos que se se interessavam por ela, mas como era muito tímida, tinha vergonha de ficar com eles, por não saber beijar. Foi então, que pediu para que Giovanni a ensinasse, pois, queria ter o seu primeiro beijo com uma pessoa especial.

— Não posso me apaixonar pelo professor, que me fez aprender "molto bene". - "muito bem", disse ela, lhe dando um beijo.

Amigo de longa data dos seus pais, foi Giovanni quem levou dona Evangelina a maternidade e pôde conhecer Sheila desde o seu nascimento. Daí o carinho e cuidado, que sempre teve por sua "bambina".

— Sabe que "tu per me é como una figlia". - "você pra mim é como uma filha", disse ele, fazendo-a deitar em seu colo.

— Um pai que ensina a filha a beijar... - disse Lucas, pensando alto. – Deu pra ouvir?

— Em alto e bom som. - retrucou Giovanni, franzindo a testa. – Está demitido!

— Perdi as contas de quantas vezes já me mandou embora. - disse Lucas, indo para a cozinha.

No final da noite, Giovanni voltou para capital, pois não conseguia ficar num lugar parado, ainda mais fora de temporada, pois sempre gostou da movimentação e agito da cidade.

Lucas e Sheila seguiram o tratamento no litoral, além de continuarem os trabalhos mesmo longe da empresa.

Meses antes do incidente com sua irmã, Fabio estava montando uma marmoraria em sociedade com um amigo que morava na capital de Minas Gerais. Além de sua sociedade com Giovanni, que também estavam abrindo uma filial da GBM, empresa de corte e polimento, que transformavam os blocos de mármores e granitos em placas para distribuição dos materiais para todo o Brasil.

Com os últimos acontecimentos, resolveram que Sheila iria morar com Fábio em Belo Horizonte e administrar a empresa de corte e a marmoraria, representando Giovanni. Enquanto Lucas, ficaria na empresa de São Paulo, mas em contato direto com sua prima.

— Preciso mesmo sair de São Paulo? - indagou Sheila, numa conversa com a família reunida.

— Vai ser melhor pra você. Não terá que ficar se escondendo. - disse seu pai Valter, vendo-a apreensiva e a abraçando.

— Há meses que não tenho contato com Junior. Não vou ter nenhuma recaída. - disse ela, sabendo da preocupação deles.

— Mas sabe que ele não teve culpa do seu desatino, minha filha. - disse Evangelina, a encarando.

— Sei disso mãe. Mas tenho uma mágoa muito grande... isso ainda não consegui tirar de dentro de mim. - disse com a voz embargada.

— Mas vai ser bom respirar novos ares, conhecer pessoas diferentes. - disse Fabio, interrompendo o clima tenso.

— Foram cinco anos da minha vida, pra nada… jogados fora. - disse ela lamentando, pensando alto.

— Não desanima... Dá até pra terminar a faculdade de designer de interiores, que você havia trancado. - completou Lia, esposa do seu irmão.

Fabio foi de mudança com a sua família, pois ainda estavam finalizando a obra da marmoraria e adaptando os maquinários da outra empresa, tendo que estar presente em Minas Gerais.

Sheila continuou com sua rotina em São Paulo, enquanto aguardava tudo ficar pronto em Belo Horizonte, passando todas as funções da empresa para Lucas e seu primo Flávio, que ficariam encarregados.

O que mudou antes de viajar e desde o acidente, foi ter que ficar morando com Giovanni e não com os seus pais. Era somente por precaução, de não ter que se encontrar com Junior.

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Comments

Meire

Meire

me fiz a mesma pergunta!

2024-02-18

0

angel.🌺

angel.🌺

nossa que horror uma menide 12anos, dando o primeiro beijo em um velho de 45anos.Isso é pedofilia. 😱😱

2023-08-21

0

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