3 Becca Eckersley Universidade George Washington 30 de novembro de 2010 ...

BECCA ECKERSLEY ESTAVA REUNIDA COM TRÊS AMIGOS NA biblioteca

da universidade. Pequenas luminárias conferiam luz à mesa ocupada por eles,

bem como aos livros, aos papéis e aos seus rostos. Três anos antes, Becca chegara

ao câmpus sem nenhuma de suas amizades do colégio, mas não teve problema

algum para se adaptar à faculdade de direito. No primeiro ano, ela dividiu um

quarto com Gail Moss, com quem desenvolveu uma boa amizade — bem como

com Jack e Brad, também colegas de curso. Todos eles estudavam juntos com

regularidade e formavam um quarteto incomum.

— As pessoas dizem isso o tempo todo — Gail afirmou.

— Que pessoas? — Brad quis saber. — Quem fala tanto da gente?

— Não sei — Gail respondeu. — Alguns caras. Algumas garotas.

— E qual é o problema deles?

— Acham que somos estranhos.

— Quem se importa com o que pensam? — Brad deu de ombros. — Falando

sério, acho que é tudo coisa da sua cabeça.

— Não é, não. — Gail respirou fundo. — Tudo bem, então vou fazer uma

pergunta que quero fazer faz tempo: por que somos amigos?

— Como assim? — Becca a fitou, surpresa. — Ora, porque gostamos uns dos

outros. Porque nos damos bem, temos coisas em comum. É por isso que as

pessoas se tornam amigas.

— Gail está se referindo a sexo, ou à falta dele, entre nós. — Brad falava

olhando para Gail. — Ela é muito tímida para externar isso dessa maneira. É melhor você achar um jeito de se expressar com mais clareza se quiser ser

advogada.

— Ótimo. — Gail fechou os olhos por um instante para evitar contato visual.

— Será que ninguém acha esquisito o fato de sermos amigos desde o primeiro

ano e não ter havido nenhuma transa, nenhuma suruba, nenhum drama?

— Você tinha um namorado quando nós a conhecemos — Jack lembrou. —

Qual era o nome dele?

— Gene.

Jack deu uma risada e apontou para Gail.

— Isso mesmo. Euge. Eu gostava daquele cara. Meio babaca, mas de um jeito

bacana.

Brad também riu.

— Tinha me esquecido dele. O cara detestava quando a gente o chamava de

Euge. "É só Gene", ele dizia. Vocês se lembram daquele fim de semana?

Naquele momento, Becca também achou graça.

— O fim de semana do "É só Gene". Ah, meu Deus, parece que faz muito

mais que três anos!

Gail tentou não rir.

— Sim, muito engraçado. Ele nunca voltou para Washington depois daquele

fim de semana.

— Euge terminou o namoro com você pouco depois, não foi?

— Sim, Jack, por causa daquele fim de semana.

— Fala sério! Só porque a gente o chamava de Euge?

— Esqueça, Jack — Gail pediu. — Minha conclusão é que nosso quarteto é

único. Duas garotas, dois caras. Bons amigos na faculdade, sem nenhuma

maluquice para balançar o coreto.

Jack fechou seu livro de direito comercial e deu um tapinha nas costas do

amigo.

— Brad será o senador mais poderoso do Congresso, vocês duas serão as

advogadas idiotas que vão trabalhar para ele, eu serei o lobista que conseguirá

todo o dinheiro necessário, e continuaremos sendo bons amigos. Quem se

importa se as outras pessoas não entendem? — Ele enfiou os livros em sua

mochila. — Para mim, já deu por hoje. Vamos beber uma cerveja.

— Amém! — Brad exclamou.

Os dois rapazes guardaram suas coisas e se levantaram para ir embora. Becca

olhou para Jack e perguntou:

— Ninguém está preocupado com o exame final do professor Morton?

— Eu estou — Jack respondeu. —Mas me encontro num processo de infusão

lenta, que permite que meu cérebro absorva suas aulas terrivelmente entediantes

em pequenas doses. Se meto tudo à força, a maior parte acaba vazando.

