Capítulo 4

O pulso dela foi agarrado com muita força ele não estava de brincadeira, a sua expressão raivosa deixava Elísis apavorada, aquilo era puro ódio. Ainda a segurando pelo pulso ele a ergue do chão numa altura suficiente para poderem olhar um, nos olhos do outro.

— O… o que está acontecendo?– ela pergunta com a face ficando branca.

— Eu é que deveria perguntar! — ele diz com rispidez e um toque de raiva– Onde conseguiu?

— O que… que quer dizer com isso?

— Não se faça de sonsa– ele aponta na direção dos cravos — Onde conseguiu aquele poder?

— Eu… eu não sei, sempre tive ele, eu não sei de onde vem– ela gagueja apavorada.

A fada olha profundamente nos olhos de Elísis a deixando muito desconfortável e ansiosa, de repente ele largou-a no chão tão bruscamente quanto no momento em que agarrou o seu pulso a fazendo rolar alguns centímetros após colidir com o chão, assim a jovem florista se ergue, mas opta por permanecer sentada tendo em seguida a visão das marcas roxas deixadas pela força dele, no pulso, aumentando ainda mais o medo que lhe estava a sufocar e a lembrando novamente que realmente existia uma fada diante dela e poderia ser morta facilmente a qualquer momento.

— Há quinze anos e meio, eu estava no campo de batalha combatendo a sua espécie e mesmo vencendo fui misericordioso e deixei os humanos viverem, mas…– ele ergue a mão direita que começa a brilhar com um forte brilho ciano — Eu também prometi que se um dia achasse o empecilho que roubou a essência da minha irmã, eu o faria rastejar enquanto implorava pelo dia da sua morte.

A expressão dele mudou de ódio puro para algo frio que não deixava aparente as suas intenções, por algum motivo aquilo fez o sangue de Elísis gelar a deixando paralisada sem conseguir se mover.

— O que vai fazer?– ela pergunta, deixando transparecer todo o pavor na voz.

— Eu pensei muito no que faria quando esse dia chegasse. Mas acredito que já tenho a resposta.

Ele fecha a mão num punho cessando a magia antes fluindo nela, então ergue o dedo indicador o apontando para Elísis e dele sai um único feixe de magia que atinge a testa da jovem florista. Por um segundo ela fica tonta, porém logo tudo fica normal, nenhuma dor nem deformidade dolorosa ou coisa parecida a deixando confusa.

— O que aconteceu exatamente ?

— Não é o que aconteceu, é o que vai acontecer, mas para isso vai ter que esperar — ele fala esboçando o primeiro sorriso que Elísis viu dele desde o primeiro encontro, um sorriso debochado até mesmo sádico.

Com isso ele não diz mais nenhuma palavra, apenas abre as suas enormes asas e alça voo levantando uma forte rajada de vento.

Paralisada, perplexa, com medo, não sabia exatamente qual emoção predominou no seu interior naquele momento, nem qual permanecia no comando, só sabia que ainda era incapaz de se levantar ou parar de tremer enquanto tentava entender o que acabará de acontecer e o porquê ele ficou daquele jeito quando a viu usar magia, Sónia a mãe de Elísis sempre disse-lhe que se aquele poder fosse visto iria ser mal recebido, porém nunca chegou a pensar que seria algo tão extremo ou que poderia facilmente encerrar a sua vida.

Quando finalmente logrou em se acalmar, Elísis recolheu a cesta com todas as flores por ela coletadas e sem querer saber se faltava um ou dois cravos para tornar o arranjo restante idêntico aos demais, ela sai do campo em disparada para o vilarejo.

Sem olhar para nada nem ninguém passando por ela, Elísis só faz o possível para não esbarrar em alguém durante a corrida frenética até finalmente conseguir chegar na estalagem, onde passa direto pela madame Pietra, ignora qualquer palavra que Nelle tenta dirigir-lhe e se tranca no próprio quarto.

Elísis respira fundo várias vezes tentando acalmar o ritmo acelerado do coração e da própria emoção, colocou a cesta num canto e foi na direção do espelho podendo comprovar que realmente nada havia mudado na aparência além dos cabelos bagunçados pelo vento. Ainda cautelosa, Elísis se senta na cama pegando a cesta sobre o criado mudo para começar a trabalhar no último arranjo, ao pegar a primeira flor ela hesita temendo que aquela estranha magia tenha afeto os seus poderes, mas tomou coragem e os deixou fluir vendo que não tinha nada de diferente nela.

— Se não foi minha aparência, meu físico nem minha magia, o que exatamente ele fez comigo?– questionou consigo mesma sussurrando.

