Desespero...

Capítulo 03

Depois do que aconteceu com Luka, ele foi levado para o hospital, onde recebeu tratamento por alguns ferimentos no corpo e um machucado profundo no pé direito.

— Olá, em que posso ajudar? — pergunta a enfermeira, segurando uma prancheta.

— Vim fazer alguns exames no meu sobrinho. Ele se machucou e parece estar com febre alta — diz Merry, visivelmente preocupada, apoiando as mãos no balcão.

— Claro... qual o nome do paciente?

— Luka, de... — começa Merry, mas é interrompida por Henrique.

— Skavronski. Luka Skavronski — responde ele com um olhar sério para a enfermeira.

— Henrique, Luka vai ficar bravo comigo...

— E por quê? Esse é o nome dele, não é?

— Sim, mas...

— Merry, não pode continuar mimando o orgulho do Luka. Ele precisa aceitar que é ucraniano, e que o sobrenome dele é esse!

— Hm? — Merry o olha confusa, mesmo sabendo o motivo da revolta.

Luka sempre se recusou a usar o sobrenome Skavronski — o nome do pai que tanto odiava. A família era temida por seus negócios obscuros com a máfia americana. Mesmo que muitos achassem serem apenas boatos, Luka sabia que era verdade. Por isso, repudiava tudo e todos ligados àquele nome.

Ele rejeitava qualquer bem ou herança da família paterna. Odiava o pai com todas as forças — não apenas por causa da morte da mãe, mas por toda a infelicidade que ele causara.

Camila e Luka eram irmãos por parte de pai. Tinham mães diferentes. Camila, a mais velha, era filha de Jade — ex-amiga da mãe de Luka e também a primeira amante de Caio, o pai deles.

Luka descobriu a traição aos seis anos, quando viu o pai e sua madrinha em um momento íntimo no escritório — enquanto sua mãe estava de cama, doente. Depois daquilo, começou a investigar o pai por conta própria e acabou descobrindo que Camila, sua melhor amiga de infância, era na verdade sua irmã.

Foi um choque. Uma descoberta dolorosa demais para uma criança. E ele guardou tudo em silêncio, temendo que a verdade destruísse Angélica, sua mãe — uma mulher pura, bondosa e sempre sorridente. Mesmo com tudo, ela nunca tratou Camila mal. Era carinhosa e acolhedora com todos.

Apesar de tudo, Luka e Camila continuavam próximos. Nenhum dos dois permitiu que os pecados do pai arruinassem o vínculo entre eles.

— Huf... ok então. Pode ficar de olho nele enquanto preencho esses documentos? — pede Merry.

— Claro — responde Henrique, pegando sua jaqueta e indo até o quarto onde Luka era atendido pelo médico.

— Hm... os batimentos estão normais, a pressão equilibrada e os reflexos bons — diz o médico, examinando Luka.

— Então não há nada de errado com ele? — pergunta Henrique, entrando pela porta.

— Não, nada grave. Apenas queimaduras causadas pelo gelo seco. O ferimento no pé é o que mais precisa de atenção — responde o médico, guardando os instrumentos.

— Valeu, Caleb — agradece Henrique, apertando-lhe a mão.

— Caleb? — Luka diz, surpreso, deitado na cama, recebendo soro.

— Sim... você me conhece?

— Não... deixa pra lá.

— É claro que conhece! É o Luka! — diz Henrique.

— Luka?! Luka Skavronski...

— Montero — corrige ele, seco.

— Luka! Nossa, foram só nove anos, mas parece uma eternidade!

— Digo o mesmo — responde Luka, contido.

Caleb o abraça animado, ignorando o jeito frio do amigo. Caleb sempre fora assim — não ligava para o temperamento difícil de Luka nem para as brigas com Henrique. Era carismático, leal e gentil com todos, o que fazia Luka respeitá-lo desde o início. Ele nunca se importou com os boatos sobre a família Skavronski.

— Não acredito! Os Valentes estão de volta! — diz Caleb, rindo.

— Você ainda chama a gente assim?

— É claro que chamo!

