Não sei exatamente como vim parar aqui, dadas as circunstâncias e insistências de Alessia, sinto que não estou tão arrependida assim. Após me forçar a deixar a empresa e os documentos na mesa, ela me arrastou para o shopping onde ela dizia ser dona.
Devo dizer que não estou impressionada, afinal, a família Martinez usufruía de uma grande fortuna. Ao menos Alessia me transmitia uma sensação boa e confortável, diferente de Ava. Não que eu esteja sentindo sua falta, mas o que fazíamos para nos divertir era contagiante.
— Que tal "aquele lugar"? — Ela sorriu largamente após me mostrar uma loja que não tinha nada haver com ela, mas que chamou minha atenção de imediato. Ou seja, meus olhos estavam brilhando! — Vamos lá!
— Caramba! — Deixei minhas emoções falarem mais alto e não percebi o que tinha acabado de dizer. — Olha isso!
Mordisquei o lábio inferior quando me deparei com uma coleção de caveiras decorativas na vitrine, seguido de roupas chamativas que ficariam muito bem em meu corpo. Obviamente, se eu pudesse usá-las.
— Porque não experimenta esse? — Alessia me deixou para trás quando reparou em um conjunto gótico que, de acordo com ela, era a minha cara. — Tenho certeza que ficará sombria!
Quando deixei o provador, Alessia simplesmente arregalou os olhos quando me viu com aquela calça de couro contornada com tachinhas e correntes. O cropped era como um sutiã rendado com bojo, mas que me deixava com os seios mais fartos do que eram. Eu não poderia esquecer da jaqueta de couro, era linda.
— Meus deus, mas que corpo perfeito! — Ela me analisou dos pés à cabeça. Me senti tão exposta que não consegui olhar em seus olhos azuis penetrantes. — Meu irmão não perde por esperar! Como consegue esconder tudo isso com aquelas roupas?
— O que eu posso fazer? Algum dia minha vida teria que mudar, até mesmo as roupas. — Suspirei, olhando-me no espelho para vislumbrar algo que não poderia ter. Sim, eu estava com saudades da minha vida de loucuras e festanças, mas em algum momento eu tinha que amadurecer e ter responsabilidades. Eu simplesmente não poderia chegar na empresa com esse decote absurdo, por mais que eu gostasse.
— Eu vou te contar um segredo, Emma. — Alessia me abraçou por trás, apoiando a cabeça em meu ombro como se fossemos irmãs, talvez uma irmã que ela nunca teve, e eu também me sentia assim. — Eu sei que você é muito jovem, assim como meu irmão, mas não quero que vocês desistam do que gostam de fazer. A vida é curta demais para se esconder em uma bolha, por mais que tenhamos responsabilidades. Eu também tenho a minha, mas não deixo de me divertir de vez em quando.
E novamente ela sorriu. Como ela conseguia ser tão feliz? No entanto, essa felicidade não era a única coisa que seus olhos queriam me mostrar, parecia que ela guardava um incômodo por dentro, algo que somente ela conseguia lidar.
— O que acha de comprar tudo isso? — Alessia se afastou para me mostrar mais do que aquela loja tinha a oferecer, e eu não recusei. — Tem algo que eu também quero comprar para você depois de ver tudo isso…
Seu olhar se voltou em meu corpo novamente, e eu tinha certeza que nada de bom sairia daquela loja. Caminhamos para uma sessão mais reservada, onde encontrei as mais variadas peças sensuais que alguém poderia saber, e todas elas tinham algo em comum, a transparência. Cada uma mais ousada que a outra.
— Eu não sabia que seu irmão era tão… — Naquele momento, eu não consegui encontrar uma palavra que pudesse definir o que eu estava pensando sobre ele.
— O que? Ah, ele não sabe nada sobre isso. — Alessia estava estranha, eu não queria dizer nada que a ofendesse, mas depois que chegamos nessa sessão, me senti um pouco desvalorizada. Talvez eu estivesse apenas delirando, mas ela não seria esse tipo de pessoa, certo? — Na verdade, ele não sabe que você está acostumada com isso, por isso estou aqui.
Muitas coisas passaram pela minha cabeça, e eu fiquei atônita. O que ela queria dizer com isso? Que eu saia transando com qualquer um? Eu poderia muito bem relevar isso, fingir que nada aconteceu e deixar com que ela pensasse isso de mim, mas eu não consegui.
Alessia poderia ser uma mulher muito interessante, amigável e profissional. Mas ouvi-la dizer isso fez com que eu me forçasse a rir, chamando sua atenção de imediato. Felizmente, apenas a deixei sozinha com aquelas coisas, não queria passar mais um minuto em sua companhia.
Não posso negar que minha adolescência tenha sido um pouco agitada, e obviamente eu me envergonho de cada coisa que fiz para me divertir. Mas o passado está no passado, eu não tenho mais ninguém para chamar de família além de Sophie, e ela é a única que sabe mais do que ninguém que eu tenho caráter a zelar.
