Terror noturno

Capítulo 02

Depois da noite aterrorizante e traumática para Luka, Merry tomou a decisão de levá-lo a uma bruxa da cidade para tentar entender por que ele sempre tinha aqueles pesadelos somente quando estava em Brígida.

Luka ainda estava debilitado pela febre alta da noite anterior. Sentia-se cansado, com uma leve gripe, o nariz escorrendo e soltando alguns espirros.

— Luka, vamos! — diz Merry na porta, batendo o pé de impaciência pela demora.

Enquanto isso, Luka, ainda no quarto, estava totalmente apavorado. Não estava nem um pouco feliz com a ideia de visitar uma bruxa, temendo que isso apenas alimentasse seus sonhos horríveis.

— Huf... ok, estou pronto — diz, apoiando a mão esquerda na parede e descendo lentamente as escadas em direção à porta, onde sua tia o aguardava, impaciente.

— Finalmente.

— Vamos logo, tia... huf — responde ele entre suspiros desanimados.

Enquanto seguem de caminhonete para a casa da mantiqueira — que ficava no meio da floresta, em uma fazenda entre as montanhas — Luka tira várias fotos para que Shofi poste em suas redes sociais.

A paisagem era linda e selvagem, com árvores altas e verdes formando trilhas sinuosas pela mata. O ar puro e úmido fazia o ambiente parecer vivo. Em meio à floresta, eles chegam a um imenso campo de flores — pétalas coloridas formavam um verdadeiro arco-íris natural, e o vento fazia as folhagens dançarem, subindo ao céu e criando uma cena mágica e nostálgica.

Luka se lembrava de quando ele e Camila corriam por ali, rindo com os amigos, comendo bolinhos de sakura até não aguentar mais.

Logo, chegam a uma ponte de madeira sustentada por cordas, que passava sobre um rio escondido numa pequena vala.

Ao atravessarem a ponte, continuam a pé por um longo caminho entre as árvores, subindo em direção às montanhas. Durante a caminhada, passam por formações rochosas de aparência estranha, mas estranhamente familiares para Luka — como se ele já tivesse visto aquele lugar em algum sonho antigo.

Enquanto sobe, ele continua tirando fotos. Em uma delas, percebe uma sombra de abertura escura em uma das montanhas.

— Não sabia que havia cavernas por aqui — comenta ele, observando a imagem.

— Nem todas — responde uma voz masculina. — Só no monte Zmiya.

— Zmiya? Isso não significa “cobra”?

— Sim. Mas é por causa de uma lenda local — diz um rapaz alto, de cabelos escuros e olhos verdes, aproximando-se.

Ele cumprimenta Merry com um abraço. Em seguida, ela apresenta Luka.

— Jacob! Há quanto tempo! Luka, lembra do Jacob? — diz ela, animada.

— Luka? Luka Skavronski?

— É Montero. Luka Montero. E sim, eu lembro de você.

— Nossa, você está bem diferente.

— É, as pessoas mudam... mas você continua igual.

— É, não consegui me desfazer de Brígida. E você, pelo visto, também não.

— Mas não por escolha própria — responde Luka, em tom frio.

O silêncio pesa.

Desde criança, Luka não se dava bem com as pessoas de Brígida. Até as crianças tinham medo dele, por causa de seus sonhos estranhos e das histórias macabras sobre a linhagem dos Skavronski. Só seus amigos — Emili, Caleb, Henrique, Enzo, Lívia e Jacob — o aceitavam.

Eles eram inseparáveis, conhecidos por suas travessuras que viravam Brígida de cabeça para baixo. Mas, com o tempo, tudo mudou. Luka sempre teve dificuldade em se aproximar dos outros — o medo que o cercava, somado aos rumores sobre sua família, criava um muro invisível à sua volta.

— Então, o que estão fazendo aqui? — pergunta Jacob.

— Estou levando Luka para ver a bruxa — responde Merry.

— A bruxa? Por quê?

— Não importa. É perda de tempo mesmo — Luka retruca, com indiferença.

— Não ligue, ele não acredita nessas coisas — diz Merry.

— Ok, mas... se estão indo para a bruxa, estão indo para o lado errado. Ela mora pra lá — diz Jacob, apontando para o monte Zmiya.

— Huf... ótimo — murmura Luka, irritado.

— Mas se quiserem, posso levá-los. Eu e a turma vamos pro lago Zelenyy amanhã à tarde, fica perto de lá. Podem vir conosco.

— Seria ótimo — diz Merry.

