MAXIMUS

Depois de meses viajando, Maximus Figueira acaba de chegar na Fazenda Preciosa, herdade que pertencia a sua família por muitas gerações. Como filho mais velho, havia herdado do seu pai a propriedade e a responsabilidade de dar continuidade ao legado e história da família.

Sempre fora criado para ser objetivo e racional, para jamais colocar seus sentimentos à frente da razão. Sua família era assim: poderosa, rica e fria, muito fria. O único que se rebelava contra essa tradição era seu irmão Daniel, que jamais admitiu ser controlado e há anos percorria o mundo em busca de aventuras.

Maximus o considerava um fraco e egoísta, pois embora não fosse o primogênito, também deveria assumir suas responsabilidades em manter o império da família.

...“Impérios não são feitos de amor, mas sim de força, trabalho duro e coragem”....

Maximus cresceu ouvindo essas palavras de sua avó e elas rotineiramente ecoavam em sua mente.

Essa sempre foi a missão de sua vida: trabalhar para que o nome de sua família fosse perpetuado. Por isso aceitou, desde a infância, a ideia de se casar com Ivana Lins Tiossi, suas famílias trabalhavam por essa união desde que nasceram, pois quando ela acontecesse, se tornariam a família mais poderosa do estado.

Apesar de ser muito bonita e educada, ela jamais havia despertado nele qualquer sentimento romântico ou atração física e ele já havia percebido que a recíproca era verdadeira: Ivana jamais havia se apaixonado por ele, mas era igualmente comprometida com sua família.

Todas as vezes que estiveram juntos se trataram cordialmente, até mesmo quando dormiram juntos foi algo sem sentimento, quase que como uma obrigação. Então combinaram de viverem suas vidas livremente, até que quando ela completasse trinta anos, se casariam a fim de não terem problemas em gerarem herdeiros.

Faltavam apenas cinquenta dias para o retorno dela, depois disso marcariam a data do casamento. Pela ansiedade de suas mães, aconteceria o mais breve possível.

Até onde sabia, ela estava viajando pela Itália com um namorado, mas em breve precisaria dizer adeus e se tornar a sua esposa. Enfim, eles formariam o império Tiossi-Figueira, unindo a Fazenda Riacho Doce à Fazenda Preciosa, se tornariam a maior Fazenda do Estado e a quinta maior do país. Além de aumentarem a parceria entre as outras várias empresas das famílias.

Era tarde da noite quando adentrou os portões da propriedade. Ele havia avisado que chegaria no dia seguinte pela manhã, mas resolveu antecipar sua chegada. Ao entrar na sede da fazenda, percebeu que haviam luzes ligadas e um som de música ambiente.

“Mas o que está havendo aqui? Todos sabem que não gosto que venham à sede sem autorização. Aqui tem muitas coisas de valor da minha família. ”

Ele caminha sem fazer barulho, disposto a pegar o invasor em flagrante. Se fosse algum funcionário que estava aproveitando sua ausência para fazer uma festinha particular, certamente o demitiria por justa causa.

Quando chega à sala se depara com uma cena que jamais esqueceria: uma linda mulher, que estava sentada aos pés da lareira da sala, ouvia e cantarolava tranquilamente a canção Falando de Amor, de Tom Jobim, enquanto pintava um esboço do que parecia o entardecer na fazenda:

...Se eu pudesse por um dia,...

...Esse amor essa alegria...

...Eu te juro te daria...

...Se pudesse esse amor todo dia...

Ele se aproxima sorrateiramente e ela, completamente concentrada no que fazia, não o percebeu. Ele para atrás dela e admira o desenho em suas mãos.

“Hum... interessante... bonita, talentosa e tem bom gosto musical, poderia até perdoar o seu atrevimento. ”

Cansado de esperar que fosse notado, Maximus limpa a garganta, conseguindo, enfim chamar a atenção dela. Espantada, ela se põe de pé num pulo e o encara com os olhos esbugalhados e arfando muito. Vendo que a tinha assustado, ele ergue as mãos num gesto conciliador e vai até o aparelho de som e o desliga.