Quando cheguei em casa, me deparei com Dener sentado no sofá da sala de estar conversando amigavelmente com Sophie. Mas eu não estava com paciência suficiente para ouvir mais reclamações sobre o que eu deixei de fazer na empresa para simplesmente sair com Alessia.
— Minha querida, Dener comentou sobre seu encontro com sua cunhada, conseguiu se divertir? — Eu não queria respondê-la, principalmente diante dele.
— Não, não consegui. — Contei a verdade, o que mais eu diria? Eu apenas precisava ficar um pouco sozinha antes que eu saísse dizendo tudo que aconteceu. — Sophie, poderia pedir para levarem meu jantar para o quarto mais tarde?
— Mas é claro, minha filha. — Ela sorriu para mim para tentar me confortar, talvez ela tivesse percebido o quanto eu estava chateada, mas não tocaria no assunto agora. Um alívio.
Tomei outro banho para tirar todas as coisas ruins que estavam impregnadas no meu corpo, e isso me deixou mais relaxada. Pelo menos até o meu celular começar a tocar, era aquele número daquele desconhecido novamente.
— Olá, em que posso ajudar? — Fingi descaso, ao menos Dener tinha algo interessante para me inspirar a fazer.
Silêncio.
Por mais que eu não conseguisse ouvir muita coisa, a respiração daquele homem era perceptível. Ele estava nervoso? E como eu poderia presumir isso? Eu tinha que perguntar.
— Eu sei que você está aí, não precisa ficar nervoso. — Sorri, ao menos eu estava me divertindo com isso. E novamente o silêncio. — Tudo bem, eu vou desligar agora, se quiser me dizer alguma coisa, sinta-se à vontade para me ligar novamente.
Alguns dias se passaram desde aquele sufoco, o homem misterioso não me ligou mais. Dener estava mais ansioso do que eu sobre o meu casamento. Sophie estava tranquila, e me ajudava com muito orgulho a me preparar para a cerimônia. Alessia também não entrou em contato comigo, se ela estivesse envergonhada pelo que fez, eu preferia manter distância.
Meu vestido era simples, eu não queria demonstrar felicidade e esbanjar luxo diante de quem não era nada para mim emocionalmente. Tudo o que eu queria era acabar logo com isso e retornar a minha vida como se nada tivesse acontecido.
Tudo estava preparado, até mesmo a festa que aconteceria em um salão reservado. Obviamente, o senhor Martinez cuidou para que isso acontecesse, para ele seria mais sensato mostrar às pessoas o grandioso casamento entre duas famílias poderosas.
— Você está linda, querida. — Sophie me analisou por completo, sorrindo como se estivesse muito satisfeita. — Tenho certeza que sua mãe e seu pai estão muito orgulhosos de você.
— Obrigada, vovó. — Me olhei no espelho novamente, mas não consegui sentir nem um pouco de felicidade. Tudo me lembrava dele, de Peter. De suas promessas vazias, seu amor falso e pedidos sem compromisso. — Podemos ir agora?
Dener não mediu esforços para me levar para a igreja, onde o senhor Martinez estaria me esperando para entrar comigo. Ele fez questão de me lembrar que eu não tenho mais ninguém para fazer isso, quis matá-lo, mas eu não me importava mais com essas bobagens.
No altar, todos esperavam por mim, até mesmo pessoas que eu sequer conhecia. Alessia estava lá e como eu tinha imaginado, ela estava envergonhada pelo que fez. Quando desviei o meu olhar para o noivo que eu nunca tinha visto até agora, fiquei sem saber como reagir.
Em meus pensamentos, eu imaginava que ele seria um homem sem escrúpulos, talvez até mesmo um aproveitador. Mas eu estava enganada, mas a minha falta de reação fez com que todos os olhares sobre mim se tornassem um alívio. É claro, para eles, quem se casaria com um cadeirante?
Eu não tinha nada contra isso, eu não me importava. Então todo esse segredo e discrição era por causa disso? Quem eles achavam que eu era? Talvez, só talvez agora eu conseguisse entender o que Alessia quis dizer. Mas a sua desconfiança não vai mudar a primeira impressão que eu tive.
Observei atentamente o meu futuro marido, ele tinha uma beleza indescritível, assim como o resto de sua família. No entanto, eu não conseguia fazê-lo olhar diretamente para mim, qual seria o problema agora? Por acaso ele também era cego?
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Mara Melo
Está estranho ,ainda não consegui entender ente der os pensamentos da Emma .
2025-03-16
2
Aurisia Ivo da Silva
então 🤔🤔🤔
2025-02-16
0
Juliana Vicentina Da Vo
Estava achando que seria o Dener.
2024-10-01
1