3

A manhã seguinte raiou sobre a casa dos Almeida com um peso invisível. Enquanto o sol entrava pela janela da cozinha, Ravi desceu os degraus com um salto leve, um sorriso despreocupado estampado no rosto.

— Bom dia! — cumprimentou, dirigindo-se à mesa.

Seu pai, André, mal conseguiu erguer os olhos do café. Seu rosto estava marcado por rugas de preocupação e noites mal dormidas.

— Tá tudo bem, pai? — perguntou Ravi, puxando uma cadeira.

Foi Laura, sua mãe, quem respondeu, a voz um pouco mais aguda que o normal, forçando uma naturalidade que não existia. — Tá sim, meu filho. Seu pai é que está com muito trabalho. Muito mesmo.

— Tá bom... mas se precisar de ajuda com qualquer coisa, é só falar — Ravi insistiu, mergulhando a colher em sua tigela de salada de frutas.

— Não precisa, meu filho, não se preocupa com isso — disse André, a voz rouca.

Ravi encolheu os ombros, aceitando a resposta. — Tá bom, então. Eu vou indo. Te amo, mãe! Te amo, pai!

Ele pegou sua mochila de artes e saiu pela porta dos fundos, o assobio ecoando pelo corredor. O som da porta se fechando foi como um golpe.

Mal o ruído do carro de Ravi se dissipou na rua, Laura se desmanchou. — Quando vamos contar para ele, André? — sua voz era um fio de angústia.

André esfregou o rosto, exausto. — No último dia. Só no último dia.

— Fazer aquele contrato foi a pior coisa que eu fiz na minha vida! — Laura chorou, as lágrimas finalmente rompendo o dique. — A pior!

— Eu sei que erramos, Laura! Eu sei! — ele explodiu, batendo a mão aberta na mesa. O silêncio que se seguiu foi mais denso. — Mas agora... vamos entregar nosso filho a um monstro. Ele não é um humano, você já viu as coisas que ele faz, André? — ela sussurrou, aterrorizada. — Nem os melhores policiais conseguiram pegá-lo.

— Não temos o que fazer, Laura! — a voz de André era um misto de raiva e desespero. — Ele vai pegar o nosso filho de qualquer jeito! Foi o que ele disse! De qualquer jeito!

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Enquanto isso, Ravi estacionava sua moto em frente ao prédio do curso de arte. O clima pesado de casa ficou para trás, substituído pela familiaridade do lugar.

— Oi, Ravi! — chamou Caio, seu melhor amigo, encostado na porta.

— Finalmente chegou no horário, Caio? — Ravi brincou, dando um tapinha nas costas do amigo.

— Hummm, saí mais cedo de casa hoje. A propósito, você ficou sabendo? Alguém comprou o prédio.

— Sério? — Ravi franziu a testa, olhando para a fachada. — Será que vão construir outra coisa?

— Acho que não — Caio respondeu. — Ouvi que vão nos apresentar o novo dono hoje.

— É? — Ravi levantou uma sobrancelha. — Bom, parece que não vamos ser despejados. E diferente de você, eu não gosto de chegar atrasado. Vamos.

Os dois subiram para a sala de aula e se sentaram um ao lado do outro, jogando as mochilas no chão ao pé das mesas. A conversa rolando solta sobre os últimos projetos de desenho.

A aula estava prestes a começar quando a porta se abriu. O professor entrou, seguido pela diretora do curso e... um homem.

Ele era alto, imponente, de cabelos pretos bem cortados e um terno branco imaculado que destacava sua musculatura. Sua presença preencheu a sala instantaneamente, silenciando todos os sussurros.

— Alunos — a diretora começou, com um sorriso tenso. — Antes de começarmos, eu gostaria que todos conhecessem o novo proprietário do nosso prédio.

Ravi sentiu um frio na nuca. O homem, o tal de Arthur, não tirava os olhos dele. Era um olhar fixo, intenso, como um colecionador examinando uma peça rara que finalmente havia adquirido.

— É um prazer conhecê-los — disse Arthur, e sua voz era suave, mas carregada de uma autoridade inquestionável. O sorriso que esticou seus lábios não chegou aos olhos. Era um sorriso de vitória, carregado de uma malícia sutil que fez Ravi se encolher inconscientemente.

— É um trazer conhecê-los! — disse o representante de turma, tentando ser descontraído, mas sua voz soou fraca diante da aura do homem.

Arthur desviou o olhar de Ravi por um segundo, percorrendo a sala. — O prazer é todo meu. Prometo manter este centro cultural funcionando como sempre. A arte... é uma das minhas maiores paixões. — Seus olhos voltaram a pousar sobre Ravi. — Especialmente o talento jovem e promissor.

Ravi sentiu um calafrio.

— Bom — a diretora interveio rapidamente, sentindo o desconforto no ar. — Vamos deixar você continuar com a aula, professor. Obrigada, senhor Arthur.

Arthur acenou com a cabeça, seu sorriso profissional ainda no lugar. — Claro. Não quero atrapalhar. — Ele deu mais um passo para dentro da sala, seu olhar perfurante fixo em Ravi. — E você, jovem. Ravi, não é? Seu portfólio chamou a atenção da diretoria. Gostaria de vê-lo no meu escritório, ao final da sua aula. Temos muito o que conversar sobre... o seu futuro.

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