— Sim. — Becca sorriu. — É um grande plano para alguém que estuda

durante todo o semestre. Mas os demais precisamos rachar de estudar, e às

pressas. Rapazes, vão vocês. Gail e eu vamos ficar.

— Sem essa! Não sejam chatas. — Jack franziu a testa.

— O exame final é daqui a duas semanas — Becca o lembrou.

— Deem por encerrado o assunto por esta noite, e amanhã vamos investir

um tempo extra.

— Pessoal, Bradley Jefferson Reynolds tem a solução para os seus problemas.

— Brad arqueou as sobrancelhas. — Devia ser uma surpresa, mas vejo que todos

vocês têm de saber disso agora. Na próxima semana, conseguirei uma cópia do

exame final de direito comercial do professor Morton. Para ser usada e abusada,

se vocês julgarem conveniente.

— Papo-furado — Becca o desafiou.

— Não é, não. Tenho uma fonte, e isso é tudo que posso dizer por enquanto.

Então, vamos todos beber uma cerveja para celebrar.

Becca olhou para Jack, que encolheu os ombros, em sinal de desdém, e

afirmou:

— Quem somos nós para duvidar desse cara?

Com relutância, Becca guardou suas coisas e disse a Gail:

— Será como aquela vez em que ele, no primeiro ano, prometeu a todos nós

redações para o exame de história da Ásia. Ficamos acordados até as cinco da

manhã, terminando o trabalho, depois que Brad teve um chilique. Lembra-se

disso?

— Desta vez é diferente — Brad contrapôs.

— Claro que é. — Becca pendurou a mochila no ombro, agarrou Brad pelo

braço e pousou a cabeça no ombro dele, enquanto saíam da biblioteca. — Mas

gosto de você mesmo quando não cumpre o que promete. Ainda que eu tire uma

nota C e manche meu histórico acadêmico.

Nenhuma das faculdades de direito mais prestigiadas do país a aceitará

para pós-graduação com uma nota C em seu histórico. — Brad deu um tapinha

na cabeça de Becca enquanto caminhavam. — Parece que terei de cumprir o que

lhe prometi.

O 19th Bar, no bairro de Foggy Bottom, em Washington, tinha o público

normal de uma noite de terça-feira; ou seja, uma multidão de estudantes

universitários no auge de sua existência. A maioria vinha de famílias ricas da

costa leste e tinha planos associados a carreiras políticas ou direito. Alguns

queriam outras coisas, mas eram minoria.

Os amigos acharam uma mesa vazia junto à janela da frente, uma vidraça que

permitia que os transeuntes observassem o interior do bar, invejando a vida dos

jovens universitários a caminho do estrelato. Eles pediram cervejas e caíram em

sua rotina comum de discutir política.

Após alguns copos, Brad começou sua bravata recorrente e repleta de

maldições sobre nunca ter existido um presidente americano que viveu

realmente de acordo com seus princípios e, depois, governou da mesma maneira.

— Eles sempre se tornam vítimas da política de Washington, sempre cedem a

interesses específicos. Alguém pode citar um presidente que tinha mesmo o povo

em mente na maioria de suas decisões no poder? Nenhum tinha, e o atual

também não tem. É tudo uma questão de poder, manter o poder e repartir o

poder com aqueles que investem o dinheiro neles.

— E você vai pôr um fim nisso tudo, certo?

— Ou morrerei tentando, Becca. E vou começar com o escroque filho da puta

que se diz meu pai. — Brad tomou um gole de cerveja. — Assim que receber o

diploma.

— Eu buscaria contatos e apoio antes de atacar meu próprio pai — Becca

disse.

— Boa ideia. — Brad apontou para Becca, e em seguida tomou outro gole de

cerveja, como se estivesse num pub irlandês prestes a começar uma

briga. Limpou a boca com o antebraço, num gesto dramático, e encarou o teto do

bar.

Os outros começaram a rir ante o espetáculo.

Brad continuou:

— Precisa vir de repente, de modo totalmente insuspeito. Sim, vou criar

Uma coalizão, e quando meu pai achar que está numa boa, vou mandá-lo para

a prisão, como Giuliani fez com Teflon Don, aquele mafioso seboso.