— Não seria não — retruca Luka, com sinceridade e tédio.

— Bom, então passo aqui amanhã pra buscar vocês.

— Combinado! — diz Merry, sorrindo.

Eles se despedem. Luka, por outro lado, apenas acena com frieza.

Quando crianças, Luka e Jacob eram melhores amigos. Para Jacob, era estranho ver o antigo companheiro tão distante. Mesmo após nove anos, ele esperava uma reação calorosa. Mas Luka havia mudado. E Jacob sabia o motivo: Luka odiava Brígida — não apenas pelos pesadelos ou pela infância solitária, mas também pelo pai que enganou a mãe e a abandonou doente.

Enquanto o pai vivia confortavelmente em Tóquio com outra família, Luka, aos quinze anos, lutava para sustentar e cuidar da mãe com câncer, tendo deixado até os estudos para isso. Shofi e Camila o ajudaram como podiam, mas ele foi forçado a se tornar adulto cedo demais.

— Luka precisava tratá-lo assim? — pergunta Merry.

— Assim como?

— Você sabe... vocês eram tão próximos.

— Huf... isso faz muito tempo, tia.

— Não faz tanto tempo.

— Nove anos de sobrevivência é o bastante pra mudar alguém, tia.

Ele encosta a testa no vidro da janela, perdido em pensamentos antigos — lembranças doces de uma época em que danones e biscoitos amanteigados resolviam todos os problemas. Os mesmos biscoitos que sua mãe fazia com tanto amor. Agora, tudo parecia distante. O sabor da inocência havia morrido junto com ela.

No final do pôr do sol, eles voltam para casa. Camila e Shofi já haviam preparado a mesa com uma linda refeição: sopa com pão de alho, bife acebolado, batatas fritas, salada colorida e rodelas de laranja decorando os pratos.

— Nossa, que mesa bonita!

— Muito obrigada! — responde Shofi, orgulhosa.

— É, minha garota arrasa na cozinha — diz Luka, abraçando-a pela cintura e lhe dando um beijo.

— Obrigada, meu amor.

— Então, vamos comer?

— Vamos!

— E aí, como foi? — pergunta Camila.

— Não foi.

— Como assim?

— Estávamos indo pro lado errado e acabamos encontrando o Jacob no caminho.

— Jacob? O Jacob Lachovicz?! — pergunta Camila, surpresa.

— Sim, o amigo do Luka.

— Você não fala com ele há nove anos!

— É, éramos amigos.

— Por quê “éramos”?

— Porque a vida é triste. Me passa o pão, Camila?

— Claro.

Depois do jantar, todos vão dormir.

Luka, apavorado como sempre, se senta na cama, tocando alguns acordes na guitarra. Sua mente vagueia para o passado — por que ele e Jacob, que eram inseparáveis, se tornaram estranhos? Talvez o tempo tenha decidido por eles. Luka suspira, deita-se de barriga para cima e encara o teto.

O sono o envolve lentamente. A temperatura cai de repente. O quarto escurece, e o ar parece denso, pesado, quase sólido. Luka dorme profundamente, mas algo começa a chamá-lo.

(Luka... Luka... Luka...)

A voz é suave, mas ecoa em todas as direções. Ele se debate na cama, os olhos se movem sob as pálpebras fechadas.

De repente, ele acorda com um solavanco. Seus lábios estão arroxeados, a pele pálida, e cada respiração forma nuvens brancas no ar gélido. A janela está aberta — e flocos de neve entram no quarto, cobrindo o chão.

Lentamente, ele se levanta. O vento corta sua pele. O chão de madeira range sob seus pés descalços. Ele dá alguns passos... até ouvir o som seco do gelo se quebrando sob si.

O mundo silencia.

Então o gelo cede.

CRACK.

Luka despenca — e é engolido pelas águas negras e geladas. O frio corta como navalha. A escuridão o envolve. No fundo, algo se move.

Entre as sombras aquáticas, surge uma figura: cabelos ruivos flutuando como chamas submersas, pele escura e olhos amarelos que brilham como os de uma serpente. A criatura sorri. Um sorriso impossível, grotesco. E então abre a boca — uma fenda desumana cheia de dentes pontiagudos.

Um som horrendo, primal, ecoa na água. Não é um rugido — é um grito de desespero, de dor e fome.

Luka se debate, tentando subir, mas mãos frias o agarram pelos tornozelos e o puxam para o fundo. Ele grita, a voz distorcida pelas bolhas.

Consegue emergir por um instante — está agora num rio congelado de cor verde. O gelo o corta, o vento o esbofeteia.

