Abro os meus olhos lentamente e os sentimentos de medo e angústia se apoderam de mim ao perceber que não estou no meu quarto, nem da Naty, dos meus pais, do Jackson e nem de um dos meus primos ou conhecidos. O que faço aqui? Como vim parar neste lugar? Porquê não estou com as minhas roupas? De quem é essa camisa no meu corpo? São muitas perguntas sem respostas, mas isso não é o mais importante agora, preciso sair daqui e procurar a baixinha, estávamos juntas na boate e se eu estou cá não duvido que ela esteja também. Sento na cama sem saber por onde começar e as lágrimas rolam no meu rosto, fui sequestrada e talvez nunca consiga escapar, com certeza a casa está cheia de seguranças e as chances de fugir são praticamente nulas, meu pai tinha razão quando disse que eu poderia ser raptada no dia que ele me emprestasse a sua Lamborghini, mas uma vez que sou teimosa e não sigo regras, decidi não escutá-lo, o pior de tudo é que arrastei a minha melhor amiga junto comigo e jamais irei me perdoar se algo de ruim acontecer com ela.
Ouço passos largos no corredor e uma aflição invade o meu ser, respirei fundo e levantei da cama em um movimento rápido, procurei no quarto uma coisa que eu possa me defender, mas infelizmente não tem nada, por essa razão peguei nas minhas botas que é a melhor opção no momento e me escondi cautelosamente atrás da porta.
Vejo a maçaneta girar e muita água cai para as minhas bochecha. Não quero morrer, ainda sou jovem e tenho sonhos para realizar e muita vida pela frente, somente espero que esses psicopatas peçam dinheiro de resgate, meus pais dariam toda a fortuna para me soltarem, pelo menos é o que acho. Mas e se eles não quiserem dinheiro? E se forem mais uma dessas pessoas que matam as vítimas e depois tiram os órgãos para vender? Não Vicenta, não pense nessa possibilidade, tudo ficará bem e em breve estarás em casa com a sua família, apenas fica calma.
Uma figura musculosa entrou no quarto e batina sua cabeça com toda a minha força.
- FICOU LOUCA GAROTA? - não é possível que seja ele, bem que eu deveria ter desconfiado, o cara me odeia e está fazendo isso para se vingar.
- P-Professor? - falei gaguejando.
- sou eu sim poxa! - diz pegando na sua cabeça.
Dei dois passos para trás.
- fica parando aí - apontei minha bota para ele - não se aproxima.
- o que está fazendo? - perguntou confuso.
- quanto quer para soltar a Natália e eu? Nossos pais podem te dar muitos milhões de reais.
- o quê? - soltou uma gargalhada gostosa. É a primeira vez que o vejo sorrir e ele fica muito mais lindo quando faz isso - acha que vos sequestrei? Não sabia que eras tão engraçada senhorita William - disse limpando os seus olhos.
- então não nos sequestrou?
- e eu tenho cara de sequestrador menina?
- sequestrador não tem cara - respondi na defensiva.
- pare de pensar besteira!
- cadê a Naty?
- acho que ainda está dormindo.
- e a Lamborghini do meu pai? - perguntei desesperada.
- está na garagem do edifício - suspirei aliviada.
- agora vai me contar o que nós fazemos aqui e o porquê de eu estar vestida assim!
- vocês beberam muito ontem e não estavam em condições de dirigir, por isso estão cá.
- esperando a explicação da segunda questão.
- ah, bom - pigarreou - suas roupas estavam te apertando e acho que sabes que não é aconselhável dormir com trajes justos.
- quem me trocou? - fechei os olhos para tentar controlar a respiração que aos poucos ia acelerando- quem me trocou Professor? - perguntei pela segunda vez.
- eu - disse depois de longos segundos.
- VOCÊ O QUÊ? - o encarei com raiva.
- não tive outra opção Vicenta - disse calmamente.
- era preferível que me deixasses com as minhas roupas.
- seu sangue não iria circular direito.
- E DAÍ? POR ACASO ISSO ERA UM PROBLEMA SEU?
- Vicenta por favor fique calma, sim?
