O RETORNO DE KELSEY CASTLE AO TRABALHO FOI TRANQUILO e sem
cerimônia, do jeito que ela queria. Kelsey parou o carro no estacionamento dos
fundos; assim, ninguém notaria seu veículo. Em vez de se arriscar no elevador,
entrou furtivamente pela porta de trás e subiu pela escada. Era muito cedo ainda,
e a maioria dos funcionários estava enfrentando a hora do rush ou tentando
ganhar mais alguns minutos de sono. Ela não poderia permanecer invisível para
sempre. Teria de conversar com alguém. No entanto, esperava manter a porta de
seu escritório fechada e correr atrás do prejuízo por algumas horas, sem ser
interrompida por sorrisos tristes e expressões do tipo "Como você está?".
Ao deixar a escada, percebeu as estações de trabalho vazias. Com passos
firmes, percorreu o corredor, mantendo os olhos fixos na porta de seu escritório,
como se fosse um cavalo de corrida como tapa-olhos para as laterais. A porta do
escritório de seu editor se encontrava aberta, com as luzes brilhando. Kelsey
sabia que não o venceria, jamais. Após mais alguns passos, alcançou seu
escritório, entrou e rapidamente fechou a porta a trás de si.
— O que você está fazendo aqui? — Penn Courtney perguntou com uma
expressão de desaprovação. — Achei que só voltaria dentro de duas semanas.
Penn, sentado no sofá dela, com os pés sobre a mesa de centro, folheava os
rascunhos dos artigos que seriam publicados na edição daquela semana.
Kelsey respirou fundo.
— Por que você está em meu escritório? Por que sempre que precisa de algo,
você espera aqui?
— É sempre um prazer vê-la.
Kelsey caminhou até sua mesa e guardou a bolsa na gaveta inferior.
— Desculpe. — Ela voltou a respirar fundo e sorriu. — É sempre um prazer
vê-lo também, Penn. E obrigada por tudo o que você fez por mim.
— Por nada.
— Você é um bom amigo.
— Como você está?
— Meu Deus, mal passo pela porta e tenho de escutar isso. Já conversamos a
respeito. Não quero as pessoas aparecendo aqui e querendo saber como estou a
cada minuto do dia.
— Por isso o retorno discreto antes da chegada da tropa? Deixe-me
adivinhar: você subiu pela escada?
— Preciso de exercício físico.
— E parou o carro no estacionamento dos fundos?
Mantendo-se calada, Kelsey simplesmente o encarou.
— Não pode se esconder de todos, Kelsey. As pessoas estão preocupadas com
você.
— Eu entendo. Só não quero pieguice, sabe?
— Não queria perguntar de novo — Penn afirmou, organizando os papéis a
sua frente em pilhas perfeitas para manter as mãos ocupadas. — Mas, sério, o que
você está fazendo aqui?
— Ficar em casa está me deixando doida. Seis semanas de licença é muita
coisa. Já fiquei um mês. É o máximo que aguento. Assim, voltemos a minha
pergunta original: por que você está em meu escritório?
Penn se levantou do sofá, com a pilha de papéis nas mãos, e caminhou até a
frente da escrivaninha.
— Eu ia fazer isso daqui a duas semanas, mas acho que posso lhe perguntar
agora.
Kelsey sentou-se à mesa. A tela do computador já capturava sua atenção.
— Veja todos esses e-mails. São centenas. Entendeu? Por isso tenho de fazer
algum trabalho em casa.
— Esqueça os e-mails. São todos lixo. — Penn deixou que ela lesse por um
minuto antes de continuar; — Ficou sabendo de Summit Lake?
— Não. O que houve?
É uma cidadezinha nas montanhas Blue Ridge. Singular. Aconchegante.
Cheia de forasteiros que passam o tempo em casas de veraneio. Esportes
aquáticos no verão; pistas de esqui e passeios em motos de neve no inverno.
Kelsey lançou um olhar para ele e, depois, de volta para o computador.
— Você precisa de Finasterida?
— O remédio para calvície?
— Sim. São quase cinquenta e-mails de ofertas.
