O primeiro beijo

A amizade deles crescia devagar, como um segredo bem guardado, cada momento compartilhado construindo algo delicado e precioso. Mas aos poucos, o segredo começou a se transformar em algo maior, mais urgente. Cada olhar prolongado, cada toque de mãos ao alcançarem o mesmo livro, cada riso compartilhado parecia carregar uma eletricidade que nenhum dos dois podia ignorar.

Naquela tarde, a chuva caía pesada sobre o telhado da biblioteca, criando um som constante e reconfortante, isolando-os do mundo lá fora. Eles estavam sozinhos, cercados por estantes silenciosas, e Harper sentia cada batida de seu coração ecoando no peito. Nathan, concentrado no livro à sua frente, parecia ainda mais distante e, ao mesmo tempo, mais próximo do que nunca. Harper o observava disfarçadamente: o modo como ele mordia o canto do lábio quando pensava, os dedos que passavam rápido pelas páginas, o franzir da testa quando algo parecia confuso.

Ela respirou fundo, sentindo um arrepio subir pela espinha, e inclinou-se lentamente, baixando a voz:

— Você já beijou alguém, Nathan?

Ele congelou. Seus olhos castanhos se arregalaram, encontrando os olhos azuis dela, intensos e cheios de vida. Um calor subiu às suas bochechas quase instantaneamente.

— Isso é um questionário ou uma pesquisa de campo? — disse, tentando soar indiferente, mas a voz falhou, traindo o nervosismo.

— Pesquisa prática. — Harper respondeu, sussurrando, os lábios curvados num sorriso malicioso.

Antes que Nathan pudesse processar, Harper se inclinou e o beijou.

Rápido, doce, nervoso. Um beijo que parecia pequeno, mas que tinha o poder de virar o mundo deles de cabeça para baixo. O mundo ao redor desapareceu: o barulho da chuva, os livros e estantes, a luz fraca — nada existia além da sensação dos lábios macios e quentes dela.

Nathan ficou imóvel por alguns segundos, confuso e fascinado, incapaz de reagir. O coração dele parecia querer pular do peito. A mente gritava para se afastar, mas o corpo não obedecia. O toque dela era ao mesmo tempo inesperado e inevitável, e ele se viu querendo mais, mesmo sem saber se deveria.

— Harper… por que você fez isso? — murmurou, a voz baixa, quase quebrada pelo choque.

Ela deu de ombros, corada, mas mantendo o olhar firme, profundo:

— Porque eu queria. E porque eu gosto de você.

Nathan engoliu em seco, desviando o olhar por um instante, lutando para organizar os pensamentos que giravam rapidamente.

— Você… não pode estar falando sério. — disse baixinho, ainda incrédulo, mas cada fibra do seu corpo parecia concordar com ela.

— Estou. E você não tem escolha, Reed. Agora vai ter que lidar com isso.

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas não desconfortável. Eles apenas se encararam, respirando fundo, cada um absorvendo o efeito do outro. Nathan sentiu o calor do corpo dela ao seu lado, a fragrância doce e familiar que sempre o deixava inquieto. Ele queria recuar, argumentar, mas não conseguia — seus lábios, ainda recordando o toque dela, imploravam por mais.

Harper sorriu, nervosa e corada, mas segura, como se desafiasse o mundo inteiro a não aceitar aquilo. Nathan, por dentro, sentia uma mistura de medo e desejo, confusão e certeza — e, pela primeira vez, percebeu que não queria que o momento acabasse.

A chuva continuava a cair lá fora, mas dentro da biblioteca, o tempo parecia ter parado. Cada segundo carregava a promessa de algo novo, algo intenso, algo que nenhum dos dois poderia mais ignorar.

E naquele instante, entre respirações aceleradas e olhares que falavam mais que palavras, Nathan percebeu que, apesar do choque, queria aquilo tanto quanto ela. Muito mais do que poderia admitir.

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Atualizado até capítulo 52

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