William Martinez

^^^(Esse é William Martinez)^^^

^^^Narrado por William^^^

Eu estava aflito.

Meu pai sempre foi um homem honrado, mas ganancioso. Tenho certeza que seu maior defeito eu tive o desprazer de conhecer. E isso aconteceu quando sofri um grave acidente de moto, onde perdi quase totalmente os movimentos de minhas pernas. 

Obviamente, papai ficou ao meu lado quando isso aconteceu. E eu sempre vou agradecer por isso, por não ter me abandonado no momento mais difícil de minha vida. E o fato de ter sido culpado pelo meu próprio acidente não o fez se afastar e me culpar. 

Minha irmã, Alessia, não conseguiu lidar muito bem com minha deficiência. Ela me amava, sempre disse estar disposta a cuidar de mim, assim como cuidei dela desde que éramos crianças, quando mamãe nos abandonou à própria sorte. Mas havia algo em Alessia que me incomodava, e ela sabia muito bem disfarçar qualquer sentimento. 

Papai comanda uma empresa de tecnologia de comunicação assim como a família Carter, que está acima de nós nesse ramo. E quando o senhor John Carter faleceu, meu pai não perdeu a oportunidade de se aproveitar da situação. É claro que eles estavam escondendo esse contrato de casamento há algum tempo, mas somente agora as coisas vieram à tona.

Se eu não tivesse me acidentado, provavelmente eu estaria no comando na empresa, mas isso fez com que meu pai perdesse a confiança em mim. Porém, eu poderia simplesmente arcar com o peso que isso me causou, mas minhas pernas não eram o grande problema, eu estava cego!

Para ser sincero, não sei como Emma Carter aceitou tudo isso. Alessia sempre disse que eu era bonito o suficiente para fazer com que qualquer mulher caísse aos meus pés, mas eu sei que ela estava errada. O que eu poderia fazer para satisfazer uma mulher? E isso estava me incomodando, aliás, eu estava muito preocupado com isso. 

Ninguém sabe o quanto eu estava ansioso com esse casamento, e confesso que tive medo de ser rejeitado quando minha irmã cometeu um grande erro com Emma, acusando-a indiretamente de ser uma qualquer. Ah, como eu estava envergonhado! Ao menos eu não teria que olhar nos olhos dela. 

Durante a cerimônia de casamento, tive a impressão de que todos estavam preocupados com o que Emma pensaria de mim, mas Alessia me confortou quando me disse que ela não tinha fugido diante de todos. 

Quando eu ouvi a sua voz recitando as palavras do padre, não pude deixar de sorrir como se eu estivesse realmente apaixonado. Mas era perceptível o quanto ela estava nervosa e assustada, talvez até mesmo incomodada. E quando seus lábios tocaram os meus, percebi que algo havia mudado dentro de mim. 

Quando o casamento finalmente acabou, meu pai fez questão de nos levar para a festa que eu insisti que não fosse tão exagerada, e eu tenho certeza que não fui levado a sério sobre isso. Durante todo o trajeto, Emma permaneceu em silêncio, se ela não sabia o que dizer, eu também não fazia ideia do que fazer. 

Gostaria de segurar em suas mãos e prometer que jamais seria um incômodo em sua vida, mas eu sequer sabia onde suas mãos estavam. A única coisa que eu tinha certeza era que ela estava ao meu lado, mas que não precisava de mim para absolutamente nada.

Meu pai era o único que conversava alegremente, como se estivesse emocionado e orgulhoso de nós dois. Mas em algum momento me deixei levar, e sem perceber, acabei debochando de sua suposta sinceridade quando mencionou que cuidaria muito bem de nós, mesmo que estivéssemos distantes. 

Não sei ao certo o que aconteceu em seguida, somente o silêncio tomou conta daquele espaço que provavelmente se tornou sufocante para todos nós. E sem querer, acabei fazendo com que Emma percebesse minha verdadeira relação com meu pai, em um momento parecemos uma família unida, mas logo mostramos o real sentido de nossa gentileza. 

— O senhor não precisa se preocupar conosco, ficaremos bem. — Emma finalmente quebrou o silêncio, tocando em minha mão quase que instantaneamente, não pude evitar me sentir deslocado. — Tenho certeza que William cuidará muito bem de mim, assim como cuidarei dele.

Sua voz era como música para os meus ouvidos, diferentemente do meu pai e de algumas pessoas que fingem se importar comigo até certo ponto. Eu sabia que Emma estava dizendo tudo isso apenas para parecer confiável diante dele, mas eu tinha a sensação de que havia um pouco de verdade nessa mentira. Senti-me confortável até.

