Luíze
A rotina já me sufoca, mas o que realmente consome minhas energias é a presença constante de Katherine — minha chefe. Arrogante, prepotente e viciada em exercer poder, ela parece tirar prazer em humilhar cada um de nós.
Infelizmente, precisamos do salário. E onde moramos, oportunidades não aparecem com tanta facilidade.
Engolimos o orgulho. Aceitamos calados. Porque no fim do mês, o aluguel e as contas não esperam.
Vintchenzo
Acordo com o cheiro adocicado de perfume barato impregnando meus lençóis de seda. Ao meu lado, uma das mulheres que costumo usar para satisfazer meu desejo momentâneo já está se vestindo, sem sequer olhar para mim.
Ela sabe que aqui não há espaço para afeto. Não dou carinho. Não faço promessas. Apenas uso, pago e viro a página.
Sou assim. Frio. Direto. Sem tempo para sentimentalismos baratos.
Levanto-me e sigo para o banheiro. A água gelada me desperta, mas não me purifica.
Não existe redenção para quem carrega o sangue como herança.
Minutos depois, estou no elevador, descendo rumo à garagem. Minha Bugatti preta me espera como uma extensão do meu poder. Ao volante, sigo em direção à empresa da família — uma fachada limpa para os negócios sujos da máfia.
A importação de eletrônicos é só uma cortina elegante para o que realmente somos.
E eu? Sou o presidente. O nome mais temido entre os nossos. O herdeiro direto da linhagem Montes.
Assim que piso na sede da empresa, dou de cara com ele: meu pai.
— Bom dia, filho — disse Antony.
— Bom dia, pai — respondi, sem esconder o desânimo na voz. — O que está fazendo aqui?
— Só passei para lembrar que hoje é o dia da reunião com o conselho.
Revirei os olhos e soltei um suspiro impaciente.
— Se eles acham que vão me dizer como conduzir minha vida, estão redondamente enganados.
— Você sabe muito bem, Vintchenzo… Na máfia, todos têm deveres. Você é o Don agora. Precisa construir uma família, garantir a continuidade da nossa linhagem. Ou você encontra uma esposa… ou eu escolherei uma para você.
— Não me venha com essa ladainha de tradição. Mais do que ninguém, você sabe o quanto me dedico a isso. Mas casar por imposição? Não. Não aceito isso.
— Casar, meu filho, não é um castigo. É só mais uma jogada no tabuleiro. Simples, prática, necessária.
— Fique tranquilo. Se é um casamento que você quer, pai… então você terá um.
— Assim espero. Bem, já vou indo. Te vejo mais tarde, ok?— Ok, pai. Até mais.
Ele se afastou, e eu fiquei parado, encarando o vazio por alguns segundos.
Casamento...
O que esse pai ainda não entendeu é que, se ele quiser uma noiva, eu escolherei a que me convém.
E ela será apenas mais uma peça no meu jogo.
Luíze
Depois de mais uma manhã suportando os comentários ácidos de Katherine, respiro fundo e me forço a sorrir para os clientes. O restaurante está cheio, e a correria me impede de pensar demais.
Mas por dentro... tudo aperta.
— Mesa três, Luíze! Anda logo! — grita Katherine, do balcão, com sua voz estridente.
Engulo em seco. Pego o bloco de anotações e sigo com a bandeja equilibrada nas mãos. A cliente me olha de cima a baixo, revirando os olhos como se eu fosse invisível. Sorrio mesmo assim.
Estou acostumada.
No intervalo, sento nos fundos do restaurante, perto das caixas de papelão. É o único lugar onde consigo ter cinco minutos de paz.
Meu peito aperta. Não respondo de imediato. Apenas encosto a cabeça na parede e deixo o cansaço me dominar por alguns segundos.
Preciso de outro emprego. Preciso de dinheiro.
Preciso sair dessa vida onde sobreviver é o único plano.
Vintchenzo
De volta à minha sala, observo a cidade do alto do prédio da empresa. Meus olhos percorrem os prédios como se cada um deles fosse meu. E, de certa forma, são.
Eu mando. Eu decido.
E ninguém me desafia.
— Don Vintchenzo — chama Raul, meu segurança pessoal, ao bater na porta. — O relatório das rotas chegou.
Aceno com a cabeça, pegando os papéis.
— Alguma movimentação dos rivais? — pergunto sem desviar os olhos.
— Apenas rumores. Nada concreto ainda.
Solto um suspiro baixo. Tudo sob controle. Por enquanto.
— Mantenha os homens em alerta. Se alguém tentar atravessar nossas rotas, quero saber antes mesmo que respirem errado.
— Sim, senhor.
Assim que ele sai, encosto-me na cadeira de couro e abro a gaveta. Lá dentro, uma fotografia antiga, já desbotada, repousa como uma sombra do passado.
Minha mãe. A única mulher que me conheceu por inteiro.
Fecho a gaveta com força.
Sentimentos enfraquecem.
E eu não posso me permitir isso.
Vintchenzo
À noite, a mansão onde moro está silenciosa. Meus homens rondam os corredores. Lá fora, os portões estão trancados como uma prisão de luxo.
Na sala de reuniões, meu pai me espera com um copo de uísque.
— Está decidido, Vintchenzo. O conselho quer um casamento. Uma aliança com outra família forte.
Reviro os olhos.
— Já disse que estou cuidando disso.
— Não é só sobre você. É sobre proteger o império que construímos.
— Eu sou o império, pai.
Ele me encara em silêncio. Sei que no fundo, ele tem medo de que eu me perca como tantos antes de mim. Mas isso não vai acontecer.
Eu não me apaixono.
Eu comando.
E a próxima peça que entrar nesse jogo… vai seguir as minhas regras.
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Atualizado até capítulo 69
Comments
Joselma Trajano
como sempre a máfia e sua leis.
2025-03-16
0
Maria Goreth Gomes da Silva
Começando a leitura dia 05 4 25
2025-04-04
0
Verônica Silver
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
2025-04-29
0