— Acho que é muito tarde para isso. — Penn passou a mão sobre a cabeça
totalmente lisa.
— Viagra? Será que esses idiotas sabem que sou uma mulher? Sim, a maioria
dos e-mails é lixo.
— Quero que você vá até lá. — Penn colocou a pilha de papéis sobre a mesa
dela.
Kelsey desviou o olhar da tela, moveu-o para a pilha de papéis e, em seguida,
dirigiu-o na direção de Penn.
— Ir aonde?
— Summit Lake.
— Para quê?
— Uma história.
— Não comece, Penn. Acabei de lhe dizer.
— Não estou começando nada. Há uma história ali, e quero que você cuide
dela.
— Que história pode existir numa cidadezinha turística?
— Uma história importante.
— Resposta horrível. Você está querendo se livrar de mim porque acha que
não estou pronta para voltar.
— Não é verdade. — Penn fez uma pausa. — Estou querendo me livrar de
você porque acho que você precisa disso.
— Droga, Penn! — Kelsey ficou de pé. — É assim que as coisas vão ser de
agora em diante? Vai me tratar como se eu fosse uma boneca de porcelana, me
dando artigos sem importância para fazer e me mandando de férias porque você
acha que não consigo lidar com meu trabalho?
— Para ser honesto, creio que neste momento você não consegue. Você não
devia voltar tão cedo. E não é assim que as coisas vão ser de agora em diante.
Então, Penn apoiou as mãos na mesa, se inclinou na direção de Kelsey e a
encarou. Com o dobro da idade dela, dois filhos e uma vasectomia bemsucedida,
Penn a tratava como se ela fosse a filha que ele nunca teve. — Mas é
assim que serão neste momento. Há uma história em Summit Lake. Quero que
você a investigue. É mero acaso que a cidade tenha uma visão maravilhosa das
montanhas e um belo lago azul? Não. A revista normalmente a colocaria num
hotel cinco estrelas com todas as despesas pagas? Claro que não. Mas eu sou o
dono, você ajudou a revista a crescer, e quero um artigo de primeira. Estou
mandando você para Summit Lake pelo tempo que for necessário para que
descubra tudo. — Sentou-se numa cadeira em frente à mesa de Kelsey e suspirou.
Kelsey fechou os olhos e se acomodou também.
— Descobrir o quê? Qual é a história?
— Uma garota morta.
Kelsey ergueu as sobrancelhas, em interrogação, e o encarou com seus
grandes olhos castanhos.
— Continue.
— É o único homicídio documentado da história de Summit Lake. Hoje, é
assunto de muita discussão ali. Aconteceu duas semanas atrás, e está começando
a ganhar repercussão nacional. O pai da garota é um advogado importante. A
família é rica. A polícia ainda não tem pistas. Nenhum suspeito. Apenas uma
garota que estava viva um dia e morta no dia seguinte. Algo que não faz sentido.
Quero que você cutuque e bisbilhote. Descubra o que todo o mundo está
deixando escapar. Aí, me dê um artigo que as pessoas queiram ler. Vou pôr o
rosto dessa garota infeliz na capa da Events, não só com uma história a respeito
de sua morte, mas com a verdade. E quero fazer isso antes que outros abutres
sintam o cheiro e saiam voando para Summit Lake. Depois que a cidadezinha se
encher de jornalistas e tabloides, ninguém mais vai abrir o bico.
Kelsey pegou os papéis que Penn colocou sobre sua mesa e os folheou.
— Não tão sem importância quanto eu pensei.
Penn fez cara feia.
— Acha que eu mandaria minha melhor repórter investigativa para escrever
a respeito de lojas e galerias de arte modernosas? — Ele se ergueu. — Fique dois
dias aqui para fazer sua pesquisa, e depois vá para lá. Descubra se há alguma
história ali. Em caso positivo, escreva uma bela matéria. Não espero você de volta
Tão cedo. Quero isso para a edição de maio, o que significa que, mesmo se você
conseguir essa história no dia de sua chegada, terá o hotel por um mês.
— Obrigada, Penn — Kelsey respondeu com um sorriso.
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Atualizado até capítulo 39
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