Pedido de desculpas

Quando eu era pequena, mamãe sempre me dizia que eu deveria respeitar as pessoas por quem elas são ou deixaram de ser. Não importava as circunstâncias, status social não era nada para mim, muito menos deficiência. 

Obviamente eu não amava William, ele poderia ser quem fosse, talvez até o melhor homem do mundo, mas eu não conseguia sentir nada por ele. No entanto, eu não conseguia ignorá-lo, percebia em diversos momentos que ele precisava de ajuda, e eu suportava a ideia de querer estar próxima para tudo, não queria que ele pensasse que eu sentia pena. 

Te-lo ao meu lado não era algo tão ruim assim, e eu me perguntava o que ele achava de mim. Eu sabia que ele estava pensando em muitas coisas, talvez até tinha preocupações para lidar, mas em minha cabeça, a única coisa que rondava minha mente era aquele beijo. Eu deveria realmente ter feito isso?

Não posso negar que no momento da cerimônia, pensei apenas no que os outros diriam, no que sua família pensaria de mim. Obviamente, saber que Alessia Martinez pensava algo de mim que não era verdade me deixou muito abalada, principalmente agora que sou casada oficialmente com seu irmão. 

Eu pensava em tantas coisas… 

Pensava em Ava, Peter… O que eles fizeram comigo sempre vai ficar marcado em minha vida, mas não nego que sinto falta. Ava Millers sempre conseguia um tempo para mim quando não estava nas mãos da família, que tentavam fazê-la mudar para ser alguém melhor.

Com tudo que aconteceu, agora penso nela mais como uma conselheira do que como uma amiga. Nós éramos unidas, sempre nos ajudamos com problemas familiares, nossas saídas noturnas eram relaxantes para mim. Infelizmente nunca poderemos conversar novamente, não como antes. 

Deixo meus pensamentos em Ava de lado e me concentro na estrada, faz algum tempo desde que deixei aquela suposta festa para esfriar a minha cabeça. Eu não estava com raiva, entendo que William também teve uma vida antes de me conhecer, ou melhor, antes de nos casarmos. 

Eu também tinha uma vida, tinha tudo. Sei que posso parecer infantil, mas também sei que William está sofrendo com seu passado e seu amor. Não quero me intrometer, o deixei sozinho apenas para que ele resolva seus próprios problemas, independente de quem estivesse lá. 

Poderia não ter sido o casamento dos meus sonhos, mas eu não esperava por aquele barraco. Sinto-me enojada sempre que me lembro das palavras cruéis de meu sogro para com aquela garota, eu não suportaria ouvir isso. E só neste momento me arrependo de ter abandonado tudo, penso em retornar, mas estou mais perto de casa do que daquele lugar. 

— "Dener, como estão as coisas? Saí para esfriar a cabeça e estou quase chegando em casa, espero que não tenha acontecido nada ruim." — Ele era minha única alternativa, sei que ele ficou para trás para observar a movimentação. 

— "Senhora Carter,  que bom que ligou. Não aconteceu nada demais. Aquela mulher foi embora no mesmo instante que você saiu, e não se preocupe, ninguém vai fofocar sobre isso nas mídias." — Dener consegue ser um tranquilizante quando quer, mas isso pouco me importava. Eu estava preocupada com outra coisa, e eu não diria a ele. 

— "Agradeço por me informar, poderia dizer para o senhor Martinez e aos convidados que deixei a festa porque eu não estava me sentindo bem?" — Eu tinha que mentir, ao menos tentar. — "Uh, também preciso de outro favor."

— "É claro, não precisa me pedir nada. Eu sei o que quer que eu faça." — Ouvi-lo dizer isso me deixou mais tranquila. — "Ah, antes que eu me esqueça. O senhor William está muito preocupado com você. Tenha uma noite incrível com suas bebidas, senhora Carter."

Sua ousadia me surpreende mais do que seu conhecimento sobre mim. Por outro lado, Dener está apenas tentando brincar comigo. Ele sabe o meu motivo para continuar com o sobrenome do meu pai, e ainda assim fico pensando em como a família Martinez aceitou tão bem essa cláusula no contrato, sei que o dinheiro pode conquistar tudo, mas ainda fico impressionada. 

Quando finalmente chego em casa, deixo meus saltos incômodos na sala de estar, eles estavam me matando! O silêncio é tão confortante que me faz querer pensar em tudo e em todos. Me pego escolhendo uma bebida, agradeço aos céus por Sophie não estar aqui para me impedir. 

Algum momento depois, ouço vozes em meu quarto, não queria ser incomodada. A porta simplesmente se abre, me dando a visão que eu não esperava. William está parado como se estivesse com receio, e eu não digo uma palavra. 

Dener está logo atrás, mas não tenho forças para discutir sobre o que está fazendo. Ele apenas deixou William próximo a mim para que ele fizesse sabe-se lá o que. E eu continuei imóvel, minha respiração estava descompassada, e minha curiosidade nas alturas. 