Açucena, mesmo assustada, ficou embevecida com o estranho a sua frente: ele era alto, deveria ter um metro e noventa ou mais, porte atlético. Sua beleza era rústica e máscula: seu cabelo cuja cor permeava entre o ruivo e o loiro acobreado, intensos olhos azuis, maxilar quadrado com uma linda covinha. Seu olhar era gélido e despertou nela emoções que nunca havia experimentado: sentia um misto de medo e excitação diante daquele belo exemplar de beleza masculina.

“Uau, você é o homem mais másculo que já vi! ”

De repente, ela sentiu borboletas no estômago. Foi tomada por uma sensação de arrebatamento e percebeu-se estranhamente atraída por aquele completo desconhecido.

-Quem é você? – Ela o interroga enfim.

Ele dá um sorriso cínico e cruza os seus braços a olhando dos pés à cabeça.

- Creio que eu deveria fazer essa pergunta, já que está tão à vontade na residência da minha família.

Açucena o olha confusa, então lhe pergunta:

- Residência da sua família? Por acaso é parente do senhor Maximus?

Ele apenas balança a cabeça e responde em tom de deboche:

- Por acaso EU SOU o senhor Maximus.

Açucena sente-se envergonhada e suas bochechas queimam. Ela ajeita seus cabelos e se lembra que está de meias, pantufa e usando um pijama dos Ursinhos Carinhosos. Ela cruza os braços na vã tentativa de cobrir a estampa da sua blusa.

-Ah, sério? Puxa, pensei que fosse diferente... – ele a encara curioso, e ela tenta se explicar. – Quero dizer, pensei que fosse idoso... quero dizer... mais velho.

“Oh, meu Deus, será que o meu cérebro parou de funcionar no instante em que o vi? Ele vai pensar que sou uma tonta. ”

Maximus ri diante de toda a confusão dela, mas ainda mantendo a expressão impassível.

-E por que você pensou isso?

Açucena esfrega as mãos uma na outra tentando se acalmar.

- Bom, como é o responsável pela propriedade imaginei que fosse um senhor de idade, afinal é muita responsabilidade, não é mesmo? – Ela sorri para ele, mas é ignorada, então Açucena tenta mudar o foco da conversa: - Enfim, isso não é importante. Deixe-me apresentar-me: o meu nome é Açucena, serei sua cozinheira durante o próximo mês.

Ele a mede da cabeça aos pés e faz uma expressão de ironia.

-Açucena, como a flor?

Ela assente e ele continua:

-Lindo nome. Você também não é o que eu esperaria de uma cozinheira.

O tom sedutor dele a faz estremecer. Açucena não sabia o que estava acontecendo, mas ele parecia um ímã que a atraia para si.

“Calma novinha, vê se não dá bandeira. “

Ela se lembrou da função que veio desempenhar ali e pergunta:

-O senhor está com fome? Gostaria de comer alguma coisa? Eu posso preparar...

Ela é interrompida por ele, que responde maliciosamente:

- Sim, gostaria de comer algo, mas creio que seria indelicado dizer o que é.

“Poderia me servir de você, Açucena, bem ali em cima daquela mesa, com certeza seria uma delícia. ”- pensou Max.

“Meu pai amado, com certeza ele não deve ter dito o que pensei que disse. Com certeza é coisa da minha cabeça. ” – Açucena balança a cabeça e tenta pôr os pensamentos em ordem.

-Para ser sincera, não o esperava hoje, mas se quiser, posso preparar algo.

Maximus caminha calmamente e pega o seu desenho. Açucena fica desconcertada e tenta pegá-lo de suas mãos, mas ele é mais rápido e evita que ela o tome.

- Esse desenho é do entardecer aqui na fazenda, certo? Parabéns, vejo que é bem talentosa. Me diz, o que mais tenho para descobrir de você, Açucena?

Ela está arrumando seus pertences, dá um sorriso tímido e diz:

- Não há muito, acredite. Sou uma pessoa bem comum.

- Você é linda demais para ser comum, Açucena. Mas não se preocupe, terei tempo para descobrir tudo o que eu quiser. – Ela o encara com ar de incompreensão e ele muda de assunto: - Que tal preparar algo como um sanduíche natural? Já está tarde e uma refeição leve cairia bem.