Um belo dia ensolarado se estendia pelo pequeno vilarejo de Lorent conhecido por ser o mais próximo da fronteira do Território das Fadas em comparação com os demais daquele reino, se é que poderia ser chamado de reino ainda.
Após a derrota humana na guerra contra as fadas que já marcava quase quinze anos de término, os humanos tiveram que cumprir com sanções para evitar uma possível extinção completa pelas mãos de seus inimigos, entre elas foi a exclusão do status de rei tornando duque o nível mais alto possível para um humano alcançar colocando a direção monárquica a cabo do rei das fadas e os territórios humanos divididos entre ducados, marquesados e condados, no caso de Lorent o vilarejo ficava localizado no condado da família Edwine conhecida pela longa linhagem de guerreiros.
A segunda sanção que a humanidade teve que cumprir foi o banimento total da espécie no Território das fadas o que na época gerou graves problemas econômicos como também faliu muitos comerciantes que dependiam de produtos vindos de lá, mas agora qualquer humano pego no Território das fadas poderia facilmente ser condenado à pena capital apenas pondo os pés do outro lado da fronteira, a única exceção era uma reunião que ocorria uma vez por ano entre os líderes ducais e o rei das fadas e mesmo essa visita era severamente vigiada desde o início até a finalização.
De meio-dia na feira do vilarejo, as pessoas que passavam na entrada sempre acabavam se deparando com a visão de uma bela e pequena barraca de flores muito bem decorada com arranjos atrativos chamada:
"Flores do Elíxios"
Sua dona era Elísis uma jovem com quinze anos de pele morena clara, cabelo castanhos claros bem ondulados e olhos castanho escuro, uma jovem bastante conhecida em Lorent tanto por trabalhar meio expediente numa estalagem local servindo como garçonete quanto pela barraca de flores na entrada da feira que apesar de bastante pequena possuía a fama pelas flores mais duradouras, pois fossem buquês, guirlandas ou coroas de flores se viessem da barraca de Elísis mesmo fora das suas plantas duravam no mínimo um mês antes começarem a murchar. Graças a essa fama, Elísis foi capaz de adquirir uma ótima clientela e conseguir uma boa renda mensal.
A jovem se encontrava no seu pequeno negócio concentrada na tarefa de entrelaçar algumas margaridas para criar coroas, quando de repente tem sua atenção chamada :
— Senhorita Elísis?— ela sem querer pula com o susto — Me perdoe, não foi minha intenção assustá-la.
– Senhor Donua – ela diz ainda um pouco surpresa com a repentina presença do senhor de idade – Não se preocupe com isso eu estava distraída, então no que posso ajudar?
— Veja bem, faltam só algumas semanas para o meu aniversário de casamento, e como ano passado eu esqueci, esse ano eu queria fazer uma surpresa para a minha esposa — o senhor explica deixando transparecer um pouco de vergonha com a última confissão .
— Compreendo, sua esposa tem alguma preferência em uma flor específica? — Elísis ativa seu modo sério.
— Minha esposa gosta de qualquer coisa que envolva belas flores.
— Temos algo em comum, então que tal um buquê com um recado no formato de linguagem das flores — ela propõe.
— Linguagem das flores?
— Isso mesmo, cada flor está associada a um significado, se juntarmos um conjunto certo podemos criar uma bela mensagem.
— Maravilha, e como você recomenda a criação desse conjunto?
Elísis fica em silêncio adotando uma postura pensativa para chegar à melhor combinação que pudesse pensar.
— Já sei, que tal um buquê de amor puro, com tulipas vermelhas e rosas amarelas?
— E o que elas formam exatamente?
— Bem as flores apesar de cada uma ter seu significado, elas não estão presas a uma só mensagem. Mas essa combinação pode formar o recado, só penso em você pois te amo verdadeiramente e sempre serei leal a nós dois– Elísis traduzir para o senhor Donua.
— Simplesmente perfeito, adorei!
— Que bom, o senhor me diz a data do aniversário de casamento para eu preparar o buquê no tempo adequado e claro vou incluir um cartão com a mensagem escrita.
— Realmente agradeço muito a sua ajuda senhorita Elísis.
— Imagina.
Essa gentileza foi outro fator que influenciou a fama da barraquinha as pessoas adoravam seu lado atencioso, mas o conhecimento de Elísis se estendia muito além de somente flores, ela também era capaz reconhecer centenas de plantas diferentes apenas as olhando, habilidade que aprendeu com sua mãe antes dela morrer a pouco menos de dois anos, mas as informações deixada por ela acabaram sendo perfeitas para o trabalho que tinha agora, pois apesar de ter dois empregos seu sonho era viver somente vendendo flores e ajudando pessoas como acabará de fazer a pouco.
Elísis observa o senhor de idade se afastar depois de coletar todos detalhes necessários para fazer a surpresa, aquele foi o segundo trabalho mais importante que recebeu naquele dia a diferença é que o primeiro foi entregue em menos de uma hora pois não tinha um motivo tão feliz já que era uma guirlanda para o enterro do senhor Joseph o senhor mais velho da aldeia, ou melhor, possuía essa fama antes falecer. Ela volta pegar a coroa de margaridas na qual estava trabalhando, quando novamente tem sua atenção chamada:
— Elísis!
A garota fica paralisada girando bem devagar o olhar para a direção da voz, já sabendo a quem pertencia ela.
— Senhora Helena, não deveria estar trabalhando na padaria?— ela pergunta sem jeito por ter uma ideia do motivo dela estar ali.