- colocou as mãos no meio das minhas pernas senhor Stefan? - nem sei porquê perguntei isso, a verdade é que é impossível tirar o body se abrir o fecho que fica no meio das pernas.
- sim - senti meu rosto esquentar.
- CARALHO! - é a primeira vez que uso palavrão na vida e se os meus pais ouvissem, me colocariam de castigo por um bom tempo - porquê fez isso? Olhou para o meu corpo? Para os meus seios?
- não - desviou o olhar.
- porquê não olha para mim poxa? É mentira tudo que disse, você me viu somente de calcinha, não é?
- já disse que não! - exclamou com firmeza.
- seu mentiroso - acertei a sua barriga com a bota.
- Vicenta...
- saia daqui Professor! - estou tentando parecer calma, mas por dentro estou fervendo.
- como? - me olhou incrédulo.
- eu disse pra sair daqui caralho!
- olha o linguajar! - me repreendeu - estou na minha casa, no meu quarto e você não manda em mim - disse frio.
- quer que eu me troque na sua frente? Quer me ver seminua mais uma vez? Então está bem - levei minhas mãos para a sua camiseta, mas antes de tirar ouvi ele dizer:
- estou saindo, não precisa fazer isso - fechou a porta atrás de si com bastante força.
Mas que droga! Olha só o tanto de palavrão que estou falando em um só dia por causa dele, nunca fui de usar esse linguajar, mas é impossível não fazer isso quando se tem um Professor idiota como ele, é claro que me viu quase sem roupa, se não tivesse visto, conseguiria responder a pergunta que o fiz sem desviar os olhos dos meus, não acredito que olhou para os meus peitos nus, para a minha barriga, coxas, será que fez o mesmo no meu bumbum? Ah, porquê Vicenta? Porquê? Tinha que ser ele? O grosseiro do seu Professor? A culpa disso tudo é da anã, se ela não tivesse me convencido a beber toda aquela garrafa de whisky com ela, nada disso estaria acontecendo, quero enfiar minha cara em um buraco e nunca mais sair de lá, a vergonha que estou sentindo agora não está nem escrita e tudo isso é por falta de responsabilidade da parte da minha amiga e eu.
Tirei a sua camisa do meu corpo e deixei sobre a cama, procurei a minhas roupas em todos os lugares e vi as mesmas bem dobradinhas no seu closet. Vesti e fui para o banheiro, levei uma escova nova e escovei os meus dentes tranquilamente, terminei e saí do quarto.
Encontrei uma escada no final do corredor e desci ela devagar. A sala de estar da casa do meu Professor é bonita, há uma combinação incrível da cor cinzenta e branca que deixa tudo sofisticado, os sofás são cinzentos, as almofadas azuis, o tapete cinza, as paredes são brancas e tem muitos outros móveis que deixam o ambiente com um ar de elegância.
- Vicenta? - ouvi uma das melhores voz do mundo.
- Naty? - virei o meu corpo e avancei até ela - você está bem? - nos envolvemos em um abraço.
- claro - me apertou nos seus braços - porquê não estaria?
- eu estava com medo - me afastei um pouco dela - acordei e não conhecia o lugar.
- o mesmo aconteceu comigo, o bom é que estamos seguras.
- sim, menos mal.
- cadê o Professor?
- não sei e nem quero - estou com mais raiva dele do que nunca.
- alguém me chamou? - o super herói surgiu da cozinha.
- as minhas chaves - estiquei a minha mão.
- aqui está - tirou do bolso da calça de moletom e me entregou.
- vamos Naty - peguei ela pelo braço.
- não vai me agradecer Vicenta?
- pelo quê? Por ter me tocado sem a minha permissão?
- por ter impedido que tirasse a roupa na boate.
- do que está falando? - perguntei confusa.
- então não se lembra? - riu sem humor.
- acha que estaria perguntando se me lembrasse?
- você é uma ingrata sabia? - diz chateado - deveria ter deixado que todo mundo te visse nua ontem a noite, acordarias essa manhã e verias um vídeo seu em todas as redes sociais, sua imagem ficaria manchada e seus pais decepcionados.
Mas porquê está zangado? Eu nem fiz nada, esse senhor deve ser louco.
