Three

MAIY

   “Quinta-feira, dia 29 de abril

                                            07:14 AM”

   Estou na sala de aula. Observo o que acontece do lado de fora, pela janela. O dia está frio. Cinza. O sol não quer nos iluminar hoje.

   Não terei um bom dia! — concluo em pensamento.

   Poucos instantes depois, a sala já está lotada. A professora entra, é uma mulher relativamente baixa, cabelos longos, escuros e liso; pelo modo que está agindo, percebo que há algo, ela está contente, noto em seus olhos, algo irá acontecer.

   A professora se prontifica no centro da sala. Chama a atenção de todos os alunos para si. Ela irá anunciar algo — penso.

   Percebo a inquietação da maioria dos alunos, eles também sabem que algo irá acontecer. A professora quebra o silêncio e fala:

   — Alunos — sua voz ecoa. —, vocês realizarão um seminário.

   O silêncio que reinava, é substituído por gritos de reclamações.

   — Hã? Seminário? — um garoto chamado Kaio pergunta, irritado.

   — De novo, professora? — André reclama.

   — Droga! — Kaio esbraveja.

   — Pensei que nós não íamos mais fazer isso! — Gabriel diz, como uma criança birrenta.

   — Silêncio, turma! — protesta a professora.

   — O tema do seminário será sobre o que estamos estudando. Comentei com a diretora sobre isso e ela disse que seria uma boa ideia vocês apresentarem para os alunos das outras classes. Estaríamos ampliando o conhecimento dos mesmos e mostraríamos nossos brilhantes alunos do último ano, em ação — a professora nos encara, com grande expectativa nos olhos.

   — Quer dizer, então, que vamos apresentar nosso seminário para os alunos das outras turmas? — Kaio resmunga, em voz alta. — Esse seminário vai valer, pelo menos, cinquenta por cento da nossa nota, professora?

   A professora o encara e depois de um tempo, responde:

   — Valerá mais que isso. Se vocês se saírem bem, posso considerar como até setenta por cento da nota. Sei que vocês conseguiriam esses setenta por cento muito fácil — completa a professora, demonstrando confiança em seus alunos.

   A sala é tomada novamente pelo silêncio e a professora continua:

   — Vocês farão o seminário em duplas ou trios. Cada equipe apresentará e explicará um tópico do nosso assunto — ninguém diz nada, além da professora.      — Escolhi as duplas e trios. Já que não há problema, irei anunciar as equipes — a professora senta-se em sua cadeira, pega uma lista de nomes que estava em sua mesa e começa a falar, mantendo seus olhos fixos no papel e em nós:

   — Pedro e Camila — ninguém reclama. —; Júlia e Gabriel — sem reclamação. —; Júnior, Sofia e Vanessa — o silêncio permanece. — ; Augusto e Carol — a professora nos encara, achando que alguém abrirá a boca e protestará, mas ninguém faz isso e ela continua: -; Lauany, André e Laisa; Kaio, Cristina e Samuel; Vitor e Keila; Larissa e Beatriz — até o momento, o silêncio dominava a sala, mas no momento em que a professora anuncia que a Larissa fará dupla com a Beatriz; Beatriz com os punhos cerrados, soca a mesa e protesta:

   — Por que eu e a Larissa? Não posso fazer dupla com outra pessoa?

   A professora fixa os olhos em Beatriz; depois de um longo tempo, a responde

    — Beatriz, você terá que aceitar sua dupla. Decidi que você e a Larissa seria uma dupla e será assim. Não irei tolerar reclamações! — sua voz é firme, sombria e até arrepiante. Faz Beatriz ficar muda, não tem mais nada para dizer, apenas se senta em sua cadeira e permanece quieta. A professora continua:

   — Por fim, nossa querida dupla, que a própria diretora ordenou aos professores que sempre os mantivessem juntos: Eric e Maiy.

   Apesar de mim e o Eric sabermos o motivo dos professores sempre nos manterem como uma dupla, ele não aceita.

   — Por que tenho que ficar com aquela garota? — Eric pergunta, irritado, mesmo sabendo a resposta.

   — Você sabe muito bem o motivo de vocês serem uma dupla.

   O que a professora diz, ecoa em mim. A lembrança da nossa primeira semana de aula surge em minha mente. Nossa primeira briga.

   Era uma sexta-feira, nosso último dia de aula da primeira semana. Estava saindo do refeitório, quando o Eric passou, esbarrando em mim. Ele me encarou e depois começou a esbravejar, exasperado. Mesmo eu não tendo culpa, pedi desculpas a ele, o que o deixou ainda mais irritado. Ao nosso redor, todos os olhares estavam voltamos para nós, o que me deixou constrangida. Um garoto de uma outra turma, vendo a cena, veio até nós e tentou acalmar o Eric, mas em vão. Ele não escutava ninguém. Quando me desculpei novamente e tentei sair, o Eric segurou meu pulso, forte, o garoto que estava tentando o acalmar pegou sua mão, Eric recuou um pouco, o garoto disse algo que não consegui ouvir direito e, então, o Eric ficou furioso e deu um soco em sua cara, o garoto caiu no chão. Eu e o Eric fomos para à diretoria, essa foi a primeira vez que fui para a diretoria, estava frustrada. A diretora, que fora muito gentil e educada, disse que como punição ao que aconteceu, falaria aos professores que todos as atividades que devessem ser realizadas por mais de um indivíduo, faríamos juntos. Nunca poderiam nos separar. Desse dia em dia, passamos a realizar vários trabalhos juntos. Somos uma dupla eterna, pelo menos, até estarmos na mesma turma.

