ERIC
— Sábado — balbucio, entre um bocejo. Ainda estou com sono, porém, hoje tenho um “compromisso”. Vou à casa da Maiy, para fazermos nosso trabalho.
Levanto-me da cama e vou direto para o banheiro.
— Hoje, o dia vai ser muito chato!
***
Pego minha mochila, o celular, e me certifico de que minha aparência está boa, olhando-me no espelho.
— Um gato, hein! — me elogio. A Maiy vai ficar louquinha por você! — penso. Mas logo em seguida, me repreendo por isso.
Saio do meu quarto. Tenho que passar despercebido pela minha mãe e a chata da minha irmã. Quase impossível. Zero por cento de sucesso.
— Está de saída, Eric? — minha mãe pergunta, intrigada. — Tão cedo…
— Tenho… — balbucio. Sem saber como terminar. Minha mãe me fita, tento falar, mas as palavras não vêm.
— Trabalho de escola?
Assinto com a cabeça. Estou nervoso. Por que estou nervoso? — me repreendo em pensamento.
— Tá animadinho, hein, Eric! — Elisa exclama, de forma maliciosa.
— E por que eu estaria? — retruco.
— Você vai ficar sozinho com a sua crush — ela sorri, de modo maldoso.
— Cala a boca, Elisa! — disparo, irritado. O que eu digo, se torna algo engraçado pra ela, que solta uma gargalhada.
— Não é verdade? A Maiy é sua crush, afinal — novamente, o olhar desafiador e o sorriso malicioso. Isso me irrita tanto! — Admite logo!
— Não tem nada melhor pra fazer, idiota? — exasperado, digo.
— Nada de brigas! — nossa mãe nos fita, de modo que me deixa desconsertante.
— Tsc! Não tenho tempo pra brigar com você mesmo. — digo e, sem rodeios, me retiro do local.
Saio de casa. A passos largos, vou em direção a casa da Maiy. Conheço muito bem o caminho. Temos que trabalhar juntos constantemente, por isso, sempre vou à sua casa. Ela mora sozinha, então, é melhor fazermos os trabalhos lá.
Não vejo a hora de terminar esse trabalho! — bufo.
Não demoro muito para chegar. Já estou em frente a casa dela. Só preciso tocar a campainha e pronto, estaremos frente a frente. Frente a frente. — suspiro. Fico nervoso quando passo por isso, quando temos que ficar frente a frente, sozinhos. A presença dela me deixa constrangido.
Por fim, resolvo que é melhor chegar ao fim desta agonia. Toco a campainha. Alguns segundos depois, escuto alguém destrancar, e abrir, a porta.
Maiy!
Ela surge na fresta da porta. Nossos olhares se cruzam e ela desvia o olhar, percebo que ela se sentiu constrangida. Como eu fico. Há um momento breve de silêncio entre nós, até que ela me convida para entrar.
Depois que passo pela porta, ela me olha e vejo que está inquieta, seus olhos demostram preocupação. Apesar de tentar esconder suas emoções, posso, com muita facilidade, saber o que ela sente, consigo entendê-la. Pra mim, ela não é tão misteriosa assim, porém, nem sempre consigo compreendê-la.
— Eric — ela me fita. — Por favor — consigo sentir seus olhos implorando. —, nada de discussão hoje!
Quero dizer que ela não precisa se preocupar com nada. Que não me olhe deste jeito, eu me sinto mal ao vê-la me olhar desta maneira. Mas, tudo o que sai da minha boca é um:
— Relaxa! Quero terminar logo! — minto.
Pra falar a verdade, quero que demore.
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MAIY/ERIC
— Eric, você fica com está parte aqui — lhe entrego o resumo do que ele irá explicar. — Presta atenção em tudo!
— Eu sei, eu sei! — ele bufa. — Para de me tratar como um idiota que não sabe de nada!
Bom, ele é um idiota mesmo!
— Me dá aqui, eu sei o que fazer! — ele tira, abruptamente, o papel de minhas mãos.
— OK — digo, um pouco indignada pelo modo como ele agiu.
De surpresa, meu adorável amigo de quatro patas surge. Ele solta um miado alto, como se dissesse: “Ei, estou aqui!”
— Rick! — Eric exclama, aparentemente, alegre. — Ah! Então é você, né, malandrinho? — ele pega meu adorável amigo no colo e o acaricia. Me surpreendo.
— Desde quando você gosta de animais? Especificamente, do Rick?
— Não posso me dar bem com ele, não? — ele fala, como se fosse algo natural ele gostar do Rick.
— Ele é um bom gatinho — Eric o acaricia e ele ronrona. — Não tem como não gostar dele!
Me dou ao luxo de contemplar aquela adorável cena. Eric brinca com Rick, o acaricia, e sorri quando Rick ronrona e estica as patinhas. É uma cena incrivelmente fofa. Gostaria de guarda aquela imagem para sempre, em minha mente.
