Capítulo Nove — Isso, nunca mais!

Olívia

Brandon me leva com brusquidão para o quarto. Eu sabia o que viria. Já conhecia os sinais, os gestos, o tom de voz que antecedia o pior. Mas algo em mim havia mudado. A dor física ainda latejava, mas a dor emocional... essa já não me paralisava. Ela me empurrava para frente e me levaria para longe.

— Você acha que luxo é tudo o que queremos? — falo, com voz embargada, sentindo toda intensidade da dor em minha alma.

— Tenho certeza de que nenhuma mulher quer ser espancada pelo marido ou obrigada a sorrir enquanto o coração arde de dor — murmurei, mais para mim do que para ele.

Brandon deu uma risada fria e cortante.

— Deixa de drama, Olivia. Até parece que te espanco todos os dias. Umas tapinhas de vez em quando não são nada demais.

A naturalidade com que ele dizia aquilo me enojava. Como se a violência fosse uma rotina aceitável. Como se eu fosse culpada por não saber lidar com ela.

— Tapinhas? Nada de mais? — encarei-o, com o corpo trêmulo e a voz rasgando o ar. — Então veja isso aqui.

Levantei as mangas do moletom lentamente, revelando a pele marcada. Girei de leve para expor também a lateral da barriga e as costas. As marcas estavam ali. Visíveis. Incontestáveis.

— Isso aqui foram só tapinhas, Brandon?

Por um segundo, o sorriso dele vacilou. Mas logo se recompôs.

— Parece que está querendo levar mais algumas, não é? Está reclamando demais.

O tom mudou, ficou mais sombrio, mais ameaçador. O olhar dele deslizou por meu corpo como um aviso.

— Mas agora eu não quero te bater. Só quero transar em paz com a minha esposa. Mas ela insiste em me irritar e me tirar do sério.

Ele começou a se despir lentamente, mantendo os olhos fixos em mim. Como se esperasse submissão. Como se minha dor fosse irrelevante. Como se eu não fosse nada além de um corpo disponível.

Já vivi essa cena inúmeras vezes. Mas desta vez... não vou ceder. Não aguento mais.

— Brandon, estou muito cansada — minha voz saiu contida, mas firme. — Ainda estou bastante dolorida. Vamos dormir. Sei que teve um dia cheio no trabalho. Vamos descansar, e amanhã... pensamos no que queremos para nossas vidas.

O silêncio que se seguiu foi denso. Pela primeira vez, não havia súplica. Havia uma escolha. Ainda frágil, ainda contida — mas que pulsava como o início da libertação.

Ele continuou se despindo, com a frieza costumeira. Mas eu não me movi, nem recuei. Não vou me entregar.

— Você só se cala quando eu te calo à força, não é? Parece até que gosta — ele se aproximou da cama, vindo em minha direção como um predador.

— Por favor, Brandon. Vamos dormir. Não me machuca mais.

Minha voz tremeu. Eu sabia que minhas palavras não teriam efeito. Mas eu precisava dizê-las. Precisava me ouvir dizendo.

— Eu quero você, e vai ter que ceder. Precisa entender que a minha vontade é a que prevalece.

Ele me puxou com força. Senti o mundo girar. A cama se tornou um campo de batalha. Eu tentei resistir e me defender. Tentei impedir que ele me apagasse mais uma vez.

Mas ele era mais forte, mais cruel e estava determinado a me destruir.

As palavras dele se tornaram gritos. As mãos, garras e o quarto, uma prisão.

Brandon me espancou como se eu fosse um saco de batatas, jogando toda a sua ira, sem se preocupar com as consequências daquilo.

Eu lutei. Com todas as forças que ainda restavam. Com cada fragmento de dignidade que ainda me habitava. E quando ele tentou me silenciar, eu gritei. Gritei por mim. Gritei pelos meus filhos. Gritei por todas as mulheres que já foram caladas.

— Brandon, por favor! Para com isso! Alguém me ajuda!

Ele riu. Um riso de desprezo.

— Quem você acha que vem te salvar, Olivia? Ninguém se atreveria a me enfrentar.

Mas então, como um milagre, ouvi batidas na porta. Fortes. Persistentes.

Brandon parou. Começou a andar de um lado para o outro, nervoso, transtornado. As batidas continuaram. Mais fortes. Mais urgentes.

— Senhora Olivia? Está tudo bem aí dentro? — era a voz da Sra. Dexter. — Por favor, abra a porta!

Brandon congelou. O som da realidade invadindo o quarto o desestabilizou. Ele olhou para mim, como se tentasse decidir o que fazer. Mas eu já havia decidido.

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