— Luka é o mais novo da turma, mas é mais adulto que você, Caleb — provoca Henrique, encostado na parede.

— Hahaha, verdade! — ri Caleb.

Luka dá um meio sorriso.

— Qual o problema? — pergunta, notando o olhar de Henrique sobre ele.

— Nada... é só que não via você sorrir desde que chegou aqui.

— Idiota — resmunga Luka, ainda com um leve sorriso.

— Não posso te culpar. Você mudou muito desde que foi embora.

— Isso até pode ser verdade, mas ele ainda é o nosso lindo e adorável Luka — diz Caleb, saindo da sala e fechando a porta.

— Ele continua o mesmo — comenta Henrique.

— É... algumas pessoas não mudam — responde Luka. — Mas fico feliz por ver que ele continua sendo uma boa pessoa. Ver o quanto cresceu é realmente bom.

— Você fala como se ligasse.

— E quem disse que eu não ligo?

— Eu disse.

— Você não sabe nada sobre mim.

— Então para de agir como se ninguém fosse importante! — diz Henrique, erguendo o tom.

Luka o encara, irritado.

— Olha só quem fala! Você não respeita nem a vida dos outros e ainda quer opinar sobre a minha? — rebate, surpreso quando Henrique se aproxima e apoia uma das mãos na cama, inclinando-se sobre ele.

— Só pra você saber, eu respeito sim a vida das pessoas. Mas você é quem não respeita a própria.

— É claro que respeito!

— Ah, é? Então por que nega tanto o seu sobrenome? — Henrique se aproxima ainda mais, encostando os lábios quase no ouvido de Luka e sussurrando, com uma voz rouca e provocante: — Então, Skavronski...?

— O... o quê...?

— Quem é que não tem respeito por si mesmo aqui, hein? —

Henrique se aproxima lentamente. Tão perto que Luka sente o calor da respiração dele roçar seus lábios. O coração de Luka acelera. Aquilo o confunde — e o atrai ao mesmo tempo. Ele não sabia o que Henrique pretendia, mas, por um instante, decide não recuar.

Antes que qualquer coisa aconteça, Merry entra no quarto.

— Luka, o médico disse que você estava melhor! — diz ela, e Henrique se afasta imediatamente.

— Henrique, você ainda está aqui?

— Sim. Vim me despedir desse idiota.

— O único idiota aqui é você — rebate Luka.

— Claro... muito obrigado por ajudar o Luka, Henrique.

— Não foi nada.

— Bom, quero te agradecer com um jantar lá em casa.

— Não precisa...

— Eu aceito — diz ele, sorrindo. — Se não for um incômodo pro seu sobrinho.

— O que acha, Luka?

— Hm... — Luka parece distante, ainda pensando no que quase aconteceu.

— Luka?

— O quê?

— O que acha?

— Tanto faz.

— Então está combinado.

— Huh... então tchau, Merry — diz Henrique, lançando um olhar perigoso a Luka e um sorriso de canto. — Tchau, Skavronski.

— Vai se ferrar.

— Huhum. — Ele sai, fechando a porta.

Logo em seguida, Shofi entra no quarto e o abraça, chorando.

— Luka... meu amor... — soluça entre lágrimas.

— Ai... minha linda... calma... —

— Desculpa — diz ela, enxugando o rosto.

— Agora você vai deixar de teimosia e vai logo à bruxa, não vai? — diz Camila, entrando com uma bolsa no braço.

— Não...

— Vai sim! Isso pra mim foi a gota d’água — diz Merry, furiosa.

— Tia...

— Nem adianta. Amanhã o Henrique disse que pode nos levar.

— Claro, ele não podia ficar quieto, tinha que se meter na minha vida.

— Luka, ele só está tentando ajudar.

— Eu não me lembro de ter pedido ajuda.

— Luka, não adianta discutir. Nós vamos, e ponto final.

— Hm... — Luka faz uma expressão de raiva. — Façam o que quiserem. — Ele se vira para o outro lado da cama.

— Vamos, Shofi.

— Tchau, amor.

— Huf... tchau.