— Nem foi ainda aceito para pós-graduação numa faculdade de

direito oficialmente reconhecida e já se compara com Rudy Giuliani. — Jack deu

uma risada. — Amo sua autoconfiança.

Becca e seus amigos adoravam as tiradas de Brad. Jack e Gail as escutavam

por entretenimento, mas Becca possuía uma percepção mais aguçada. Ela

conhecia Brad melhor. Sabia de seus segredos, seus desejos e seus conflitos.

Entendia que suas opiniões eram fruto da rebelião. Um pai opressivo, que

acumulou uma fortuna dirigindo um dos maiores escritórios de advocacia da

costa leste, tentava dirigir a vida do filho numa direção que Brad não desejava

seguir. Numa mistura de rendição dissimulada e vingança secreta, Brad

concordou com uma formação acadêmica na George Washington e, em breve,

suportaria cursar pós-graduação numa universidade da Ivy League — o grupo

das oito universidades mais prestigiadas do país. No entanto, em vez de se juntar

ao pai na roubalheira — como costumava dizer —, Brad usaria o diploma pago

por ele para, algum dia, acabar com a carreira do grande sr. Reynolds. Esse era o

plano.

Naqueles três anos de amizade, Becca encontrara o pai de Brad algumas

vezes. O pai dela também o conhecia, pois tinha um relacionamento profissional

com Reynolds. Todos os anos, o pai de Brad organizava um fim de semana na

cabana de caça dos Reynolds, para onde alguns advogados ricos iam para caçar

alces, fumar charutos e falar de negócios. No ano anterior, o pai de Becca

fora convidado, e voltou para o lar dizendo que o sr. Reynolds era um

verdadeiro idiota. Um homem frio e severo, que pressionava os filhos de maneira

doentia.

Becca nunca teve dificuldade para entender o ressentimento de Brad. Como

punição pela ausência permanente do pai nos torneios de beisebol, nos treinos de

futebol, nos jogos do Baltimore Orioles e em qualquer coisa no colégio além de

breves aparições em reuniões para tomar conhecimento das deficiências do filho,

Brad decidiu utilizar a vontade do pai contra ele. Era um plano pérfido, que

levaria anos para ser consumado. Se alguma vez se tornasse realidade — se o

ressentimento de Brad não definhasse na maturidade, e se seus interesses não

mudassem com o tempo —, Becca considerou que não haveria pior tapa na cara

de um pai do que o filho usar a educação paga por ele para liquidar sua própria

carreira. Assim, Becca sabia que havia um propósito além das bravatas de Brad:

era terapêutico para ele tramar uma rebelião de muitos anos contra o pai. Era sua

Maneira de liberar sua frustração sem arruinar o relacionamento com o pai, que,

na maturidade, talvez tivesse uma chance de conserto.

Eles pediram mais cerveja quando Brad se acalmou.

— Todos vão para casa no Natal? — Gail quis saber. — Porque estamos indo

para nossa casa na Flórida, minha mãe disse que vocês podem vir conosco.

— Meus pais me matariam se eu não fosse para casa — Becca revelou.

— Sim. Minha mãe não iria gostar. O Natal é uma data muito importante.

— Jack torceu o canto da boca.

— Talvez.

— Sério, Brad? — Os olhos de Gail brilharam.

— Sim, talvez por alguns dias. A véspera do Natal e o Natal são o máximo de

tempo que consigo ficar ao lado de meu pai. Talvez eu vá para a Flórida logo

após o Natal. Caso contrário, voltarei para cá, para esperar, neste lugar morto, o

retorno de todos.

— Vamos passar o tempo na praia pensando no pobre Jack congelando de

frio em Wisconsin — Gail brincou.

— Jogue sal na ferida, jogue — Jack resmungou.

— Vai ser muito divertido. — Gail sorriu, animada. — Vocês deviam pensar

nisso.

Jack tomou um gole de cerveja, e olhou para Becca e para Gail, de novo.

— Talvez no recesso da primavera. Mas não posso fazer isso no Natal.

— A semana do saco cheio! — Gail exclamou, arregalando os olhos. — Meus

pais vão para a Europa. Teremos a casa só para nós!

