O som de um raro sorriso

Depois daquele dia, Harper passou a frequentar a biblioteca quase todos os dias.

Às vezes levava café, às vezes bolinhos, às vezes ela mesma fazia biscoitos para impressionar Nathan, às vezes… apenas desculpas aleatórias para aparecer. Dizia a si mesma que precisava ser insistente — afinal, operações de conquista exigiam dedicação e persistência.

Nathan, no começo, fingia indiferença.

Mantinha o olhar no livro, respondia de forma curta, fingia que não via quando ela deixava bilhetes com piadinhas colados na borda da mesa.

Mas, por dentro, algo começava a mudar. Ele percebia quando ela entrava, mesmo que não olhasse. O som do passo leve, o perfume doce, o jeito exagerado de suspirar antes de se sentar. Tudo nele se alertava na presença dela — o que o irritava um pouco, mas o confundia ainda mais por não entender seus próprios sentimentos.

Harper, por outro lado, parecia nascer para brilhar — mesmo cercada de estantes silenciosas e livros empoeirados. Tinha um talento raro para transformar qualquer momento sem graça em algo memorável e agradável.

Em um dia particularmente monótono, ela começou a desenhar caricaturas num guardanapo que pegou na cantina. O som do lápis riscando o papel era o único ruído entre os dois, até que ela empurrou o guardanapo em direção a ele, sorrindo com orgulho infantil.

— Olha — disse, virando o desenho. — Aqui sou eu, a garota linda e popular, e aqui é você, o garoto misterioso com alma de velho rabugento.

Nathan olhou, surpreso. O traço era simples, mas engraçado — o “velho rabugento” tinha olheiras, um livro na mão e uma xícara de café com a legenda “sem paciência desde 2006”.

Ele tentou segurar o riso… mas falhou.

O som escapou dele como algo involuntário, leve, quase esquecido.

E aquele riso — abafado, sincero e raro — soou tão bonito que Harper ficou paralisada por um segundo. O coração dela bateu mais rápido, e por um momento tudo pareceu desacelerar: o barulho distante de páginas virando, o vento entrando pela janela, o cheiro de café que ela mesma tinha trazido.

— Eu não sou rabugento — ele disse, tentando parecer sério, mas o sorriso ainda estava ali, escondido no canto dos lábios.

— Não? — ela arqueou uma sobrancelha.

— Só não gosto de… atenção.

Harper deu de ombros, encostando o queixo nas mãos.

— Pena. Eu sou basicamente feita de atenção.

Eles riram juntos, e o som preencheu a biblioteca, como se a luz tivesse ficado mais quente.

Por um instante, Nathan esqueceu o quanto odiava o barulho, o quanto gostava da solidão.

A presença dela o desarmava — cada palavra, cada gesto, parecia desafiar a lógica metódica que regia sua vida.

Harper também sentiu algo diferente. Pela primeira vez, não era só sobre “a operação”, ou sobre ser notada. Era sobre como ele a fazia sentir — vista, real, curiosamente leve.

E, pela primeira vez, Nathan não quis que o tempo passasse rápido.

Harper também não.

Ela fingiu voltar ao desenho, mas, em silêncio, acrescentou uma linha final no guardanapo, bem abaixo das caricaturas:

“Velho rabugento + garota impossível \= talvez alguma coisa bonita.”

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Atualizado até capítulo 52

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