Luka permanece deitado, virado para a parede, até que todas saem do quarto. Então, vira-se e fica encarando o teto, sentindo-se culpado pelo comportamento com Merry. Mas, ainda assim, estava determinado a não alimentar mais aquela loucura que o perseguia nos sonhos.

Ao cair da tarde, come uma sopa sem gosto. A única coisa boa era o pudim de creme da sobremesa. Depois, toma alguns analgésicos e fica olhando para o teto até apagar lentamente.

O frio o desperta.

Luka abre os olhos — está deitado sobre um chão úmido de terra, no meio de uma floresta escura. A neblina é tão densa que ele mal consegue ver os próprios pés.

O ar é pesado, o vento sussurra entre as árvores, e um cheiro podre de madeira molhada o envolve.

Cada passo que ele dá faz o som da lama se misturar ao de algo rastejando por perto.

O silêncio é antinatural. Nenhum grilo. Nenhum pássaro. Só o som de sua respiração — e o próprio coração batendo alto demais.

Algo o observa entre as sombras.

Estava frio. Luka estava descalço, no meio do nada, com a temperatura baixíssima. Ele olhava em volta, confuso, sem entender o que estava acontecendo. Encolheu-se, tremendo de frio, e começou a seguir uma trilha estreita entre as árvores.

O vento cortava o ar, balançando as folhas e levando-as consigo. A floresta estava calma, silenciosa — o único som audível era o do vento. Luka andava devagar, tentando manter a calma, mas o medo começava a crescer dentro dele.

De repente, viu uma enorme árvore no meio da trilha, bloqueando totalmente o caminho. Sem pensar muito, tentou subir nela para passar para o outro lado. Mas escorregou.

Quando se levantou novamente, sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Atrás dele, estava uma criatura encapuzada, de longos cabelos vermelhos e olhos amarelos que brilhavam no escuro.

De trás da criatura surgiram dois enormes lobos, dentes à mostra, babando de raiva. Cada um tinha um dos olhos completamente branco. Luka ficou paralisado de medo — e seu único reflexo foi correr.

Ele pulou da árvore e disparou floresta adentro. Corria sem direção, desviando das árvores, o coração acelerado, o ar queimando em seus pulmões. Quando olhou para trás, viu os lobos se aproximando — rápidos, famintos.

Luka continuou correndo até chegar a uma parte tomada por gravetos secos. Eles arranhavam sua pele, rasgavam sua roupa e se enroscavam em seu cabelo. Desesperado, ele se debatia tentando se soltar.

Tonto e apavorado, tropeçou no próprio pé e caiu no chão úmido e frio. Tentou se levantar, mas o solo começou a se mover. A terra grudava em seu corpo, puxando-o para baixo.

— N-não... — murmurou, tentando escapar.

Quanto mais se debatia, mais o chão o sugava, viscoso e pegajoso como cola. Luka gritou, mas o som foi engolido pelo nada. Então tudo escureceu.

Quando abriu os olhos, estava novamente no quarto do hospital. Tudo parecia normal — exceto por um detalhe: ele não conseguia se mexer nem falar.

Seu corpo estava rígido, imóvel. O pânico começou a tomar conta, mas ele tentou se convencer de que era apenas mais um sonho.

A porta do quarto estava entreaberta. Luka fixou o olhar nela — e, lentamente, uma mão pálida, da cor de um cadáver, apareceu empurrando a porta. As unhas eram compridas e sujas.

A respiração de Luka ficou pesada. Suava frio, tentando, em vão, mover um músculo sequer.

A porta se abriu completamente. O corredor estava vazio.

Por um instante, silêncio total.

Então, o som de ossos se quebrando ecoou pelo quarto. De repente, um corpo despencou do teto, caindo sobre Luka. Era uma criatura deformada, o corpo retorcido, as articulações quebradas em ângulos impossíveis.

Ela se contorcia em cima dele, enquanto Luka lutava para se mover, apavorado. A entidade virou-se de barriga para cima, os braços esticados e as pernas dobradas para trás. Aproximou o rosto do dele, tão perto que Luka pôde sentir o cheiro podre que saía de sua boca — o fedor de carne morta.