Elísis conseguiu se tranquilizar um pouco, porém não totalmente, afinal ainda lembrava do exato momento em que aquela magia atingiu a sua testa, entretanto optou por não deixar aquilo atrapalhar mais o seu dia. Quando concluiu o último arranjo se aliviou ao ver que mesmo faltando alguns cravos não tinham ficado com uma diferença tão grande dos demais, agora só faltava entregar na praça onde os organizadores estavam a trabalhar.

Descendo as escadas novamente dessa vez para sair da estalagem, Elísis acaba sendo barrada no último degrau pela Antonelle.

— Agora se tornou audaciosa o suficiente para me ignorar?— ela pergunta tentando transparecer um ar superior.

— Diferente de você eu tenho mais o que fazer, além de escutar um monte de coisas desnecessárias.

Nelle solta uma risadinha debochada antes de a olhar com o mesmo tipo de expressão.

— Vive sob o meu teto e ainda reclama?

— Pelo que eu saiba o teto é da sua mãe e você…

A filha da madame Pietra expõe a palma da mão na frente de Elísis, sinalizando para ela se calar.

— Quer saber serei boa e vou deixar passar, hoje eu estou de bom humor já que serei coroada a dama de Lorent — ela olha-a novamente com superioridade — o título da sua querida mãezinha.

Normalmente aquilo faria Elísis se contorcer por dentro, mas por algum motivo agora parecia patético, talvez pelo incidente mais cedo com a fada que diferente da Antonelle que se mostrava superior somente lançando palavras afiadas, ele era realmente poderoso e poderia a ter matado. Não querendo mais continuar com aquela situação sem sentido, Elísis solta o ar dos pulmões como sinal de resignação então força a passagem pela lateral da Nelle antes de dizer:

— Pode ser a mais bela do vilarejo, pode ser a fada do vilarejo e até ganhar o título dê a Dama de Lorent. Mas eu tenho uma única certeza, mesmo tendo o título da minha mãe você nunca vai chegar aos pés da pessoa que ela foi.

Aquelas palavras deixaram Nelle simplesmente boquiaberta, ela não conseguiu revida qualquer coisa e Elísis ao entender isso aproveita a oportunidade para finalmente sair.

Chegando na praça do vilarejo, Elísis entrega o arranjo ao organizador principal do festival do reinício, além de também a pessoa responsável por representar a vila e levar os impostos para o conde Edwine.

— Senhor Alberto, eu vou precisar pedir desculpas com relação a esse último arranjo, infelizmente só tinha alguns cravos abertos o resto ainda eram botões – Elísis diz o que não era necessariamente mentira.

— Que isso senhorita Elísis, este arranjo já está mais que perfeito, esse tipo de coisa acontece, afinal nenhum humano consegue controlar as plantas.

A jovem florista conteve-se com a vontade de rir devido à ironia daquele comentário.

— Enfim a senhorita vai participar do festival?– perguntou o senhor Alberto.

— Só a partir da metade dele, a madame Pietra quer manter a estalagem aberta um pouco mais pelo fluxo de pessoas.

— Bom saber, vou jantar lá mais tarde.

— Estarei esperando com a bandeja na mão.

O senhor esboça um sorriso alegre então dá três tapinhas afetivos no ombro de Elísis antes dos dois se despedirem após a jovem receber o dinheiro pelo seu serviço.

Ao anoitecer, o vilarejo foi tomado pelo clima de festividade deixando as pessoas animadas aproveitando as barraquinhas de lanches e jogos, as crianças passavam nas ruas eufóricas usando coroas ou colares de flores enquanto brincavam com estrelinha nas mãos soltando belas faíscas amarelas. A maioria dos jovens e casais se encontravam na praça dançando com seus belos trajes feitos com exclusividade para aquele dia ao redor da grande fogueira que representava a luz da esperança durante os tempos conturbados, além de também ser o cenário principal do festival.

Para a alegria de Elísis ela poderia enfim subir para o seu quarto para se trocar, pois as atividades da estalagem naquele dia já haviam se encerrado abrindo a deixa para ela poder aproveitar o resto do festival.

— Bom trabalho Elísis, nos vemos amanhã a noite — Geraldo um dos funcionários da estalagem diz saindo do estabelecimento.

— Até amanhã, bom festival para vocês dois— ela diz tanto a Geraldo quanto a Michael.

No quarto Elísis vasculha o guarda-roupa a procura do vestido feito para ocasião costurado pela senhora Helena, encontrando-o ela se anima e rapidamente o veste para poder avaliar a si mesma no espelho.

