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O professor bateu na mesa, chamando a atenção da turma. — Bom dia, pessoal. Vamos abrir o livro na página 56, por favor. Hoje vamos analisar a teoria das cores no Renascimento.

O burburinho de mochilas sendo abertas e páginas sendo viradas encheu a sala. Ravi revirou a sua, mas então parou, franziu a testa e ergueu a mão.

— Pode falar, Ravi.

— Professor, eu esqueci de pegar o livro na aula passada. Teria como eu ir buscar agora na biblioteca?

— Pode ir. — O professor olhou para o resto da turma. — Tem mais alguém que não pegou o livro?

Mais cinco mãos se levantaram, hesitantes.

— Então pega mais uns cinco, Ravi. Ajude a turma.

— Sim, professor! — disse Ravi, saindo rapidamente da sala e seguindo pelo corredor silencioso em direção à biblioteca.

Alguns minutos depois, ele voltava, carregando uma pilha instável de livros pesados contra o peito. — Poxa, esses livros são pesados demais... — resmungou sozinho, tentando ajustar o peso.

Foi no momento em que ele tentou abrir a porta da sala com o cotovelo que o equilíbrio falhou. A pilha de livros escapou de seus braços, prestes a cair desastrosamente no chão. De repente, um par de mãos fortes, com veias salientes e uma pegada firme, interceptou os livros no ar, estabilizando a pilha com um esforço mínimo.

Ravi olhou para cima, e seu coração deu um salto. Era Arthur.

O homem o fitava com uma expressão serena, mas seus olhos pareciam analisar cada detalhe do susto no rosto de Ravi.

— Cuidado — disse Arthur, sua voz um baixo profundo e calmo.

— Muito obrigado, senhor Arthur — Ravi respondeu, ainda um pouco atordoado.

Um sorriso quase imperceptível surgiu nos lábios de Arthur. — Não precisa me chamar assim. Só Arthur tá bom. — Era uma ordem suave, disfarçada de convite.

— Tá bom... Arthur.

Ravi tentou pegar os livros de volta, mas Arthur os manteve com facilidade. — Se quiser, eu posso ajudá-lo a levar até a sala. É pesado.

— Não, não precisa! O senhor... você deve ter coisas mais importantes para fazer. Eu não quero incomodar.

— Não vai incomodar — Arthur cortou, sua voz deixando claro que não era um oferecimento, e sim uma decisão. — Sério. É a gentileza mínima de um... proprietário preocupado com o bem-estar dos alunos. — Ele começou a andar em direção à sala, forçando Ravi a acompanhá-lo. — Principalmente daqueles com talento promissor. A diretora me mostrou alguns trabalhos anônimos do mural do corredor. Aquele retrato a carvão... era seu, não era?

Ravi ficou surpreso. — Como o senhor... como você sabia?

— O traço é o mesmo do seu caderno que eu vi mais cedo — ele disse simplesmente, como se fosse óbvio. — Há uma energia crua, mas uma técnica impressionante para sua idade. Você tem dom, Ravi.

Eles chegaram à porta da sala. Arthur empurrou-a com as costas da mão e entrou, depositando a pilha de livros com cuidado sobre a mesa do professor, sob os olhares curiosos e um pouco intimidados de toda a turma.

— Obrigado, Arthur — Ravi disse, sentindo-se exposto sob o olhar de todos.

— Nada — respondeu Arthur, com um aceno casual. Mas antes de sair, ele se inclinou levemente, baixando a voz para que só Ravi ouvisse. — Lembre-se do que eu disse. Meu escritório, após a aula. Estou ansioso para nossa conversa. — Seus olhos percorreram o rosto de Ravi, capturando cada microexpressão de nervosismo. — Não se atrase.

E então ele se foi, deixando para trás o mesmo silêncio carregado de antes.

Ravi, com o rosto ainda quente, pegou um dos livros e voltou para seu lugar. Caio se inclinou imediatamente para perto, sussurrando:

— Cara... o senhor Arthur ajudou você a carregar os livros?

— É... — Ravi respondeu, distraído, os olhos ainda fixos na porta. — Ele me viu com dificuldade e ajudou.

Caio fez uma careta, balançando a cabeça. — Hum. Só a cara dele é séria, né? Dá um medo. Parece aqueles vilões chiques dos filmes.

Ravi não conseguiu conter uma risada nervosa. A descrição era absurda, mas estranhamente precisa.

— Para de graça, Caio! — ele riu, cutucando o amigo.

— Tá bom, tá bom! — Caio riu também, aliviando um pouco a tensão. — Mas falando sério, o que ele quis dizer agora, de 'não se atrase'? Você tem um encontro marcado com o Homem de Terno Branco?

A pergunta fez o sorriso de Ravi congelar nos lábios. A leveza do momento se esvaiu, substituída por um frio na espinha.

— É... algo sobre o meu portfólio — ele murmurou, evitando o olhar do amigo. — Ele disse que quer conversar sobre o meu futuro.

Caio assobiou baixo. — Nossa, Ravi. Ou é seu novo mecenas, ou... — ele não terminou a frase, apenas ergueu as sobrancelhas, deixando a ameaça pairar no ar, tão palpável quanto o peso do olhar de Arthur havia sido

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