A criatura sorriu, um sorriso que faria qualquer um perder a sanidade, e sussurrou:

— Luka... venha até mim... hahaha...

Luka tentou gritar, mas nenhum som saiu. Tentou se mover, mas o corpo não obedecia.

— Luka!? LUKA! — Henrique gritava, desesperado, enquanto o via se debatendo na cama.

O corpo de Luka tremia, os olhos revirados, murmurando algo em latim.

— Haaam... — Luka acordou de súbito, suando frio, completamente confuso.

— Luka... aagh! Meu braço! — gritou Henrique, sentindo dor.

Luka olhou para o braço dele e percebeu que, enquanto dormia, havia cravado as unhas no amigo, fazendo-o sangrar.

— Aahh... m-me desculpa! — disse, trêmulo, tirando rapidamente a mão.

— Hm... o que... porra foi essa!? — gritou Henrique, furioso.

— Eu tive... um ataque de convulsão enquanto dormia. Isso é normal quando se tem problemas respiratórios — justificou Luka, cruzando os braços como se tivesse razão.

— Não fode! Ninguém nesse mundo teria uma convulsão assim! — rebateu Henrique, segurando o braço ensanguentado.

— Huuuf... cala a boca e vem aqui antes que isso infeccione — disse Luka, levantando-se e pegando alguns curativos. — Vem, me dá o braço. — sentou-se numa cadeira, esperando.

— Não pedi a sua ajuda.

— É, e eu também não pedi a sua, mas olha só onde estamos — provocou Luka, soltando uma risadinha.

Henrique bufou, mas acabou cedendo.

— Tá... — estendeu o braço, apoiando-o nas pernas de Luka.

Luka começou a limpar o ferimento com algodão e álcool. Seus movimentos eram precisos e cuidadosos. Após retirar o sangue, passou uma pomada e aplicou as ataduras com perfeição.

Enquanto Luka se concentrava no curativo, Henrique o observava em silêncio — cada traço do rosto, a pele pálida, o contorno dos lábios rosados, os olhos azuis e intensos, os cílios longos e escuros. Reparou no cabelo preto, desbotado, com pontas ainda azuladas. Cada detalhe parecia fasciná-lo.

Olhou para as mãos dele — finas, de unhas curtas pintadas de preto, o esmalte descascando. Henrique pensou, distraído: O que eu poderia fazer com tudo isso?

Sem perceber, levantou a mão e tocou o rosto de Luka.

— Hm? Henrique, o que você tá fazendo? — perguntou Luka, confuso.

Henrique não respondeu. Apenas se aproximou, lentamente, até seus rostos ficarem quase colados. Os lábios estavam tão próximos que quase se tocavam. Eles se olharam nos olhos — o ar parecia suspenso entre eles.

Estavam prestes a se beijar quando Caleb bateu na porta.

— Grrr... — Henrique soltou um grunhido frustrado, pensando: Alguém tinha que atrapalhar.

Trocaram um olhar rápido de decepção. Henrique levantou-se e abriu a porta.

— Olá, Luka! Como foi a noite? — perguntou Caleb, com uma prancheta na mão.

— Bem, na medida do possível.

— Claro... e, Henrique, o que aconteceu com o seu braço? — perguntou, apontando com a caneta.

— Luka me machucou por acidente enquanto dormia. —

— Eu não machuquei! Tive uma convulsão! — retrucou Luka.

— Uma convulsão enquanto dormia? — Caleb franziu o cenho e começou a checar os exames. — Melhor eu fazer um pequeno exame só pra garantir.

Depois de medir temperatura, pressão e batimentos, ele anotou:

— Aparentemente está tudo normal.

— Viu só? — disse Luka, satisfeito.

— É, normalíssimo — ironizou Henrique. — Cravar as unhas no braço dos outros e gritar em latim. Coisa leve.

— Pura merda! Lá vem ele de novo se metendo na minha vida! — Luka levantou o tom.

— Nossa! A verdade dói, né? — retrucou Henrique.

