A porta 288 se abre. A música abafada da pista some, dando lugar a uma luz mais baixa, e a um ambiente... diferente.
Entro devagar, meus olhos percorrem o lugar até se fixarem em um garoto ruivo.
Alguma coisa nele me prende. Não sei o quê, mas me deixa estranha. Uma sensação familiar... desconfortável, até.
Antes que eu consiga entender, sou puxada de volta à realidade por uma garota de cabelos ondulados — linda, por sinal.
— Quantos anos você tem? — ela pergunta, curiosa.
— Dezessete — respondo sem pensar muito.
— Não era pra você estar estudando ou em casa com seus pais, garota? — diz um garoto de forma ríspida.
Reviro os olhos. Que cara irritante.
Mas gato. Muito gato. Lindo, até.
Ai, meu pai... Para com isso, garota!
— Vai cuidar da sua vida e me deixa em paz. — respondo afiada.
— Eu gostei dela! — outro garoto diz, rindo, com um copo de vodca na mão.
Ele desliza o copo pela mesa, como se me oferecesse. Mas o primeiro — o tal irritante lindo — se adianta e bebe no meu lugar.
— Você não tem idade pra beber. Volta pra casa. — ele diz, sério. Quase bravo.
Ok. Chega. Já estou de saco cheio.
— Vou procurar outro lugar pra beber em paz. Não sabia que aqui também tinha segurança disfarçada. — falo saindo da sala, bufando.
Parecem até os seguranças do meu pai. Argh.
Dou alguns passos e sinto meu braço ser puxado com força.
— Tá maluco?! — grito, me debatendo.
Ele me leva para os fundos da boate, onde não tem ninguém por perto. O que ele quer comigo?
— Vaza daqui, garota. Sabe muito bem que tipo de lugar é esse. — ele diz, com raiva contida.
— Claro que sei. — minto. Cara dura.
Mas ele percebe.
— Não sabe. Nem imagina pra que aquelas salas servem. Acha mesmo que é só pra conversar?
Aquilo me dá um arrepio de nojo. Raiva.
Queria arrancar aquele sorriso dele com um soco.
— E você, bancando o bonzinho? — digo, sem esconder o desprezo.
Ele se aproxima. Fala baixinho no meu ouvido:
— Quem disse que eu sou bonzinho?
Sinto meu corpo estremecer.
Ele nota.
— Eu te espero no carro. Se você realmente entende onde estava se metendo... então me encontra lá. — ele diz, confiante.
Ah, que ódio! Eu devia chutar ele bem onde mais doeria.
Fico parada, o olhando.
Será que esse idiota acha que sou uma...?
Ele entra em um carro novo, todo chique. Riquinho metido.
Aquele tipo que acha que pode tudo.
Um táxi passa. Entro rápido. Tudo que eu queria era sair dali.
Chego em casa e mando mensagem pra Ana.
Será que ela ficou com o gato loiro?
Pelo menos alguém teve uma boa noite...
Tomo banho e deito.
A imagem daquele ruivo me volta à mente. E, logo depois, meu irmão.
Olho pro lado. A foto dele continua ali, no criado-mudo.
Meus olhos enchem de lágrimas.
— Deve ser só saudade dos meus irmãos... — falo alto, chorando.
Ligo pro Dudu.
— Oi, pequena! — ele atende sorrindo.
— Oi, mano...
— Aconteceu alguma coisa?
— Não... só saudade. — digo, fungando.
— Também tô com saudade. Mas adivinha? Tenho uma notícia boa!
— Você vem embora?
— Como adivinhou? — ele ri.
Pulo da cama, o coração batendo forte.
— Tá falando sério?!
— Claro que sim. Mas agora vai dormir, já tá tarde. Ei... eu te amo, Emilli.
— Também te amo, Dudu.
Adormeço com o celular ainda na mão e a foto dos meus irmãos colada ao peito.
Talvez a noite tenha começado estranha...
Mas terminou com o coração um pouco mais cheio.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 48
Comments