— SOCORRO! ALGUÉM!? SOCORRO, POR FAVOR! — berra, arrastando-se sobre o gelo molhado e rachado.

Algo o puxa de volta. O som dos estalos do gelo é abafado por outro grito — o da criatura, vindo das profundezas. Ele tenta lutar, mas está sem forças. A água o engole novamente.

Seu corpo cede. A mente escurece. Ele apenas boia, inerte, entre o frio e o esquecimento.

— Ei! Você está bem?! — uma voz distante ecoa.

— Consegue me ouvir?! Ei! — é a última coisa que escuta antes de desmaiar.

Quando recobra a consciência, está deitado em uma cama, coberto com três cobertores de pele. Uma compressa quente repousa sobre sua testa.

— Hm... minha perna... aaagh... — murmura, com a voz rouca pela garganta queimada pelo frio. — Onde... onde eu estou?

De repente, a porta se abre. Um rapaz alto, de cabelos pretos amarrados, botas de couro e orelhas cheias de brincos entra no quarto.

— Finalmente acordou. Você quase morreu, sabia?

— O... o quê?

— Qual é o seu nome?

— Eu sou Luka.

— Luka? Luka Skavronski?! — diz, surpreso.

— Montero...

— Claro, só um idiota como você pra tomar banho no rio Zelenyy a essa hora.

— Espera... você me conhece?

— Sim.

— Quem é você?

— Henrique.

— Henri... Henrique Maksym?!

— Você ainda se lembra! Achei que tivesse esquecido dos pobres depois de fugir pra Nova York com seu papai rico — provoca Henrique, com sarcasmo.

— Parece que não sou o único idiota aqui — rebate Luka.

— Olha, não é assim que se agradece a quem te salvou depois de quase morrer afogado — diz, com um sorriso debochado.

— Hup... obrigado — Luka tenta se levantar, mas a pressão cai e ele quase desmaia. Henrique o segura pela cintura.

— Ei! Cuidado.

— Ainda me sinto fraco...

— Tudo bem. Acho melhor descansar. Vou ligar pra sua tia, avisar que você está bem.

— Obrigado... — Luka aceita a xícara quente que Henrique lhe entrega. O aroma de frutas vermelhas sobe no ar.

Ele leva o líquido à boca. O sabor doce e amargo do chá o aquece por dentro.

Henrique o observa em silêncio, olhando para o movimento lento de Luka, para o modo como ele lambe os lábios.

— Hum? Algum problema? — pergunta Luka, sem entender o olhar.

— Não é da sua conta.

— Babaca... — murmura, baixo.

Luka volta a encarar o chá — vermelho como sangue. De repente, a lembrança da criatura o invade: os olhos amarelos, os dentes afiados, o som do grito sufocado sob a água...

Ele se perde tanto nos pensamentos que nem ouve Henrique chamá-lo.

— Luka... Luka... LUKA, CARALHO!

— Hã?! O quê?

— Finalmente! Sua tia tá vindo te buscar!

— Ah... ok, valeu.

Minutos depois, Merry chega desesperada, as lágrimas descendo.

— LUKA! — Ela o abraça com tanta força que ele mal respira.

— Aaagh... t-tia... —

— Sim, meu amor?

— Não respiro...

— Ah! Desculpe! Luka, como isso aconteceu?

— Eu... eu não faço ideia.

— Chega! Eu vou te levar naquela bruxa, mesmo que você diga que não!

— Tudo bem, tia. Eu concordo.

— Então... você aceita ir?

— Sim.

— Que bom...

Antes de irem, Luka e Henrique trocam números.

No caminho de volta, Luka se perde em pensamentos. Como podia ter ido parar no lago Zelenyy sem sequer sair de casa?

Se foi um sonho... como explicaria o frio que ainda queimava sua pele? Ou o cheiro do rio em suas roupas?

Nada fazia sentido. Nenhuma lógica, nenhuma razão poderia explicar.

E, pela primeira vez, Luka sentiu medo de si mesmo.

Fim...