   — Vocês são uma ótima equipe, caso não saibam. Se vocês se esforçarem um pouquinho, já farão um seminário extraordinário — ouço a professora dizer, encarando o Eric.

   — Em uma equipe com ela, não vale a pena se esforçar — Eric retruca.

   — Pô, Eric. Você não sabe valorizar o que tem! — irritado, Pedro resmunga.

   — Cala a boca, Pedro! — esbraveja Eric.

   — Ei, ei. Nada de discussão — a professora diz, mantendo sua voz de autoridade.

   O tempo passa demasiadamente rápido, logo, a sétima aula termina e começamos a ir embora. Escuto os meninos conversando, enquanto guardo meus materiais na mochila.

   — Vamo pra quadra? — Kaio pergunta aos outros rapazes.

   — Vamo! — escuto André responder. — Gabriel, Eric, Pedro, cês também vão, né?

   — Opa! Vou, sim — Pedro responde. — Cê vem, Eric?

   — É. Vou! — Eric responde.

   E assim, os rapazes saem da sala. Eu saio em seguida.

   Ao me aproximar do portão, percebo que há alguém lá fora, alguém que eu conheço.

   — Lucas? — digo em forma de pergunta. Sei que é ele, então, por que estou perguntando?

   — O que você está fazendo aqui? — o indago.

   Os rapazes que saíram da sala primeiro que eu, ainda estão na escola, vindo em direção neste momento.

   — Desculpa por vim sem antes tê-la avisado — Lucas diz, demonstrando sinceridade. — Necessitava vê-la. — completa, sorrindo para mim.

   Os rapazes passam por nós. Eric para entre mim e Lucas, por um segundo, e o encara, cravando seus olhos, demonstrando ira. Lucas não se importa, apenas o analisa e depois, com um sorriso maldoso na face, direciona seus olhos para mim.

   — Poderíamos- — neste momento, Lucas é interrompido por seu celular, que começa a tocar. O atende.

   — Sim, é ele mesmo — Lucas abafa o celular com uma mão e olha para mim.

   — Desculpa, Maiy, a gente pode conversar depois?

   — Tudo bem — respondo, me retirando do local.

   Alguns segundos depois de ter me afasto de Lucas, escuto passos em minha direção, me inclino para trás, observando quem está vindo. Até que Larissa chega até mim. Ofegante, diz:

   — Maiy… pode me acompanhar até a quadra?

   — O que você irá fazer? — retruco.

   — Vou conversar com a Bia sobre nosso trabalho — responde, ainda ofegante. — Pode ir comigo?

    — Tá — respondo.

   Caminhos por alguns poucos minutos e chegamos até a quadra de futebol.

   Muita gente. Muito barulho. Quero ir embora — penso. Mas não posso ir embora, apesar de estar incomodada.

   — Está cheio, né? — Larissa diz, olhando para mim.

   — Sim — digo, desviando o olhar.

   — Você pode me esperar aqui? Vou conversar rapidinho com a Bia.

   — Tudo bem.

   Ela sorri e sai à procura de Beatriz.

   Estou perto da entrada à quadra. Enquanto Larissa está conversando com Beatriz, estou observando os rapazes, que conheço, jogarem.

   Eric! — o observo. Ele joga bem.

   Percebo que Eric para um instante e me encara. Posso imaginar o que ele quer dizer, me olhando daquele jeito: “O que aquela idiota está fazendo aqui?” — Não consigo conter um sorriso ao imaginar o que se passa pela cabeça dele. O imagino irritado. Posso ver sua expressão, nitidamente, em minha mente. Não nos damos bem, mas devo admitir que sua expressão é super fofa quando está irritado. Por alguns instantes, sinto os olhos de outra pessoa em mim. Pedro. Ele olha para mim e sorri, como se perguntasse: “O que você está fazendo aqui? Você nunca vem nos ver jogar.” Tento sorri para ele, mas é em vão.

   Ainda estou observando os rapazes jogando, quando sinto duas mãos geladas segurarem meus ombros. Quando me inclino para trás, vejo Lucas. Ele fixa seus olhos em mim, sinto desconforto. Ele me puxa para perto de si, encostando nossos corpos um ao outro. Tento ao máximo sair de suas garras, mas ele não deixa. Está com um sorriso maldoso nos lábios e um olhar que me deixa com náuseas. Posso sentir minha pulsação oscilar. Quero correr; gritar; sair dos seus braços, mas não consigo. As palavras não saem. Não consigo me mexer. Sinto que Lucas irá forçar um beijo a qualquer momento. Até que então, escuto Larissa gritando:

   — PEDRO! A MAIY ESTÁ EM PERIGO! AJUDA ELA, POR FAVOR!