— Gostaria de ter uma câmera agora! — solto. Observando os dois. Eric para, e me fita. Rick também posiciona seus belos olhos negros sobre mim. Não creio que disse algo de errado. Eric sorri e desvia o olhar. Percebo que, além de ter compreendido o que eu disse, ele também gostou.
***
À tarde, estava deitada no sofá. Eric já havia ido embora. Me pergunto o que pode ter acontecido, por que ele estava sendo… suportável? Não acredito que alguém possa mudar do dia para noite, mas se isso ter acontecido? Se ele estiver mesmo mudado?
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Já estou em casa. Agora, estou em minha cama. Até me surpreendo, mas… estou pensando na Maiy! Na manhã que tivemos juntos. Admito, é muito bom quando nos entendemos.
— Eric? — ouço minha irmã me chamar. Quando ela entrou no quarto?
— O que foi, Lane? — pergunto.
— Mamãe pediu para eu te chamar.
— Está bem. Fala pra ela que eu já vou — digo. Porém, meus pensamentos estão longe. Estou relembrando desta manhã.
— Está... — ela balbucia. Se aproxima de mim e me fita. — Está pensando em que, maninho? — me pergunta, curiosa.
— Nada! — digo, automaticamente.
Na verdade, estava, sim, pensando em algo.
Foi legal, admito! Ela é dedicada, preocupada demais, mas sempre está com aquele olhar distante. O que será que ela está pensando quando fica desse jeito?
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ERIC
— Terminamos! — Maiy exclama.
— É! — confirmo, sorrindo.
— Desta vez, não foi tão desagradável fazer o trabalho com você! — admite, de modo travesso.
— Cala a boca! — exclamo, rindo.
— Cara, tô morrendo de fome! — digo, ao ouvir minha barriga roncando. — Tem alguma coisa pra comer?
— O que você quer comer? — ela pergunta e isto me faz pensar em coisas inapropriadas.
Se ela soubesse o que pensei... — penso, agradecendo por ela não conseguir ler meus pensamentos.
— Então? — ela me fita.
— O que tem pra comer? — pergunto.
— Ainda não fiz compras, então, poucas opções.
Vamos até à cozinha. Ela abre a geladeira e percebo que, realmente, não há muitas opções.
— Frutas e sorvete. Únicas coisas. O que você quer?
— Num calorzinho desse, o melhor é sorvete — respondo, sorrindo para ela e, de uma forma realmente sexy, ela sorri de volta.
Quando começamos a comer, sinto vontade de conversar com ela. Saber sobre sua vida. Nós não costumamos conversar depois de concluir um trabalho escolar, porém, desta vez, as coisas estão diferentes. Estamos nos entendendo. Conseguindo manter um bom diálogo. Decido, enfim, saber mais sobre ela.
— Você… — balbucio. — mora aqui a quanto tempo?
— Por que a pergunta? — ela fica curiosa com a minha súbita indagação.
— Sei lá. Curiosidade? Talvez…
— Estou morando aqui a três anos, na cidade, cinco - responde.
— E os seus pais? — pergunto, inclinando-me em sua direção.
— Eu não tenho pais — ela faz uma breve pausa. — Não mais.
— Desculpa! Acho que não devia ter perguntado — demonstro meu arrependimento por ter feito a pergunta.
— Tudo bem! — afirma, com um sorriso triste na face.
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MAIY
À noite, estava sozinha em casa, como sempre. Eric já havia ido embora há algumas horas. Fico surpresa ao perceber que sinto falta dele. Passamos um bom tempo conversando. Sinto que ele é alguém diferente, que não é o mesmo que costumava implicar comigo. Posso estar enganada, claro.
Meu celular começa a soar um alarme, alto e forte. Ligação? Sim, tenho certeza. Pego meu celular, fito a tela inicial. Tia Lane!
Atendo. Depois de longos minutos, enfim, ela desliga.
— Por que ela se preocupa tanto? — pergunto, em voz alta.
Após terminar o jantar, escuto meu celular tocando novamente. Imagino que seja minha tia, dizendo que já está quase chegando. Porém, ao pegar o celular e fitar a tela inicial, percebo que, na verdade, a chamada é de Eric. Por que ele me ligaria?
Atendo.
— Eric? — digo, em busca de uma resposta. Ele ligou por engano para mim?
— Desculpa por estar ligando assim, tão de repente… — ele balbucia.
— Você ligou por algum motivo, não foi? — digo, querendo que ele se explique.
— Eu — balbucia. — queria saber se você viu alguma coisa minha por aí?
Como assim? Me ligou apenas por isso? Sério?
— Exatamente, o quê?
— Ah! — ele exclama. — Deixa quieto! Acho que eu não esqueci nada. — percebo decepção em sua voz.
— Se caso, eu encontre algo, aviso.
— Tá!
“Chamada encerrada”
— Estranho! — me sento no sofá — Ele não ligaria apenas para perguntar isso. Qual seria o real motivo da sua ligação?