Capítulos
1 Começo
2 Terror noturno
3 Desespero...
4 Além disso...
5 Desejos e caprichos
6 Por um fio da loucura que chega ao fim
7 Espelho negro
8 Erro
9 Contra mim
10 Sobre nós
11 Verdades
12 Noivado
13 Ivana kupala
14 Lua sangrenta
15 Perdido
16 A distância (a busca de Henrique)
17 A distância ( além da parede de pedra)
18 A distância ( Depois das paredes de pedra)
19 A caçada
20 Apenas me beije.
21 Mr. Skavronsk
22 O herdeiro do lobo
23 Apenas meu
24 Calebe
25 "Estou de volta, coelhinho "
26 De volta
27 Me perdoa
28 Caçadores
29 O fim do controle
30 Negação
31 Aceitação
32 Máscara quebrada
33 Sobre isso
34 Marcado em mim
35 Dentro de mim
36 O vestido
37 A mulher de branco
38 Silêncio
39 De novo e de novo
40 Só por você
41 Primeiro dia de inverno
42 Flores e gelo
43 O preço
44 Amor carnívoro
45 Perto do eclipse
46 A face da lua
47 A beira do lago
48 A queda
49 Julgamento
50 Selo quebrado
51 Lua nova
52 Lua crescente
53 Renascer
54 Como uma noite familiar
55 capítulo especial
56 Mudança no coração
57 O livro de Tardelli
58 Ruínas
59 A obsessão
60 Reconciliação
61 "Fora" da cela.
62 Maré de sombras.
63 De nada
64 A visitante
65 Ala 7-C
66 A sala dos esquecidos
67 Conexão
68 Visitante noturno
69 Sem sinal
70 Ainda espero
71 Vai...
72 Por outros olhos
73 Se não for por ele
74 O sangue do lobo
75 A maldição
76 A morte de Luka Skavronsk
77 O luto
78 Estrelas de sangue
79 Sangue, palavras e o livro
80 A.S
81 Lágrimas
82 Troll das neves
83 A sombra da verdade
84 Revelação
85 Além de mim
86 Blue house
87 Entre celas e feras
88 Aviso
89 Rupturas
90 Reencontro
91 Desordem
92 Ponto fraco
93 Aliados
94 Ruínas
95 O resgate
96 O peso da Lua
97 Libertação
98 Últimas palavras
99 Fagulhas
100 Cacos no chão
101 Mais do que tudo no mundo
102 Pontas soltas
103 A máscara
Capítulos

Atualizado até capítulo 103

1
Começo
2
Terror noturno
3
Desespero...
4
Além disso...
5
Desejos e caprichos
6
Por um fio da loucura que chega ao fim
7
Espelho negro
8
Erro
9
Contra mim
10
Sobre nós
11
Verdades
12
Noivado
13
Ivana kupala
14
Lua sangrenta
15
Perdido
16
A distância (a busca de Henrique)
17
A distância ( além da parede de pedra)
18
A distância ( Depois das paredes de pedra)
19
A caçada
20
Apenas me beije.
21
Mr. Skavronsk
22
O herdeiro do lobo
23
Apenas meu
24
Calebe
25
"Estou de volta, coelhinho "
26
De volta
27
Me perdoa
28
Caçadores
29
O fim do controle
30
Negação
31
Aceitação
32
Máscara quebrada
33
Sobre isso
34
Marcado em mim
35
Dentro de mim
36
O vestido
37
A mulher de branco
38
Silêncio
39
De novo e de novo
40
Só por você
41
Primeiro dia de inverno
42
Flores e gelo
43
O preço
44
Amor carnívoro
45
Perto do eclipse
46
A face da lua
47
A beira do lago
48
A queda
49
Julgamento
50
Selo quebrado
51
Lua nova
52
Lua crescente
53
Renascer
54
Como uma noite familiar
55
capítulo especial
56
Mudança no coração
57
O livro de Tardelli
58
Ruínas
59
A obsessão
60
Reconciliação
61
"Fora" da cela.
62
Maré de sombras.
63
De nada
64
A visitante
65
Ala 7-C
66
A sala dos esquecidos
67
Conexão
68
Visitante noturno
69
Sem sinal
70
Ainda espero
71
Vai...
72
Por outros olhos
73
Se não for por ele
74
O sangue do lobo
75
A maldição
76
A morte de Luka Skavronsk
77
O luto
78
Estrelas de sangue
79
Sangue, palavras e o livro
80
A.S
81
Lágrimas
82
Troll das neves
83
A sombra da verdade
84
Revelação
85
Além de mim
86
Blue house
87
Entre celas e feras
88
Aviso
89
Rupturas
90
Reencontro
91
Desordem
92
Ponto fraco
93
Aliados
94
Ruínas
95
O resgate
96
O peso da Lua
97
Libertação
98
Últimas palavras
99
Fagulhas
100
Cacos no chão
101
Mais do que tudo no mundo
102
Pontas soltas
103
A máscara

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