— Você realmente não sabe cuidar da própria vida sem se intrometer na dos outros!?

— Pelo menos eu consigo dizer meu verdadeiro sobrenome.

— Cuida da sua vida enquanto ainda pode! — rebateu Luka, com olhar frio e furioso.

— Hm... você quem sabe. — Henrique saiu batendo a porta.

— Idiota... — murmurou Luka.

— Ai, ai... vocês dois ainda vão se matar um dia — comentou Caleb, rindo enquanto escrevia.

— Isso não faz sentido nenhum.

— Eu sei — respondeu Caleb, sorrindo.

Mais tarde, Luka recebeu alta. Merry o levou para casa, onde as meninas prepararam um jantar delicioso: costela assada com batatas, cebola, arroz, salada colorida e laranjas decorando a mesa.

Depois de um dia inteiro com a comida sem gosto do hospital, Luka estava radiante ao sentir novamente o sabor da carne. Mas, mesmo assim, o pensamento do que quase aconteceu com Henrique ainda o atormentava.

Até onde aquilo teria ido? — pensava.

E ele não era o único. Henrique, deitado em sua cama, também pensava no mesmo. O momento entre eles fora intenso — e tentador demais. Luka, porém, sabia que precisava se conter. Gostava de alguém, e respeitava isso.

Mais tarde, ele pegou sua guitarra e começou a tocar alguns acordes, tentando relaxar, até ouvir batidas na porta.

— Tá aberta.

— Oi, amor. Tá tudo bem? — perguntou Merry, entrando.

— Tá sim, tia. — Luka deixou a guitarra de lado.

— É melhor não ficar acordado até tarde. Vamos levantar cedo amanhã.

— Hm? Por quê?

— Amanhã o Henrique vai nos levar até a bruxa.

— Henrique... claro. Tinha que ser ele. Mais uma vez, se metendo na minha vida.

— Ele só está tentando ajudar.

— Jura? Porque eu não me lembro de ter pedido ajuda!

— Luka! Pare de implicar com ele! Está ajudando desde que chegamos. E chega de teimosia — nós vamos, e já está decidido! — disse Merry, levantando-se. — Boa noite.

— Huuuf... saco... — Luka jogou-se na cama, exausto.

Com medo dos pesadelos, ele fechou a porta, as janelas e o guarda-roupa. Colocou um despertador para tocar a cada quatro minutos — o suficiente para impedi-lo de cair num sono profundo. Já estava acostumado com isso, como fazia nos longos turnos de Nova York.

Na manhã seguinte, Luka acordou cheio de energia. Tomou banho, trocou de roupa, pegou a muleta e foi direto para a cozinha. Preparou um café, fritou ovos com bacon, fez salada de frutas, tapioca com presunto e queijo, e um suco natural de laranja.

Depois de limpar a bagunça, animou-se e acabou limpando a casa inteira. Varreu a varanda, juntou as folhas e organizou tudo. Estava em paz — até ver o carro de Henrique se aproximando.

— Não deveria estar se esforçando tanto — disse Henrique, descendo do carro.

— Não lembro de ter pedido sua opinião.

— Bom dia pra você também, Skavronski. — Ele passou a mão pelos cabelos lisos e jogou-os para trás. — Vai, senta aí. Eu termino pra você.

— Ai... não precisa.

— Não tô pedindo. Cala a boca e senta. — empurrou-o suavemente na cadeira.

Henrique levou as coisas que faltavam, arrumou a mesa com perfeição e sentou-se ao lado de Luka.

— Nossa, você limpou a casa inteira?

— É uma boa observação.

— É incrível como você é frio sempre.

— E eu acho incrível como você adora interferir na vida dos outros.

— Tá, tá... mas falando sério... aquilo do hospital... não foi uma convulsão, foi? — perguntou Henrique, encarando-o.

— Você ainda tá pensando nisso?

— Não me responde com outra pergunta.

— Já disse que não foi nada. Tive uma convulsão, só isso. — respondeu Luka, irritado.

— Nossa... você mente até morrer, mas não admite, né?

— Se acha que tô mentindo, pra que pergunta?