— A menos que vocês, rapazes, prefiram ir para South Beach para pegar

umas garotas da Universidade de Miami — Becca sugeriu.

Brad e Jack se entreolharam e trocaram brindes.

— Sim, nós avisaremos vocês sobre a semana do saco cheio. Talvez tenhamos

de fazer uma breve parada por lá. — Jack piscou, sorrindo.

— Seus idiotas! — Gail gracejou.

Todos riram e pediram mais cerveja. Faltavam duas semanas para os exames

finais. Naqueles dias todos pareciam imortais.

Capítulos
1 A CACHOEIRA DO SOL DA MANHÃ
2 2 1º de março de 2012 Duas semanas depois da morte de becca
3 3 Becca Eckersley Universidade George Washington 30 de novembro de 2010 ...
4 4 Kelsey Castle Summit Lake 5 de março de 2012 Dia 1
5 5 Becca Eckersley Universidade George Washington 2 de dezembro de 2010 ...
6 6 Kelsey Castle Summit Lake 6 de março de 2012 Dia 2
7 7 Becca Eckersley Universidade George Washington 10 de dezembro de 2010
8 8 Kelsey Castle Summit Lake 7 de março de 2012 Dia 3
9 9 Becca Eckersley Universidade George Washington 21 de dezembro de 2010
10 10 Kelsey Castle Summit Lake 8 de março de 2012 Dia 4
11 11 Becca Eckersley Universidade George Washington 22 de dezembro de 2010 ...
12 PARTE II AUTOAJUDA
13 13 Becca Eckersley Summit Lake 22 de dezembro de 2010
14 14
15 15
16 16
17 17 Becca Eckersley Universidade George Washington 14 de março de 2011
18 18
19 19 Becca Eckersley Universidade George Washington 7 de abril de 2011
20 20 PARTE III OLÁ, DETETIVE
21 21 Becca Eckersley Universidade George Washington 13 de maio de 2011
22 22
23 23
24 24
25 25
26 26
27 27 Becca Eckersley Universidade George Washington 12 de outubro de 2011
28 28 Kelsey Castle Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
29 29 Becca Eckersley Universidade George Washington 21 de dezembro de 2011
30 30
31 31
32 32 Kelsey Castle Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
33 33 Becca Eckersley Universidade George Washington 15 de fevereiro de 2012
34 34 Kelsey Castle Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
35 PARTE IV TRÊS BATIDAS
36 36 Peter Ambrose Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
37 37 Becca Eckersley Summit Lake 17 de fevereiro de 2012 A noite de sua morte
38 38 __
39 40__
Capítulos

Atualizado até capítulo 39

1
A CACHOEIRA DO SOL DA MANHÃ
2
2 1º de março de 2012 Duas semanas depois da morte de becca
3
3 Becca Eckersley Universidade George Washington 30 de novembro de 2010 ...
4
4 Kelsey Castle Summit Lake 5 de março de 2012 Dia 1
5
5 Becca Eckersley Universidade George Washington 2 de dezembro de 2010 ...
6
6 Kelsey Castle Summit Lake 6 de março de 2012 Dia 2
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7 Becca Eckersley Universidade George Washington 10 de dezembro de 2010
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8 Kelsey Castle Summit Lake 7 de março de 2012 Dia 3
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11 Becca Eckersley Universidade George Washington 22 de dezembro de 2010 ...
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PARTE II AUTOAJUDA
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19 Becca Eckersley Universidade George Washington 7 de abril de 2011
20
20 PARTE III OLÁ, DETETIVE
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21 Becca Eckersley Universidade George Washington 13 de maio de 2011
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28 Kelsey Castle Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
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29 Becca Eckersley Universidade George Washington 21 de dezembro de 2011
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32 Kelsey Castle Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
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33 Becca Eckersley Universidade George Washington 15 de fevereiro de 2012
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PARTE IV TRÊS BATIDAS
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36 Peter Ambrose Summit Lake 15 de março de 2012 Dia 11
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37 Becca Eckersley Summit Lake 17 de fevereiro de 2012 A noite de sua morte
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