— Emma, está acordada? — Sua voz rouca me causou um arrepio delirante, e eu não quis responde-lo. O álcool ainda estava em meu sangue, então não contive um gemido preguiçoso enquanto ele esperava pacientemente por minha resposta. — Então está acordada. 

O observei por algum tempo, suas mãos estavam inquietas, ele queria me dizer algo. Sinto que ele não iria me deixar sozinha até que suas preocupações fossem resolvidas, então me sentei desajeitadamente na cama, suspirando pesadamente. 

— O que incomoda você? — perguntei. 

Ele por sua vez percebeu a mudança em meu tom de voz, fazendo-o se sentir mais tranquilo, de alguma forma. No entanto, ele ficou ainda mais preocupado por notar que eu estava bêbada, ou que seria o motivo para isso. 

— Você está bêbada? — Não posso negar que eu esperava por essa pergunta, mas não dessa forma. Talvez ele realmente se sentisse culpado agora, o que aquele homem pensava? Para que tanta preocupação? 

— Eu não acho que você queria perguntar isso, quer tentar de novo? — brinquei. 

— Neste caso é melhor você tomar um banho, seu corpo vai melhorar com a água fria. — E então ele me ignorou. — Eu vou esperar aqui. 

— Você tem razão, eu deveria tomar um banho! — Fiquei chateada, mas estava ansiosa por isso. — Queria que pudesse ver isso… 

— O que? — perguntou, sentindo-se confuso. Mas não o respondi, apenas me livrei daquele vestido e o arremessei com gentileza sobre ele. — Eu não acredito nisso. — E ele ainda riu, ele com certeza era um cara estranho. 

Entrei no banheiro com a minha melhor coragem, e sequer me preocupei em deixar a porta aberta. Mas o que ele faria? Não poderia ver nada, e mesmo se pudesse, agora estamos casados. Simplesmente não era nada demais. 

Me enrolei na toalha de qualquer jeito após me sentir bem melhor do que antes, mas estava com frio. Caminhei descalça até a cama, sentando-me de frente para o meu empregado, quer dizer, marido. 

— Você precisa secar meu cabelo — disse um pouco dengosa, mas por algum motivo me arrependi amargamente disso. O que eu estava fazendo? 

— É mesmo? E porque eu faria isso? — Ele sorriu, percebendo que eu não passava de uma criança que sentia falta de afeto. Mas até que não era mentira. — Não acha que está grandinha demais para isso?

— Não é isso que os casais fazem? Somos casados agora, William. — Fiquei emburrada, mas me contive por causa de seu sorriso hipnotizante. — Sei que você ama outra pessoa e eu não amo ninguém, mas é o mínimo que pode fazer por mim pelo que aconteceu na festa. 

— Talvez você tenha razão, senhora Carter. — Aquele sorriso se desfez por alguns poucos segundos, mas eu não estava arrependida por minhas palavras. Queria apenas que ele fizesse algo por mim para compensar seu descuido na festa. — Poderia me passar a toalha?

Procurei por minha toalha para secar o cabelo, mas não a encontrei. Pensei em ir lá no banheiro para buscá-la, mas eu não estava muito afim. E então olhei para William, ele não poderia ver nada mesmo. 

— Aqui está, senhor Carter. — Entreguei a toalha com a melhor das inocências, e ele sequer percebeu. Na verdade, ele ficou hesitante no começo, mas fingiu que estava tudo bem.

— Acho que este é o momento para pedir desculpas, quero que saiba que eu não sabia que isso aconteceria. — Seu tom de voz me transmitia uma sensação de tristeza, eu sei que ele estava magoado por dentro. — Tenho que concordar que não nos amamos, e que talvez tenhamos outra pessoa em nossos pensamentos. Mas você tem a minha palavra que eu jamais a desrespeitaria, em hipótese alguma. 

Neste momento eu não soube o que dizer. Confesso que estava surpresa com essa explicação, por mais que eu não tivesse exigido. William parecia ser um homem de caráter, honrado e apenas um ser humano que desistiu do amor por conta própria para não atrapalhar a vida de quem amava. 

Eu não merecia isso, então apenas me afastei. 

— William, não desista de quem realmente ama. — Meu coração estava em pedaços, e pela primeira vez em minha vida, eu disse algo que não queria dizer. 

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Comments

Mara Melo

Mara Melo

Estou achando essa história estranha ,não tem diálogo entre os personagens ,só pensamentos, e ainda picotados .Vou continuar a ler ,mas se continuar nessa monotonia vou parar .

2025-03-16

1

Aurisia Ivo da Silva

Aurisia Ivo da Silva

🤔🤔🤔🤔

2025-02-16

0

Erika Aparecida

Erika Aparecida

ela poderia largar a bebida! kkk

2024-11-12

0

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