Quando papai estacionou o carro, um homem que eu não conhecia aproximou-se de nós para me ajudar a sair do carro e me colocar de volta na cadeira de rodas. E como eu sabia disso? A sua voz era diferente do cuidador que eu estava acostumado. O único problema é que eu me senti incomodado com ele, principalmente quando ele falou informalmente com Emma. 

— Vou deixá-los na mesa de degustação, se você precisar de mim não hesite em me chamar. — Tenho certeza que ele sorriu, mas me mantive firme, afinal, era apenas um casamento por contrato, nada demais.

Não posso negar que me senti confortável com a presença de Emma, ela transmitia uma sensação de superioridade que eu não conhecia. Quando os convidados se aproximavam para nos parabenizar, ela entendia o meu lado introvertido e sempre cuidava de cada um deles com graciosidade.

Tentei me livrar desses pensamentos insistentes sobre ela de uma maneira um pouco impensada, eu estava com fome e não queria incomodar ninguém. Aproximei meus dedos para algo que cheirava muito bem, fazendo com que Emma segurasse minha mão firmemente, assustando-me. 

— Me desculpe, eu não queria assustá-lo. — Seu tom de voz transparecia preocupação, o que me fez acreditar que eu estava prestes a fazer bobagens. — A comida está quente, há um garfo e uma faca ao lado do prato. Vou indicar pra você. 

E assim ela o fez, me ajudando a comer até que eu conseguisse fazer isso sozinho. Eu estava prestes a agradecê-la por seu gesto nobre, mas um barulho estranho chamou minha atenção, e consequentemente a dela. 

— Quem a deixou entrar? — A voz do meu pai se instalou pelo local, presumi que ele estava questionando os seguranças, e por um momento fiquei preocupado.

— Quem é ela? — Pude ouvir o sussurro de minha esposa a alguém que estava ao seu lado, mas me mantive firme até que tudo isso se resolvesse. 

— William! — Congelei. Na verdade, não consegui dizer uma palavra ou expressar alguma reação quando ouvi a voz dela, com o silêncio dos convidados, o barulho de seus saltos se tornaram mais evidentes à medida que se aproximava. — Então era isso que estava escondendo de mim?

— Anne, eu… — Não soube o que dizer, meu coração estava em pedaços. Lembro-me perfeitamente daquele dia do acidente, quando soube que não poderia mais andar e enxergar, tudo isso eu escondi dela. 

Recusei suas visitas, suas ligações e mensagens que nunca poderiam ser lidas. Deixei o tempo passar até criar coragem para terminar o nosso relacionamento, por telefone. Sim, fui um covarde e um tolo por tamanha crueldade, mas eu não poderia deixá-la viver uma vida de sofrimento comigo. Eu queria vê-la livre! 

— Me responda! Sabe quantas vezes eu tentei ver você? Eu não acredito que você me deixou por pensar que eu não cuidaria de você. — Sua voz estava embargada, engoli em seco. Sua fúria era indescritível, e eu me sinto péssimo por isso. — E agora está casado, você não pensou que ela teria a mesma obrigação para cuidar de você? Me diga qual a diferença entre ela e eu! 

— A diferença é que você vem de uma família inferior, se vocês se casassem, meu filho viveria na miséria! Como acha que cuidaria dele? Com amor? Faça-me o favor! Não vê o estado que ele se encontra? — Meu pai interveio, ele sempre foi contra o nosso relacionamento, mas o mesmo nunca se importou com quem eu namorava. Tudo mudou quando decidimos nos casar, mas o meu trágico acidente complicou as coisas entre nós. 

— Primeiramente, eu não me importo com o que vocês viveram ou deixaram de viver — Emma interveio dessa vez, eu não queria que isso acontecesse, mas a culpa era minha. — Mas não quero me envolver em algo que não me diz respeito, portanto, se vocês tem alguma coisa a resolver, por favor saiam. Tenho certeza que o mundo está repleto de lugares reservados para isso. 

Após suas palavras sinceras, percebi o quanto Emma estava incomodada com tudo isso, não que ela estivesse feliz com o casamento, mas isso a atingiu de certa forma. O silêncio reinou naquele espaço que estava cercado de alegria, ninguém queria dizer mais nada. Emma suspirou, deixando-me sozinho para resolver essa loucura. 

Não sei como deixei isso acontecer! 

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