O vestido ficou muito bem em seu corpo, as mangas curtas bem soltas e caídas nos ombros davam um charme ao belo vestido branco coberto por uma renda amarela cuja a saia ia até o joelho, agora só faltava a coroa de flores para completar e está estava sobre o criado mudo. Voltando para frente do espelho com a coroa na mão, estava prestes a colocá-la sobre a cabeça, mas algo chama sua atenção um pequeno ponto brilhante no exato local onde a fada a atingiu, ansiosa ela solta a coroa de flores no chão e nesse momento pode notar um brilho ciano começando a envolver suas mãos. Assustada, Elísis começa a tentar afastar aquele brilho como se quisesse expulsar um conjunto de formigas dos braços, porém de nada serviu, o brilho continuou subindo e se espalhando por todo o corpo fazendo ela ficar cada vez mais apavorada enquanto dava passos para trás até tropeçar em um sapato e cair sentada com o brilho cobrindo praticamente todo o seu corpo.

Antonelle estava indo rumo às escadarias para poder voltar para o festival depois de pôr o vestido que usaria exclusivamente para receber o título de dama de Lorent, mas no momento em que passava no quarto de Elísis ouviu um barulho alto como um baque, curiosa ela decide checar a situação.

— Eu sabia que ficaria chocada ao ver o quão horroroso ficou o vestido em você, mas não esperava você simplesmente cair de… — Depois de abrir a porta completamente Nelle não vê Elísis, apenas o que parecia ser pedaços de roupa rasgada no chão e sobre eles um enorme tigre albino quase do tamanho do teto do quarto com longas asas nas costas. Aterrorizada, Antonelle solta um grito tão alto e estridente que ecoa por toda a estalagem podendo ser ouvido inclusive por quem passava perto do estabelecimento. Madame Pietra é a primeira a chegar, encontrando a filha caída, em choque, olhando pasma para o quarto de Elísis .

— Nelle o que houve?

— Aquela coisa…— ela aponta para o quarto fazendo sua mãe olhar também e logo fica espantada — aquela coisa matou a Elísis.

Ao redor do seu quarto começou a se reunir uma multidão, a maioria também moradores da estalagem, mas também havia pessoas de fora. Elísis não entendeu direito a situação nem a reação da Nelle direito, ainda estava meio zonza, porém ela compreende tudo ao se olhar no espelho e não ver a si mesma.

Em pânico, Elísis tenta pedir ajuda às pessoas do lado de fora, só que em vez de se aproximarem estas se afastam pois tudo que saia da boca feral dela eram rugidos.

— Essa coisa matou a senhorita Elísis!— alguém no meio da multidão grita expressando raiva.

— Precisamos pegá-la antes que machuque mais alguém!— disse outra pessoa.

Depois de instigados algumas pessoas começaram a invadir o quarto, portando expressões de fúria, Elísis sem saída se vira com dificuldade e pula pela janela, abrindo um rombo na parede no processo, entretanto logrou em sair da estalagem.

Logo a fúria se espalhou por todo vilarejo, e devido a seu tamanho Elísis não era capaz de se esconder, começou a correr sem rumo pela vila passando pela praça onde viu brevemente a expressão de medo da senhora Helena, logo onde quer que fosse tinha alguma multidão a caçando já com objetos afiados nas mãos até mesmo conhecidos como o senhor Donua, o senhor Cezar, o senhor Alberto até o senhor Hector o que lhe partiu o coração, pois antes ainda tinha esperança de conseguir ajuda.

Triste e com muita medo, não restou saída para Elísis, no vilarejo não existia mais um lugar seguro, agora só tinha um lugar onde eles não poderiam pegá-la. Elísis apressa os passos das quatro patas deixando as fronteiras do vilarejo na direção norte, em pouco tempo já pode enxergar a larga cerca viva representando a divisão da fronteira com o território das fadas, com a multidão furiosa portando armas na sua cola, ela não teve tempo para hesitar e quando chegou perto o suficiente, pulou pela cerca.

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Comments

Ísis Nery

Ísis Nery

Caramba...me encontro sem palavras!!
Que Plot Twist esse do rei?? Ela possui os poderes da falecida irmã dele...mas como???
E que lição de moral ela deu na Nelle! Amei!
Também adorei a referência à normalidade das flores ainda estarem em botões, pelo menos não deu brecha para possíveis desconfianças kk
E me partiu o coração a perseguição de quem ela mais amava atrás dela para matá-la por um mal entendido. Que coisa!!
Espero a continuação em breve, viu??? 🥰❤️

2022-12-17

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