Alguns minutos depois, alguém toca a campainha. Sei muito bem de quem se trata.
Abro a porta.
— Oi, filha! Como você está?
Tia Lane!
— Estou bem — digo e tento sorrir.
— Estava muito preocupada com você! — ela exclama, entre um abraço e outro.
— Você tinha, constantemente, notícias minhas. Não precisava se preocupar.
— Eu sei, florzinha. Mas você deve entender como uma mãe se sente! — ela me lança um olhar solidário.
Assinto com a cabeça. Ela não é minha mãe, mas cuida de mim como se fosse. Às vezes, me pergunto se ela se sente culpada pela morte dos meus pais, culpada por eu ser órfã. Por que ela se culparia? Talvez porque ela não estava comigo, ou com meus pais, quando eu e eles precisávamos.
— O Diego não vai demorar muito para chegar, enquanto isso, vamos colocar nossa conversa em dia! — exclama, sorrindo.
Ela me conta que ouve um incidente na casa deles e eles irão ficar em um apartamento, provavelmente. Conto a ela sobre a escola. O trabalho. E ela me conta sobre a viagem dela e tudo mais. Para a minha sorte, não demora tanto e o tio Diego aparece.
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Eu, minha tia e o tio estávamos na sala. Conversávamos sobre o que aconteceu nos últimos dias, até que, a campainha soa.
— Está esperando visita, filha? — tia Lane pergunta, intrigada.
— Não! — afirmo. Vou até à porta e a abro. Para minha surpresa, alguém que eu não gostaria de ver, está do outro lado da porta.
— Oi! — Lucas exclama, sorrindo. — Desculpa não ter avisado que viria. Eu preciso conversar com você!
— Tudo bem — digo, inclinando-me para frente, fechando a porta atrás de mim. Ficamos encostados em seu carro.
Ele começa a se explicar:
— Sei que fui um completo idiota com você. Eu não deveria ter feito aquilo. Me desculpa! — ele inclina a cabeça para baixo, fitando o chão. — Eu não sei o que deu em mim. Passei dos limites — faz uma breve pausa, me fita e continua: — Você pode me perdoar? Prometo que isso jamais voltará a acontecer!
Devo perdoá-lo? A atitude dele me ofendeu gravemente. Não posso simplesmente dizer que está tudo bem. Que perdoo o que ele fez.
Conversamos por alguns minutos e apesar de tudo, nos resolvemos. Está “tudo bem” agora. Eu sei, posso estar fazendo uma idiotice. Não deveria deixá-lo mais se aproximar de mim, porém, não farei isto. Tenho meus motivos.
— Você — ele balbucia. — sairia comigo hoje?
Não tive tempo para respondê-lo, minha tia surge na fresta da porta, nos fita. Saí de casa e não falei a ela sobre o Lucas. Ela deve estar chateada.
— Lucas? — ela se aproxima de nós. — O que você está fazendo aqui?
— Vim convidar a Maiy para sair — responde, de forma objetiva e imediata. Minha tia nos lança um olhar de reprovação, porém, logo, ela sorri e pergunta:
— Vocês estão namorando?
— Não! — afirmo.
— Não estamos, Lane. Quero sair com ela porque gosto de sua companhia. Me sinto sozinho, às vezes. — Lucas justifica, de forma triste.
— Acabamos de chegar, querida! — ela olha para mim, implorando para que eu fique. — Vai sair mesmo com ele?
Antes que eu possa responder, tio Diego surge, põe as mãos sobre os ombros dela e diz:
— Lane, você não pode ficar mandando nela. Ela não é criança. Deixa ela sair.
Quando eu me tornei uma adolescente que precisa de autorização para fazer algo? Há anos eu mesma cuido de mim, me sustento. Se não tenho meus pais, eu mesma devo tomar as rédeas da situação, carregar o fardo de que sou só. Que não tenho família. Não tenho uma mãe ou um pai para cuidar de mim.
Minha tia lança um olhar desesperado para seu marido. Ele tenta acalmá-la, usando seus olhos. Demonstrando eu seu olhar que está tudo bem. Ela não precisa se preocupar. Ela entende isso e abaixa a cabeça, depois, me fita e balbucia:
— Desculpe, florzinha. O Diego está certo — ela abre um sorriso triste. — Eu espero que você não demore para trazê-la de volta, mocinho! — exclama, fitando Lucas.
— Não se preocupe! — Lucas afirma. — Vamos, Maiy?
Quando aceitei sair com ele? Isto se tornou um mal-entendido. Eu não quero sair com ele, porém, agora, isto deve ser o melhor. Sei que minha tia e meu tio precisam de privacidade, já que não podem ir para casa agora. Depois dessa cena, o melhor, talvez, seja eu sair mesmo com o Lucas.
— Vou pegar meu celular, logo após, poderemos ir. — digo e Lucas sorri, satisfeito.
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Atualizado até capítulo 27
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