   Posso sentir inquietude ao meu redor. Um segundo depois, Eric surge. Em frações de milésimos, já não sinto mais as mãos pegajosas de Lucas me segurando. Ele está no chão. Eric deu um soco em sua cara. Foi tão rápido, meus olhos não acompanharam a ação. Sinto-me extasiada.

   — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEU IDIOTA? — escuto Eric exasperar.

   Lucas levanta-se, cuspindo sangue. Revida contra Eric. Dá um soco em seu rosto, o fazendo se inclinar para baixo, mas não cai.

   — Sai da minha frente, seu trombadinha! — Lucas retruca.

   Eric está ainda mais enfurecido, como nunca tinha visto antes. Não demora quase nada para se recompor e acertar outro soco em Lucas.

   — CALA A BOCA, SEU BABACA!

   Antes que Lucas revide novamente, Pedro, William e mais três rapazes aparecem, seguram Eric e Lucas. Pedro olha para mim, preocupado, e pergunta:

   — Você está bem?

   — Sim — respondo, finalmente conseguindo falar.

   Escuto William pedindo para Eric se acalmar. Olho para eles, quando Eric começa a falar, suas palavras ecoam.

   — VOCÊ NÃO VIU, WILLIAM? — Eric está furioso, como nunca. — ESSE DESGRAÇADO ESTAVA AGARRANDO ELA! — percebo seu ódio emanando pelos ares.

   — Fica quieto, idiota! — Lucas diz, cuspindo sangue. Como se o que ele fez, não fosse nada.

   — Vaza daqui! — Pedro diz. Suas palavras soam em forma de ameaça.

   Lucas encara Eric. Posso sentir seu ódio e frustração, quando diz:

   — Isso não vai ficar assim, seu trombadinha! — e vai embora.

   — Mauricinho de merda! — Eric diz, cuspindo sangue no chão.

   Estou mais calma.

   Em poucos passos, fico defronte à Eric. Não consigo esconder minha preocupação com ele. Posso sentir seus olhos em fúria, mas desta vez, seu olhar não é pra mim.

   — Obrigada! — me curvo, o reverenciando. Demonstrando minha sincera gratidão.

   — Eu faria isso por qualquer pessoa! — retruca.

   — Mesmo assim, obrigada! — estou realmente grata a ele e tento demostrar isso. — Sua boca está sangrando, deixe-me cuidar disso.

   — Não precisa! — resmunga, porém, de forma gentil.

   Consigo sorrir, de modo genuíno e digo:

   — Você pode deixar seu orgulho de lado, apenas desta vez?

   Pedro sorri e diz:

   — Vai com ela, Eric!

   Me impressiono quando Eric assente e me acompanha para fora da quadra.

...****************...

ERIC

A acompanho até chegarmos em uma casa que está abandonada, ficamos no alpendre. Ela se senta em um banco que há no local e com os olhos, demonstra que quer que eu sente ao seu lado. Me sento e pergunto:

   — O que cê vai fazer?

   — Cuidar dos seus machucados. Pensei que já soubesse disso — responde, de modo gentil.

   — Tsc! — esse é o único som que sai da minha boca. Não sei o que dizer, afinal, estamos aqui para ela cuidar de mim, dos meus machucados e pergunto algo tão idiota. Que idiota! — digo a mim mesmo, em pensamento.

   Quando ela tira da mochila uma garrafa com álcool e algodão, me sinto no direito de perguntar por que ela carrega isso na mochila. Mas não pergunto. Estou curioso? Estou. Vou perguntar? Claro que não! Engulo minha curiosidade.

   Ela começa a desinfetar meus ferimentos.

   — Está doendo? — ela pergunta.

   — Ai, ai, ai, ai… — sinto minha pele arder, como se estivesse pegando fogo. — Agora doeu um pouco. Vê se presta mais atenção no que você está fazendo! — digo, irritado. Pela expressão que ela faz, sei que não gostou do modo como acabei de falar. Odeio quando ela me olha desse jeito, sinto ódio de mim.

   — Vou ter mais cuidado! — afirma.

   Percebo que ela está com seus olhos fixos em minha boca. Afinal, é onde meu ferimento se encontra. Mas isso, de algum jeito, me faz querer beijá-la. Nossas bocas estão muito próximas, mas não vou beijar ela. Não agora, pelo menos.

   Enquanto ela estava desinfetando meus ferimentos, seus olhos se voltam para mim. Ela me encara, com aqueles belos olhos castanhos. Me deixa constrangido. Fico com vergonha e percebo que ela também fica. Estamos corados.

   — Tá! Já está bom, me deixa agora! — digo, afastando-me.

   — Hã? — ouço apenas isso de seus lábios, enquanto me afasto.

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