- não vai falar nada? Consegui deixar a Vicenta William Borges sem palavras? Nossa! Isso merece uma comemoração - disse com ironia.
- até na quinta-feira senhor - dei as costas.
- te espero amanhã na sala dos Professores - foi a última coisa que ouvi antes de sair do seu apartamento.
Essas são as consequências da bebida, além de te deixar sem as suas excelentes faculdades mentais, ela te incentiva a fazer coisas que se estivesses lúcida com certeza não o farias. É difícil acreditar que estive ao ponto de tirar os meus trajes na frente de todo mundo, porquê foi beber daquele jeito Vicenta? Porquê se expôs tanto assim? O que teria acontecido se o senhor Stefan não tivesse chegado? As pessoas iriam filmar tudo e depois iriam postar na internet, minha reputação ficaria zerada e meus pais com certeza me mandariam para um internato distante deles e de todo mundo, sei que deveria agradecer a ele por ter cuidado de mim, mas o meu orgulho e principalmente a raiva que estou sentindo por ter me tocado, por ter tirado as roupas do meu corpo, por ter me visto seminua, não deixam que eu faça isso, preciso dormir e pensar com muita calma, talvez assim eu consiga agradecer a ele.
Depois de estacionar o carro na garagem da mansão dos meus pais e que futuramente será minha, a Natália e eu entramos na sala de estar e tivemos uma surpresa e tanto, os responsáveis por nós voltaram e estão olhando para nós com cara de poucos amigos.
- ONDE DIABOS VOCÊS ESTAVAM? - ouvir gritos pela manhã é uma das piores coisas que existe.
- não somos mais crianças e sabemos cuidar muito bem de nós mesmas - falei calmamente.
- porquê saiu com o meu carro Vicenta? - perguntou mais calmo.
- me deu vontade - dou de ombros.
- porque te deu vontade - riu sem humor - a gente terá uma conversa séria depois.
Isso não é nada bom.
- porquê desligou o celular filha? - minha madrinha aproximou-se da Naty - estávamos preocupados com vocês - tocou o rosto dela - porquê se comportam assim?
- agora não mãe! - me puxou pelo braço e seguimos para o meu quarto, porém antes ouvimos do meu padrinho:
- estas adolescentes estão ficando cada vez mais rebeldes.
A viagem deles foi muito rápida, pensei que voltariam uma semana depois, mas pelo visto estava enganada.
- me explica toda aquela conversa estranha que tiveste com o Professor!
- quando você acordou estava com qual roupa no corpo? - sentei na cama com os pés cruzados.
- com o meu vestido - então a azarada apenas fui eu? Porquê pai?
- acordei de manhã com a camisa do senhor Stefan Naty - lamentei - ele me trocou e me viu praticamente nua - passei nervosa a mão no meu rosto.
- NÃO BRINCA MULHER? - há um sorriso largo nos seus lábios - aquele gostosão encarou os seus seios? - me olhou maliciosa e eu senti fogo nas minhas bochechas - as suas coxas? A sua bunda? Que sortuda você é.
- eu não estou ouvindo isso - balançei a cabeça em negativa - você pelo menos escutou o que eu disse?
- claramente girafa.
- não sei como irei encará-lo no colégio depois disso.
- nunca foste tímida, olhe pra ele naturalmente.
- tudo deixou de ser natural desde o momento que ele me viu sem roupa.
- mas não tocou em você.
- é a mesma coisa baixinha.
- não, não é, já já ele esquece o que viu.
Mas e se eu não esquecer? Toda vez que encarar o Professor de história irei lembrar que seu olhar já parou sobre o meu corpo, a minha pele e as minhas partes íntimas. Sei que o meu rosto ficará igual um tomate assim que nos encontrarmos amanhã, tentarei agir na defensiva e talvez assim a vergonha se afaste de mim por uns minutos. Nunca mais irei beber daquela maneira, foi pura sorte do destino ele ter ido no mesmo bar que eu, meu Professor foi meu salvador e por mais que não queira admitir isso em voz alta, é a verdade.
