O motor do carro esporte de Arthur roncou suavemente, um contraste gritante com a tempestade que ela havia deixado para trás na mansão dos Almeida. A calma com que ela colocou o veículo em movimento era assustadora. Foi então que o viva-voz do carro acendeu, projetando o nome "Miguel" no painel.
Com um toque no volante, ela atendeu. A voz descontraída de Miguel preencheu o interior do carro.
"Então, o que deu?"
Arthur manteve os olhos fixos na estrada, seu rosto um modelo de frieza. "Dei uma semana para eles."
Miguel deu uma risada baixa. "Uma semana? Eles vão sumir com o muleque, Arthur. Vão despachá-lo para algum buraco na Europa antes que você possa piscar."
O perigo sibilou na voz de Arthur, baixo e preciso. "Eu vou achar ele nem que seja no inferno. O tempo deles tá acabando... junto com aquela máfia de merda."
A risada de Miguel era mais nervosa agora. "Mas e aí, tem mais informações sobre ele?"
"Tenho o básico. Nome, idade... o que ele mais gosta de fazer." Um sorriso quase imperceptível tocou os lábios de Arthur.
"O que ele gosta de fazer?" perguntou Miguel, sua curiosidade parecendo uma isca.
"Ele gosta de desenhar. Fez um curso de desenho." A voz de Arthur era suave, quase carinhosa ao falar disso, e o tom não passou despercebido.
Miguel ficou em silêncio por um segundo. "Arthur... você tá falando dele com um tom. Eu não tô gostando."
"Ah, o que foi?" ela respondeu, com uma inocência falsa que pingava veneno. "Eu apenas fiz uma coisa para nos aproximarmos dele."
A voz de Miguel ficou séria, alerta. "O que você fez, Arthur?"
A simplicidade com que ela disse foi a parte mais aterrorizante. "Eu comprei o prédio onde ele faz o curso."
"Arthur!" A voz de Miguel era um misto de incredulidade e alarme. "Você tá louca? Por aquele garoto?"
"Por ele, sim," ela confirmou, sem uma centelha de dúvida ou emoção. "Mas eu não vou mudar nada no curso. Vou deixar como está. Só que amanhã... vão me apresentar como a nova proprietária. Vou estar lá. Vou vê-lo."
"Arthur, Arthur... cuidado." A advertência de Miguel era genuína. Ele conhecia a tempestade que era aquela mulher.
O aviso fez Arthur rir. Era um som seco, oco e sem humor. "Cuidado? Miguel, eu não tenho medo de ninguém. Se tivesse, não teria feito metade das coisas que fiz." Ela fez uma curva fechada, acelerando. "O medo é uma corda que enforca os fracos. Eu cortei a minha há muito tempo."
"Mas isso é diferente... isso é... pessoal."
"Tudo é pessoal," ela retrucou, a máscara de frieza caindo por um segundo para revelar a obsessão pura por trás dela. "Eles pensam que podem quebrar uma promessa feita comigo? O próprio André assinou aquele documento. Ele me deu o garoto. Eles criaram ele, sim, mas ele sempre foi meu. Desde o dia em que nasceu."
"E se ele não quiser? Ele é quase um adulto, Arthur. Tem vontade própria."
A pergunta foi tão ingênua que Arthur quase sentiu pena da estupidez de Miguel. Quase.
"Querer?" ela repetiu, como se provasse uma palavra nova e sem sabor. "O que ele quer é irrelevante. O que qualquer um de nós quer é irrelevante. Existe o Poder. E existe a Obediência. Eu tenho o primeiro, e ele aprenderá o segundo. Eles todos vão."
"E a Laura? O André? Você vai...?"
"Eles tiveram dezenove anos com ele. Dezenove anos que me foram roubados. Eles o criaram para ser fraco, sensível... um artista." Ela cuspiu a palavra. "Agora, é a minha vez. E eu vou refazê-lo. Vou quebrar cada pedaço de personalidade que eles colocaram nele e vou montar de novo, do meu jeito. E se a polícia fizer o trabalho sujo por mim e se livrar deles no caminho, melhor ainda."
Do outro lado da linha, Miguel ficou em silêncio. Ele podia quase sentir o gelo da respiração de Arthur através do telefone.
"Uma semana," Arthur sussurrou, mais para si mesma do que para Miguel. "Eles podem ter essa semana para se despedir. É mais misericórdia do que eles merecem. E quando o tempo acabar... eu não vou apenas coletar o que é meu. Vou demolir tudo o que eles têm, tudo o que eles são, e vou usar os tijolos para construir o lugar dele ao meu lado."
Ela desligou a chamada com outro toque no volante. A estrada à sua frente estava escura e vazia.
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Comments
Jeslandia Ordalia
vc fala ela acho que queria dizer ele ,isso me deixa confusa ,mas a história tá boa mto interessante só essa parte que achei meio confusa ❤️
2025-10-12
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adelice miranda de aguiar
não estou entendendo, ele é ele ou ela, pq Arthur é nome de homem, as vezes soa como mulher, autora esclarece por favor
2025-10-13
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