— Ainda tinha esperança de ouvir a verdade.

— E que verdade você quer que eu diga, hein?

— Sei lá! Tipo: “Sim, Henrique, você estava certo. Não foi uma convulsão. Eu ainda tenho meus sonhos bizarros. E sim, eu sou um idiota teimoso e egocêntrico.” — ironizou Henrique, imitando a voz dele.

— O quê?! Eu não falo assim! — protestou Luka, segurando o riso.

— Fala sim.

— Não falo! E eu não faço assim com as mãos!

— Faz sim.

— Não faço!

— Fez agora. Mas voltando ao assunto — disse Henrique, voltando ao tom sério. — Você ainda tem aqueles sonhos, não tem?

— De novo esse assunto?! Henrique, eu não sei o que você quer ouvir! — Luka já estava exaltado.

— Por que você não pode ser sincero?

— E por que você fica sempre se metendo nos meus problemas?!

— Talvez porque você reclama de barriga cheia!

— Lá vem! Você não sabe absolutamente nada sobre mim, então não vem dizer o que não sabe!

— Tá bom então! Diz você, filhinho do papai: quais são seus problemas? Papai bloqueou seu cartão?

— Não! Sabe quais são meus problemas? — Luka explodiu. — É que eu me mato de trabalhar, fazendo turnos intermináveis pra ganhar uma miséria. Desisti de tudo pra manter minha mãe viva, ligada a máquinas, enquanto o meu “pai” mora numa cobertura de 50 mil em Tóquio com a nova família! E ainda tenho que aguentar esses sonhos infernais que me perseguem! —

Luka segurou as lágrimas, respirando fundo. — Então sim, Henrique, minha vida é um lindo e perfeito inferno!

Henrique ficou em silêncio por um momento.

— ...Desculpa. Eu sinto muito.

— Não precisa. Não é culpa sua. —

Henrique pousou a mão sobre a de Luka, que o olhou, surpreso.

— Mesmo assim... eu sinto muito, Luka — repetiu ele, aproximando o rosto.

Os dois se encararam. As respirações se misturaram. Luka, impulsivamente, deu um beijo rápido nele.

Henrique, surpreso, reagiu. Puxou-o pela nuca e o beijou intensamente. Os lábios se encaixaram, o beijo se aprofundou, molhado, intenso. Luka correspondeu, gemendo baixinho. Henrique mordeu-lhe o lábio inferior, puxando-o. Luka abriu a boca, e as línguas se entrelaçaram.

Quando finalmente pararam para respirar, ainda estavam colados, rostos vermelhos e respiração ofegante. Luka escondeu o rosto no ombro dele, corado.

— Depois... a gente continua — sussurrou Henrique, com voz rouca, dando uma mordida suave em sua orelha.

Foram interrompidos por Merry e as meninas, que finalmente haviam acordado.

— Bom dia, meninos! — disse Merry, sorridente.

— Oi, tia.

— Bom dia, meu amor — disse Shofi, sentando-se no colo de Luka.

— Oi, dormiu bem, minha linda? — perguntou ele, beijando-lhe o rosto.

— Sim! E você?

— Também.

— Sério?

— Sim.

— Então vamos logo! Quero muito ver a bruxa! — disse Camila, animada.

— Vocês vão junto? — perguntou Luka, mordendo uma torrada.

— Dã! Vamos ver uma bruxa! Quem não quer?

— Ah... eu não quero.

— Você não é importante.

— Obrigado, maninha.

— De nada, maninho.

Fim.

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~𝐌𝐓𝐓𝐍~

~𝐌𝐓𝐓𝐍~

Cara...esse Luka com o Henrique.