Acordar às cinco e trinta é sempre difícil e acho que nunca irei me acostumar com isso, meus olhos ainda estão sonolentos e uma preguiça maluca não quer sair do meu corpo, se eu pudesse mudaria de horário, mas para o meu desgosto as quatro turmas do último ano do ensino médio entram de manhã e é impossível trocar a hora de entrada. Levantei da cama com vontade de chorar e entrei no banheiro, tomei um banho de mais ou menos vinte minutos e saí de lá como uma nova pessoa. Passei creme por todo o meu corpo e vesti o meu uniforme colegial, fiz um coque desajeitado no meu cabelo, uma maquiagem leve e fui para a cozinha. Comi um pouco de tudo que há na mesa e assim que terminei segui para o colégio.
Tenho mesmo que ir me encontrar com ele na sala de Professores? O que quer de mim? Nós falamos na sexta-feira e eu já entendi que não devo lhe desrespeitar e é isso que pretendo fazer de agora em diante, mas para isso acontecer ele precisa me ajudar também, se o senhor Stefan me irritar não hesitarei em mandá-lo para o inferno e para o bem dos dois é bom nos entendermos logo.
Entrei na sala e algumas pessoas já se fazem presente, incluindo a Natália que está mexendo o seu celular. Sentei no lugar de sempre e tirei o meu material.
- como está baixinha?
- bem e você girafa?
- ah Natália, esse apelido não.
- é fofo, eu gostei.
- estou vendo - revirei os olhos.
- hoje irás falar com o senhor Stefan, certo?
- sim, infelizmente - suspirei derrotada - estou morrendo de vergonha amiga e a culpa disso tudo é sua - apontei um dedo para ela.
- como assim minha culpa mulher?
- você insistiu que eu te ajudasse a acabar o whisky.
- não pensei que fôssemos terminar na casa do Professor, sinto muito!
- tudo bem, na verdade a culpa é minha também, estava conduzindo e ainda assim não hesitei em me embebedar.
- nunca mais iremos beber daquela forma.
- para o nosso próprio bem é melhor mesmo - sorrimos.
- bom dia alunos - a Professora Luciana entrou na sala com uma mochila preta nas costas - abram a página oito dos vossos livros e comecem uma leitura silenciosa.
A aula de português passou muito rápido para a minha infelicidade e quanto mais os minutos passam, mais a sensação de pânico se apodera de mim, o tempo está voando e isso não é bom, daqui a algumas horas irei procurar o meu Professor de história e isso apenas me deixa nervosa, não sei o que fazer para escapar disso e sinceramente falando acho que não tenho outra alternativa a não ser ir vê-lo.
Estou no refeitório com a anã ao meu lado e confesso que não estou entendendo o que ela está dizendo, meus pensamentos estão em outras galáxias e não sei o que fazer para voltar ao planeta terra.
- está me ouvindo? - seu tom de voz é chateado.
- não, me desculpe!
- relaxa amiga, ele não irá te morder.
- sua louca - sorrio.
- oi meninas - Naty revirou os olhos assim que Jackson chegou na nossa mesa - como estás meu amor? - estendeu a mão pra mim e eu a peguei.
- bem e você?
- também - aproximou os seus lábios dos meus e me deu um beijo demorado - como foi o final de semana? - é melhor nem saberes querido.
- óptimo e o seu?
- bom, mas senti muitas saudades - disse cheirando o meu pescoço.
A aula de literatura chegou ao fim muito rápido e aconteceu o mesmo com a minha disciplina favorita, Biologia. Não consegui prestar atenção no que o Professor Maurício estava explicando e ele percebeu, pois perguntou se estava tudo bem comigo e eu tive que dizer sim mesmo sabendo que não era verdade, minha mente só pensava no constrangimento que terei de passar assim que der de cara o senhor Stefan e isso não me deixava se concentrar em nada. Preciso ficar calma, mas é difícil quando tens que enfrentar um Professor que te viu nua, nunca irei superar isso e se eu pudesse sairia deste mundo somente por uns mês.
Estou em frente a sala dos Professores e mais uma vez a vergonha e o nervosismo invadem o meu ser, sei que devo conversar com ele sobre algumas coisas, por isso, respiro fundo e giro a maçaneta.
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Atualizado até capítulo 112
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