— Caso a senhorita não tenha notado está quase passando de meio dia, essa é a segunda vez que eu passo aqui e não vi nenhum sinal de você ter ido almoçar — ela a repreende.
— Mas eu tenho que terminar…
— Sem desculpas, eu conheço você e sei que nunca pega um trabalho com um prazo absurdo.
— Mas…
— Sem mas, por coincidência eu estou indo na estalagem da madame Pietra e minha intuição me disse que eu deveria passar aqui, e não é que eu estava certa.
Elísis larga a coroa de margaridas num local seguro, então olha para a senhora Helena deixando escapar uma bufa de ar se dando por vencida.
— Tenho alguma escolha?
— Claro que não, o que sua mãe pensaria de mim se eu deixasse você se matar de tanto trabalhar, já basta o turno noturno de garçonete na estalagem.
A senhora Helena é uma antiga amiga de sua mãe que está a cargo da principal padaria do vilarejo junto com o marido, uma mulher com pelo menos quarenta anos, cabelos castanhos escuros presos num coque, pele branca e com o corpo com um pouco de sobrepeso. Apesar de ser bastante rígida à primeira vista, quando se conhecia ela mais a fundo se encontrava um doce de pessoa e não só por ela fazer os melhores doces da vila. Depois que a mãe de Elísis faleceu e ela não pôde se juntar à irmã mais velha no marquesado de Lidong, a senhora Helena se tornou praticamente sua segunda mãe apesar das duas não morarem sob o mesmo teto, mas ela sempre ajudava a jovem garota quando fosse preciso.
As duas andam sobre as ruas de paralelepípedos ensolaradas, cheia de pessoas passando fosse com algo em mãos, conversando com alguém ou com carroças lotadas de lado para o outro, o destino das duas era a estalagem da madame Pietra, local favorito para os trabalhadores almoçarem como também onde Elísis trabalhava a noite e morava.
— Como vão as coisas na padaria agora que seu filho foi aceito no programa de desenvolvimento de cavaleiros do conde Edwine?— Elísis pergunta.
— Sentimos um pouco no início, mas eu e meu marido já conduzimos aquela padaria antes do Dilam nascer, voltar aos velhos tempos não é problema algum — ela afirma convicta.
A senhora arranca algumas risadas de Elísis, afinal Dilam era um grande amigo dela já que ambos cresceram juntos e ela via muito dele na mãe.
— Mas e você, não pretende sair de Lorent como a sua irmã Melinda ou ir morar com ela?
— Fica muito difícil para mim ir morar com a Melinda por vários fatores, mas eu não pretendo sair de Lorent, nesse momento meu maior objetivo é conseguir sair da minha dependência com a Madame Pietra.
— Não ter mais que trabalhar de noite.
— E ter meu próprio lugar para morar, assim não vou mais precisar conviver com a Nelle.
Assim que Elísis termina de falar, as duas chegam em frente à estalagem, o interior se apresentava com seu típico visual amadeirado e luzes alaranjadas com várias pessoas acomodadas nas mesas do lugar tendo conversas particulares enquanto aproveitavam a comida do estabelecimento. A senhora Helena e Elísis se sentam numa mesa vazia começando a olhar os cardápios e pouco depois uma figura não muito agradável aparece diante da mesa.
— Veja só a garçonete veio comer no próprio trabalho.
— Oi pra você também, Nelle — Elísis responde de forma seca sem nem fazer um contato visual.
Nelle ou Antonelle a filha da madame Pietra com quem Elísis teve que conviver desde bem pequena, sua personalidade podia se resumir basicamente em muito arrogante, isso devido a sua aparência. Cabelos dourados, olhos verdes e pele pálida, características essas muito raras entre os humanos, porém muito comuns entre as fadas, por isso graças a esses traços ela sempre foi bajulada pelas pessoas da faixa etária de ambas e ganhou o apelido de fada de Lorent pelos adultos.
Elísis por outro lado apesar de não ser nada feia tinha traços muito comuns e como trabalhava para mãe de Nelle as situações em que ela a tratava como empregada ou menosprezo eram muito comuns.
— Você sabia que todos já disseram que vão votar em mim, no festival do reinício do vilarejo e eu vou ser coroada a dama de Lorent?
— Não é novidade — Elísis fala despreocupada tentando focar a atenção no cardápio em mãos.
— Deve ser muito frustrante já que você é a filha da pessoa que deu origem a esse título, não é mesmo?
Elísis ignora descaradamente Nelle apesar da pequena pontada levada o que não deixa a garota arrogante nem um pouco feliz, mas para sua sorte, a filha da dona da estalagem é chamada por um grupo de jovens em outra mesa e ela sai de perto da mesa dela sem mais nenhuma palavra.
— Tudo bem querida?— a senhora Helena pergunta preocupada.
— Já escutei coisas piores, esse tipo de coisa não é nada.
— Que tal fazermos o pedido?
— Por mim tudo bem — ela fala fechando o cardápio e o colocando no canto da mesa.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Ísis Nery
Amei a apresentação dos personagens, caracterização da área e o desenrolar das personalidades e conflitos diários deles!
Apenas fiquei um pouco confusa na explicação da senhora Helena como amiga da mãe de Elísis e no momento em que Elísis a considerava uma segunda mãe desde a morte da mãe biológica pelo fato da colocação que você faz a respeito dela não ter ido morar com a irmã mais velha não ter ficado explícita, sabe? Deu a entender que a irmã era da senhora Helena.
Porém, como eu disse anteriormente, estou adorando tudo isso!!!
Com certeza está virando mais uma história sua que tem meu favoritismo no coração! Ú-Ù ❤️
2022-12-16
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