2025-02-04

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Capítulos
1 Começo
2 Terror noturno
3 Desespero...
4 Além disso...
5 Desejos e caprichos
6 Por um fio da loucura que chega ao fim
7 Espelho negro
8 Erro
9 Contra mim
10 Sobre nós
11 Verdades
12 Noivado
13 Ivana kupala
14 Lua sangrenta
15 Perdido
16 A distância (a busca de Henrique)
17 A distância ( além da parede de pedra)
18 A distância ( Depois das paredes de pedra)
19 A caçada
20 Apenas me beije.
21 Mr. Skavronsk
22 O herdeiro do lobo
23 Apenas meu
24 Calebe
25 "Estou de volta, coelhinho "
26 De volta
27 Me perdoa
28 Caçadores
29 O fim do controle
30 Negação
31 Aceitação
32 Máscara quebrada
33 Sobre isso
34 Marcado em mim
35 Dentro de mim
36 O vestido
37 A mulher de branco
38 Silêncio
39 De novo e de novo
40 Só por você
41 Primeiro dia de inverno
42 Flores e gelo
43 O preço
44 Amor carnívoro
45 Perto do eclipse
46 A face da lua
47 A beira do lago
48 A queda
49 Julgamento
50 Selo quebrado
51 Lua nova
52 Lua crescente
53 Renascer
54 Como uma noite familiar
55 capítulo especial
56 Mudança no coração
57 O livro de Tardelli
58 Ruínas
59 A obsessão
60 Reconciliação
61 "Fora" da cela.
62 Maré de sombras.
63 De nada
64 A visitante
65 Ala 7-C
66 A sala dos esquecidos
67 Conexão
68 Visitante noturno
69 Sem sinal
70 Ainda espero
71 Vai...
72 Por outros olhos
73 Se não for por ele
74 O sangue do lobo
75 A maldição
76 A morte de Luka Skavronsk
77 O luto
78 Estrelas de sangue
79 Sangue, palavras e o livro
80 A.S
81 Lágrimas
82 Troll das neves
83 A sombra da verdade
84 Revelação
85 Além de mim
86 Blue house
87 Entre celas e feras
88 Aviso
89 Rupturas
90 Reencontro
91 Desordem
92 Ponto fraco
93 Aliados
94 Ruínas
95 O resgate
96 O peso da Lua
97 Libertação
98 Últimas palavras
99 Fagulhas
100 Cacos no chão
101 Mais do que tudo no mundo
102 Pontas soltas
103 A máscara
Capítulos

Atualizado até capítulo 103

1
Começo
2
Terror noturno
3
Desespero...
4
Além disso...
5
Desejos e caprichos
6
Por um fio da loucura que chega ao fim
7
Espelho negro
8
Erro
9
Contra mim
10
Sobre nós
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Verdades
12
Noivado
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Ivana kupala
14
Lua sangrenta
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Perdido
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A distância (a busca de Henrique)
17
A distância ( além da parede de pedra)
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A distância ( Depois das paredes de pedra)
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A caçada
20
Apenas me beije.
21
Mr. Skavronsk
22
O herdeiro do lobo
23
Apenas meu
24
Calebe
25
"Estou de volta, coelhinho "
26
De volta
27
Me perdoa
28
Caçadores
29
O fim do controle
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Negação
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Aceitação
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Máscara quebrada
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Sobre isso
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Marcado em mim
35
Dentro de mim
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O vestido
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A mulher de branco
38
Silêncio
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De novo e de novo
40
Só por você
41
Primeiro dia de inverno
42
Flores e gelo
43
O preço
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Amor carnívoro
45
Perto do eclipse
46
A face da lua
47
A beira do lago
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A queda
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Julgamento
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Selo quebrado
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Lua nova
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Renascer
54
Como uma noite familiar
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capítulo especial
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Mudança no coração
57
O livro de Tardelli
58
Ruínas
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A obsessão
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Reconciliação
61
"Fora" da cela.
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Maré de sombras.
63
De nada
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A visitante
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Ala 7-C
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A sala dos esquecidos
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Conexão
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Sem sinal
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Vai...
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Por outros olhos
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Se não for por ele
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O sangue do lobo
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A maldição
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A morte de Luka Skavronsk
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O luto
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Estrelas de sangue
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Sangue, palavras e o livro
80
A.S
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Lágrimas
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Troll das neves
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A sombra da verdade
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Revelação
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Além de mim
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Blue house
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Entre celas e feras
88
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Rupturas
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Libertação
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